Marcada escrita por Violet


Capítulo 12
Uma Noite de Gala


Notas iniciais do capítulo

Até que enfim, até que enfim a Violet postou pra mim!!! Demorou, mas saiu! Primeiro de tudo, minhas mais sinceras desculpas pelo atraso, mas essa semana foi triste pra mim. Mal consegui parar pra respirar! E como eu já falei em outras notas, os capítulos que vocês leem em quinze minutos, eu demoro umas três horas para escrever, e mais duas pra revisar. Mas deu certo, amém!
Recebi algumas mensagens via inbox perguntando se o Kaeth havia morrido ou saído da ´fic. Gente, ele não morreu, ele continua vivinho da silva. Quanto a se ele vai voltar, eu não sei. Mas se você for um pouco esperto, vai achar as respostas nos próprios capítulos, fiquem atentos!
Sem mais delongas, revisei esse capítulo umas 500 vezes, e ficou realmente bom (modéstia parte). Talvez tenha ficado um pouco grandinho, mas tá tão divo que vocês nem irão notar. Espero que gostem! Pls deixem suas opiniões nos comentários, é muito muito importante, e motiva a tia aqui e favoritar é legal, e não caem os dedos tá u.u! Go a leitura!!
~Violet



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Já haviam se passado algumas horas desde que o avião levantara voo. Os três já cruzavam o oceano. Jessie continuava a dormir recostada na cadeira e nenhuma palavra havia sido trocado a viagem toda. Ao lado; os irmãos permaneciam em suas resignadas poltronas. Derick fingia estar interessado no noticiário da TV, ao mesmo tempo que a observava atentamente. Sam já parecia bem mais despreocupado tomando seu chá gelado e lendo notícias sobre economia e política no jornal impresso. O silêncio abraçava o lugar, o avião particular contava com um piloto profissional, um co-piloto, um mordomo e uma aeromoça que só aparecia para oferecer café e amendoins, além de oferecer a si mesma, como petisco para os irmãos. O primeiro a se pronunciar fora Derick, já desligando o aparelho de TV.

— Devíamos acordá-la. – disse, observando-a mais uma vez.

— É melhor deixá-la dormir do que vê-la fazer perguntas pertinentes. – indagou Sam, saboreando mais um gole do chá suavemente.

— Ela não para de pensar nele. Eu não aguento mais ouvir os pensamentos dela. Quando não está pensando, está sonhando com ele. Devia dar um jeito nisso! – concluiu, cruzando os braços em negação.

— Ela está sofrendo. É normal entre os humanos sofrerem por causa de sentimentos, você sabe perfeitamente como é.

— Mas não vai fazer bem pra ela ficar lembrando dele desse jeito. Pode acabar distraindo-a, e lhe tirando o foco. Pode atrapalhar nosso plano, sabia disso? Por que não a faz esquecer dele? Ele não vai voltar mesmo. Seria matar dois coelhos numa cajadada só.

— Você quer que eu a faça esquecer dele para evitar distrações, ou por ciúmes, Derick? – sua sobrancelha arqueada contrariava a postura do irmão, que já desviava o olhar para algum ponto cego em meio à paisagem lá em baixo.

— Por mim, tanto faz! – disse por fim, dando de ombros.

                Algumas horas antes...

                Estava a meia hora olhando para aquela mala vermelha escancarada para mim, e ainda não sabia o que pôr nela. Havia um amontoado de roupas cujas  Sam havia trago da minha casa, e mais algumas que ele havia comprado, de muito bom gosto, diga-se de passagem. Mas simplesmente não sabia como seria dali pra frente. Não estava pronta para embarcar nessa aventura, se é que se pode ser chamada assim. O sol já estava começando a se pôr, o horizonte laranja espelhado na minha janela e a brisa fria, fora o suficiente para me trazer lembranças. Sentei naquela cama macia, e me deixei sentir aquele conforto mais uma vez. Lembrei da manhã em que acordei desnorteada e a visão que tive fora um par de olhos azuis me observando e um sorriso encantador se exibindo para mim. Aquela bandeja de café da manhã posta gentilmente por ele, como ele olhava ansioso para ver minha reação, como a sua alegria era contagiante. Olhei para a estante ao meu lado e a pilha de livros fora mais um tiro no coração.

