Até que ponto é fantasia escrita por Niebla


Capítulo 15
Finalmente!


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é um marco importante, demorei um tanto para conseguir encaixar as coisas como queria, mas está indo kkk



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— Já acordou? — “Bela esfrega os olhos ao vê-lo sentado perto da janela. Como tinham dormido tarde no dia anterior, pensou que ele estaria tão sonolento quanto ela”.

“A Fera sequer responde, ele bebe o último gole de seu café e quando coloca a xícara vazia sobre a mesinha, ela desaparece. Bela veste um casaco assim que levanta e vai até ele”.

— Você quase sempre acorda cedo, né? — “Ela se espreguiça puxando assunto”. — Ah, acabei esquecendo de te perguntar: Como você adivinhou que eu era filha do mercador?

— Não adivinhei. — “Esfrega os braços, estava frio já que nevava lá fora”.

— É como se alguma coisa estivesse fora do lugar… Quando será que vai acontecer alguma coisa interessante nessa história? — “Ela bufa, já estava começando a ficar entediada”.

— Tenho cara de vidente?

— Foi uma pergunta retórica. — “Bela bufa”.

— Outro jeito de dizer que está falando sozinha… — “Ele ri de lado”.

“Bela estava começando a achar que a Fera só podia sofrer de um grave caso de mau-humor matinal, ele parecia outra pessoa ou um cubo de gelo, assim como no outro dia mais cedo, já de noite parecia bem mais ‘normal’, talvez até um tanto mais gentil… Sem contar que ele estava com aquela mesma cara fechada do outro dia, assim como os olhos, isso a incomodava mais do que ela gostaria. ‘O que tinha de errado com ele’? A Fera dá de ombros como se não se importasse”.

— Ah, acho que já sei o que é. — “Ela ignora a provocação”. — É como se fosse a primeira vez.

— Como se fosse a primeira vez? O filme? — “Ele estava começando a pensar que ela era mesmo maluca”.

— Não… —    Ela faz uma careta” — As lembranças de antes do narrador começar com o “era uma vez”. Eu não lembro de nada, igual aconteceu no primeiro livro, quando eu era a Rapunzel.

— Eu também percebi isso, mas como toda vez é algo mais maluco, não tinha pensado que poderia ser algo importante. — “A Fera sente que precisava saber de algo que não fora narrado, mas ele não tinha como se lembrar da ma… Indignados, Bela e a Fera trocam um olhar”.

— O quê??? — “Os dois falam juntos”.

— Ele parou de falar na metade e parece que não vai repetir… Esse filho da mãe! — “A Fera resmunga”.

— Narrador, você não deveria fingir que isso não aconteceu, né? — “Bela parecia falar com algum amigo imaginário perdido no teto da sala. Ela vira os olhos”.

— Ele adora tirar com a nossa cara. — “Ele bufa”.

— Bom… Como ele não vai responder, acho que vou dar uma volta e ver se encontro algo diferente. Tem uma biblioteca aqui, né?

— Tem. — “A Fera aponta para o corredor principal”.

— Até mais tarde…

 “Bela leva horas andando por todo o castelo três vezes, ignorando apenas a biblioteca, já que sabia que se entrasse lá não iria querer sair tão cedo. Depois finalmente se convencer de que não encontraria nada no resto do castelo, ela entra na biblioteca e seus olhos quase se enchem d’água. Com a luz do sol, as tão altas e abundantes prateleiras cheias de livros pareciam brilhar, nunca tinha visto tantos livros num mesmo lugar, mesmo que tivesse o hábito de visitar várias bibliotecas diferentes. Bela dá voltas e voltas entre as prateleiras sem saber qual escolher, ela acaba pegando um que gostava na mão e ao abri-lo sente aquele cheiro maravilhoso. Ela olha para cima distraída e se surpreende ao encontrar um livro muito parecido com o que trouxera de casa. Mas ele estava no topo da prateleira, nem com a escada que ficava perto da porta ela conseguia alcançar. Pensou em ir atrás da Fera mais tarde e pegar seus 1,80 metros de altura emprestados”.

— Não pensava que ele era assim tão alto… — “Bela fala sozinha enquanto esticava a mão uns vinte centímetros acima da cabeça dela, tentando marcar a altura da Fera”.

“O livro que ela queria flutua até a mão dela. Era estranho, ele estava parado no ar como se uma pessoa invisível o segurasse. Bela abre o livro notando que ele estava quente e que na capa só haviam duas letras, um título incompleto. Ela o coloca numa mesa, mais tarde falaria com a Fera sobre aquilo”.

— Hm… Obrigada. — “Ela agradece sorrindo para seja lá quem que pegara o livro para ela. Bela pôde jurar ter escutado uma voz fininha rindo para ela”.

“Bela adoraria ler mais de um livro caso tivesse tempo e agora tempo livre era o que mais tinha. Ela vai para a sala pensando em ler perto da lareira e senta no tapete encostada na poltrona em que a Fera estava”.

— O que você tanto folheia aí? — “Ele pergunta um tempo depois”.

