Até que ponto é fantasia escrita por Niebla


Capítulo 20
Um pouco confuso...


Notas iniciais do capítulo

Eu estava um pouco (muito) empolgada ao escrever esse capítulo, espero que se divirtam o mesmo tanto que eu me diverti escrevendo :D



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— Perdoe-me, Vossa Alteza, eu não sabia. — “O guarda envergonhado faz uma reverência para a princesa. Ele olha para a base da escada, imaginando que seria melhor voltar para o posto logo”.

— Tudo bem, mas você poderia ficar no salão? — “Pede e o guarda a obedece deixando os três sozinhos no corredor comprido”.

— O que está acontecendo? — “Os dois rapazes falam ao mesmo tempo enquanto ela mordia o lábio inferior com força, deixando-o ainda mais rosado”.

— Acontecendo, como assim acontecendo? Está tudo completamente normal! A-agora com licença.

“Ela passa entre dois esperando que o moço a seguisse e quando ele começa a fazê-lo, o príncipe finalmente para de abrir e fechar a boca feito um peixe para falar. Os dois param de andar e o moço encosta a mão na parede suspirando. Tinha a impressão de que toda aquela bagunça só estava começando a piorar e não podia estar mais correto. Ele franze o nariz erguendo o queixo para cima”.

— Espere! Se ele realmente está aqui porque você pediu… Isso quer dizer que ele é o Conde que você esteve de olho desde o primeiro dia de festa!

— Não…

— Sim!

“Os dois dizem quase ao mesmo tempo deixando o nobre confuso. Mais confuso do que ele, só estava o mascarado que procurava disfarçadamente a mão da garota, ele estava pronto para arrastá-la para um canto e exigir uma explicação”.

— Como eu estava dizendo… — “Ela espera não ser interrompida e o mascarado engole as palavras”. — Obrigada. — “Ela agradece ao teto fazendo o irmão pensar que ela estava maluca”. — Não, eu… Quer dizer…  — “Ela só estava piorando a situação. Ela revira os olhos”. — A verdade é que nós temos que ir ali, depois eu explico melhor.

“A última parte da frase fora para o príncipe, mas soou como se fosse para os dois, já que o moço estava voltando a abrir a boca para perguntar alguma coisa. Ele suspira derrotado e passa a mão pelos cabelos, totalmente perdido, fazendo com que boa parte da franja se desprendesse do elástico da máscara”.

— Eu não vou esperar. Quero a verdade agora mesmo! Parece até uma conspi… — “O irmão dela começa e, sem saber o que fazer para contornar a situação, a princesa abre o livro que segurava, mas do lado certo dessa vez”.  — Irmão! O que você está fazendo aqui!? — “Diz depois de piscar várias vezes de olhos arregalados e então surpreender o príncipe herdeiro ao arrebentar o elástico da máscara dele”. — Vocês se conheciam o tempo todo! Não estou entendendo, porque você fingiu ser primo dela e como, mesmo sendo cego, você conseguiu…

— Ahh… — “Cinderela fecha e abre o livro de cabeça para baixo”.

— Por que ele está sem a máscara? Eu… Por que eu fiz isso? Eu não…

“O príncipe olha para as próprias mãos e depois para a irmã, ele estava pálido como se fosse desmaiar. O Gato Borralheiro passa a mão no ar um tanto perdido e no mesmo gesto consegue agarrar o braço da princesa. Sem dizer nada, ele a arrasta para o segundo andar e encontra, usando a outra mão rente à parede, o quarto da princesa”.

— Caramba Luna, se continuar fazendo isso, você vai acabar bugando o livro! — “Bufa travando a fechadura da porta que fechara atrás de si”.

— E-eu não sabia o que fazer! — “Ela senta na borda da cama reparando no suave lençol de seda tingida de azul ultramar que se estendia sobre a colcha. É claro que ela só fez isso para evitar olhar para ele”. — Eu nem pensei, só fiz o que pareceu ser mais prático.

— Pois deveria ter pensado antes. — “A voz sai mais dura do que ele queria. Ele suspira e ainda carrancudo, anda devagar até onde ela estava”. — Por enquanto ninguém vai nos interromper, eu espero…

— Mas e o príncipe? Ele não vai nos procurar?

— Ele não vai olhar aqui logo de cara, é muito óbvio. — “Solta outro grande suspiro descruzando os braços”. — Isso se você falar mais baixo.