A cena dele me entregando os presentes, e como havia ido parar naquele abraço tão aconchegante, o cheiro de jasmim com hortelã, meus braços ao redor de seu pescoço, seus cabelos entre em meus dedos... O edredom estava manchado, e antes que pudesse perceber gotas salgavam minha boca, estava chorando. Como podia ter sido tão estúpida, como tinha sido capaz de mandar embora o homem que já havia roubado meu coração?! Você deve me achar uma completa garota clichê e ingênua... Tenho que concordar, eu fora e agora não sabia o que fazer para tê-lo de volta. Sentia cada partícula do meu corpo se dilacerar de dentro para fora, mais um soluço, não conseguia parar de chorar. Estava como uma criança desesperada por colo, e eu realmente estava, mas pelo o dele.

A buzina do carro de Sam soava freneticamente, enfiei o restante das roupas na mala e quando estava prestes a fechá-la por completo, vejo uma camisa branca de mangas compridas estirada sobre o colchão. Tomei-a nas mãos lentamente e me permiti sentir aquele cheiro, o cheiro dele. Mais buzinadas desesperadas e a coloco junto com as peças, fechando-a finalmente. Antes de encontrá-los não pude deixar de passar em seu quarto. Estava meio bagunçado exatamente do jeito que ele havia deixado. Entretanto, não havia mais perfumes femininos ali dentro, o único aroma que se tinha, era o seu cheiro... Um aperto comprimiu meu peito e pude senti-lo ali, no íntimo do seu quarto. Após ouvir os gritos do Derick fui obrigada a sair de lá, e antes que pudesse fechar a porta, vejo uma foto esgueirada sobre uma estante com a gaveta entre aberta. Olho a foto, era eu. Estava sentada com duas garotas no refeitório da faculdade. Uma delas já havia visto, era mesma que viera atrás de mim e que dizia me conhecer, a outra de cabelos castanhos claros e lisos que parecia brincar com a loira, não me era nem um pouco familiar, mas na foto parecíamos bem mais que familiarizadas. Pus a foto no casaco, tiraria aquilo a limpo depois.

                Atualmente...

                Acordei com algumas ânsias de vômito, definitivamente aviões não eram o meu forte. Procurei os meus guarda-costas e só consegui avistar um deles. Ele parecia concentrado em algum livro de literatura. Seus olhos mal pareciam piscar, por um momento invejei tamanho foco. Fiquei observando-o de perfil. Dos três, o que eu menos conhecia era ele. Seu semblante era sempre muito estável, e ao mesmo tempo cheio de incógnitas. Apesar do aspecto constante de formalidade, Sam era realmente um homem de parar o trânsito. Algo incontestável, era o seu bom gosto. Sempre envolto em ternos e sapatos caros, perfumes com fragrâncias excepcionais... Um olhar era fatal. Sem falar que até as mulheres mais inteligentes eram incapazes de resistir a tamanho charme. Torno o olhar para a janela, já estava escuro, a julgar pelo GPS estávamos em nosso destino para tentar descobrir o meu.

                Depois de algumas horas arrastadas, finalmente chegamos. O hotel parecia bastante luxuoso, e o figurino dos habitantes dele, mais ainda. Levamos alguns minutos para descarregar as malas, as minhas estavam mais pesadas do que eu lembrava, tive dificuldade para retirar a última. Todos estavam a postos, partimos em direção àquele palacete. Derick estava um pouco mais distante, não que nossa relação fosse das melhores, mas desde que havíamos partido, ele não me dirigira a palavra. Ele usava um casaco de couro com capuz, e uma touca preta que deixava apenas alguns fios de cabelo a solta. Não pude deixar de reparar no quão sexy ele estava naquelas roupas de inverno. Quase enfartei quando o vi se alongar e o casaco subir exibindo parte de um dragão chinês em sua costela. Não sei se era impressão minha, mas o clima frio e as vestimentas enalteciam a beleza “não-ogra” dele. Seus olhos dourados estavam mais para um castanho mel, e suas bochechas um pouco rosadas, pensei em fazer alguma piada, mas achei melhor manter o foco. Sam já estava bem mais formal, mesmo com roupas de frio, aquele ser conseguia ser elegante. Ele vestia um casaco comprido que iam até a altura dos joelhos, e fechavam em botões na lateral, acompanhado por um cachecol cinza perfeitamente encaixado em seu pescoço. Eu estava mais para uma criança do fundamental. Vestia um casaco de couro marrom, um cachecol rosa e uma touca da mesma cor deixando os cabelos a solta.

                Podia ouvir os sussurros e olhares surpresos que as mulheres lançavam ao passar por nós. Não aguentei quando vi um grupo de meninas metidas passando e os “comendo” com os olhos. Entrelacei os braços entre os deles, me pondo no meio e pisquei para elas com uma expressão de superioridade, consegui ver em negrito o nome “inveja” estampado em suas testas. Mas logo fui traída, ambos retiraram os braços dos meus, Derick mais bruscamente, claro. Comecei apanhar as malas, uma de cada vez, e por Alá! Estava carregando um corpo ali dentro. Vi Derick se aproximar e erguer a mão, e no mesmo instante lhe entreguei a mala, até ele desviar e apanhar a dele que estava próximo, quis enfiar meu rosto no concreto.

