Darkness Brought Me You escrita por moni


Capítulo 14
Capitulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas. Espero que gostem.



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Pov – Daryl

Não sou bom nesse lance de dormir, pelo menos não depois do apocalipse, antes dele eu nunca ficava sóbrio o bastante para saber, depois que começou eu estou o tempo todo em alerta.

Hannah traz de volta o passado. O cara que eu era. Perto dela as lembranças de como eu era vem o tempo todo. O cara que ela desprezava por sua insignificância diante da vida.

É difícil confronta-lo. Me dar conta de como eu sou diferente de todos a minha volta. Fechado, silencioso, eu não sei tocar nas pessoas. Eu não sei abraçar, fazer um carinho. Eu não sei dizer como me sinto.

Eu não sou completo, falta essas pequenas sutilezas.

Fico de olhos abertos na escuridão. Algo começou a mudar em mim quando as encontrei. Primeiro foi a consciência de quem eu fui, quem eu me tornei e as coisas que não consigo mudar. Depois Brooklyn despertou algo em mim, eu sempre coloquei a proteção de Judith em primeiro plano, sei como me sinto sobre aquele bebê, o quanto me importo. Achei que era o mesmo com essa garotinha deitada ao meu lado.

Não é. Com ela é bem diferente. É uma necessidade que vai além de sua segurança. Eu quero ela assim, pertinho, quando ela diz caçador me sinto alguém e sinto algo dentro de mim se contorcer. Essa é uma mudança que não sei lidar.

Se fosse apenas isso eu poderia administrar, mas então vem Hannah e isso é algo devastador. O que acaba de acontecer entre nós, o modo como ficamos presos nos olhos um do outro, o que ela me fez sentir, isso parece me dominar por completo e sei que acontece qualquer coisa com ela também.

Já seria difícil se eu fosse diferente, se fosse como todo mundo, mas não sou e isso é ainda pior. Eu não sei lidar com uma mulher, com essa coisa de conquista e envolvimento.

Nunca tive ninguém assim, tudo que conheço é sexo casual. Sempre foi apenas estar meio fora de mim, ir para cama com alguém e partir antes de ficar sóbrio o bastante para ter que conversar.

Depois do apocalipse eu apenas suprimi essa parte da vida em busca de sobrevivência e tudo estava muito bem. Agora ela está aqui e me desperta coisas, desejos que vão além de físicos, eu nunca saberia como conquistar uma mulher, é mais que matar um zumbi em seu caminho ou conseguir água e comida.

É preciso certas delicadezas que nem me imagino fazendo. Dizer coisas bonitas, ser gentil, usar essa minha mão pesada para mais do que atirar flechas e escalpelar esquilos.

No meio da escuridão e quebrando meus pensamentos Brooklyn se assusta. Choraminga ao meu lado e não sei bem se está dormindo.

─Está escuro. O monstro vai achar a gente.

─Estou aqui. – Aviso quando sua mãozinha tateia a minha volta. Ela encontra meu rosto. A mão pequena e quente me toca em busca de certeza.

─Aqui? – Pergunta com seus dedinhos magros espalhados em minha bochecha.

─Isso. Está segura. – A mão se mantem ali. Como se isso fosse garantir que eu não me afaste. – Pode dormir.

─Tia! – Ela não se afasta de mim, mas precisa saber da tia. Sinto Hannah se mexer.

─Aqui anjinho. Dorme. – Ela se aproxima mais de Brooklyn e com isso de mim. Ficamos os três perto demais. E elas não tem ideia do que isso significa para mim. Não sei se nessa existência eu tive algo ao menos parecido com isso.

Parece se tratar de outra pessoa. Eu sou o cara que se afasta um pouco de tudo sempre. Que dorme uns metros distante dos outros, que come longe, que observa sem se aproximar. Mesmo sentindo ser parte da família eu sempre me coloco na periferia. Na linha imaginaria entre fazer parte e estar fora. Com ela me sinto mergulhando fundo, sem espaço para retiradas estratégicas.

Com a mão de Brooklyn descansando em meu rosto e a proximidade de Hannah eu acabo por adormecer.

Acordo com a luz do dia e uma movimentação a minha volta, Brooklyn dormindo na mesma posição, virada para mim, abraçada a boneca e com a mão em meu rosto. Hannah não está mais ali e quando me sento tentando evitar acordar a pequena eu a vejo ajudando a arrumar coisas para nossa partida.

─A gente tem que ir embora? – A voz de Brooklyn me desperta e afasto meus olhos de Hannah.

