Marcada escrita por Violet


Capítulo 11
The Power of Love


Notas iniciais do capítulo

Holaaaaaaa leitores de meu Deus!! Sejam bem vindos a mais um capítulo de Marcada! >< Antes de começar, queria recomendar uma música muito perfeita que me inspirou bastante a fazer esse capítulo: The Power of Love - Gabrielle Aplin. E o título do capítulo é em homenagem à ela, e inclusive eu poderia recomendar para que vocês lessem enquanto a escutam mas não sei se seria muito bom, resultou em algumas lágrimas em mim x_x. Mas fica a critério de vocês, preparem seus feelings, seus hearts, e vamos que vamos, kyaaaaa!
~Violet



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Há quem diga que a dor da perda é uma das piores dores existentes. Perder aquele objeto de estimação, ou um presente dado por alguém que não está mais por perto, até mesmo aquele lugar na fila que você tanto queria. Perder a vontade, ou a coragem... A perda é aquilo que vem pra te arrancar algo importante e te força a viver com sua ausência. Um bebê chora porque perdeu o balão que lhe escapara entre os dedos, a mocinha sofre porque perdera o rapaz que ela pensava amar, os mais velhos porque perderam algo que lhes faziam lembrar. Bem, eu já tinha esbarrado com a perda algumas vezes, mas a diferença meu caro amigo, é que não se sente muito a dor da perda quando se têm seis anos, não se tem noção do quão horrível é perder algo importante para você. Mas pela primeira vez eu havia sentido essa dor, pela primeira vez eu pudera ver nitidamente algo escapar entre os meus dedos, e pior, a perda definitiva. Daquelas que não importa o quanto procure, os lugares que procure... você não vai achar, porque simplesmente não estará mais lá. Se pudesse escolher, eu vos confesso que iria preferir permanecer na ignorância da perda, mas não pude... Eu havia perdido, e não fazia a mínima ideia de como lidar com aquilo...

— O que é isso? – Derick apontava para o meu braço já ensaguentado. – Quem é Lily?

— Eu não sei. Não faço a mínima ideia de quem seja. – respondi relendo aquela frase várias vezes e rezando para que aquilo fosse um pesadelo.

— Vem, vamos pra casa! – disse já me puxando, mas recuei rapidamente o que o fez parar. – O que houve?

— É... Não quero ir pra lá.

— Por que não?

— Porque...porque o Sam não está lá, não vai servir de nada irmos agora. – menti, evitando encará-lo.

— Mesmo assim, a gente não sabe o que é isso e nem o que pode vir a acontecer depois. Vamos! – me puxou novamente e eu relutei com dois passos para trás o que instigou-o ainda mais. – Aconteceu alguma coisa que eu não sei? – seu olhar estreito não me deixou mentir. E toda a cena que tinha presenciado a pouco, viera a minha mente, contive uma lágrima.

— Jessie? Tem alguma coisa a ver com Kaeth, não é? – ouvir o nome dele fez meu coração gelar. Quis chorar novamente, queria gritar, mas não podia deixar Derick perceber o que estava acontecendo. A angústia foi subindo à garganta como um rejeito. E antes que pudesse responder algo, Derick já não estava mais lá. Fui em direção à casa, tinha um mau pressentimento.

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                Derick chega a passos largos, seu semblante estava tenso e seus olhos dourados transbordavam raiva. Estava tão cego de ódio que até seu irmão que surgia da garagem com alguns pacotes, ele havia ignorado por completo. Ele subia as escadas como um soldado adentrando a batalha. Na arena, Kaeth dormia de modo desleixado na cama. Haviam preservativos espalhados pelo chão, algumas peças íntimas jogadas pelos móveis. Derick para próximo à uma escrivaninha, em cima havia duas garrafas de whisky vazias e na gaveta entre aberta uma foto de Jessie. Derick apanha a foto analisando-a um pouco, e observa o quarto ao seu redor.

                Com os punhos cerrados, ele puxa Kaeth pela gola da camisa, e o golpeia com um soco que o faz cair na cama com o impacto, ele acorda.

— Isso, é por ter partido o coração dela. E isso... – o golpeia com outro soco mais forte que o primeiro, jogando-o contra a parede – É por ter me feito ficar irritado, seu imbecil!

— O que é isso? Tá ficando louco, cara? – observava o sangue que escorria da sua testa.

