Marcada escrita por Violet


Capítulo 10
Partes de Mim


Notas iniciais do capítulo

Olálálálaá pessoinhas! E ai, como vão? Bem? Eu também.! õ/ Seja bem-vindo a mais um capítulo de "Marcada", a fic que te faz questionar a prórpia existência, hahahaha! Mais um capítulo pra mexer com o heart de vocês. Se acomodem aí, peguem os óculos, e vamos à leitura!
~Violet



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— Quem é você?

— O quê? Como assim quem sou eu, Jess? – perguntava a loira com uma expressão de quem não estava entendendo nada.

— Desculpe, eu conheço você?

— Você ta brincando comigo, é isso? Olha Jess, não temos tempo pra isso... Precisamos ir agora, antes que eles voltem! – já puxava a ruiva pelo braço, que a rejeitou bruscamente.

— O que você pensa que ta fazendo?

— O que “você” pensa que ta fazendo, Jess? Isso é algum tipo de pegadinha por acaso? – silêncio – Sou eu, Kat... Katerina Collins, a sua melhor amiga, aquela que te salvou daquelas garotas que jogavam pasta de amendoim no seu vestido quando tínhamos seis anos... Não lembra?!

— Desculpe, mas acho que está me confundindo com outra pessoa. – disse já recuando alguns passos o que a deixou ainda mais frustrada.

— Você não pode ta falando sério, né? Sou eu, Kat! July, você lembra dela? A vampiresca de mechas roxas, ela ta desaparecida, e o John há dias que ele sumiu, precisamos ir e chamar ajuda! – ao notar o permanente olhar confuso de Jess, a loira começa a encará-la mais profundamente sob expectativa, mas ainda permanecia desconhecida para ela. – Jessie Parker, diga que você está brincando!

— Algum problema? – surge o moreno alto envolto a um roupão de seda, tragando seu charuto escocês e batendo a porta levemente atrás de si. Jessie vai em sua direção.

— Sam, acho que essa garota está me confundindo com alguém.

— Não, não estou! Mas que merda você ta fazendo com eles? Eles nos sequestraram! Quem sabe eles não estão com o John e a July também?! – gritou em tom acusativo, fuzilando-o com o olhar.

— Você conhece essas pessoas de quem ela está falando, Jessie?

— Não, não conheço. – disse simplesmente, pondo uma mecha ruiva atrás da orelha.

— Como não? Vo----

— Desculpe, mas... está tarde. Melhor que se retire, está óbvio que cometeu algum engano vindo até aqui. – concluiu dando mais uma tragada leve no charuto.

— Eu o quê? Vocês que me trouxeram pra cá! Eu não sei o que fizeram com ela, mas vão se dar mal! Vou chamar a polícia agora mesmo!

— Espere – pediu num tom mais terno que rijo. E a loira mesmo sob hesitação, assentiu e ficou observando-o dar uma última tragada e dispensar o charuto. – Acho que podemos resolver esse mal entendido – ele se aproxima a passos largos, seu cabelo estava perfeitamente penteado para trás sob efeito de algum gel, nem a ventania da noite rompia aquele perfeccionismo todo. Ele toma suas mãos sutilmente, e a loira recua subitamente, há um cruzamento de olhares e Jessie apenas observa os dois. Após uma pausa de hesitação suas mãos estavam entrelaçadas. Kat tem seu olhar preso aos olhos de Sam. – Tente lembrar novamente, pode ser que ache a resposta para o que procura – uma rajada de vento se tem ali. Jessie sente um arrepio forte na espinha o que a faz esfregar os braços observando aquela cena. A loira dá um leve suspiro de olhos fechados, como se estivesse buscando algo. Ela aperta as mãos do rapaz antes de disparar:

— Acho que lembrei. Me perdoe, eu realmente cometi um engano – se voltava para ruiva que parecia estar mais confusa que no começo. – Eu estava procurando alguém e... Achei que pudesse ser você. Desculpa! – concluiu abraçando Jess, que não esboçara reação alguma. Após mais alguns pedidos de desculpa, ela encara Sam uma última vez e se vai.

— Isso foi muito estranho!

— Venha, está frio aqui fora. – disse, já puxando-a levemente consigo e adentrando a casa.

