Até que ponto é fantasia escrita por Niebla


Capítulo 19
Haja paciência




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— Cuidado menina. Pare de sonhar acordada, assim você vai acabar derrubando tudo! — “Ralha a madrasta”.

“A garota toma um susto e os pratos batem na mesa em um baque agudo”.

— Veja, como está toda suja!

— Dormiu nas cinzas novamente, Gata Borralheira? — “Diz uma de suas irmãs”.

— Maria das Cinzas ou Cinderela? — “Ri a outra. Era verdade, ela dormira na frente da lareira para tentar espantar o frio da madrugada”.

— O que é isso garotas? Todas vocês deveriam se portar como as damas que são. — “Olha para elas”. — E você, volte a cumprir suas tarefas!

“Cinderela sai bufando indo pegar água no poço, ela só descarrega seu conteúdo quando se ajoelha na frente do túmulo da mãe para regar a enorme árvore que crescera ali, o gesto fora tão automático que nem percebeu o que estava fazendo”.

— Que droga é essa? — “Pergunta sentindo-se estranhamente triste. Olha para as próprias mãos”. — Algo está tão errado… — “Sente o incomodo de seus pesados e duros tamancos de madeira ao levantar”.

— Cinderela! — “Grita uma das criadas”. — A madame está lhe chamando.

“A garota levanta e corre para dentro de casa. Ela teria que esfregar todo o chão do grande salão”.

— Elas sempre estão tentando me atingir, mas eu não fiz nada de errado… Sei que me odeiam, mas caramba, olha o tamanho disso! — “Ela reclama falando sozinha”.

 “Depois de algumas horas de trabalho duro o salão fica brilhando. A Gata Borralheira prepara o jantar, as serve e come os restos, termina de arrumar o que faltava da cozinha e se deita, exausta e com os braços doloridos, perto da lareira”.

— Acorde. — “Uma das empregadas a sacode”. — O sol já subiu há algum tempo. Vou alimentar os animais, cuide do café da manhã. — “Vai para os fundos”.

 “Ela escuta o que suas irmãs e madrasta pediram e vai até a cozinha para preparar a refeição”.

— Nossa, o que é isso? — “Uma das irmãs faz uma careta”.

— Omeletes, não é o que pediu? — “Cinderela coloca os pratos na mesa”.

— Pedi com o queijo por cima dos ovos, mas depois e não antes de fritarem. — “Vira os olhos”. —Você nunca faz nada direito.

— E isso está queimado. — “A outra gira um pedaço pão no garfo.

— Não está queimado, nesse tipo de pão, quer dizer que está no ponto, caso contrário fica cru. — “A garota suspira. Tinha a impressão de que aquela não era a primeira vez que dizia aquilo”.

— Eu não me importo e não vou comer isso. — “Cruza os braços”.

— Cinderela, corte a parte queimada para sua irmã comer. — “A madrasta ordena e então olha para a filha”. — Assim você come menos e não corre o risco de ficar mais ‘cheinha’.

“Cinderela entrega o pão ‘descascado’ enquanto a outra irmã ria maldosamente da cara da outra. Como tinha mais nada para fazer ali, vai para o poço encher um balde. Estava confusa, a mãe em suas lembranças e a madrasta eram iguais na aparência”.

— Aposto que ele deve estar com raiva de mim… Por que eu tenho que ser tão atrapalhada? — “Olha para o reflexo turvo na água do balde que acabara de encher”. — Preciso de um banho…

“A garota adianta o que podia e vai até o rio para se livrar das cinzas, a água fria contra a pele revigorava o corpo cansado fazendo-a sentir-se muito melhor. Quando voltava para casa, avistou o carteiro parado nos portões da frente. Ele morava na fazenda do lado e eles se conheciam desde pequenos”.

— Gata Borralheira! — “Ele acena sorrindo”.

— Oi? — “Ela vai até ele”. 