— Isso é pra você lembrar da merda que você fez. Mas sabe o mais legal de tudo, Kaeth? A dor desses socos não vai ser nada comparado a dor que você vai sentir quando olhar pra ela de novo.

— A ruivinha, eu... – segurava a cabeça entre as mãos – Merda, merda, merda! – chutava alguns objetos à sua frente.

— Boa sorte maninho, eu não queria estar no seu lugar. – ironizou – E a propósito, se você quebrar o coração dela de novo, eu vou partir sua cara de um jeito que nem plástica vai consertar. – concluiu já batendo a porta.

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                Já fazia um tempo desde que tinha chegado, e ainda não tinha sinais de Derick. Segundo o que Sam havia dito, ele tinha subido há algum tempo e não tinha voltado. Temi pelo o que pudesse vir a acontecer, algo me dizia que tinha a ver com Kaeth. Sam estava sentado a minha frente e persistia em falar sobre a minha marca. Ele dizia que poderia ser algum presságio ou coisa assim. A única coisa que fazia era acenar fingindo que estava prestando atenção. Mas na verdade não conseguia parar de olhar as escadas em apreensão, precisava ter notícia dele. Até que finalmente a visão da escada é substituída por Derick se aproximando, ele parecia normal. Seu semblante estava o mesmo e parecia menos preocupado, para minha sorte ou azar, ele estava vestindo uma camiseta preta, menos distrações.

— O que eu perdi? – disse, indo em direção à geladeira e pegando uma cerveja. A cena do líquido escorrendo por sua boca era hipnotizante, seus cabelos negros gotejavam sobre a nuca levemente suada.

— Eu estava tentando explicar a situação para Jessie, mas ela parece um pouco distraída, não é? – precisei piscar mais algumas vezes, e só depois de ver todos me observando em silêncio notei que estava sendo indiscreta demais. Pigarreei antes de falar.

— Ah sim. Sobre a marca. Pode continuar, Sam! – disfarcei um semblante sério.

— De que parte? – o vejo estreitar o olhar e temi por minha vida.

— Da...da------

— Esqueça. Bom, é melhor que os dois escutem. Acredito que alguém vai ter que explicar novamente para ela, e não quero ser essa pessoa, passo para você, irmão. – pela ausência de expressão, custei a perceber a ironia. Ótimo, além de ser mantida presa, ainda era ridicularizada e chamada de lesada pelo meu próprio sequestrador!

— Descobriu alguma coisa?

— Bom, sobre a marca dela em si... não. Mas descobri algo que pode ajudar.

— Que seria? – perguntei curiosa.

— Você é um receptáculo. – disse, simplesmente.

— Receptáculo? Isso não é a mesma coisa que recipiente? O quê, virei uma tigela agora?

— Quase isso. Você é realmente uma espécie de recipiente. Os receptáculos surgiram há milênios de eras atrás. Eles existiam unicamente para levar cargas consigo, essas cargas são poderes, poderes como o que você carrega.

— Espera ai! Dá pra voltar pra parte que eu não entendo nada e você explica de um jeito que eu possa entender? – indaguei, e o vi se recostar na cadeira, e após um longo suspiro, ele tornou a falar.

— É melhor eu começar de trás pra frente. Há muitas eras atrás, os deuses antigos eram todos imortais e por muitos anos fora assim. Até que alguns deles sedentos por mais poderes, começaram a travar pequenas guerrilhas, que logo se transformaram em grandes guerras. Como eram imortais, não havia nada que pudesse acabar com aquilo. E não demorou muito para o céu e inferno virarem uma verdadeira zona de caos. Tentando acabar com isso, os guardiões que eram o equilíbrio entre ambos, resolveram tomar uma decisão. Retirar a imortalidade dos deuses. Eles ainda viveriam por milênios de anos, mas seriam mortais. E quando morressem, o poder de cada um deles seria herdado por outra pessoa; um receptáculo. Os receptáculos eram pessoas comuns que herdavam algum tipo de marca que mostrava que ele continha algum poder. Eles eram tratados como reis, pois afirmavam ser a reencarnação dos deuses, e estavam certos em parte. No entanto, assim como os deuses, os receptáculos também eram mortais e viviam bem menos que um deus de verdade. Tomados pelo egoísmo, eles não queriam abrir mão do poder e queriam a imortalidade novamente. Alguns deles começaram a fugir e montar seus próprios reinos, começaram a buscar feitiços que os fizessem imortais novamente. Uma nova guerrilha começou e os receptáculos passaram a ser caçados, e terem seus poderes extraídos e consequentemente sendo mortos. Aos poucos foram extintos, o que me intriga ainda mais.

