Marcada escrita por Violet


Capítulo 21
Meu pequeno erro!




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Algumas horas já haviam se passado desde que havia cometido tamanha loucura.No alto da montanha onde as trevas não alcançavam, eu ponderava sobre o que havia me levado a fazer aquilo, sempre fora o mais ajuizado da família, nunca deixara minhas emoções interferirem em meus desejos, não que eu tivesse alguma em especial, vivia em prol de um único propósito, me preparar para assumir o meu clã e superar as expectativas de todos, e pela primeira vez, havia falhado e nem sabia a razão que me levara a cometer meu primeiro erro, meu primeiro erro...Essa idéia me levou a olhar relutantemente para trás e avistar meu erro, ele dormia tranquilamente num sono profundo e despreocupado, ele tinha os cabelos longos e negros que se espalhavam pela grama umidecida, seu corpo era de uma perfeita donzela, suas curvas tão bem acentuadas e sutis, suas mãos eram finas e possuíam dedos longos, ao mesmo tempo que continham calos sobre os mesmos, meu erro era uma tempestade dentro de uma neblina, e eu inconscientemente estava me envolvendo nela.

                Sua respiração mudara o ritmo e logo chamara minha atenção, seus olhos banhavam-se em lágrimas mesmo fechados, deveria estar em algum sonho ruim, e ali observando suas feições, o que antes era apenas curiosidade sobre o seu poder, agora se tornara em curiosidade sobre a dona dele, quem era, por quantas coisas já havia passado para estar ali. O ritmo acelerara, ela se revirava de um lado para o outro e senti uma vontade de intervir e cessar sua agonia, mas que diabos eu estava fazendo, aquele não era eu, não podia me reconhecer de modo algum.

— Não, por favor, eu imploro... – sussurrava angustiada. – Minha, minha... espada! Eu... – tornava a sussurrar.

                Desta vez não me contive, meus joelhos já tocavam o chão e a ventania já batia contra meu rosto, ela continuava a suar frio e sussurrar coisas sem sentido, eu simplesmente não sabia o que fazer, eu, Sam Ackles, que sempre tinha uma resposta para tudo, não sabia o que fazer com o meu erro, que insista em prender minha atenção a cada banal movimento.Tentei acordá-la sutilmente tocando-lhe o braço, mas ela parecia estar presa demais em seus delírios.Sem perceber, meu braço já seguia em sua direção, e um súbito movimento me surpreendera, ainda inconsciente ela agarrara meu braço, suas mãos delicadas possuíam uma força absurda, minha circulação já não estava tão livre assim, seu soluçar cessara, mas ela permanecia agarrada a mim como se eu fosse o último suspiro que prendia-lhe a vida, a racionalidade me abandonara pela primeira vez, aquilo era como ser bombardeado por inúmeros golpes sucessivos, meu corpo mostrava reações estranhas, e meu coração, o qual já nem batia direito, acelerava como se fosse rasgar meu peito.

                Num ato mais que involuntário meu braço direito se erguia no mesmo movimento, por que ele estava indo de encontro ao dela?Por que meu coração continuava a palpitar e aquecer um corpo que por anos vivia congelado? Por que não conseguia controlar meus movimentos? Eis que o corpo que antes se abrigava em mim, agora pressionava a minha garganta com uma espada, a minha espada.

— Quando----- -  ela pressionara com mais ênfase sua lâmina contra minhas cordas vocais.

— O que pensa que está fazendo, Ackles? – a diferença de altura entre nós era significativa, mas ali, de joelhos, nossas alturas se igualavam, o que permitia uma maior aproximação, quanto mais ela pressionava a espada contra mim, mais próxima ficava, ela não percebia, mas o seu corpo se erguia alguns centímetros e seu olhar penetrava o meu um pouquinho mais, temia até onde esse olhar podia alcançar. -  O que pensa que está fazendo? Por que me trouxe aqui? É algum plano não é? Por que me pouparia a vida na frente de todos que o veneram?  - Não, não havia plano algum, tudo que havia feito até agora tinham sido atos involuntários, mas por quê? Nem eu sabia o porque, encarei seus olhos cor de mel ansiosos, tentei dar-lhe uma resposta, mas não a tinha.