— Uma carta lá da realeza. — “Diz tentando recuperar o fôlego que gastara correndo até ali”.

— Com quem você estava falando mocinha? — “Pergunta a madrasta quando ela entra na sala depois de se despedir”.

— Chegou uma carta do castelo. — “A garota a entrega”.

— Subam comigo. — “Pede já nas escadas”.

“As duas irmãs esticam o pescoço curiosas enquanto, ansiosa, a mãe delas abre e lê a carta”.

— Finalmente virou oficial… É um convite para todas as jovens solteiras do reino e seus responsáveis comparecerem ao baile real durante três noites para o príncipe escolher uma esposa. — “Diz animada”. — Cinderela, ajude-nos a nos vestirmos e engraxe meus sapatos.

—Arrume o tule desse meu vestido vermelho! — “Diz uma das irmãs jogando-o em cima dela”.

— Mas esse vestido é meu! — “A outra a encara indignada”.

— Eu fico mil vezes melhor do que você nele. — “Ri da irmã tentando chamar a atenção para si”. — Rechonchuda.

— Meninas! — “A mãe as repreende”.

— Penteie todo o meu cabelo. — “Diz a outra com a escova na mão tentando ignorar a perda de seu vestido”.

— Os meus eu mesma faço, estão sempre sedosos o bastante. — “Implica”.

— Sebosos, não? — “Tenta devolver na mesma moeda”.

— Meninas… — “A madrasta as olha com dureza”.

“Cinderela habilmente cumpre as exigências; Logo as três faziam seus penteados e se enchiam de joias em frente a um grande espelho”.

— Agora posso me aprontar para ir? — “Pergunta olhando para seus reflexos tão bem vestidos pensando que na festa, talvez encontrasse quem procurava”.

— Você? Cheia de pó como sempre? — “A madrasta ri”.

— O convite é para todas as jovens do reino e eu posso me lavar.

— Com esses trapos? — “Uma das irmãs aponta”.

— Aposto que nem saber dançar sabe… — “Debocha”.

— Dê só uma olhadinha nesse seu rostinho rude. — “A madrasta ergue o rosto da garota voltando-o ao espelho para que ela também o visse”. — Não tem a delicadeza de uma donzela e seu modo de agir então…. — “Torce o nariz com uma ponta de nojo”. — Mas admiro sua persistência. Hoje mais cedo joguei um prato de lentilhas nas cinzas, se você separar todas e se aprontar em duas horas eu deixo você vir conosco.

— Mas você não havia dito que não queria que ela fosse… — “Uma das irmãs começa a dizer”.

— Que bobagem. — “Fuzila a filha com o olhar”. — Apenas faça o que pedi.

— Muito obrigada, senhora. — “A gata borralheira desce quase correndo. Apesar de achar aquele pedido estranho, ela começa a recolher rapidamente as lentilhas”.

— Oh! E essas daqui também. — “Minutos depois madrasta despeja mais um prato grande de lentilhas nas cinzas”.

“A garota respira fundo e se controla concentrando-se em fazer aquilo ainda mais rápido”.

— Acabei. Aqui está o prato. — “Diz pouco antes de uma hora depois”.

— Ótimo. — “Diz em tom de deboche mesclado com surpresa”. — Com ou sem lentilhas você continua sem ter o que vestir ou saber como se portar. Você só seria uma grande vergonha para nós.

— Mas você disse me levaria! — “Cinderela se impõe”. — Sua palavra não tem valor?

— Não para uma fedelha.

— Continuem pensando que todo esse orgulho barato serve para alguma coisa. Eu nunca seria tão desprezível! — “Detestava quando alguém lhe faltava com a palavra”.

— Vamos meninas, o baile nos espera. — “A ignora e as três saem da casa com os narizes empinados”.

— Droga! — “Cinderela passa as mãos pelos cabelos”. — Eu sinto que devo ir, mas… como? — “Anda em círculos”.