— Desculpa. — “Fala com mais calma chutando a corda de tecidos amarrada ao pé da cama para debaixo da mesma, assim, ninguém a veria caso entrasse no quarto”.

“Ela olha para os sapatinhos parte dourados, parte cristalinos que usava, eles encaixavam tão milimetricamente bem em seus pés que pareciam ter sido esculpidos para eles. O movimento que a cama fez quando ele sentou ao lado dela fez com que a moça subisse os olhos para os dele que miravam alguma coisa entre o tapete e a porta”.

— Então… É normal eles agirem como se nada tivesse acontecido? Porque você viu, né? O príncipe quase teve um surto! — “Ele continua virado para frente”.

— Deve ser porque se tivéssemos entrado com o livro invertido eu estaria como o seu papel que na verdade também é o dele. Uma bagunça… — “Ela repara nos cabelos escuros que caiam pela testa dele e então na covinha leve que acabava de se formar na bochecha direita”.

— Também acho. — “O hálito dele, soprado num riso, balançou a mecha de cabelo castanho que caia sobre a testa da moça quando ele virou o rosto para ela. Por que eles estavam sussurrando?”. — Como vamos fazer agora?

— Como assim? É simples, você vai ter que voltar pra sua casa! — “Ela ri enquanto ele fechava a cara”.  — Deixei um cavalo amarrado junto ao grande carvalho, não sei se você já foi lá, mas é longe da entrada, perto do bosque, bom… é melhor eu ir lá com você ou posso tentar explicar melhor depois, se você quiser. — “Ela ri de lado quando ele bufa”. — Ah, talvez precise usar um vestido lá do baú amanhã para me encontrar na festa, mas tome um banho de rio antes… Isso depois de limpar toda a casa caladinho ouvindo ordens e ordens daquelas três.

— Desfaça isso. — “Batuca com os dedos na lateral da cama enquanto tentava adivinhar em qual das mãos dela estaria o livro”.

— Mas como fica aquilo de bugar o livro? — “Provoca”.

— Preciso responder?

— Sem graça, seria tão divertido! — “Ela se joga para trás deixando os cabelos castanhos espalhados pelo lençol enquanto abraçava o livro com as duas mãos”.

— Pare de me provocar.

— O que eu ganho com isso? — “Senta olhando no fundo dos olhos dele, gesto que o faz desviar o olhar”.

— Nós precisamos conversar sobre uma coisa bem séria.

— Sobre… — “A princesa aperta os dedos na capa do livro enquanto se inclinava um pouco mais para cima”.

— Acho que estou… Não! Eu tenho certeza de que estou…

“Batem à porta com força e os dois se levantam de uma vez quase batendo com as testas um no outro”.

— Eu sei que está aí! Você me deve explicações! — “Exige o príncipe quase sem fôlego”.

— O que eu faço? — “A princesa corre até porta com o livro ainda em mãos”.

— Eu não sei!

— Bom, se ele desmaiar, eu… — “Ela sorri apertando os olhos com a ideia”.

— Só espero que não nos mate. — “O Gato Borralheiro ri ouvindo o click da porta ao ser destravada”.

— Irmã? — “O príncipe respirava com dificuldade”.

— Oi! — “A princesa sorri largo antes de abrir o livro”.

— Condessa? Irmã! Condessa! Irmã? Condessa!? Irmã??? — “Cada vez que ela abria e fechava o livro, ora de cabeça para cima, ora de cabeça para baixo, mais verde o príncipe ficava”. — Condessa… — “Foi a última coisa que ele disse antes de ser acudido pelos braços da moça para não cair de uma vez no chão”.

— E eu achando que não tinha como ficar mais maluco … Qual o resto do seu plano? — “O príncipe herdeiro soa brincalhão”.

— Na verdade eu… — “Ela abre o livro e ele faz uma careta”. — Calma, está na posição normal agora.

— Bom mesmo… — “Cruza os braços fingindo estar irritado”.

— Você até que está calmo hoje, pelo menos aqui no livro. O que aconteceu? Está com febre?

— Nem vem com isso de novo, estranha. — “Ele ri”. — Você me fez dar uma cotovelada na parede mais cedo e ah, falando de suas trapalhadas… Você não vai me dizer de quem estava fugindo naquele dia?

— Você não respondeu a minha pergunta. — “Cinderela dá um passo para trás”.