— Achei que fôssemos para o Egito. – indaguei, tentando disfarçar minha completa gafe.

— Íamos, mas descobrimos que ela não está mais lá. Ela vive numa ilha isolada próxima à cidade. Vamos, tentem não encarar demais as pessoas, não sabemos que seres estão por aqui.

— Mas por que, gente? Estamos no Canadá, o que pode acontecer de errado por aqui?!

— Acho que você esqueceu que além de estar sendo caçada por todo o mundo, matou os três Guardiões da Fênix. Ta bom, ou quer mais? – o vi acelerar o passo e esbarrar em mim, e quase caio por cima das malas. Quis protestar, mas ele estava certo. Será que era por isso que ele havia se afastado? Se fosse, teria toda a razão, eles estavam correndo um grande risco estando com uma criminosa sobrenatural como eu. Sam poderia permanecer calado, mas sabia que compartilhava da mesma ideia.

                Subimos todos para nossos respectivos quartos. Os dos garotos ficavam ao lado do meu, Sam achou mais seguro assim. Como se era de esperar, o quarto era de alto escalão. A mobília era completamente sofisticada, e a decoração era uma espécie de clássica modernista. Deixei todas as malas no chão e me joguei naquela cama que gritava por mim. O colchão era tão macio que podia senti-lo me abraçar, estava nas nuvens. Minha parada seguinte foi até a pequena cozinha que tinha lá dentro. A geladeira me parecia tão moderna que me perguntei se não daria para assistir TV nela. Havia todo tipo comida, desde as mais saudáveis, as guloseimas. Um pote enorme de sorvete de avelã implorava para que eu o provasse. O sabor era ainda melhor do que parecia, em toda a minha vida. Nunca havia comido algo tão saboroso,e lá se vai a dieta que um dia sonhei em ter.

                Próximo a cama havia uma outra porta de vidro que dava acesso à varanda. De lá eu tinha a mais perfeita visão. A brisa da noite ressoava entre meu cabelo e minha nuca, senti um arrepio repentino, ignorei. A noite já havia caído, e as luzes da cidade iluminavam minha vista, a lua estava perfeitamente apontada para mim. Um aperto comprimira meu peito, e lembranças retornaram à minha mente. Lágrimas começaram a se formar ao redor dos meus olhos, e quis expulsar aquela dorzinha que voltava a me atormentar. Um momento de distração me fez soltar o pote de sorvete lá de cima, não sei quem fora a vítima, mas ela esbravejava lá em baixo, reclamando de ter sujado o suéter caro. Me recolhi rapidamente, não fazia nem vinte e quatro horas que estava lá, e já havia cometido meu primeiro crime. Alguns instantes depois, ouço um barulho que aumentava gradualmente. Algo parecido com garras arranhando alguma coisa. Me aproximo e vejo uma pequena sombra recuar para debaixo da cama. Primeiro pensei em chamar alguém do hotel, temi ser algum rato ou algo do tipo, mas um hotel daquele porte raramente teria um rato em seus quartos.

                Com alguma hesitação me ajoelhei no chão, e saí a vasculhar em busca do pequeno invasor. Não demorou muito para que o achasse. Seus olhinhos azuis brilhavam em meio àquela pequena escuridão. Ele parecia retraído e com medo, tentei aproximar o braço a fim de tocá-lo, mas ele estava bastante arisco, então recorri a um truque sujo. Busquei na cozinha um enlatado de atum e com uma colher retirei um pouco. Não precisei me aproximar muito, ele já estava sentado, balançando a cauda freneticamente, e seus olhos não desgrudavam da colher de atum que eu segurava. Gatos, tão previsíveis! Ele tinha o pêlo completamente branco, e um par de olhinhos azuis famintos. Era lindo, e seu pêlo era tão macio e bem tratado  que não o faziam parecer um gato de rua. Ele observava o atum e depois à mim, como se perguntasse “ O que ela está esperando para me dar a comida?!”

— Acho que está faminto, não está? – igualei a altura já me aproximando, dessa vez não houve recuo. – Aqui, está bom para você? – estendi a tigela em que havia posto o atum, e ele devorou tudo em segundos. – Nossa, está mesmo com fome, não é---- Ahn... – tentei distinguir seus órgãos genitais – Awn, é uma menina! Vou te chamar de “K” * Lê-se “Key”) – ela já se esfregava nas minhas pernas de um lado para o outro, se não fosse tão ingênua, diria que era puro interesse.