“Ela olha para o castelo entre as montanhas tentando pensar mais claramente e então se lembra de um baú com roupas antigas da mãe. Ela o abre e escolhe um belo vestido prateado que (com uma habilidade que não tinha) altera em poucos detalhes até torná-lo digno de um baile e então prova os pequenos sapatinhos de cristal e ouro que estavam destinados a serem dela.

— Perfeitos! Agora eu tenho com o que ir. — “Sorri lavando as mãos e rosto. Ela se veste, calça os sapatos e coloca algumas de suas joias antigas”. — Acho que estou apresentável. — “Olha para o próprio reflexo que pouco se parecia com ela antes, mas muito com como ela era, e sai da casa”.

 “A Gata Borralheira monta em seu cavalo e parte rumo ao castelo”.

— Len deve ser o príncipe outra vez, mas o resto está tão embaçado… — “Fala sozinha ou então com o cavalo que ela amarrava junto a uma árvore. Ela vira os olhos”. — Ele deve estar me esperando. — “Murmura dando um passo à frente”.

“Quando os guardas a avistam, eles observam com admiração a belíssima moça que corava gradualmente. Ao entrar no salão os olhares mais próximos se fixaram nela”.

— Como se chama madame? — “Pediu o responsável por informar os nomes das donzelas”.

— Hm… Condessa de Luna. — “Pensa rápido, esperando que aquele nome fosse como uma seta apontando em sua direção”.

— Quando estiver pronta, pode seguir pelo tapete vermelho.

— Muito obrigada. — “Sorri dando poucos passos para longe dali”.

“Cinderela olha ao redor procurando por alguém. Várias pessoas dançavam ao som da trova, comiam e conversavam agrupadas, mas nenhuma era quem ela buscava. Esperou as duas donzelas que estavam na sua frente serem apresentadas e caminhou tentando emanar confiança”.

— Condessa de Luna! — “Anunciam quando ela para na frente da realeza”.

“A Gata Borralheira os reverencia e olha para eles procurando por um rosto familiar que não encontra. Ela dá as costas, um tanto decepcionada, e some na multidão. Alguma coisa estava errada”.

— Talvez ele não esteja aqui… — “Murmura para si”.

— Espere! — “Alguém segura a mão dela”.

— Você me encontrou! — “Diz se virando com um sorriso que se desfaz”. — …Vossa Alteza. — “Faz o melhor para esconder o desânimo”.

— Felizmente, Condessa. — “Olha para ela intensamente”.

— Hm… “Aquele era o príncipe errado…” — Pode soltar o meu pulso? — “Os braços dela doíam um pouco por causa dos músculos cansados”.

— Que grosseria a minha… Para me retratar, conceda-me a honra de lhe acompanhar em uma dança? — “Estende a mão para ela sorrindo galanteador”.

— Farei o possível para não pisar em seus pés. — “Cinderela sorri de leve. Negar um pedido daqueles para um príncipe em seu próprio palácio não parecia ser uma boa ideia”.

“Pelo menos podia olhar ao redor disfarçadamente enquanto dançava. Todos os observavam enquanto eles giram graciosamente no meio do salão e aos poucos outros casais se unem a eles”.

— Nunca a vi pelas redondezas. — “Comenta puxando assunto”. — Não é daqui, certo?

— Definitivamente não. — “Ri de sua piada interna”.

— E você dança muito bem por sinal. — “Aproxima mais os seus corpos e ela sutilmente os mantém numa distância razoável”.

— Obrigada. — “Continua olhando ao redor cada vez mais preocupada”.

— Algo errado? — “Ergue o queixo dela fazendo-a corar ao afastá-lo”.

— Na verdade sim. Algumas pessoas estão me encarando de um jeito estranho… — “Diz meia verdade”.

— É o ciúmes de sua beleza e privilégio de dançar comigo. — “Pisca para ela”.

— Talvez. — “Ela esconde a cabeça em seu peito quando passa excessivamente perto de sua madrasta que por sorte não a reconhece”.