─Temos. – Digo ainda confuso. A pequena abraça a boneca nada animada. Sei que andar e andar não é nada fácil, mas ficar aqui mais do que o necessário pode nos matar.

─Vem Brook. Tem um pouco de mingau de aveia para você. – Hannah segura a mão da pequena. Depois me olha, está corada, sem graça, tenta sorrir, mas não consegue, me coloco de pé.

Não demora e deixamos a casa. Levamos toda a água que conseguimos armazenar. Alguma comida para mais uma refeição e cobertas enroladas nas mochilas.

Hannah e Brook andam sempre no meio. Nunca se sabe o que pode surgir na estrada vindo da floresta. A pequena estrada é cercada por mata dos dois lados, penso em me afastar deles para tentar caçar. Encontrar o grupo um pouco mais a frente, mas só a ideia dos olhinhos tristes de Brook, já me tiram o ânimo.

Andamos toda a manhã. Brook é valente. Tem passinhos pequenos que atrasam a caminhada. Mesmo assim ela não para. A mão sempre segurando a de Hannah, as duas são inseparáveis e penso em como foi difícil para as duas estarem tanto tempo sozinhas.

Só paramos para descansar ao meio dia. O sol escaldante nos tira as forças, Judy começa a reclamar e precisamos comer e beber.

Nos sentamos sob a sombra de algumas árvores. Eu assisto Hannah cuidar de Brook. As duas um pouco a minha frente. Bebendo água e comendo, estão distraídas e silenciosas.

Beth se senta ao meu lado. Não diz nada a princípio, ela foi tão forte. Mas toda vez que olho para ela penso nas coisas que Noah contou. O que acontecia com as mulheres e os policiais e me sinto culpado por não ter protegido Beth como devia.

─E se não tiver nada lá? –Ela questiona com os olhos perdidos. – E se estou levando todos para uma viagem sem volta?

─Não foi decisão sua. Democracia lembra? – Ela me sorri. Balança a cabeça concordando. Olha para Hannah e Brook, agora Hannah tira pedrinhas da bota de Brook que balança os dedinhos descalços de modo gracioso. – Os policiais... Noah contou... – Preciso falar sobre isso, me sinto mortificado, quero que ela entenda que eu fiz tudo que pude. – Você teve...

─Não. – Beth responde firme. Determinada. – Daryl. Claro que não. Eu matei o policial que tentou. Mataria todos que tentassem ou morreria, mas jamais permitiria algo assim. A morte seria mais aceitável que me render.

É um alivio. Não é fácil pensar nisso carregando toda essa culpa.

─Que bom. Fico aliviado.

─Não teve culpa. Eu acabei lá por puro asar. Me apagaram, enfiaram num carro e me levaram, o único objetivo deles era esse, não deixei acontecer.

Hannah termina de calçar Brooklyn de volta, sinto sua leve tensão, ela parece chorar, não dá para ter certeza por que os cabelos encobrem seu rosto.

─Beth me ajuda aqui. – Rick a chama para atender Judith. Eu continuo a olhar para Hannah e tentar descobrir se está chorando. Decido perguntar. Ela pode estar se sentindo mal, com alguma dor talvez.

─Está tudo bem? – Pergunto me aproximando. Ela se coloca de pé. Não me olha, mas agora dá para ver que está chorando.

─É muito fácil falar em matar ou morrer quando se está sozinho, quando não tem que cuidar de mais nada além da própria vida. As coisas são diferentes quando alguém que não pode se defender depende de você.

─Hannah...

─Fala o tempo todo em família. Já teve que se ajoelhar por eles? Por que nesse mundo, isso é se importar.

Não entendo direito o que fiz para ofende-la tanto, só queria saber se tudo estava bem, não esperava por aquilo, nem faz muito sentido suas palavras, eu sei de tudo que ela parece ter feito por Brooklyn e isso só mostra o quanto é forte, não me lembro de tê-la acusado de nada.

─Fica com seu tio um pouco. – Ela diz a Brooklyn e então nos dá as costas e caminha para dentro da mata. A garotinha ergue os olhos assustada.

─Vou buscar sua tia. Pode ficar ali com os outros? – Ela faz que não com a cabeça e segura minha mão. – Certo. Vamos os dois então.

Ela não tem ideia que uns metros de mata e talvez nunca mais encontre o caminho de volta. Seus soluços baixos, mas constantes indicam que não está longe e só uns metros de caminhada e a encontro com o rosto coberto pelas mãos encostada em uma árvore. Hannah tem muito a aprender. Cobrir o rosto sozinha na mata é pedir para ser devorada. Seu choro também não ajuda a se camuflar.