— Claro que sim. Tenho outros interesses em você, por que mais pouparia a vida de um inseto insignificante como vós? – minhas palavras saíram rasgando minha garganta e meu corpo se contraía violentamente tentando expulsar minhas memórias e as sensações que havia tido momentos antes.

— Claro... – a espada voltava ao chão devagar, pude notar a decepção sobre aquele tom de voz, não queria ter uma boa percepção naquele momento, as duvidas so aumentavam cada vez mais, por que meu erro tinha que me contrariar tanto?! – Seja lá qual for seu interesse, não irei lhe conceder nada e exijo que me tire daqui, agora mesmo! – insistiu com o pouco de ímpeto que ainda lhe restava.

— Exige? Tem certeza que está em posição de exigir-me algo? Não é párea nem para servir-me de brinquedo, quem dirás para uma boa luta.

— Não me importo, prefiro morrer lutando e com honra, a ceder-lhe qualquer coisa.Vocês só por que são de uma classe mais alta, acham que podem tudo, vocês me enojam! – cospe rudemente contra o chão.

— Além de temperamental, é desprovida de inteligência. – massageei as têmporas, não por impaciência, mas com a sua presença ali tinha que forçar ainda mais meu cérebro, isso me incomodava.

— Que disse?!

— Que ficarmos aqui discutindo não vai nos levar a lugar algum. Me dê as informações que preciso e a deixarei ir!

— Está mentindo! Por nada que iria me deixar sair livre dessa, principalmente você!

— Perdoe-me, mas creio que não me conheces o suficiente para afirmar nada a meu respeito.

— Não preciso, vocês são todos iguais!Maldito clã, com certeza está interessado nas minhas habilidades por que você não consegue executá-las como eu, não é mesmo? Passaste a vida inteira sendo treinado para ser o melhor, e aparece algo novo que não consegue dominar, deve ser frustrante não ser bom em tudo, não é, Ackles? Sua linhagem não passa de--------

— Já mandei calar-se! – alterei o tom de voz mais do que desejei – Você não sabe nada sobre nós, ou sobre mim! – dei uma intensa ênfase no nada, meus nervos estavam implodindo, odiava como não conseguia me controlar com aquela garota – Não é como se eu me importasse em acabar com você ou com aquela senhora que julgo ser sua mãe – seu olhar se tornou relutante rapidamente, era nítido que ambas tinham laços muito fortes – mas irá fazer o que eu quiser, exceto se quiser morrer com honra e levar todo seu clã junto!

— O que queres saber? – seu tom agora era acuado, mas não encobria a raiva que estava sentindo.

— Melhor assim – fingi ajeitar o casaco a fim de desprender minha atenção dela, preferia encarar qualquer ponto cego à encarar aqueles olhos novamente. – É uma cinco, no entanto a sua força se equipara a de um três, levando em consideração que a diferença de poder de uma classe para outra é bastante significativa, isso me faz pensar que mesmo com anos de treinamento, no máximo deveria se aproximar a de um quatro classe baixa. E seus poderes, por anos os demônios sempre tiveram uma essência voltada para apenas um lado, ou da guerra ou o da magia, é praticamente impossível dominar ambos. Até para mim, fora quase impossível, e ainda não me é permitido dominar os dois ao mesmo tempo.

— Pobre príncipe, muito frustrado por não ter um brinquedinho novo? -  ironizou exibindo um sorriso, que por mais que fosse sarcástico, não podia ignorar o quão belo era.

Pigarreio – É melhor calar-se se não quiser que eu mude de ideia! Como dizia...Não consigo achar explicações que justifiquem o fato de você dominar duas habilidades simultaneamente, mas pelo que pude ver em nossa última luta, esse poder tem um preço, não é mesmo? -  a vi desviar o olhar e sabia que havia chegado no ponto certo. – Quando o utiliza de mais, depois de um tempo a magia começa a se alimentar de você, fundindo-se a você e o dano provocado no adversário passa a lhe afetar também.Algo como um sacrifício, não? Sacrifícios geralmente são feitos em relações de trocas, relações de troca me lembram pactos, por acaso você não...