— Que tal um lugar menos cheio? Podemos ir para o jardim. — “Ele a gira em seus braços”.

— Não quero lhe incomodar. Dance com outras donzelas. — “Ela o olha nos olhos”.

— Mas você é a donzela com quem quero dançar.

— Não me sentiria bem privando-as disso, Vossa Alteza.  — “Fala como se tivesse decorado um roteiro”.

— Não se preocupe com isso, a maior parte delas já dançou comigo antes.

— Tudo bem.  — “Cinderela para de dançar e o segue para o lado de fora do castelo. Havia poucas pessoas lá”.

— Aqui é bonito. — “Comenta olhando o extenso e bem cuidado jardim”. —Parece um bom lugar para se crescer. Aposto que brincava bastante por aqui.

— Pouca coisa mudou desde que era mais novo. — “Ele olha ao redor”. — Eu e meu irmão vivíamos correndo em volta do castelo”.

— Irmão? — “Ela se encosta na parede”. — Ele não estava no baile estava?

— Er… Na verdade ele… — “O príncipe muda de expressão olhando alguém que se aproximava”.

— Posso convidá-la para uma dança? — “Pede um nobre que os observava há algum tempo”.

— Não. — “O príncipe se intromete e o homem se afasta sem graça”.

— Eu posso responder por mim! — “Cinderela não consegue conter o impulso de dizer o que pensava”. — Sem querer ser rude, é c-claro.

— Também acredito que possa, Condessa. Desculpa. — “Ele pisca algumas vezes e a encara como se ela fosse algo muito curioso”. — Mas a cada minuto você se torna mais interessante e não quero que a afastem de mim.

— Está tudo bem, mas já está tarde e eu preciso partir. — “Diz ao ver sua madrasta e irmãs saindo pelos portões da frente”.

— Quer que eu a acompanhe? — “Ele estende a mão”.

— Não é necessário, volte para a festa e dance com outras donzelas, eu insisto. — “Faz uma reverência”.

— Espere! Nós nos veremos amanhã? — “Ele pergunta, mas ela já descia as escadas sumindo do campo de visão”.

“Cinderela cavalga rapidamente de volta para casa. Chegando lá, guarda as roupas que usara e veste as de sempre. Quando sua madrasta e irmãs chegaram, viram-na deitada na frente da lareira dormindo”.

— Hoje o dia está bem mais calmo. — “Comenta uma das empregadas pouco tempo depois de acordá-la de um cochilo”.

— Obrigada por me deixar dormir um pouco mais. — “Cinderela sorri”.

— Depois de limpar todo aquele salão… — “Suspira”. — Como a madame e as filhas ficaram na festa até tarde elas demoraram para acordar e pedir coisas.

— Falando nisso onde elas estão? Só as vi na hora do almoço… Voltaram a dormir?

— Não, elas foram para a cidade comprar roupas e joias, disseram que precisavam deslumbrar a realeza, afinal hoje será um baile de máscaras…

“Quando voltam, pedem para Cinderela as preparar novamente. Dessa vez seus vestidos eram bem mais bonitos e extravagantes. Elas realmente queriam impressionar”.

— O príncipe até dançou comigo ontem. — “Ri a mais nova”. — Afinal todos sabem que eu sou a mais bonita.

— Mas não hesitou em te trocar por aquela Condessa. — “A outra implica colocando os brincos. Cinderela esconde o riso”.

— Como aquela estrangeira, ou sei lá o que, ousou roubar o príncipe de mim? — “Pergunta para a mãe”.

— Ele certamente vai dançar com você de novo, querida. — “A madrasta coloca um grande enfeite nos cabelos da filha”. — Você vai conquistá-lo!

— E comigo? — “A outra pergunta esperando apoio da mãe”.

— Duvido que você faça o tipo dele. — “A outra irmã gargalha”. — Ele demonstrou gostar de damas mais sofisticadas.