O acompanhei até o único cômodo que não tinha ido ainda; a cozinha. Estava confusa demais e queria lhe fazer várias perguntas. Mas pelo pouco que conhecia dele, sabia que o ideal era permanecer calada. Ele me flagrou em meus pensamentos e fez um gesto pedindo para que eu sentasse no banco próximo ao balcão e o fiz sem questionar. Fiquei observando ele procurar algumas coisas no armário, e então percebi que era a primeira vez que estava sozinha com Sam. Como não o conhecia muito, isso me dava um maior receio, não sabia onde estava pisando e do que ele era capaz. Mas ali na cozinha com seu roupão elegante, pude ver o quão normal ele parecia, ta bom... normal nem tanto, mas só parecia alguém sério e intelectual, a aparência de nerd não o tornava menos atraente, seja lá quem fosse a mãe deles, tinha que parabenizá-la, tinha feito um ótimo trabalho.

— Gosta de café? – perguntou erguendo um par de xícaras de porcelana de aparência delicada. Demorei um pouco para assimilar a oferta, até que sem pensar muito assenti. E ele voltou a preparar o café sem me notar muito.

— Aquela garota...Não pareceu estranha? – perguntei mais a mim mesma do que à ele.

— Bom, não é muito normal garotas desarrumadas e desajeitadas estarem fazendo alvoroço na porta da minha casa as três da manhã.

— Não – não pude conter a pequena risadinha que saiu com seu tom irônico – Me refiro a... sabe – tentei achar as palavras certas, recobrando a seriedade. – ela parecia me conhecer de verdade. Além de saber meu nome completo, ela me olhava como se realmente soubesse quem eu era.

— Entendo... – distribuía as xícaras no balcão. – Bom, não existe só você de Jessie Parker na cidade, sabia? – ergueu o olhar sobre os óculos enquanto despejava o café na xícara liberando um cheiro maravilhoso e nostálgico. – E depois, pessoas cometem enganos. Você viu, ela até pediu desculpas depois.

— Hum... Pode ser – assenti encarando meu reflexo no café que balançava naquela xícara, o aroma estava delicioso.

— Mas e então... Mudando de assunto, o que está achando de ficar aqui? Mesmo contra a sua vontade – disse mostrando um meio sorriso, que certamente era de abalar as estruturas. O encarei, desviei o olhar para o café a minha frente tentando achar a resposta ali, mas não a tinha. Não sabia como responder aquilo. Então só tomei um gole do café e me deixei embriagar pelo sabor, estava um pouco forte e amargo, mas estava delicioso.

— O café está bom! – indaguei erguendo a xícara e ele distribuiu outro sorriso, esse era mais sincero que o primeiro.

— Posso fazer uma pergunta?

— Sim, eu acho. – respondi um pouco hesitante e evitando encará-lo.

— O que sente pelo Kaeth? – sua pergunta fora tão objetiva, foi como ser acertada por uma flecha de titânio bem na testa. Engasguei um pouco antes de responder.

— Ahn... Ele é um cara legal. Na verdade desde que o vi pela primeira vez, senti que podia confiar nele. E desde que cheguei aqui, ele sempre foi gentil comigo. Acho que não teria suportado muito bem essa situação toda se não fosse por ele. – sorri ao lembrar da imagem dele sorrindo pra mim e me chamando de “gatinha”.

— Só isso? Nada a mais? – eu podia sentir aqueles olhos negros vasculhando meus pensamentos com uma lupa.

— Não, eu não sei. Por que quer saber? – perguntei, rezando para que o tom tivesse saído mais interrogativo do que irônico.

— Nada demais. E o Derick? O que sente? – quase cuspi todo o café com essa pergunta. O que ele queria dizer com “e o Derick?”? Não estava claro que não nos dávamos bem, e que ele me dava repulsa?! Estreitei o olhar o máximo possível e exibi toda a minha indiferença.

— Não sinto nada! Na verdade a única coisa que sinto é desprezo. Isso! Essa é a palavra, ele é o ser mais desprezível que conheço! – disparei bufando.

— Tem certeza? – o vi arquear a sobrancelha e por um momento quase esqueci em que posição estava.

— Sim, claro. Absoluta certeza, se tem uma coisa que tenho é certeza! – conclui o mais ríspida que pude, virando o café que restava, na boca.

— Está errada. O primeiro erro é afirmar ter certeza com convicção. Isso soa como um “sim” para mim. – completou, tomando um gole vagaroso do seu café de olhos fechados. Era como se ele soubesse as respostas sem ao menos precisar perguntar. – Devia ser mais honesta consigo mesma.