                Coloquei o restante do atum, e um pouco de água ao lado. Fiquei observando-a comer, enquanto acariciava seus pêlos. Em pouco tempo já estava apegada à gatinha, “gatinha”... Parecia um karma, estava vivendo um. Batidas na porta rapidamente me alarmaram. Não sabia se podia ter animais ali, ao que tudo indicava, não. Tentei escondê-la em baixo da mesa, mas ela persistia em me seguir e se enroscar nas minhas pernas, tive que fechar a porta e rezar para que ela não miasse dali. Arrumei os cabelos em um coque mal feito, e tentei fazer expressão de inocente, abri a porta.

— Atrapalho? – Era Sam com uma caixa em mãos. Ele era esperto, tinha que caprichar e baixar o santo da atriz.

— Sim, quer dizer, não! O que houve? – fiz cara de preocupada.

— Hum... – ele avaliava o ambiente atrás de mim – Vim avisá-la que vamos sair daqui a quinze minutos.

— Sair? Pra onde?

— Jantar.

— Achei que fôssemos jantar no hotel.

— Acha mesmo que iria estragar meu paladar com essa porcaria que eles servem aqui? – o vi arquear a sobrancelha como se tivesse sido realmente insultado.

— Então, aonde vamos?

— Vai saber quando chegarmos lá. Agora sugiro que se arrume logo se não quiser dormir com fome.

— Ta, ta... – bufei e fui fuzilada por um olhar de reprovação. – Mais alguma coisa, senhor?

— Isso... – ele ergueu a caixa que tinha em mãos.

— O que é isso?

— Não pergunte, só pegue e agradeça. – apanhei a caixa, estava um pouco pesada, me perguntei o que poderia ter ali dentro. – Não quero ser acompanhado por você, vestida com essas roupas caipiras.

— Espera aí! Caipiras não! – retruquei já esbravejando, mas ele pareceu não se importar.

— A propósito, troque os brincos para os de pérolas, vai fazer um contraste com o tom da sua pele, e nada de colares espalhafatosos.Tem uma gargantilha aí que vai realçar seus olhos, e o vestido, a cor do seu cabelo. Esteja lá em baixo em meia hora, acho que em quinze minutos não dá para fazer um milagre. – o vi ajeitar o terno e sair a passos leves. Tive vontade de enforcá-lo com aquele cachecol, havia sido insultada descaradamente! Malditos Ackles e seus sensos de superioridade.

                Abri a caixa e me deslumbrei instantaneamente com o que vi. Havia um vestido perfeitamente dobrado, um par de sapatos, e uma caixa pequena com um par de brincos e um colar que devia ter custado mais que a minha casa. Estendi o vestido sobre a cama e quase enfartei com o que vi, era simplesmente o vestido mais lindo que havia visto. Tomei um banho na velocidade da luz e me pus a “operação milagre”. O mais difícil foi me vestir, claro. Não tinha o costume de lidar com aqueles tecidos tão leves, elegantes e cheios de detalhes. Depois de algumas lutas travadas contra abotoaduras, ajustes, e afins, pude me olhar no espelho. O vestido era de cor violeta com uma tonalidade clara e leve, era “tomara que caia” um pouco justo no busto o que deu pra dar uma disfarçada na falta de atributos.

 Ele encaixava perfeitamente na minha cintura que estava até um pouco mais fina do que eu lembrava. Na altura do quadril algumas pedrinhas parecidas com pequenos diamantes circundavam o tecido, a sua cauda era um pouco longa e se formava em uma espécie de “cauda de sereia”. Os sapatos eram num tom prateado um pouco aveludado que realçava as pedrinhas do vestido.Me perguntei como me sustentaria naquele salto alto tão fino. Me derreti quando avistei as jóias! A gargantilha era sutil, e ao mesmo tempo impactante; era prateada e contornada por pequenas pedrinhas de diamantes assim como o vestido, parecia ter sido feita por encomenda.  Os brincos eram praticamente impossíveis de serem ignorados, eram pequenos e contornados por pérolas que de longe se avistavam, brilhavam intensamente. Tive que admitir, combinava perfeitamente com o meu tom de pele.