— Sem mais brigas. Devemos chegar pontualmente para causar boa impressão. — “A madrasta termina de ajeitá-las”. — E você, arrume todo esse quarto. — “Aponta para a Gata Borralheira que olhava para a janela distraída”.

— Até que enfim! — “Cinderela suspira ao vê-las saindo pela porta”.

— Eu que o diga. — “A empregada mais velha comenta”.

— Agora teremos um pouco de descanso. — “A outra suspira”. — Boa noite garota. Ah, você vai dormir aqui de novo?

— Tenho algumas coisas para fazer. Não se preocupem comigo. — “Cinderela sorri e despreocupadas, as duas empregadas entram no pequeno quartinho separado da casa”.

“A garota arruma o quarto em tempo recorde e torna a abrir o baú. Ela escolhe um vestido azul bem claro, para que combinasse com a máscara que encontrara entre as velharias, e o reforma. Ela não queria chamar muita atenção, por isso tirou grande parte do volume do vestido. Se conseguisse despistar o príncipe, ela daria um jeito de explorar o castelo dessa vez”.

— Gostei! — “Sorri com o resultado colocando um par de brincos e calçando os mesmos sapatos do dia anterior”.

“Ela parte rumo ao castelo e amarra seu cavalo no mesmo lugar, porém dessa vez chega um pouco mais tarde. Se no dia anterior muitos a admiravam, hoje todos o faziam. Eles cochichavam sobre o interesse do príncipe por ela, especulando que era a mesma donzela”.

— Mal pude aguentar de tanto esperar. — “Diz o príncipe ao reconhecê-la”. — Por que demorou tanto? — “Larga a moça, que coincidentemente era uma das irmãs dela, com quem dançava sem muita vontade, para conversar com Cinderela”.

— Pequenos imprevistos. — “Ela dá de ombros para o príncipe, o único que estava sem máscara”.

— Aliás, você está linda hoje. — “Comenta beijando as costas da mão dela”. — Gostaria de dançar? — Depois disso talvez eu te apresente para algumas pessoas…

— Só se depois eu puder decidir o que faremos. — “Ela sorri um tanto desafiadora”.

— Tudo bem. — “Ele se diverte”. — E o que seria?

— Primeiro a dança, Vossa Alteza. — “Ela coloca uma das mãos em seu ombro para então entrelaçar a outra com a dele”

“Eles dançam por alguns minutos e o príncipe a apresenta para alguns nobres que eram seus amigos. Alguns deles até tentaram dançar com ela, mas ele não deixava”.

— Agora vamos encontrar os meus pais. — “Fala depois de negar mais um pedido no lugar dela”.

— Olha, eu posso responder sem sua ajuda. — “Tenta não revirar os olhos”.

— Isso foi grosseiro da minha parte, não? — “Fica preocupado”. — Está aborrecida?

— Agora é a minha vez. — “O ignora”. — Quero dar uma volta. Digamos que os castelos de onde vim são bem diferentes.

— De onde você é? — “Ele pergunta curioso passando pela lateral do castelo. Lá não havia nenhum guarda já que era uma extremidade próxima à muralha”.

— De uma terra bem distante… — “Ela ri consigo e então encosta no balaústre olhando ao redor”.

— Faz sentido. — “O príncipe olha para ela com ternura”.  — Você não é como as outras donzelas e eu até sinto que posso me abrir com você. Posso saber o que está pensando?

— Hm…  — “Aponta para o alto”. — Por que só aquela janela está fechada? — “Estranha, pois todas as outras estavam abertas e iluminadas por dentro por causa da festa”.

— Ah… Aquela? — “Olha para uma janela do segundo andar passando a mão nos cabelos apreensivo”. — É por que quase ninguém vai lá… Vamos voltar a dançar no salão?

— Tudo bem… — “Finge realmente querer fazer aquilo. Sabia que o príncipe não estava sendo sincero e que deveria ter algo a mais ali”.