— Bom... – dei um forte suspiro tentando conter as emoções – Ele é muito rude, e arrogante. Age como se fosse o dono do mundo. É sempre ríspido e grosseiro, é o tipo de pessoa que eu não suportaria viver por perto. – concluí aninhando as mãos entre minhas pernas.

— Mas mesmo assim, sente algo por ele, não sente?

— Óbvio que não! – disparei me sentindo ofendida. Como ele tinha coragem de sugerir que sentia algo por aquele bruta montes?!

— Jessie...

— Ta bom... – acabei cedendo, a pressão que ele me fazia com aquele olhar era indescritível. Só faltavam a sala pouco iluminada, a mesa, uma cadeira, e ele me rondando com o olhar de psicopata, se bem que o olhar ele já tinha. – Eu não sei explicar. Nós sempre acabamos discutindo, e constantemente tenho tendências homicidas quando estamos próximos. Mas, as vezes não sei o que acontece comigo. Ele é atraente, isso é óbvio, não que o Kaeth não seja, mas... quando ele está perto eu não sei explicar o que sinto, só sei que algo não fica normal, eu não sei dizer quem sou. É como se eu fosse uma massa de bolo e ele a batedeira, mexendo com tudo aqui dentro, e me ferindo ao mesmo tempo com aquelas lâminas afiadas.

— Bela analogia! – disse entre risadas o que me fez querer enfiar o rosto dentro do cano da pia.

Quando estava me preparando para dar uma resposta a altura, um estrondo se dissipa no ar. A julgar pelo barulho, alguém tinha derrubado algum jarro por perto. Nós dois olhamos para trás e vejo barro espalhado pelo chão do corredor, um vaso quebrado em várias partes e Kaeth de pé olhando pra mim. Ele estava com uma expressão diferente, nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma calça jeans escura, e uma camisa branca com uma gola “v”, e de mangas compridas que iam até o dorso das mãos. Seus cabelos loiros estavam molhados e um pouco desarrumados, escorriam sobre aquele par de olhos azuis que agora me pareciam tristes. Seu perfume estava um pouco mais forte, o que me fez pensar que ele estava prestes a ir algum lugar. Meus pensamentos eróticos logo foram substituídos por suposições que me entristeceram.

— Desculpa. Não lembrava de ter um jarro aqui – o vi apontar para os fragmentos no chão, e depois forçar um meio sorriso que não me convenceu nem um pouco.

— Vai sair? – perguntei num tom fraco e seco.

— Vou sim, gatinha! – cantarolou empolgado beijando minha testa o que me fez sentir uma dorzinha dentro do peito.

— Mas são três da manhã!

— Eu sei, não me esperem pro café da manhã! – disse já batendo a porta.

— Divirta-se – sussurrei numa voz falha e Sam se aproximou da bancada me observando.

— Decepcionada?

— Um pouco, quer dizer-----

— Sabe... Normalmente não costumo me envolver em assuntos banais que não me dizem respeito. Mas, você não pediu para ter isso – apontou para minha marca – e nem para passar por tudo que tem passado. Então acho que você merece um bônus.

— Bônus? – o encarei confusa enquanto ele recolhia as xícaras.

— Não se iluda com o Kaeth. Ele não é para você.

— Mas eu não ------

— Eu sei que está apaixonada por ele. Está escrito na sua testa com três pontos de exclamação! – quis enfiar uma faca no meu próprio cérebro ao ouvir aquilo. Estava tão nítido pros outros, e não para mim?! – Mas escute, não se deixe envolver, vai ser sua ruína.

— Eu sei, eu sei... E eu já sabia em parte, é óbvio que alguém como ele – lembrei da sua imagem de Deus grego sorrindo – não iria se interessar por alguém como eu.

— Não se trata disso. Mesmo que ele quisesse, ele não poderia.

— Como assim? – não pude deixar de perguntar, Sam falava como se soubesse algo que inimaginável pra mim. O esperei se acomodar na sua poltrona de couro até começar a falar.