O toque final fora a minha juba vermelha. Joguei o cabelo para frente, e fiquei pensando para que santo eu teria que rezar para fazer um milagre ali. Foi então que lembrei de alguns penteados de famosos que havia visto numa revista de fofoca.  Primeiro pensei em fazer algum coque de mechas soltas, me parecia mais elegante. Mas então vi que não seria o ideal. O vestido e as jóias já transmitiam sutileza demais, o penteado teria que fazer o contraste, acho que estava pegando o jeito de Sam. Com ajuda de uma escova e algumas presilhas consegui fazer um belo trabalho, diga-se de passagem. Acabei por prender apenas uma parte do cabelo no alto com uma presilha de brilhantes, e deixei o restante do cabelo escorrer sobre minhas costas em cachos modelados, e a frente do rosto apenas uma fina mecha ruiva ondulada. Uma base, um rímel para levantar o olhar e um gloss labial para enaltecer meus lábios e pronto! Estava uma perfeita dama, ao menos na aparência.

                Faltavam exatamente dois minutos para o meu prazo acabar, e lá estavam eles. Não pude conter um sorrisinho quando vi a reação de ambos que me observavam como se não me reconhecessem. Sam logo recobrou a postura e voltou a conversar com o gerente do hotel. Derick  permanecia me observando com aqueles olhos dourados paralisados, não pude evitar de sentir minha auto estima dar um salto. Um dos hóspedes saía do hotel e quase pulara em cima de mim, ele me observava da cabeça aos pés. Um grupo de homens que saía de um táxi me encarava enquanto trocavam sussurros. Um deles flertava com o olhar, e fiz pose de difícil. Sam já entrava no carro e ergui minha mão para que Derick me acompanhasse até o carro como toda boa dama. Na verdade, só estava com medo de tropeçar nos próprios pés e me arrebentar no chão! Fiquei alguns segundos parada com a mão estendida esperando que ele a tomasse, ele me olhou dos pés a cabeça, se aproximou e deu meia volta, já entrando no carro e me ignorando completamente. Quis afundar minha cabeça num poço profundo, ou melhor, afogá-lo num poço profundo.

— Grosso! – sussurrei, segurando a cauda do vestido e tentando entrar no carro com aquele salto gigante.

— Vamos logo, eu to com fome! – o ouço gritar do banco da frente, o que me enraiveceu ainda mais. O que tinha de bonito, tinha de grosseiro!

                O restaurante não ficava muito longe dali. Tinha que admitir, Sam tinha um bom gosto absurdo! Enquanto o gerente reconhecia as reservas, fiz uma pequena checada no lugar. Era simplesmente deslumbrante. As mesas eram todas decoradas com arranjos de flores, cada mesa um arranjo diferente. As cadeiras pareciam ser feitas de cristais, e a iluminação proveniente dos lustres, me remetiam o século dezenove. Não demorou muito, e um garçom muito educado nos guiou até nossa respectiva mesa. No caminho podia ouvir os comentários sobre nós, a maioria de mulheres, que não se continham observando os dois rapazes a minha frente. Eles estavam chamando atenção de todo o sexo feminino naquele salão, desde as mais novas até as senhoras de idade avançada. Sam estava ainda mais charmoso naquele smoking, seu cabelo estava perfeitamente penteado, e ele estava sem os óculos, acho que deveria estar usando lentes de contato. Seus olhos acinzentados transpassavam um ar misterioso e charmoso, até seu semblante sério fazia as mulheres tremerem nas bases. Derick já fazia um contraste um pouco diferente. Ele usava uma calça social preta, e uma camisa de botões formal e com as mangas dobradas até a altura do cotovelo que se ajustavam naqueles definidos bíceps, deixando amostra uma pequena parte da tatuagem, era um prato cheio para elas.

                Nossa mesa estava chamando mais atenção do que eu presumia. Alguns homens tentavam trocar olhares com flertes, mas ignorei veemente. Mas estava difícil ignorar meio mundo de mulheres com os olhos fixados nos dois. Todas paravam para gesticular a fim de chamar suas atenções. Algumas ajeitavam o cabelo, outras se recostavam na cadeira mostrando as pernas, e outras desciam mais o vestido, a fim de aumentar o decote e exibir os seios fartos. Sam parecia não se importar, ele permanecia avaliando o cardápio. Já Derick, esse parecia fazer questão de se exibir. A cada instante era uma trocada de olhar diferente, não fazia nem trinta minutos que estávamos ali, e ele já havia flertado com umas cinquenta mulheres! Tentei ignorá-lo e focar no garçom que já vinha recolher os pedidos.

— O que vão querer? – perguntou num tom educado, e eu não tinha resposta. Nunca havia ido num restaurante tão elegante, não fazia ideia do que estava escrito no cardápio.

— Não consigo entender o que está escrito, está tudo em francês. – disse, já me arrependendo. Todos me olharam como se eu fosse algum alienígena perdido.