— Nem você a minha…

— É, dessa vez você se safou… — “Estala a língua enquanto colocava o livro nas mãos do príncipe para mexer na gola da camisa dele, ela estava para dentro das roupas para esconder o brasão”. — Agora é só você contar uma historinha para boi dormir quando ele acordar, algo como: “Ouvi um barulho fui ver o que era”.

— Sim, senhora. — “Ele ri encostando na parede perto da porta. Por que ela estava tão quieta?”.

“Cinderela achava que ler o que estava dizendo no momento em que o dizia era algo extremamente curioso. As letras corriam escritas com uma tinta escura que favorecia a caligrafia singela e muito menos detalhada do que a das letras douradas da capa. O príncipe a acompanha tocando a página, sentia a porosidade da folha de gramatura média sem saber que nesse exato momento palavras corriam debaixo de seus dedos. Ele sorri com isso, era como se o livro fosse escrito de dentro para fora, literalmente”.

— Ele está um pouco quente, não?

— Também acho. Bom, é melhor eu ir antes que ele acorde.

— Até logo!

“Cinderela aperta de leve a mão dele antes de ir, deixando-o ali no mundo das nuvens. Ele revira os olhos e se joga na cama finalmente percebendo o quanto estava cansado. Teve que se levantar para não correr o risco de cochilar e não ouvir o irmão acordando e não demorou muito para o príncipe acordar. Ele senta passando a mão pelos cabelos curtos enquanto olhava ao redor completamente confuso”.

— Irmão? Como eu… Onde…? A Condessa!?

— Que Condessa? — “Faz a melhor ‘cara de quem não sabe de nada’ que conseguia”. — Agora mesmo eu estava indo dormir quando ouvi um barulho alto perto da porta. Chamei por um guarda, mas acho que não tinha nenhum no corredor. Você bateu a cabeça, não? — “Abaixa procurando os braços do irmão mais novo que finalmente relaxa os ombros”.

— Eu estou bem… — “Levanta espanando o pó das roupas”. — Acho que tive uma alucinação, um sonho, algo bem estranho, sabe? Você fingia que era primo da Condessa e ficava me encarando quando eu falava com ela, imagina… — “Ele ri”. — Deve ter sido uma batida forte. Bom, é melhor eu voltar pro salão… Boa noite.

“O príncipe herdeiro suspira quando deixa de ouvir os passos pesados que se confundiam com o leve murmúrio da festa. A essa altura, boa parte dos convidados já deveria ter ido embora. Logo fechariam os portões para que começassem com a limpeza, deixando apenas a manhã para os preparativos do grande e último dia de festa: o dia em que o príncipe desposaria uma donzela. A manhã chegou barulhenta, arrastavam caixas pelo salão principal e usavam escadas para colocar enfeites e velas novas em todos os candelabros. Queriam deixar tudo perfeito, pois aquela festa com certeza seria o noivado mais comentado das redondezas.

“O príncipe herdeiro acordou com o irmão batendo à porta, ele estava ansioso e falava sem parar sobre a Condessa”.

— Tá, tá, tá… Respire! — “Ele bufa, cansado de ouvir aquele monólogo incessante sobre o futuro maravilhoso que eles teriam juntos”. — Você disse que ela sempre sai correndo de você, certo? Foi pelo lado do jardim?

— Disse? Ah, eu disse. Assim como no primeiro dia, ontem ela foi pelas escadas, nós mal nos falamos, ela é tão rápida… Aqueles cabelos castanhos esvoaçando pelo ar… para longe de mim… Acredita que ela pretende ficar no reino só por uma semana? — “Suspira. Ele não percebia o grande esforço que o irmão tinha que fazer para não revirar os olhos. Aquela era a quarta vez que falava daquilo como se fosse um grande abandono”. — Eu não me canso de imaginá-la em meus braços, sem que ninguém mais possa tocá-la. Seremos só um do outro. Isso soou tão sentimental, não sou assim, mas talvez eu devesse pedir para um trovador escrever uma canção para ela!

— E eu reclamava do Gabriel… — “Murmura com o queixo apoiado na mão”.

— Quê?

— Nada! Então, como eu estava perguntando… Ela vai embora pelas escadas da lateral do jardim? Sai correndo por lá e você não consegue ver para onde ela vai, isso? — “Ele queria, ao menos, saber para qual lado a moça vivia para se localizar melhor caso precisasse fazer alguma coisa por ela”.