— Ele já amou alguém. – senti outra flecha de objetividade me atingir, mas dessa vez não atingira minha testa, mas sim meu coração. Essa única frase me fez ver todos os resquícios de esperança que tinha escondidos, serem arrancados de mim bruscamente. – Mas não fora qualquer amor como esses que vocês idealizam aqui. Era algo muito maior. Era como se ele vivesse por ela, respirasse ela, era como se a única coisa que o sustentava fosse a sua existência. Era algo mágico, nunca vi nada assim em todos esses anos. Foi a primeira e última vez que o vi daquele jeito. Mas ele mudou muito depois disso, hoje sinto que ele usa as mulheres que vê como meros brinquedos que preenchem o espaço reservado à ela. – depois de terminar de falar, ele me encarou, mas eu não pude retribuir o gesto. Estava perdida demais para juntar as palavras. Era como se tivesse sido alvejada por várias balas, umas seguidas das outras. Não sabia como reagir, quis chorar até expulsar aquela dor insignificante que já me incomodava tanto. Senti minha visão embaçar com as lágrimas que se acumulavam nos meus olhos, mas então dei um forte suspiro, vesti minha armadura improvisada, e o encarei de volta forçando uma indiferença.

— Que pena, sinto muito por ele. A garota que ele estava gritando aquele dia, tem algo a ver com isso?

— Sim. Kristen tem muito a ver com tudo aquilo e tudo que ele se tornou. – antes que pudesse fazer outra pergunta, o vejo levantar da poltrona e ir em direção às escadas. – É melhor descansar, Jessie. Teve um dia cheio hoje. – assenti o observando se distanciar.

Não muito distante dali...

Já passavam das quatro da manhã. Mais de vinte doses de vodka e outras bebidas alcoólicas já haviam descido pela garganta de Kaeth. Ao seu redor algumas mulheres lhe pediam bebidas caras, e sussurravam coisas ao seu ouvido. Uma delas o puxa pelo braço e o leva para a pista de dança. A boate estava agitada, após alguns minutos de dança, Kaeth já estava suado o suficiente para fazer a camisa grudar nos músculos definidos do seu abdômen. Cada vez mais, mais mulheres se juntavam ao seu redor, sensualizando sempre que podiam. Ele intercalava os beijos entre uma e outra, enquanto dançava de forma quente e sensual. Uma delas começa a roçar o traseiro em Kaeth subindo e descendo rebolando o máximo que podia aquele par de silicones.

Outra o trazia mais uma dose de bebida, jogando um pouco em si mesma, o loiro deslizava a língua por toda a extensão da nuca da morena saboreando o líquido. Em um movimento descuidado, um garçom que passava por ali esbarra com um casal que dançava ao lado, algumas bebidas são derrubadas, e uma delas cai sobre a camisa de Kaeth manchando-a por completo. Sob alguns protestos das garotas, ele se despede e sai da boate.

..................................................

— Quer ajuda? – a morena do drink aparece exibindo seu vestido preto até a altura das coxas e moldando um conjunto de curvas perfeitas e seios fartos.

— Ah, é você. Não, to bem assim, eu acho – disse, analisando a blusa que cheirava a álcool.

— Vem cá, deixa eu te ajudar – o loiro tenta impedi-la, mas ela ergue sua camiseta avistando inúmeros cortes em toda a região das suas costelas, abdômen e quadril... Tudo estava em carne viva, e havia uma parte que estava inflamando. Uma de suas costelas estava com um corte tão profundo que podia se avistar um pouco dos ossos. Ela grita ao ver a cena.

— Não precisa! – disse rudemente já puxando a camisa para baixo.

— O que houve com você? Isso...isso ta horrível!

— Um acidente, só isso... Agora pode ir!

— Quer mesmo que eu vá? – a pergunta atrai atenção do loiro, que ao virar avista a morena já meio despida. Ela desprendia os laços da parte superior do vestido com um olhar provocante. Não demorou muito para o loiro se juntar à ela...

Casa dos Ackles...

Já passavam das oito da manhã e ele ainda não tinha aparecido. Havia passado o resto da madrugada toda em claro. Não conseguia pensar em outra coisa além do que Sam havia dito, suas palavras continuavam ecoando na minha mente. Saber que Kaeth ainda mantinha um amor épico daquele intacto, me fazia ter inveja da mulher que ele amava, seja lá quem fosse. Olhei pela janela e vejo o Porsche estacionado, menos a BMW, seja lá onde ele estivesse, estava com mulheres. A ideia dele passando a noite com outra abriu brechas para milhões de outras suposições.

Uma lágrima escorreu da minha face me forçando a me olhar no espelho. Fiquei avaliando cada milímetro do meu rosto. Quem eu era? Era só uma garota sem graça, branca e pálida, de “cabelos de fogo”, sem nenhum atributo físico. Como podia me comparar as beldades com quem ele saía?!. Sam tinha razão, ele não era para mim. Hora de voltar à realidade Jessie! Vesti um short jeans, e uma camiseta listrada. Meus cabelos estavam amarrados num coque mal feito que deixara alguns fios ruivos à solta contrastando com a minha pele de branca de neve, só que sem a maciez e exuberância. Essa era eu, a sem graça “Jessie Parker”!