— Então, quer dizer que eu sou a reencarnação de um desses deuses?! – perguntei, ainda tentando assimilar toda aquela informação.

— Sim. A maioria dos deuses já tiveram seus poderes extraídos de seus receptáculos. Nos resta saber quais ainda não foram, e só assim saber que tipo de poder sua marca carrega.

— Mas isso a gente pode descobrir, não pode? Falar com alguém velho, de barba grande, que fale latim e que possa resolver isso, não é?

— Poderia. O meu plano era irmos até o Egito. Lá tem uma anciã que possui todos os pergaminhos dos antigos deuses. Ela vive exilada de seu clã, então não tenho garantias que ela possa nos ajudar. Mas supondo que Derick não a estrangule antes, talvez possamos fazer um feitiço que separe o poder da sua alma, e assim te libertar dessa marca. Mas não sei se será possível. – ele não me encarava mais. Seu olhar parecia pesaroso e relutante, algo não me cheirava bem.

— Por que não será possível? – olhei para ele e em seguida para Derick. Ambos se entreolhavam preocupantes, era como se só eu não soubesse o que estava acontecendo, me senti aflita. – Sam?

— Como eu falei, muitos dos receptáculos não queriam abrir mão do poder, e se escondiam usufruindo dele de forma errada. Foi então impuseram uma nova lei; todos eles teriam um tempo de vida definido, um prazo de validade.

— Como assim, um prazo de validade? – perguntei já temendo a resposta. Algo me dizia que ia dar merda, ou melhor... já estava dando!

— Com o tempo o poder iria consumir o receptáculo de dentro para fora, e o mataria. Mesmo que eles fugissem, ou se escondessem, quando terminasse o tempo... eles morreriam pelo próprio poder. E não havia feitiço algum que pudesse reverter isso. – concluiu limpando as lentes dos óculos de grau.

— Você ta dizendo que assim como esses receptáculos, eu tenho um prazo de validade, é isso?

— Sim, seu tempo de vida já está definido. Mas não é isso que me preocupa. Algo pior, algo que pode fazer com que não haja tempo para acharmos o feitiço.

— Algo pior? Olha, se a intenção era me deixar apavorada... Parabéns! Vocês conseguiram. – falei, forçando uma risada tão falsa quanto a minha expectativa de vida.

— Nenhum dos receptáculos eram humanos. – ele me encarou como se estivesse me dando um diagnóstico de câncer terminal.

— E o que isso quer dizer?

— Um ser humano não pode suportar o poder de um deus. Você não é um receptáculo de verdade, seu corpo não vai aguentar por tanto tempo. Esses sonhos que você tem, aquele surto que você teve quando matou os guardiões, essa frase que surgiu no seu braço... Isso não era pra acontecer agora. Em resumo? Você está morrendo um pouco a cada dia, Jessie. Seu corpo está começando a falhar. E todos esses sinais, é o poder da marca que está se manifestando em você, mais cedo ou mais tarde o selo vai se romper e ele vai te matar. E o pior é que não temos uma previsão exata de quando isso vai acontecer, pode ser hoje, pode ser daqui alguns meses, ou até mesmo amanhã. É muito instável, sem falar que além disso tem o fato de que os Anakins estão atrás de você, eles querem o poder da marca, e se eles chegarem a extrair, você morre!

— Quer dizer que minhas únicas opções são; ser pega por uma facção de anjos criminosa ou morrer como uma bomba relógio? É isso? – disse, tentando rir da minha própria piada... Mas não era uma piada, ele estava falando sério, estava cada vez mais próxima do fim, do meu fim.

— Podemos tentar achar o pergaminho com o feitiço e te libertar dessa marca. Mas não sei se dará tempo, e pelos sinais... você já deve estar quase no seu limite, seria correr contra o tempo. Você pode arriscar a própria vida no caminho ou pode ficar aqui e viver o restante dela como bem quiser.

— Claro que não! A gente vai salvá-la! – interveio Derick se jogando a minha frente.

— Isso é ela quem deve decidir, Derick. – todos me observavam atentamente esperando uma resposta.

— Bom... Se for pra morrer, que seja fazendo compras no Egito! – mesmo sob a tensão do momento, eles riram enquanto se entreolhavam, e depois passaram a me observar com um olhar terno.