— Sim, mas dessa vez eu não vou deixá-la fugir, vou pedir a mão dela no final do baile e todos vamos fazer a maior festa. Eu me garanto sozinho, mas se ela escapasse eu… Ah, você me fez ter uma ideia! E se eu passasse algo nas escadas, tipo uma cola, ela não vai poder fugir!

— Piche… — “Ele se lembra de uma cena antiga de algum lugar da infância, um sapatinho azul preso numa escada suja de piche e de uma priminha animada com o filme, mas era só isso que ele realmente sabia, talvez devesse ler uns livros. Ele revira os olhos. Na verdade achava aquela ideia de colocarem piche nas escadas bem engraçada, mesmo que fosse noite era óbvio que ela veria, não?”.

— Perfeito! — “O príncipe abraça o irmão”. — Vou pedir agora mesmo para que preparem as escadas!

“Ele sai pelo corredor e aborda o primeiro guarda que encontra fazendo o irmão sorrir e se levantar da cama para sentar na borda larga da janela aberta com os dois pés firmes no chão. A brisa inconstante mal o tocava, apenas fazia cocegas no pouco de pele da nuca que os cabelos dele tocavam ao serem sacudidos por ela. Imaginava-se livre para pensar um pouco, algo que ele queria fazer desde cedo”.

— Cuidado! — “O príncipe grita quando vê o irmão, fazendo com que ele quase se desequilibrasse”.

— Você vai acabar me matando se continuar fazendo coisas assim. — “Ele bufa”.

— Foi mal. — “Ele puxa uma cadeira ficando de frente para o irmão”. — Então, voltando ao que eu estava falando… Ela é rápida, quando fui ver, ela já estava longe. Como eu queria que ela tivesse olhado para trás só para eu ver aqueles olhos castanhos mais uma vez… ou aquela boca tão linda e aquela pinta na bochecha… MAS, se isso tivesse acontecido, ela não teria ido. Deve ter corrido para não desistir de voltar para casa e ficar em meus braços.

 — Uma pinta? — “Ele fala consigo”. — Eu não imaginava que ela… — “Franze o nariz tentando encaixar na imagem completamente vaga que tinha do rosto da garota, aquele detalhe”.

— Como imaginaria? Você é cego.

— Sério!? Não sabia que nem imaginar as coisas eu posso. Mais alguma coisa? — “Era como se o rosto dele dissesse: ‘qual o problema desse cara?’, mas, como sempre, a ironia era a reação mais rápida”. — Olha, se você veio aqui só para ficar falando de você e depois sobre como quer possuir a Luna é melhor arranjar alguém que seja pago para isso. Que tal o seu conselheiro?

— C-calma. — “Encolhe os ombros, não queria deixar o irmão ainda mais bravo”. — E eu não vim aqui para isso.

— Então veio para…?

— Para dizer que os nossos pais querem você lá com eles hoje ou vai preferir ficar no quarto dormindo igual ontem? Você sabe o quanto esse dia é importante para todo o reino, nossos pais estão velhos e você enrolou tanto para casar que ficou… — “Ele para de falar quando o irmão fecha ainda mais a expressão”. — Bom, você sabe… Nós precisamos manter nossa linhagem e eu não quero me casar com uma princesinha irritante de um outro reino sem nem saber se gosto da garota, mas essa Condessa… Ela é tão…

— Eu não preferi ficar dormindo, eu só não queria ficar lá parado fazendo nada e depois, quando tive vontade de ir, não me deixaram sair.

— E você iria ficar fazendo o quê?

— Qualquer outra coisa. Agora, se me dá licença, eu já estava indo dormir, você deveria ir ver se já mandaram alguém buscar o piche.

— Verdade! Até mais tarde, eu venho te buscar.

“Como era esperado, o príncipe herdeiro não esperou o irmão, depois de se lavar e vestir, vai até o salão ignorando todos que implicavam com ele e se senta num dos tronos esperando impaciente. Uns poucos nobres falavam com ele de hora em hora, a maioria afastada pela ‘cara de poucos amigos’, mas mesmo que se esforçasse para socializar, ele se via igualmente entediado. O jeito era usar aquele tempo todo para pensar na vida e assim ele o faz. Apenas o silêncio repentino que fez o som da trova parecer alto, seguido de uma exclamação geral entre os convidados que foi capaz de pescá-lo de volta para a realidade”.