Fui até a cozinha com o intuito de pôr abaixo tudo que fosse comestível. Observei ao redor e não tinha ninguém. O carro de Sam não estava lá fora, nem a BMW e Derick... não o via desde que aparecera na floresta em sua forma de lobo. Estava sozinha pela primeira vez na mansão Ackles. A geladeira sofisticada continha das mais diversas guloseimas, e todas de marcas caras. Pensei em comer uma geléia argentina, li sua descrição e parecia ser cheias de ingredientes que não conhecia, mas estava com uma aparência deliciosa. Ao tentar abrir o pote, a imagem de Sam tentando me matar veio à mente, e resolvi guardá-la de volta, uma geléia por uma vida, justo!

Um barulho de carro se aproximando me fez parar. Corri até a janela, e entre as frestas tentei ver quem era. Não era o carro de nenhum dos meninos, nem sequer a BMW de Kaeth. Voltei até a cozinha e me escondi por debaixo do balcão; vantagens de ser baixinha! Esperei mais alguns minutos tentando identificar as vozes, mas não conseguia distinguir qual era qual. Seja lá quem fosse, tinha a chave da porta, pois demorou um certo tempo até destrancá-la. As risadas se tornaram mais altas, e vozes difundiam-se, mas mesmo assim consegui identificar uma delas. Era Kaeth!

Levantei da onde estava e fui em direção a sala, desejei não ter ido. Ele estava num estado deplorável. Sua calça estava desabotoada e seu cinto também. A camisa estava do avesso e meio molhada de suor, haviam marcas de batom espalhadas por toda a parte do corpo, desde a roupa à nuca e rosto. Seu cheiro me fez querer vomitar. Ele cheirava à álcool, misturado com vários perfumes femininos, aparentava tudo, menos sobriedade. Ao lado dele, uma morena o apoiava pelos ombros. Ela vestia um vestido curto que deixava as pernas quase totalmente nuas, metade do vestido estava desabotoado, e uma alça do sutiã caída pelo ombro. Seus seios quase saltavam para fora do vestido, e ela cheirava à álcool e algum perfume barato.Ele soluçava e trazia consigo uma garrafa de uísque pela metade, sentia nojo do que estava vendo.

— O que houve com você, Kaeth?! – perguntei em tom de reprovação, o que o fez finalmente notar minha presença.

— Gatinha! Já está acordada?! Desculpa, eu te acordei? – estava tão embriagado, mal podia falar. Tinha que repetir a mesma palavra umas três vezes até formar uma frase.

— Você está bêbado, Kaeth! – o repreendi estreitando o olhar.

— Quem é ela, tigrão? – a vejo perguntar num quase sussurro. Peraí, “tigrão”?!

— Ela é... ela é... – seu sorriso se desfez e o vejo me encarar com olhos pesarosos. – é uma amiga, quase uma irmã. Né, gatinha?

— Vem, vamos terminar nossa festinha lá em cima! – ela roça o par de silicones no ombro dele fazendo-o encará-la como um cachorro olhando um frango de padaria, quis vomitar.

— Onde você pensa que vai?! – disse quase cuspindo as palavras, e tomando a garrafa de uísque das suas mãos.

— Isso não é da sua conta! – ela me repreende e por um momento quis quebrar a garrafa em sua cabeça e furar aquelas bolas de plástico com os cacos de vidro.

— Ele está completamente bêbado! Precisa de um banho urgente, e um café forte. Não está vendo o estado dele?! – estava um passo a frente, um a frente de estrangulá-la também.

— Amorzinho, me leva logo pro seu quarto! – disse numa voz fanha me ignorando completamente.

— Kaeth, não! Olha pra você! Já deu por hoje!

— Qual foi, gatinha? – ele se aproxima de mim, e acaricia minha bochecha com o polegar. – Quer participar também? Tem espaço pra mais uma na minha cama! – foi a gota d’água. Todo o meu nojo e raiva se triplicaram naquela frase e se acumularam na palma da minha mão. Concentrei a maior força que podia nela, e o estapeei. Senti meu dedos estalarem com o impacto, ela havia ganho o dobro de peso. Seu rosto permaneceu virado para mim com a marca dos meus cinco dedos estampados na sua face.