— Estou cansada. — “Cinderela suspira afastando-o. Ele a girava tanto que ela já estava ficando tonta”. — Vou me sentar um pouco.

— Eu a acompanho. — “O príncipe sorri para ela”.

— Não, faça seu papel de anfitrião. Prometo que vou voltar. Duvido que tenha passado um tempo com seus pais hoje… Afinal, isso tudo é para você e, com todo respeito, deveria acalmá-los. Ontem pareciam um tanto nervosos e você passou o tempo todo comigo.

— Se isso a fizer contente…

— Certamente fara. — “Abre um sorriso”.

“Ela se afasta, percebendo que ele ainda lhe seguia com os olhos. Alguns outros moços a convidaram para dançar, mas ela recusou deixando o príncipe contente. Quando duas donzelas o abordam, Cinderela aproveita para sorrateiramente sair do salão”.

— Que tal uma dica narrador? — “Ela sussurra olhando para o relógio de parede”.  — Ele já deveria ter aparecido… — “Volta a olhar para as janelas do castelo, buscando aquela que estava trancada, mas a vê entreaberta. Curiosa ela se aproxima”.

“Uma corda feita de lençóis é lentamente estendida para fora da janela até algo em sua ponta tocar o chão.  Segundos depois, o príncipe herdeiro desce por ela suspirando aliviado quando seus pés tocam o chão”.

— Você… — “Cinderela o assusta quando toca o ombro dele”.

— Lun! Quando ouvi dizerem “Condessa de Luna”, precisei dar um jeito de verificar que era você. — “Segura a ponta da corda de lençóis e a estica para ter certeza da localização da janela, então a arremessa torcendo para cair dentro sem acertar a janela. Ele comemora internamente quando vê que funciona”.

— Onde você esteve esse tempo todo?

— Trancado. — “Dá de ombros colocando uma máscara simples que só cobria a borda dos olhos”.  — Mas não é como se me tratassem mal ou algo assim. — “A tranquiliza”. — Antes da festa, eles simplesmente não lidavam comigo, eu ficava praticamente o tempo todo os evitando e sendo evitado.

— Por quê? — “Aquilo não fazia sentido algum”.

— Porque eu sou cego, oras… — “Caminha para longe da janela”. — Para eles era como se eu tivesse perdido minha função como nobre, por isso passaram para o meu “irmão”. Eu sabia que cedo ou tarde algo assim aconteceria, mas fazer o quê? — “O príncipe suspira”. — É quase como se eu fosse um fantasma, uma droga de déjà vu… Falando nisso… O que você andava fazendo?

— Trabalhando feito escrava. — “Bufa e os dois de lembram da mesma coisa”.

— Queria tanto ver isso! — “Ele ri alto”.  — O feitiço contra a feiticeira.

— Espera só eu achar o livro original aqui dentro e inverter nossos papeis… — “Um brilho sinistro correu pelos olhos dela”.

— Você não faria algo assim… — “Ele batuca com os dedos na parede”

— Se eu não o encontrar, você nunca vai saber!

— B-bom, estou com alguma coisa que revele quem eu sou? — “Pergunta se referindo às roupas simples que usava”.

— Hm… não, mas esses seus cabelos… — “Ela ri”. — Eles te denunciam…

— Droga. — “Ele joga a franja para trás prendendo as pontas com o elástico da máscara”. — Melhorou? — “Caminham juntos”.

— Sim, acho que só eu te reconheceria. — “Diz encarando uma mecha que, solta do próprio penteado, caia entre o nariz e a bochecha”.

— Agora só temos que fazer a história andar. — “Arruma aquela mecha do cabelo dela sorrindo e ela cora desviando o olhar. Estavam tão próximos…”.

— Condessa! — “O príncipe se aproxima levemente exasperado por vê-la com outro homem na entrada do salão”.

— Invente algo. — “Cinderela diz sem mover os lábios”.