“Ninguém precisou falar, ele tinha certeza de que Cinderela tinha acabado de chegar ao salão e ela não podia estar mais linda. O vestido que ela usava ia do branco ao azul marinho na barra, era leve, inclusive nas mangas e toda a parte da saia era ornada delicadamente com pontos num tom frio de dourado que dava a impressão de que era pontilhada por estrelas. Ela sorriu um tanto corada, olhando para ele antes de se curvar diante da realeza. Os cabelos castanhos meio presos foram para frente com o gesto cobrindo as laterais da pequena diadema de meia lua que ela usava”.

— Conceda-me a honra de uma dança? — “A voz do irmão soou não muito longe”.

  “Ela aceita o convite e os dois rodopiam pelo salão causando suspiros em quem os assistia, mas alguns deles, como os das duas irmãs de Cinderela, eram de desgosto e inveja, não por apreciarem o belo casal que eles formavam. Passada metade da festa, ela pediu para descansarem um pouco e o príncipe puxou conversa com uns amigos. Ela saiu de fininho e olhando para trás quase atropela alguém em seu caminho”.

— Que susto, Len. — “Ela ri”. — Eu não te vi.

— Nem eu. — “Ele brinca”. — Conseguiu despistá-lo?

— S-não! Droga. — “Ela vê que o príncipe já vinha na direção deles”. — Ele deve achar que é a minha sombra, só pode! — “Bufa entrelaçando a mão na dele que entende o recado”.

— Acho que ele não vai nos interromper enquanto estivermos dançando, pelo menos. — “Ele a puxa um pouco mais para perto para não correrem o risco de serem escutados enquanto dançavam. Todos os olhares do salão estavam vidrados neles”.

— Tomara. — “Suspira apertando a mão no ombro dele”. — Hm… Tem uma mesa há uns dois passos atrás da gente.

— Eu sei, estava saindo de perto dela quando você chegou, eu ia ali no jardim. — “Aponta com a cabeça para um dos arcos que levavam para o lado de fora”. — Não vou te jogar nela, relaxe… mas se tiver alguém moscando no meio do salão é bom avisar… Aliás, deve ter uma frota me observando de longe, mais uma vez os meus fãs. Nunca vou me acostumar com a fama…

— Seu bobo. — “Ela ri quase encostando a testa no ombro dele”.

— Então, eu estava aqui pensando… Seu irmão tem quantos anos?

— Estou dizendo, eu conheço essa moça, mas não sei de onde. — “Continua a madrasta falando com as filhas. Cinderela esconde o rosto encostando no ombro do príncipe”

— Oi?

— É, o Nico, mais ou menos desse tamanho aqui, desce a mão que estava no meio das costas dela para a cintura, cabelo liso e fininho, a cor eu não sei. É tagarela igual a irmã…

— Seis. — “Ela diz rindo”. — Você que cismou comigo, eu nem falo tanto assim, é que às vezes eu me empolgo, oras… Geralmente prefiro ficar só observando, mas você me provoca, então é culpa sua se eu falo demais.

— Sei… E você já me disse isso com outras palavras antes. — “Assobia só pra provocá-la e leva uma pisada leve no pé”.

— Ops. — “Cinderela ri travessa e ele a gira no ar, se ela não deixasse que ele a conduzisse, com certeza cairia no chão. Ela se sentia solta com ele”.

— Aquele dia foi divertido.

— Você não chegou atrasado no escritório?

— Cheguei bem a tempo, na verdade ninguém reclamaria se eu me atrasasse um pouco, a maioria dos funcionários se atrasou…

— Que bom. — “Ela mal percebe que a música chegava às últimas notas”.

— Então, pensou no que eu te disse naquele dia? Não vá me perguntar o que, porque você sabe muito bem sobre o que estou falando.

— B-bom, eu… — “Ela aperta o ombro dele com força”.

— Que bom que se conheceram! Irmão, — “O príncipe bate com força nas costas dele olhando-o com um sorriso duro, muito diferente do que dera para a moça”. — você poderia devolver a minha noiva?

— Noiva?

— Perdão, eu me precipitei. Deveria pedir formalmente. — “Ele limpa a voz e se ajoelha”. — Condessa de Luna, a mais encantadora das nobres aqui presentes… — “Coloca a mão no bolso procurando a caixa com o anel”.

— E-eu… — “Cinderela olha furtivamente ao redor”. — Tenho que ir!