                Minha tão perfeita linha de raciocínio fora interrompida ao observá-la, seu olhar era triste e parecia carregado de culpa, seus braços se contraiam contra o peito, e pela primeira vez pude sentir um ponto vulnerável no meu erro.

— Fizera um pacto, não é? Pactos de sacrifícios não são comuns entre demônios, por que----

— Você não está interessado na natureza do meu poder, só está curioso sobre mim e a minha história. As tardes de chá estão tão entediantes assim, príncipe? – seu olhar estava cravado no meu como uma espada cravada em meu peito.Nada consegui responder, de algum modo havia sido capturado por aquelas palavras. – Foi o que pensei. – Se esvaía em passos lentos.

— Ei, onde pensa que vai?!

— Não vou satisfazer seus interesses. Procure outra pessoa para acabar com seu tédio!

                E assim ela se foi, meu erro caminhava para longe cada vez mais, meu coração que já não palpitava mais, se contraía em dor, se revoltava dentro do peito, mas o que poderia eu fazer? O erro não era meu afinal...

Alguns dias depois...

— Querida, onde você estava? -  a senhora se aproxima de encontro a porta com seu xale que acabara de tricotar.

— Estava por aí...Espera, mãe? A senhora não deveria estar descansando?!

— E você não devia estar morta? – interveio o garotinho de madeixas prateadas.

— Diego! – repreendeu-lhe a mãe. – Fiquei tão preocupada, todos nós achamos que... – o pesar em sua voz era notável.

— Bom, se ela está aqui é porque venceu, eu avisei a senhora quando vimos o prêmio.

— Prêmio? Que prêmio?! – indagou a garota incrédula das palavras que acabara de ouvir.

— O pergaminho, ele estava aqui. Você venceu e o trouxe para a mamãe, não foi?

— Não, eu não...Não pode ser! -  a garota já se esvaía novamente.

— Espere, você acabou de chegar, aonde vais?! – Já era tarde, ela havia partido.

— Mas que droga ele está pensando?! – pensava consigo mesma enquanto partia em seu rumo.

                Algumas horas mais tarde...

—  Sam? -  o garotinho surgia em meio à sala ainda esfregando seus olhos, sonolento.

— Ora, ainda está acordado a essa hora, está tarde. – Sam recolocava sua xícara de chá junto à pequena mesa de centro. – Algum pesadelo?

— Uhum – balançava a cabeça afirmativamente enquanto se aproximava do irmão, vestindo seu pijama branco com listras azuis. – naquela época Kaeth ainda estava desenvolvendo suas habilidades, então suas visões muitas vezes vinham em forma de sonhos, o que já nos deixava em alerta.

— Sonhaste com quem desta vez?

— Não sei, não a conheço. Era uma moça, muito bonita, ela chorava muito, acho que já a vi antes, mas não consigo lembrar...

— Por acaso não seria a mulher que lutaste comigo, seria? – temi a resposta mais que qualquer coisa, meu corpo tremia ao olhar para os olhos inocentes e sonolentos do meu irmão.

— Ah, isso! Lembrei, era ela! Ela chorava muito, e tinha um homem mau, e depois ela estava, estava...

— Estava? – o coração voltava a rasgar o peito.

— Morta...

                O ar parara de circular mesmo sentindo a brisa entrar pela janela, meu corpo não se movia, estava morto por dentro, meu cérebro congelara assim como tudo ao meu redor, a única coisa que meu cérebro reproduzia era a imagem do meu erro, e aos poucos as pontas soltas foram se juntando, e antes que eu percebesse, já estava alçando voo sobre a noite fria, já havia desistido de tentar entender, iria deixar que as emoções me levassem até meu erro, me levassem até ela.

— Kaeth?O que está olhando na janela, querido? Ainda acordado, venha, vamos voltar para cama... – aproximou-se sutilmente a jovem senhora com seu vestido longo arrastando-o sobre a madeira do piso.

— Será que eu devia contar pra ele que o homem mal que vi no sonho, era ele... – sussurrou o garotinho ainda encarando a janela entre aberta.

— O que disse, querido?

— Nada, mamãe...Posso dormir com a senhora? Não quero ter mais sonhos ruins...


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