— Então, sugiro que a gente arrume logo as malas, iremos partir em poucas horas! – afirmou, e o clima parecia menos tenso com a minha última frase. Mas a verdade era que estava apavorada, amedrontada e não fazia a mínima ideia do que fazer. Me veio a imagem de um paciente recebendo a notícia que estava com um câncer terminal, e como nada podia ser feito, a única recomendação  dos médicos era: “Viva intensamente cada dia como se fosse o último, porque você nunca saberá se haverá um outro”. E era isso que eu ia fazer, não iria olhar pra trás... E ali, eu sabia que tinha três homens maravilhosos que fariam de tudo para me proteger, ou quase tudo...

— Estamos de partida?! – ouço Kaeth dizer enquanto descia as escadas, senti meu corpo todo gelar.

                Ele estava com uma aparência menos deplorável do que quando o havia visto da última vez. Ele vestia uma calça jeans um pouco mais clara, uma camiseta de mangas curtas branca, e um casaco xadrez por cima, o mesmo que ele havia me cedido na primeira vez que me trouxera pra cá. Não pude deixar de sentir uma imensa nostalgia me tomar por inteira. A imagem dele aparecendo pela primeira vez, como seus olhos azuis brilhavam em meio à escuridão da noite. Ele me tomando pelos braços, e como meu coração parecia saltar do peito enquanto sentia a sua respiração encostar no meu rosto. Quando o vi em sua forma de lobo e fiquei apaixonada por aquele lobo branco de olhos azuis. A cena do carro viera a minha mente, e senti meu coração acelerar num ritmo frenético. Desviei o olhar rapidamente.

— Nós? Está se convidando, Kaeth? – ouvi Derick disparar em tom irônico, me contive para não olhar sua reação.

— E por que eu não estaria incluso, Derick?

— Por quê? Sério isso?

— Derick! Venha comigo. – ouço Sam e não pude deixar de observá-los. Ele queria nos deixar sozinhos? Tentei protestar, mas nem tive a oportunidade.

                Sam foi na frente. Antes de ir, Derick parou frente ao Kaeth, os dois travavam uma batalha de olhares, podia ver faíscas. Pareciam conversar sem usar a voz, após uma longa pausa, vejo Derick me observar com um olhar relutante, tentei parecer o mais segura possível, ele se vai. O silêncio nos assombrou por muito tempo, não sabia como reagir. De todas as formas evitava olhá-lo nos olhos. Permaneci sentada observando minhas próprias mãos que já suavam incontrolavelmente. Sob o reflexo do vidro da mesa, o vejo se aproximar, seu cheiro de jasmim com hortelã me lembrou a vez que o abraçara, o toque da sua pele, seu cabelo entre meus dedos, tudo me instigava a tê-lo de novo nos braços. Até que as imagens foram substituídas pela cena da madrugada anterior, quis vomitar.

— Será que a gente pode conversar, gatinha? – busco os seus olhos, e por pouco não me deixo levar.

— Não me chame de gatinha! – disparei, quase cuspindo as palavras.

— Jess... Eu sei que fui um babaca com você. Na verdade eu nem sei como olhar pra você. E sei também que o que eu fiz não tem perdão, mas eu não sei o que aconteceu comigo naquela noite. Eu saí com raiva, comecei a beber e quando vi... Mas eu não quis---------

— Chega, Kaeth! Chega, ok? A sua vida pessoal não me interessa e a casa é sua, você traz quantas mulheres quiser pra cá, não é da minha conta. Pare de ficar se justificando como se me devesse explicações! – indaguei num tom mais alto do que pretendia. – Só não me confunda com as suas vadias, ok?!

— Você não é como elas! Você é diferente, gatinha---------

— Para de me chamar de gatinha! Eu não sou sua gatinha! – gritei já me levantando, estava irada.

— Desculpa, Jess! Eu sei que não mereço, e que fui um completo babaca, mas... eu imploro, por favor, me perdoa!

— Perdoar, Kaeth? – sentia a raiva se acumular em cada palavra – Você disse que gostava de mim, me fez admitir o mesmo. E toda aquela gentileza, era para quê? Pra depois você esfregar na minha cara que é de todas e que eu não passei de um brinquedinho passa tempo?! Mas a culpa é minha, claro! A estúpida humana que se apaixona pelo carinha gentil, hilário não? Mas sabe o que é bom, Kaeth? Eu pude conhecer você, saber como você é de verdade. E quer saber? Eu tenho nojo de você, nojo! – fingi uma expressão nauseada e vi um semblante surpreso se transformar em um triste.