— Como não te vi no salão, imaginei que veio aqui fora tomar um ar fresco… — “Segura as mãos dela”. — Quem é esse? — “Mede o irmão de cima para baixo achando-o familiar”.

— Primo dela, ou então vassalo, como quiser, Vossa Alteza. — “Engrossa a voz fazendo uma reverência”.

— Já nos vimos? — “Encara o irmão”.

— Posso lhe garantir que nunca o vi, Alteza. — “O príncipe disfarçado encara o irmão firmemente, escondendo o riso”.

— E o que faziam? — “Pergunta desconfiado”.

— Ele trouxe notícias sobre os meus cavalos… — “Vira os olhos se mostrando descontente com a intromissão”.

— O cocheiro disse que já estão prontos para partir caso desejar, Condessa. — “Olha para algo ligeiramente atrás de Cinderela”.

— Já vai partir? — “O príncipe se entristece”.

— Não, quero dançar mais um pouco. — “Cinderela mente entrelaçando os braços nos dois para o desgosto do príncipe”.

— Você trata todos os seus vassalos assim? — Pergunta aborrecido”.

— E por que não? — “Ela o encara”. — Eles também são pessoas assim como nós dois. Acredito que todos mereçam o mesmo respeito. — “Diz como se fosse óbvio”.

— Interessante essa sua forma de ver o mundo… — “Olha para ela com certo encanto”. — Você realmente não é uma nobre comum…

— Obrigada, eu acho…

— Vamos dançar? — “O príncipe para no meio do salão estendendo-lhe a mão”.

— Mas é claro. — “Ela sorri docemente”. — Mas antes, deixe-me falar com meu primo. — “Afasta-se com ele deixando o irmão dele de braços cruzados esperando”. — Nossa, não estava mais aguentando ele no meu pé o tempo todo…

— Ele parece estar caidinho por você… — “Repara o príncipe herdeiro, não conseguira conter a ponta de ciúmes”.

— Eu não acredito! — “Cinderela ri”.

— Você sabe que o narrador mente. — “Ele inventa uma desculpa para desviar o foco e cora pelo menos mais uns dois tons”. — Nossa, como você é engraçado! — “Cruza os braços e Cinderela tampa a boca para o riso não sair alto demais".

— Ok, ok… Vou dançar com ele para todos aprestarem atenção na gente enquanto você volta para o seu quarto antes que notem sua ausência. Ah, quando chegar lá, não se esqueça de limpar suas botas, elas estão sujas de lama. Nos vemos amanhã?

— Sim. Mas… — “Começa a dizer, mas é interrompido já que o irmão afunda a mão em seu ombro”.

— Então Condessa, eu não disse que temos uma bela biblioteca? Ela fica num lugar mais calmo, mais reservado…

— Eu já vou indo. — “O príncipe herdeiro se afasta torcendo para não esbarrar em ninguém”.

— Vocês dois são bem próximos, não? — “Ele abre as grandes portas de madeira leve que davam acesso à biblioteca e ficam parados próximos a ela”.

— Sim. — “Cinderela admira as prateleiras largas cheias de livros, mas um deles chama a atenção dela imediatamente”. — Cinderela! — “Ela sobe na ponta dos pés para alcançar o livro de capa púrpura e título gravado em belas letras douradas”.

— O quê?

— Nada… — “Eu só reconheci um título aqui. 

— Não sabia que gostava tanto de livros assim, minha adorável… — “Ele ergue o queixo da garota que se atrapalha deixando o livro cair e quicar no pé dela”. — Irmã?

— Droga. O Len vai me matar… — “Ela pega o livro aberto estatelado de cabeça para baixo no chão enquanto ouvia um dos guardas falando que os convidados não poderiam ficar zonzando por ali, mesmo que este dissesse que não sabia o que estava acontecendo”.

— E-eu estou com ele! — “Ela corre até o moço no corredor deixando o irmão sem entender nada”.


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