–Gabriel? – Fala a voz de um garoto bem baixinho de óculos com um cabelo loiro.

–Lucas!! Cara, quanto tempo! Que saudades baixinho! –Gabriel fala com um entusiasmo enorme, como se gostasse muito do tal Lucas.

Não, não. Quem é esse Lucas??? De onde ele surgiu e por que deixou o MEU melhor amigo desde jeito??

–Arthur! –Ele se vira para mim, com um grande sorriso- Ele pode ficar para a festa?

Não, não, não, não, não, não, não, nem fudendo.

–Ah! Claro! – Forço meu lábio um pouco para cima, esboçando um sorriso.

–Ótimo! –Ele sorri, abrindo a boca e cerrando um pouco seus olhos.

O tal “Lucas” entra e envolve Gabriel em um abraço apertado retribuído pelo garoto no mesmo momento. Fecho a porta com força deixando bater, sorrio como em um “foi sem querer” e corro para sentar de volta na roda. Fecho meus olhos e passo a mão sobre o rosto.

O que está acontecendo comigo? Que sentimento maluco é esse? Eu estou com....ciú..

Meu pensamento é completamente interrompido pela voz de Gabriel que chega com Lucas na sala, para apresentá-lo. Todos o cumprimentam, como pessoas educadas obviamente. Eles sentam um do lado do outro, de frente para mim. Percebo que Lucas está sempre tentando chamar a atenção do meu melhor amigo, meu. Isso me irrita, e não é pouco. Quem é aquele cara?? De onde ele surgiu?? Como ele sabe onde eu moro?!

Gabriel me vê e tenta dar um sorriso para mim, um sorriso entusiasmado, um sorriso feliz. Mas eu apenas viro para o lado, como se não tivesse visto.

Eu com certeza conseguia sentir o ciúme transbordando por todo meu corpo, era inevitável. Eu percebi qual era a daquele Lucas, qualquer oportunidade chegava perto, falava com ele, contato visual, contato físico, precisa ser contato, claro!

–Então, Lucas. – Começou Felipe- De onde vocês se conhecem?

–Ah, nós sempre fomos vizinhos, vivíamos na casa um do outro, mas ele se mudou. E agora está de volta! – Grita Gabriel, abraçando o pequeno garoto loiro que concidentemente eu estava fuzilando com os olhos.

Ele é tímido, mal falou com os outros.

Bruscamente eu me levanto e digo que vou ao banheiro. Corro para meu quarto, fecho a porta e a tranco. Por que aquele garoto tinha que voltar justo hoje?! Eu passo a mão sobre meu cabelo lentamente, as apoiando na mesa. Fecho os olhos e empurro tudo o que está sobre a mesa de cabeceira. Começo a ficar com a respiração fraca e ofegante. Resolvi sair, pois os garotos iriam desconfiar. Voltei e sentei no tapete. Apoio minha mão nos meus joelhos dobrados a minha frente. Os garotos ainda conversam, mas eu não tenho nenhum ânimo de conversar com ninguém agora.

–Hum... que tal vermos um filme? – Eu sugiro, pois não aguentaria mais olhar na cara de ninguém. Talvez no escuro eu me sentisse melhor.

Todos concordam e resolvemos assistir meu filme favorito, “As Branquelas”.

O filme roda, mas não consigo me concentrar no filme, tem mil coisas martelando na minha cabeça e eu não consigo simplesmente parar e olhar. Estava tudo escuro, mas consigo ver seus vultos. Eu estava sozinho no sofá de dois lugares enquanto todos estavam no pé do sofá. No meio do filme vejo um vulto se mexendo e subindo para o sofá, Gabriel. Ele sobre e senta ao meu lado, com a luz da televisão consigo ver seu rosto. Ele sorri. Volto meu rosto para a televisão quando sinto algo, ele segura minha mão. Meu corpo inteiro fica quente, meu rosto corado e eu começo a suar. Ele segura e aperta, como em um gesto de confiança.

Não faz isso Gabriel...

Meu coração está acelerado e cada vez mais sinto meu corpo ficando quente e mais quente. Acho até que estou suando... a presença de sua mão sobre a minha não é um incômodo, mas me deixa louco, fora do normal. Ele passa seus dedos magros sobre minha pele, do cotovelo a mão e da mão ao cotovelo. Minha respiração fica instável, mas não deixo ele notar. Vejo que sorri para mim, ele parece estar feliz com aquilo, e deve mesmo estar.

Gabriel é uma pessoa tão boa...doce, carinhosa, maravilhosa, leal, legal, acolhedora e mais um monte de adjetivos. Ele é inteligente, esperto, bonito, engraçado... espera! Eu disse bonito??!! Como assim eu disse bonito?????!!! Não, não, não, não, merda. Eu disse bonito e ele é bonito? Problema? Não, certo? Meu melhor amigo é bonito e é só isso. Certo?

Acho que após aquilo eu consegui prestar mais atenção no filme e dar umas boas risadas. Fiquei feliz com isso, pois era exatamente o que eu estava precisando. O garoto não soltou minha mão em nenhum momento do filme, até para pegar pipoca ele usou a outra mão.

Após o filme resolvemos jogar um vídeo game e tomar umas bebidas, não eram tão fortes para deixar bêbado ou muito louco, mas dava um efeitozinho bom. Estávamos jogando umas partidas e o jogo estava legal, pena que só tinham dois controles. Eram dois por vez, se revezando. Estava legal até, confesso, menos pela presença daquele cujo qual não desejo citar o nome. Gabriel sorria para mim e para o senhor menor que uma noz de vez em quando, certamente para ver se não iriamos no matar, só brincando, acho que estou fazendo um bom trabalho em esconder meus sentimentos.

O filme acaba e resolvemos armar as camas, pois já eram umas 5:00 da manhã, mas obviamente não iriamos querer dormir. Eram colchões de casal, portanto eram duplas.

O Bruno ficou com o Matheus.

O Rodrigo ficou com o Rafael.

– Ei, Gabriel, você fica de dupla comigo? – A voz meio fina perguntou em um tom envergonhado.

–Ah...sobre isso...- Gabriel começa a falar.

Eu começo a ficar com raiva, se o Gabriel escolher aquele garoto na noite do meu aniversário eu nunca mais quero que ele olhe na minha cara, estou falando sério, nunca mais.

– Então? – O loiro pergunta- Quem você escolhe?