— Alguém segura essa mulher! — “O príncipe ordena enquanto o irmão balançava a cabeça contendo o riso como se não acreditasse que aquilo estava acontecendo”.

“Cinderela corre para fora e alcança as escadas que, por sorte, não estavam muito distantes do ponto que saíra. Respira fundo quando olha para trás e vê o primeiro dos guardas aparecendo do lado de fora do salão”.

— Caramba, Len! — “Ela bufa falando sozinha. Acreditava que ficando ali poderia ter um final feliz, mas não estava pronta para responder àquela pergunta. Ela desce as escadas o mais rápido que podia, sempre olhando para trás para ver se estavam perto de alcançá-la. — O quê? — “Ela quase cai quando tenta dar mais um passo, sem perceber que um dos sapatinhos ficara preso no piche”. — Quem teve essa ideia brilhante?

“Ela bufa deixando-o ali e corre para a parte limpa da escada só com o sapatinho direito no pé. Consegue passar pelo portão principal segundos antes de fecharem a única saída atrás de uns poucos guardas. Sem perder o ritmo ela monta em seu cavalo e cavalga para casa”.

— Já é o bastante. — “O príncipe sorri ao pegar o calçado tão delicado nas mãos. Agora daria um jeito de encontrá-la nem que tivesse que vasculhar o reino inteiro”. — Eu juro que me casarei com a donzela que for capaz de calçar este sapatinho.

“Na manhã seguinte, vários boatos corriam por toda parte e o príncipe foi pessoalmente na casa de todas as nobres do reino, mas em nenhuma delas o sapatinho serviu. No dia seguinte resolveu expandir a busca para todas as jovens, mas ainda assim, andava sem sorte, mais da metade das donzelas já havia experimentado o sapatinho e nenhuma delas era capaz de dar mais de três passos com ele”.

— Você está inquieto. — “Repara que o irmão andava para lá e para cá com uma das mãos na parede do corredor”. — É por causa da Condessa, não? Quais os seus interesses sobre ela?

— Interesses? — “Fica surpreso com a pergunta do irmão”. — Nada de mais, só quero que ela seja feliz. Ela é gentil, inteligente, engraçada, tagarela e tem alguma coisa que esconde… Você sabe … — “Ele sorria feito um idiota antes de fechar a cara”.

— Que bom, desejamos a mesma coisa! Isso quer dizer que você sabe que é comigo que ela deve ficar, porque com você, né… — “Desdenha apenas porque estava com ciúmes do jeito que os dois se sorriam”.

— Por que comigo o quê? — “O príncipe herdeiro já estava na defensiva, não era a primeira vez que algo assim acontecia e ele sabia o que estava por vir”. — Quer saber, estou nem aí. Você está perdendo tempo, deveria estar batendo de casa em casa agora.

— Verdade! Aliás, faço questão que vá comigo hoje, tenho um bom pressentimento. Prometo que não vou voltar para casa até encontrá-la! Você será minha testemunha.

— Que seja. — “O irmão mais velho sai andando pelo salão”. — Vai ficar aí me olhando?

“A noite logo estava por cair, os dois andavam desanimados pela última parcela do reino e o príncipe pensava em voltar atrás com a promessa, mas ao passarem por um rio, o príncipe mais velho voltou a ficar animado, estavam no caminho certo”.

— Com licença, aqui está o príncipe de vosso reino…

— Entrem! Aceitam uma xícara de chá? — “A madrasta corta a fala do conselheiro do príncipe e dá espaço para os três homens entrarem”. — Minhas filhas estão ansiosas para calçar o sapatinho. — “Estava confiante, já que ambas tinham pés pequenos”.

— Não, obrigado. — “O príncipe tira o sapatinho do bolso e o entrega com cuidado para a mulher”.

— Primeiro eu! — “As duas filhas pedem”.

— Eu sou a mais velha. Mamãe… — “Ela senta no sofá e sobe a barra da saia mostrando parte das pernas delicadas”.

— Só um minuto. — “Ela vira de costa para eles e tenta calçá-lo na primeira filha, ela resmunga por ele estar lhe apertando o dedão, mas a mãe a repreende dizendo para fingir que estava tudo ótimo, para agir como a Condessa e que ela teria todo o tempo do mundo para descansar os pés no castelo”.

— Como pode ver, o sapatinho serviu! — “A moça força um sorriso e anda até o príncipe que, mesmo vendo que ela não era a Condessa, era obrigado por sua promessa a tomá-la como sua prometida”.