— Claro que está. Esse é um restaurante francês, lerda! – Derick dispara e quis enfiar aquela faquinha de mesa em sua garganta e cortar suas cordas vocais.

— Traga a recomendação do chefe, por favor! – Sam interveio, e o garçom se fora. Abri a boca para dizer poucas e boas, mas fui repreendida por um olhar de “nem pense nisso” dele.

— Vou ao banheiro, com licença rapazes! – disse em um tom irônico, já me levantando.

— Ei! – vejo Derick me puxar pelo braço.

— O quê? Tem alguma diferença entre os banheiros comuns e os franceses, por acaso? – disparei um pouco mais alto do que pretendia.

— Cuidado com os abutres. – concluiu simplesmente, e voltou a ler o cardápio. Fiquei observando-o por um tempo tentando entender aquele aviso.

                Ao entrar no banheiro, vejo as mesmas garotas que se ofereciam há pouco para os dois. Elas retocavam a maquiagem, fingi fazer o mesmo. Oferecidas ou não, ambas eram bonitas. Uma delas tinha os cabelos castanhos presos num coque alto, e uma pequena franja. Ela vestia um vestido longo de cor bege e um salto não muito alto. A outra parecia bem mais vulgar, era a que quase havia posto os seios para fora quando vira  Derick entrar. Ela vestia um vestido até a altura das coxas, era tão justo que podia ver seus orgãos. Seu cabelo estava solto, era longo e se desenrolava em algumas ondulações, era um loiro tingido proveniente de algum salão recentemente. Ela retocava o batom vermelho-sangue enquanto comentava empolgada.

— Você viu os dois gatos da mesa ao lado? – a loira se prontificou, e fingi ignorá-las.

— Sim! O de smoking é um charme! Viu a elegância dele? O olhar frio. Deve ser rico! Daria tudo para rasgar aquele terno caro! – a vi fazer gestos em demonstração de calor.

— Verdade. Mas ainda prefiro o outro, o de olhos claros. Viu como ele é sexy? Aquele cabelo meio bagunçado, aqueles bíceps, o jeito despojado, me molhei toda só de vê-lo passar. E o olhar... – ela deu ênfase com um pequeno gemido e quis vomitar ali mesmo. – Quero aquele homem, e vai ser essa noite! – disse por fim, e ambas saíram entre risinhos, pareciam nem ter me notado ali. Quis me encolher no banheiro até a hora de ir embora. Se fora assim com Derick, imagina como não teria sido com Kaeth. A imagem dele com outras mulheres naquela noite me veio à mente, e a dorzinha logo viera me fazer companhia.

                Mal havia voltado para a mesa, e ambos já estavam trocando olhares de terceiras intenções. Sentei rispidamente e pigarreei, mas ele pareceu me ignorar completamente. Sam lia algum jornal e tomava um chá despreocupadamente. O jantar já havia sido servido e parecia saboroso, mas meu estômago havia se revirado por completo com a cena do banheiro, optei por não comer. Os flertes estavam num nível tão absurdo que só faltavam se agarrar ali mesmo. Ela continuava a se oferecer como um banquete para ele, só faltava a maçã na boca, porque a leitoa já estava ali. E ele não parecia recusar nem um pouco. Foi então que passei a vasculhar o salão em busca de alguém interessante. Não demorou muito para que achasse. Numa mesa não tão distante, havia um grupo de rapazes que jantavam juntos. Um deles me olhava intensamente. Para minha sorte, não era de se jogar fora. Era alto, usava terno e gravata, tinha olhos castanhos e o cabelo preto num corte bem feito. Bastou algumas piscadas e ele já sorria para mim, tinha que admitir, ele tinha um sorriso lindo. Era o alvo perfeito!                 Passamos a trocar olhares mais intensos, eu enrolava uma mecha do cabelo, forçando um olhar sedutor, e ele correspondia na mesma intensidade. Não demorou muito para Derick interromper seus flertes e passar a se concentrar nos meus. De repente vi o rapaz se recostar na cadeira e desviar o olhar. Ao meu lado, Derick o encarava com um olhar ameaçador capaz de fazer qualquer um se borrar de medo. Aquilo fora o ápice! Não bastasse os flertes que ele estava fazendo nitidamente, ainda estava afastando os meus. Juntei toda a coragem que ainda me restava, joguei o cabelo para frente dos ombros, ajustei o vestido levantando ainda mais os meus seios, e levantei da mesa antes que ele pudesse protestar.