— Derick tinha razão... A dor dos socos nem se compara a essa que estou sentindo agora. – ele forçou um sorriso – Suas palavras machucam mais do que aquela barreira... – podia sentir seu coração se despedaçando.

— Era só isso que tinha pra dizer? – mantive a postura

— Você não quer que eu vá com você, não é?

— Se o Sam achar necessário que você vá, eu não me importo. – fingi indiferença, me sentia péssima em estar mentindo daquele jeito, mas não podia ceder, o que estava cada vez mais difícil.

— Você não me respondeu... – ele insistia e eu já não sabia da onde tirar forças para recusá-lo. Nunca havia sentindo aquilo antes, sentia meu coração se comprimindo a cada vez que olhava aqueles olhos azuis cintilando poucas lágrimas.

— O que quer que eu diga, Kaeth?

— Quero que diga a verdade, o que está sentindo.

— Você quer mesmo saber? – juntei o máximo de forças que tinha, as palavras cortavam minha garganta – Eu não sinto nada, na verdade a única coisa que consigo sentir por você, é desprezo. Eu achei uma coisa que não era verdade, só isso. Você sabe como somos nós humanos, mudamos de ideia facilmente. Você pareceu ser um cara legal, me interessei, mas não passou disso. Um cara bonito de olhos azuis, fora isso o que você é, Kaeth? Nada, você não é nada pra mim! – demorei um tempo até ter noção do que tinha acabado de dizer. Ele me olhava como se não me reconhecesse. Seus olhos estavam arregalados, uma brisa soprara seus fios loiros, e o tempo parecia ter congelado. Queria abraçá-lo, retirar tudo que havia dito, queria dizer que estava apaixonada por ele e cobri-lo de beijos, mas a única coisa que fiz foi desviar o olhar para um ponto cego.

                Não sabia até quando ia conseguir segurar aquela postura, rezei para que ele fosse embora antes que eu fizesse alguma besteira. Cruzei os braços e esperei alguma reação. Outra rajada de vento arrebatara a janela, a sensação que tive depois congelou minha respiração. Ele estava de joelhos e seus braços cercavam minha cintura. Imagine um cachorrinho pequeno, com poucos dias de vida, imagine que ele está a tempos sem comer, que está no meio da rua numa tempestade terrível, imagine ele grunhindo solenemente. Imagine seus olhinhos carentes lhe observando, sente o aperto no peito? A sensação que estava tendo era mil vezes pior. Quis acariciar seus cabelos, colocá-lo de pé e abraçá-lo o mais forte que pudesse. Mas não podia, era questão de tempo até acontecer de novo, se não fosse por causa de mulheres, seriam outras coisas. Sam estava certo, ele seria a minha ruína, e eu já estava com os dias contados, não podia correr mais um risco. A força que tive que fazer para afastar seus braços que apertavam minha cintura como se eu fosse o último suspiro que lhe prendia a vida, fora inimaginável. Antes de levantar, ele me encarou mais uma vez e quase me perdi naquele mar de olhos.

— Você não acredita em mim, não é? – permaneci sem encará-lo – Eu já sabia que isso ia acontecer, já devia saber que não iria mudar assim. Se você me quer longe, eu vou me afastar, mas antes preciso que você saiba de uma coisa, e foda-se se você acredita ou não. – ele enxugava algumas lágrimas retidas no rosto. – Eu não estava mentindo quando disse que gostava de você, Jessie Parker. Eu não fui gentil pra te fazer de idiota, eu fiz porque eu realmente quis, eu queria que você enxergasse a melhor parte de mim. Eu sei que devia ter sido franco com você, mas você... você – erguia a palma da mão a fim de tocar meu rosto, olhei para aquela mão se aproximando e me deixei sentir seu toque leve e macio... – você me fez enxergar as coisas diferentes. Você foi aquela luzinha que aparece no meio da escuridão absoluta mostrando que há sim, uma saída. E não foi de agora. Desde a primeira vez que eu a vi, sabia que tinha algo diferente em você. Desde que olhei aquela foto, aquele cabelo ruivo escorrendo sobre essa pele tão macia, esse olhar e esse sorriso... Deus, como cobicei esse sorriso! Sentia inveja pelo Derick ter achado você primeiro. Eu não deveria, desde o início eu sabia que não deveria ceder aos meus sentimentos, sabia que não era eu que iria estar ao seu lado no fim, sabia... Mas mesmo assim, eu não pude ignorar você. Porra gatinha, eu to completamente apaixonado por você! – tentei falar alguma coisa, mas não conseguia. Não sabia como reagir aquelas palavras. Nós dois nos olhávamos tentando buscar a resposta um no outro. Comecei a me perguntar por que tinha que ser assim. Meu coração gritava por ele, cada parte do meu corpo implorava para que eu me jogasse em seus braços e esquecesse de tudo. A expectativa que ele tinha no olhar estava nítida. E então as palavras de Sam vieram a minha mente, mesmo que aquilo fosse verdade, já havia alguém no coração de Kaeth. Mesmo que ele estivesse mesmo apaixonado por mim, ele amava outra, uma outra que provavelmente eu nunca poderia competir. Recuei um passo para trás tentando conter aquela dor que se manifestava em lágrimas que já se acomodavam e embaçavam minha visão.