— Não tem alguma coisa errada não? Ela está mancando. — “O príncipe herdeiro aponta, contornando com a mão o braço da poltrona”.

— Como ele ousa dizer algo assim, aliás quem ele pensa que é? — “A mais velha das irmãs ralha para o príncipe enquanto a outra ria, mas muda o tom da voz ao receber um beliscão da mãe”. — Com todo o respeito, é claro…

— Eu sou o irmão mais velho dele. — “Aponta para o príncipe que estava ao seu lado meio empalidecido com aquele chilique. Todos ficaram surpresos por ele ter dito aquilo sem rodeios”.

— É-é tem mesmo algo estranho, posso ver? — “Pede para a moça que contrariada levanta a ponta da saia mostrando um pé bastante inchado”.

— Não é ela! — “O conselheiro sorri, estava apavorado com o vexame que seria levar uma mulher daquelas para o castelo”. — A próxima filha, por favor.

— Vamos. — “A mãe pega o calçado da mais velha que se joga no sofá de braços cruzados enquanto a irmã sorria. Acontece o mesmo que com a última, mas dessa vez era o calcanhar que lhe apertava, a mãe a repreende como fez com a irmã que agora ria”.

— Eu aceito aquele chá de antes. — “O príncipe herdeiro comenta risonho e recebe um olhar de reprovação do irmão”.

— Mas é claro, Vossa Alteza. — “A madrasta vai até o corredor e chama uma das criadas velhas e o príncipe caminha até onde ela estava sem esbarrar em nada”.

— Veja, coube perfeitamente. — “A mais nova das irmãs estava vermelha de dor e nervosismo”.

— Vamos. — “Beija a mão dela sentindo-se forçado a desposá-la, como da última vez”.

— Você está bem? — “O príncipe herdeiro pergunta quando ela quase tropeça”.

— Mas é claro! — “Ela se contorce e o príncipe puxa a barra da saia dela vendo que o pé estava mais roxo e inchado do que o da irmã”.

— Mais uma impostora… — “Ele bufa entediado e a garota se ofende”.

 — Se não fosse esse cego que fica vendo as coisas… — “Ela começa, mas a mãe constrangida a arrasta para o sofá”.

 — Você não tem mais nenhuma filha ou jovem que more aqui?

— Não.

— Não mesmo? — “O irmão se intromete”.

— Bom, não, mas…

— Estou aqui!

“Cinderela finalmente desce, ela levara um bom tempo tentando escapar do sótão onde a trancaram dizendo que passariam vergonha com ela caso o príncipe a visse. Ela trajava uma capa escura de palha e carregava um livro nas mãos”.

— Mas essa é só a enteada do meu antigo casamento… Que ele descanse em paz… uma criada que cuida da cozinha. Ela sempre está coberta de cinzas, nada apresentável.

— Não importa, eu disse que eram todas as donzelas do reino. — “Sorri ao reconhecê-la”.

— O sapatinho, por favor, eu mesmo o colocarei. — “O príncipe se ajoelha depois de fazê-la sentar na poltrona”.

— Obrigada. — “Ela tira um pé do tamanco pesado que sempre usava e levanta a barra da capa mostrando que já calçava o par direito do sapatinho surpreendendo a todos, exceto ao príncipe herdeiro que sorria para ela imaginando o que ela planejara”.

— Sem nenhuma dúvida, é ela. — “Ele sorri quando ela desliza o pé encaixando-o perfeitamente. Ela desata o nó da capa revelando o mesmo vestido que usara na última noite do baile.

— Agora, por favor… — “Beija a mão de Cinderela encaixando um anel de ouro finissimamente trabalhado”. — Vamos ao castelo para começarmos com os preparativos da nossa grande festa d… — “Ela olha para o príncipe herdeiro e abre o livro de cabeça para baixo”. — …da sua grande festa de casamento, minha irmã. Ele sorri olhando para o Gato Borralheiro e então para a princesa”.

— Mas é claro! Vamos, meu gato… — “Pisca brincalhona para o futuro esposo e eles partem para o castelo. Lá os dois se casariam e seriam muito felizes ao contrário das irmãs que estavam destinadas a serem cegas a si mesmas para serem as boas damas que a mãe delas tanto idealizava”.


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Notas finais do capítulo

Fantasminhas, manifestem-se!



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