                Podia sentir os olhares me acompanhando, principalmente o de Derick, sabia que ele estava prestes a ir até onde eu estava. Quando dei por mim, estava parada ao lado de uma mesa cheia de homens. Eles me observavam interessados, me avaliando da cabeça aos pés. O rapaz de antes sorria para mim, e olhava ao meu redor receoso, como que se estivesse procurando o dono do olhar ameaçador. Não sabia como tinha ido parar ali, outras pessoas me encaravam ao redor e senti minhas bochechas arderem de vergonha. Foi então que avistei alguns casais dançando do outro lado do salão, tocavam algumas músicas lentas, já tinha minha desculpa plausível.

— Quer dançar? – forcei um sorriso, e todos eles me olharam surpresos, estimulando-o a levantar, e parabenizando-o com tapinhas nas costas! Homens...

— Claro! – ele levantou subitamente, e ergueu o braço para mim. Não pude deixar de dar uma ultima olhada para Derick acompanhada de um sorrisinho, podia sentir a raiva emanando daqueles olhos dourados.

                Dançamos algumas músicas e travamos alguns diálogos curtos. Ele já havia me elogiado mais vezes do que podia contar, e a única coisa que fazia, era agradecê-lo. Era um completo monólogo; ele perguntava sobre mim e eu apenas respondia com respostas curtas. Quando dei por mim, ele estava mais próximo do que deveria estar. Suas mãos já desciam lentamente pelo meu vestido, e antes que pudesse dizer algo, vejo uma mão apertar seu ombro.

— Acho que já está na minha vez, não? – ele ironizava enquanto apertava ainda mais o ombro do rapaz, tive pena dele.

— Não, Derick. Eu não sou poker para estar na sua vez. Agora, se me dá licença... – comecei a retomar a dança, mas o rapaz parecia petrificado. Ele olhava para Derick como se ele fosse o próprio diabo.

— A-acho melhor eu ir... – gaguejou e eu o deixei ir.

— O que raios você pensa que está fazendo? – esbravejei cruzando os braços.

— Eu? O cara tava quase te comendo aqui mesmo! – ele parou de falar quando descruzei os braços. A raiva estava sendo substituída por mágoa, quis sair dali, mas ele me segurou pelo pulso. – Desculpa, eu não quis dizer que você é dessas. Mas o cara tava quase te agarrando aqui.

— E daí? Eu sei me cuidar! Você estava quase “comendo” aquela loira falsificada com os olhos e nem por isso eu interrompi os dois. Você não tem nada a ver com a minha vida, Derick!

— Espera... Você ta com ciúmes, é isso? – odiei ver aquele sorrisinho de vitória se formar naqueles lábios, quis matá-lo!

— Ciúmes? De você? Nem que você fosse o último homem da Terra! – bufei desviando o olhar.

— Por que não? Só porque não sou loiro dos olhos azuis, Jess? – aquela pergunta dilacerara meu coração. E tudo aquilo eu havia lutado para manter afastado de mim, estava retornando como uma avalanche.

Quis brigar com ele, enchê-lo de tapas por me fazer sentir tudo aquilo de novo, ou simplesmente sair correndo. Mas a única coisa que consegui fazer foi chorar. As lágrimas já corriam livres pelo meu rosto, e as pessoas ao redor começavam a observar. Foi então que com uma leve força, ele me puxou contra o seu peito, tentei protestar e me esgueirar, mas ele era mais forte que eu. Uma nova música havia começado a tocar, era:“You Are Missing It – Jason Walker. Ele começou a dançar em passos lentos, e tentei acompanhar ainda com o rosto enterrado em seu peito. Ali, escondida entre a gola de sua camisa e a sua nuca sentindo aquele cheiro de avelã com amêndoas, me senti confortável. Com uma mão ele segurava minha cintura firmemente, como se temesse que eu pudesse escapar, e com a outra ele afagava meu cabelo. A música já estava perto de acabar, e minhas lágrimas já haviam cessado, mas mesmo assim, não me importei em me afastar. Ali, naquele momento, me sentia segura. Mas não era justo, estava  afogando minhas dores nele, dores causadas pela ausência do seu irmão, me afastei para olhá-lo nos olhos.

— O carro está pronto, podemos ir? – vejo a loira oxigenada surgir atrás de mim.

— Agora? – ele tentava disfarçar, mas já sabia o que estava acontecendo, senti meu estômago se revirar.

— Sim, a menos que... – ela me observava da cabeça aos pés – tenha algo mais interessante para fazer, o que acho difícil. A propósito, ela é algum tipo de acompanhante? Porque se for... Tenho alguns amigos interessados, e eles pagam bem. – a vi apontar para uma mesa cheia de homens bêbados que nos observavam em êxtase.