— Fique longe de mim! – disse o mais friamente possível. Saí pisando duro e batendo a porta.

Não esperei por uma reação, ou sequer parei para pensar no que havia feito. A única coisa que conseguia pensar era em como eu havia sido ingênua e estúpida. Em pensar que eu havia me declarado para ele, em pensar que ele havia retribuído. Mas para quê? Para me levar pra cama dele assim como havia feito com milhares de outras?! Sam estava certo. Eu não passava de mais um de seus brinquedos passa-tempo, ele ainda amava aquela mulher. Depois que bati a porta, saí andando sem rumo. Queria correr, correr para algum lugar, algum abrigo, qualquer coisa que me fizesse esquecer aquela cena. Qualquer coisa que sugasse aquela dor que já me dilacerava de dentro pra fora.

A manhã estava nublada, e a neve já cobria os carros. O inverno forte já se mostrava na cidade. Comecei a correr sem direção certa, e quando vi por mim estava cercada por um amontoado de árvores. Estava perdida, olhei para o céu buscando alguma resposta, qualquer coisa, mas dele só caíam solitários flocos de neve. A cena se repetia na minha mente, e a dor aumentava. Num rápido movimento, vejo um vulto saltar de um dos galhos atrás de mim. E quando me viro, tenho a visão que precisava ter. Era ele!

— Olha se veio aqui para me mandar voltar, melhor parar por aí! Se vai vir com esse papo idiota e cheio de ameaças, saiba que eu não to nem aí. E pelo seu bem, é melhor que nem comece, ou eu não respondo por mim! – gritei em tom exasperado. Esperei alguma reação hostil, mas ele continuava me encarando confuso.

— Eu ia perguntar se você estava bem. – disse numa voz pouco rouca, me senti culpada. Fiquei observando uma borboleta azul pousar no seu ombro. Só então notei que ele estava despido. Usava apenas uma calça preta daquelas que se usam em treinos de artes marciais. Até seus pés estavam descalços, e me perguntei por que não estavam queimando naquela neve congelante. Outro floco de neve pousara sobre aqueles fios negros, e ao encarar aqueles olhos dourados, senti vontade de lhe pedir colo. – Você está bem? – perguntou num tom mais baixo que o normal e aquilo fora o engate para soltar tudo que havia prendido até então. Toda a dor, toda a angústia subiu a garganta e não conseguia mais conter as lágrimas que escorriam livremente. Sem pensar, acabei o abraçando, seu corpo estava quente e o cheiro de avelã com amêndoas começaram a me embriagar. Ao notar que ele permanecia na mesma posição, pensei em soltá-lo, mas senti seus ombros largos se erguendo, e suas mãos não tão delicadas acariciando minhas costas. Eu chorei, chorei como uma criança, e me deixei sentir toda aquela dor, e de alguma forma era como se ele estivesse sugando ela de mim.

— Seu cabelo tem cheiro de geléia de amendoim – não consegui conter as risadas abafadas que surgiram entre as lágrimas.

— E você, de bolo de morango – disse, já me soltando e voltando a encará-lo.

— Bolo de morango tem cheiro?

— Não sei, tem? – nós dois ríamos como duas crianças, até que algo no meu braço me fez cair de joelhos. Minha marca ardia intensamente, algo estava errado. Pequenos cortes começaram a surgir de dentro para fora. A dor só piorava, e a única coisa que conseguia fazer era me contrair de dor. Após alguns minutos apertando o próprio pulso e de gritos intensos, Derick apontou para o meu braço me forçando a olhar. Os cortes haviam formado letras com os rastros de sangue, e das letras uma frase...

“ Seu tempo está acabando – Lilly “


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Notas finais do capítulo

Nem parece, mas já estamos no décimo capítulo. Parece que foi ontem que não sabia nem que título dar a história, hahahha. Obrigada a todos vocês que acompanham, os que comentam, obrigada! Pra você que quer acompanhar mas não gosta de estar atualizando o site o tempo todo. Vá no primeiro capítulo da fic, e procure a opção acompanhar história. Assim você será notificado sempre que tiver capítulos novos. Não esqueçam de deixar suas opiniões nos comentários, o que gostaram e o que não gostaram, ou o que pode ser melhorado. E favoritarem e a recomendação é bacana pra aumentar o alcance #mendigarnuncaédemais#, hahahhaa. Até o próximo caps, fui! o/
~Violet



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