— É melhor você ir. – disse forçando o máximo de frieza possível na voz e enxugando uma lágrima que havia teimado em escorrer pelo meu rosto. A decepção logo se estampou no dele.

— É isso mesmo que você quer, Jessie? Que eu vá embora? Você vai conseguir ficar longe de mim, gatinha? Porque eu juro que eu não consigo! – sentia o desespero e o apelo naquela voz fraca.

— Sim, é isso que eu quero. – concluí de olhos fechados, não conseguia olhar para ele naquele estado, sentia cada milímetro do meu corpo dilacerar com aquilo.

                Permaneci de olhos fechados esperando que acabasse. Até que senti o cheiro de jasmim e hortelã cada vez mais forte, e antes que pudesse abrir os olhos, sou surpreendida por um toque leve nos lábios, eram os dele. No começo fiquei relutante, mas depois não tinha como hesitar, ele era leve e ao mesmo tempo avassalador. Tentei não abrir passagem, mas minha boca o convidava instintivamente. Se me perguntassem quanto tempo durou aquele beijo, eu não saberia dizer, e se me pedissem para descrevê-lo, eu diria que fora algo mágico, sem exagero ou metáforas, fora realmente mágico. Seus lábios eram doces, e sua língua deslizava sobre a minha suavemente, o que me fazia querer mais. Segurei seus cabelos entre meus dedos e automaticamente ele apertou minha cintura. Havia esquecido de tudo que havia dito momentos antes, não queria parar, não ligava de não ter fôlego o suficiente. Só queria permanecer ali, sentindo o sabor daqueles lábios, e o seu toque me sustentando. Sinto a velocidade do beijo desacelerar, até sentir uma gota fria pousar nos meus lábios, era uma lágrima que acabara de escorrer do seu rosto, ele estava chorando. Ele afastou a boca, mas continuara na mesma proximidade, sua testa estava colada com a minha, seus olhos estavam fechados, e com alguma dificuldade eu o ouço falar:

— Eu irei, gatinha. Essa vai ser a última vez que você vai me ver.

— Kaeth------

— Eu prometo! – mais uma lágrimas escorreu pela sua nuca, ainda de olhos fechados ele beija a minha testa. E antes que pudesse falar algo, ele já havia partido. De rastro seu só tinha o  cheiro e o balançar da cortina. Após alguns segundos tentando assimilar, corro para a janela e a alguns metros à frente consigo vê-lo; um lobo branco de olhos azuis deslumbrava meus olhos. Ele me olha uma última vez, seus olhos refletiam o azul do céu e cintilavam, vejo uma lágrima escorrer pelo pêlo branco, ouço passos, olho para trás, Sam está me observando, olho de novo pela janela, não há ninguém, ele havia partido.

— Sam... Sam ele--------

— Ele não vai voltar, Jessie. – disse com pesar nos olhos, como alguém que dita algo irrefutável.

— Mas...mas se você falar com ele, pode ser que-----

— Nós demônios, temos uma forma de consolidar nosso compromisso. Uma vez que o fazemos não podemos voltar atrás com a nossa palavra, isso pode custar nossas próprias vidas. Esse beijo não foi só um beijo triste e apaixonado. Ele selou um pacto com você, consolidando a promessa dele. Sinto muito, Jessie... Mas ele não vai voltar.


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