Continuo me aproximando dela com Brook ao meu lado, piso num galho seco que estala e Hannah dá um pulo levando a mão ao cabo da faca. Ela nos olha primeiro assustada, depois eu noto o alivio.

─Só queria um minuto sozinha. – Ela diz secando as lágrimas. – Estou aqui anjinho, não pretendia demorar.

─Ficar sozinha na mata não é boa ideia. – Aviso a Hannah.

─Eu sei, desculpe, eu só... estava atenta, não me afastei muito. Desde que tudo isso começou eu nunca tive um minuto como esse. Sozinha.

─Vamos encontrar um lugar, eu vou te ajudar a cuidar dela.

─Não chora não tia. – Hannah olha para ela e depois para mim. Acho que tem muita coisa que gostaria de dizer, mas não pode.

─Foi algo que eu disse? – Não sei o que provocou suas lágrimas.

─Beth podia escolher entre viver ou morrer, eu não tinha escolha. Não era sobre mim.

Agora as coisas fazem sentido. Sinto quase uma dor, talvez ela ache de algum modo que eu a condeno. Não poderia condenar qualquer atitude de quem quer que seja num mundo como esse.

─Brooklyn está viva. – Olho para a garotinha que aperta minha mão confusa. – Setenta por cento da população mundial, talvez mais, não está. Seja como for, você a trouxe até aqui. Salvou a vida dela, foi mais forte e mais inteligente que todos esses mortos.

─Tive que me ajoelhar muitas vezes para isso. – A voz está embargada, mas não tem mais lágrimas. ─Não quero falar... – Seu olhar recai sobre Brook. Entendo que não é hora de falar sobre isso. – Você ficou tão aliviado e contente com as palavras dela, me senti... – Hannah não consegue falar, de novo leva as mãos ao rosto e lá está o cara que não sabe o que fazer.

─Quando eu choro minha tia me abraça. – Brooklyn me diz um pouco sem reação, faço um sinal com a cabeça e dou um leve puxão em sua mão num pedido mudo para ela abraçar a tia. A pequena devolve o movimento de cabeça e o puxão na mão, me responde também muda que eu devo fazer isso.

Enquanto nossa discussão telepática acontece, Hannah luta para conter sua angustia. Sinto como se fosse algum tipo de gota d’água que começou com a garotinha insinuando o que ela teve que fazer no meio de todos e terminou com as palavras inocentes de Beth.

Dou mais dois passos e já posso envolver Hannah. Levo a mão livre até suas costas e é o bastante para ela se encostar em meu peito e continuar chorando, agora mais livremente.

Não me movo, sinto seu corpo junto ao meu e gosto, seu calor se espalha por mim. Odeio gostar. Me assusta. Me deixa inseguro. Não a envolvo mais, não mergulho meus dedos em seus cabelos como gostaria. Só fico imóvel esperando que se acalme.

Os passos arrastados de algo se aproximando acabam com o momento. Assim que escuta o arrastar de pés Hannah se afasta de mim, está atenta, puxa Brook para seus braços olhando em volta.

Pego a besta e armo, logo o corpo surge. É lodoso, desfigurado, seminu, com parte das tripas penduradas, galhos de árvores e terra preenchem espaços antes ocupados por músculos e pele.

Não perco mais tempo na avaliação, derrubo a coisa com uma flechada e continuo atento a mais. Não tem nada. Então caminho até ele e puxo a flecha, ela vem suja de sangue podre.

As duas me olham atentas. Brooklyn com aquele olhar carinhoso de sempre. Hannah está assustada.

─Pronta para voltar? – Pergunto decidindo ter certeza antes de arrasta-la para junto de todos. Ela afirma.

─Desculpe te colocar assim em risco. Colocar os dois. – Ela diz de mãos dadas com Brooklyn.

É até engraçado pensar sobre isso. Eu em risco com um zumbi?

─Tudo bem. – Ela afirma, depois me dá as costas para começar a andar. Seguro seu braço para faze-la parar. Até esse simples toque já me faz reagir. Hannah me olha. – São histórias diferentes, não precisa se sentir... você sabe.

Ela não responde, não dá indícios de que entendeu, aceitou ou acreditou, só se põe a caminhar. Quando chegamos de volta ao grupo eles estavam prontos a nossa espera.