—Você ta insinuando que---- – as  palavras mal saiam, estava frustrada demais para dizer algo coerente, minha vontade foi estapeá-la ali mesmo. – Olha, acho que a única acompanhante aqui seria você, se bem que nem para isso você serviria, né queridinha. Qual homem vai querer sair acompanhado de uma mulher com duas bolas de basquete no lugar dos peitos, com a frase escrita na testa: “Me coma!”. E a propósito, melhor aumentar o tamanho desse vestido, consigo ver a divisão do mapa mundi com essas suas gordurinhas saltitantes! Passar bem! – saí pisando duro e sem olhar para trás. – Vamos embora! – disse já apanhando a bolsa sobre a mesa, mas Sam me olhava sem entender nada. Apenas saí do restaurante, precisava respirar ar puro ou matar alguém!

— Cadê ela? – Derick pergunta já se aproximando do irmão, que dá de ombros simplesmente.

— Resolvam-se vocês, eu não vou sair daqui sem comer minha sobremesa italiana. – concluiu voltando a ler o jornal.

                Tinha saído tão enfurecida, que apenas comecei a caminhar sem rumo e direção. Os sapatos já apertavam meus pés e estava sem paciência para bancar a dama elegante, não era dama e nem elegante. Tirei-os e senti o chão frio gelar meus pés. Algumas nuvens carregadas anunciavam uma tempestade. Pensei em pegar o primeiro táxi e voltar para casa, mas que casa? Não tinha ninguém por mim, não sabia nem se iria sobreviver de verdade. Só queria vê-lo novamente me dizer que tudo iria ficar bem, e que ele iria me proteger. Precisava ver aqueles olhos azuis mais uma vez. Lágrimas começaram a se misturas com as gotas de chuva, me encolhi de joelhos e me deixei chorar entre soluços tentando lavar a própria alma. Como ele tinha tido a coragem de partir?! Por que aquele pacto idiota? Para quê? Não fazia sentido selar um pacto que nos afastasse. Será que ele era tão idiota a ponto de não perceber que ele não podia me deixar agora, não agora que eu precisava tanto dele!

— Jess! – lá estava Derick. Ele não estava mais de terno, sua camisa estava tão molhada que já se tornava transparente. Seus cabelos pretos gotejavam, e ele arfava intensamente como se tivesse corrido uma maratona para chegar ali.

— Ainda está aqui? Achei que já estivesse  com ela. – disse secamente. Ele sorria pra mim, o que me deixava estupidamente confusa.

— Não, ela não queria dividir a conta do motel! – ele ria como se fosse algo natural, minha raiva só aumentava cada vez mais. Dei as costas e comecei a caminhar, mas ele segurou minha mão, não pude deixar de olhá-lo.

— Vem, vamos embora. – pediu num tom terno, entrelaçando seus dedos nos meus. – Vai pegar um resfriado com essa chuva.

— E o que você tem a ver com isso? Quer ditar até a maneira que vou morrer, por acaso? – retruquei, já soltando sua mão.

— Uma coisa é você ser morta por monstros, demônios, ou por um poder mágico de uma marca desconhecida, outra é você morrer por causa de um resfriado, é patético! Você merece uma morte mais animada, não acha? – ele sorria, e não pude evitar de fazer o mesmo. – Vamos? – ele esticava a mão, e ponderei um pouco antes de ceder.

— Tudo bem, eu vou... – concluí, e me deixei ser guiada. Mas antes de começarmos a caminhar, ele olhou para os meus pés e em seguida para várias poças de lama que se formavam a nossa frente.  Trocamos olhares mais uma vez, e o vi me pegar no colo. – Ei! O que você pensa que ta fazendo?! Me solta! – protestei, mas ele me ignorava completamente. Tentei me soltar, mas ele parecia ter músculos de titânio.

— O Sam te mata se você sujar o carro dele.

— Não me importa, vou caminhando. Me solta!

— Ah, importa sim. Você não vai querer vê-lo com raiva quando ele vir o seu carro sujo de lama. Ele mata nós dois!

— Hum – bufei, evitando encará-lo nos olhos. – Mas vou logo avisando, se aquela loira falsificada estiver lá, vou esfregar a cara dela no asfalto até aquele cabelo tingido de loiro ficar vermelho-sangue, literalmente sangue! – ele ria freneticamente como uma criança, e não pude deixar de admirá-lo.

— Delicada como uma britadeira! – minha marca ardia um pouco, mas ignorei e me deixei ser carregada por ele. Não era o colo que eu queria, mas era o que eu precisava.


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