─Vamos. – Rick diz apenas, depois todo mundo se coloca em movimento.

─Minha perna está doendo tia. – Brooklyn reclama.

─Vem no meu ombro Brook. – Arrumo a besta na frente e ergo aquele corpinho leve e delicado. É fácil coloca-la nos ombros.

─Que legal! – Ela ri. Ainda fala tão baixinho. Tem tanto para superar.

─Se segura gigante! – Ela envolve meu pescoço e escuto seu riso. Olho para Hannah ao meu lado. Sua expressão está mais leve. – Ela é tão levinha.

─Você diz Brook as vezes.

─Claro que não. Brooklyn. Nome lindo! – Provoco Hannah, queria que ela se acalmasse um pouco.

─Faz isso apenas para me provocar. – Ela constata, mas de um jeito leve.

─Charlie gostava de chama-la assim.

─Verdade. Desde bebê. Era toda pequenininha, ainda é. Nasceu prematura.

─Minha culpa. – Deixo escapar. Hannah acha estranho, me olha com um ar de interrogação. – Fui ver a Charlie, levar dinheiro a ela. Para a Brooklyn, foi burrice, ela saiu e bebeu quase tudo. Então a pequena nasceu. Devia ter procurado você, mas...

─Mas eu achava que era a dona da verdade e pensava o pior de você.

─Não fazia por merecer mais que isso. – Continuamos a caminhar, os dois calados um momento.

─Você não teve culpa. Charlotte não estava nada preocupada com a gravidez. Brook nasceu pequena, o médico disse que seria sempre um pouco menor, mas é saudável. Cigarro, bebida, noites em claro e muito mais, você sabe.

─Era linda.

─Eu caçador? – Ela se dobra para perguntar. Os cabelos dourados se espalham em meu rosto.

─Você mesma. Eu vi você no hospital. Bem pequena. – Ela volta a olhar a estrada.

─Tantas coisas que eu nem sonhava. – Vejo como isso a machuca, mas é bom saber que ela não vai me culpar pelo parto prematuro.

De novo vem o silencio. Longo, caminhar assim hora após hora vai minando as forças de todos. Dessa vez não tem paredes para nos proteger quando a noite cai.

Esgotados e cada vez mais silenciosos apenas nos ajeitamos no asfalto em um círculo. Hannah forra o chão. Brooklyn se deita desconfiada.

─A gente vai dormir aqui?

─Você vai Brook. Vou ficar cuidando de você, pode dormir. – Ela olha em volta, se conforma quando mais pessoas se deitam e acaba por deitar. Hannah se senta ao lado dela.

As coisas estão difíceis demais. Não cobrimos nem um terço da viagem. Precisamos de comida, um carro. Brook e Judy não vão aguentar. A água está acabando.

O desanimo começa a dar sinais de vida. Fico de pé, andando pelo pequeno perímetro, com medo de me deitar e acabar adormecendo. Hannah surge ao meu lado.

Olho imediatamente para Brooklyn. A garotinha dorme como uma pedra.

─Sei que não sou preparada, mas posso olhar enquanto dorme um pouco, eu chamo se algo surgir.

─Melhor ir ficar com ela. Estou bem. – Ela afirma. – Não é preparada ainda. – Ela dá um meio sorriso. É bonita, é mais do que isso, tem algo nela, no jeito de olhar, na forma como anda, na voz. – Deita um pouquinho com ela. Se Brooklyn acordar sozinha vai gritar.

─Está certo. – Ela dá uns passos, mas depois volta. – Daryl. – Esse olhar sobre mim, tímido e ao mesmo tempo intenso me desnorteia. – Brook sabe sobre Merle, Charlotte falava o tempo todo dele, então se sentir vontade de falar com ela sobre o pai ela vai entender a referência.

─Não tenho nada que valha a pena para falar para ela sobre Merle, nada que seja verdadeiro.

─Brook sempre confiou em você. A boneca, Lyn, ela nunca se separou dela. Não entendia por que, mas agora eu sei. Você deu a ela. Acho que o caçador de monstros sempre foi você.

Ela volta para perto da pequena. Me deixa sem fala, sem conseguir apaziguar a revolução que acontece dentro de mim. Tenho até medo do nome que surge em minha mente. Hannah nunca vai ser minha.

─Você quer que seja Daryl, ao menos assuma isso. – Sussurro no meio da escuridão sem desviar os olhos da mata escura. Sentindo ainda seu calor em meu peito como se ainda a tivesse ali.


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Notas finais do capítulo

Beijossssssssssssssss