— Uma peça, uma das que eu mais gosto na verdade. — “Ele olha para cima notando que ele parecia curioso”. — Quer que eu leia pra você?

— Não, eu não quero atrapalhar, você já deve estar na metade e seria meio esquisito…

— Como assim esquisito? — “Os cabelos dela quase tocaram o chão de tanto que estava inclinada para trás”.

— Ler um livro de dentro de um outro livro… Não se faz isso todo dia. — “Ele ri de leve”.

— Mais um motivo para fazermos. — “Bela sorri brincalhona e senta de frente para ele abrindo o livro na primeira página”. — Como é uma peça, vai estar dividida em cenas e atos, tá?

— Não cheguei a ler muitas, mas sei como é. — “Ele senta no chão”.  — Assim fica melhor.

— Ok… Ato I; Cena I: “Lugar deserto. Trovões e relâmpagos. Entram três bruxas. PRIMEIRA BRUXA — Quando estaremos à mão com chuva, raio e trovão?…”.

— Nossa, que pesado… — “Ele comenta admirado quando, depois de terminar de ler a última frase, ela avisa que acabou”.

— Também acho! Você não deve ter visto o filme do Polanski, né? Atuaram muito bem, e fazerem daquele nobre que nunca herdaria o trono manco, foi genial. Tenho vontade de trabalhar em algo assim um dia…

— E ela se empolgou de novo! — “Ele mostra as palmas das mãos”. — Só faltava você ter um treco na primeira cena do ato V.

— Culpa do Shakespeare. — “Bela ri fechando o livro”. — Agora vamos comer alguma coisa porque eu estou com fome…

“Os dois almoçam descontraídos, na verdade já estava bem tarde para ser um almoço, mas nenhum deles se importava. Eles vão para o quarto e deitam um pouco, como era de se esperar, Bela cochila acordando só meia hora depois, ela estava cansada”.

— Que bom que, pelo menos, você não ronca… Você não para quieta nem dormindo. — “A Fera comenta quando Bela, virando na cama o acerta com seus cabelos compridos”. — E ainda falou alguma coisa sobre algas enquanto dormia…

— Seu bobo. — “Ela se estica mais ainda procurando olhar para ele, mas estava muito escuro, já que as cortinas estavam fechadas e era quase noite. Bela franze o nariz quando ele se remexe sentando na cama”.

— Quer que eu…

— Não, não precisa. — “Ela afunda a cabeça ainda mais nos travesseiros”.

— O que foi? — “Era estranho ela ficar quieta por tanto tempo”.

— Só estava aqui pensando que eu deveria voltar pra “casa”. — “Ela apoia os cotovelos no colchão”.

— Por quê? — “Ele vira para ela”.

— Já que, com nós dois aqui não acontece nada, acho que devo dar uma olhada lá. Eu não sei, mas sinto que a história não está fluindo ainda. — “Ela morde o lábio pensativa”.

— Pode ser, mas não demore muito, acho que…

— Vai sentir saudades? — “Ela o interrompe rindo e ele vira os olhos”.

— Acho que pode acontecer o mesmo que aqui: nada. — “Estava fazendo um grande esforço para não ser tão grosso quanto estava sendo nos últimos dias, mas ela não estava ajudando”.

— Tá, parei. — “Ela segura o riso”. — Amanhã cedinho eu vou. Esqueci de dizer que eu não encontrei nada de incrível hoje mais cedo… O que você ficou fazendo antes de lermos o livro?

— Quase a mesma coisa que você, mas não fiquei insistindo depois de perceber que não adiantava. — “Ele boceja”.

— Hmpf… — “Ela tenta dar um soco leve nele, mas acaba acertando o travesseiro e ele ri disso”. — Isso chama persistência.

— Sei, sei… Já acabou com o interrogatório? — “Ele sorri brincalhão”.

— Só mais uma. — “Bela achava que aquela pergunta seria estranha, mas tudo aquilo era estranho”. — Por que você dorme na mesma cama que eu?

— Nunca vi uma cama tão larga quanto essa e ainda reclama, por acaso está apertado? — “Ele desvia de foco só para implicar e Bela bufa virando os olhos”. — Na verdade não tem um motivo, não tenho culpa se quando eu venho aqui para conversar você já está dormindo e o meu quarto fica lá no alto, longe pra caramba.

— Falando em implicância… Desculpa pelo o que falei ontem mais cedo. — “Bela começa antes que acabasse deixando para lá”. — Eu não tinha como imaginar que uma bobagem minha daquelas fosse trazer tudo aquilo de volta pra sua cabeça. E se serve de consolo, eu sei muito bem como é ter um relacionamento complicado com a mãe…

— Que nada, a Rebecca é um amorzinho. — “Cutuca”. — Ela me interrogou feito profissional e até mandou um abraço.

— Que vergonha. — “Ela esconde o rosto nas mãos”.  — E você diz isso porque não a conhece direito. Não sei como o meu pai aguenta, aquela mulher é maluca! Você tem que ver.

— Está me convidando para conhecer sua família?

— Sim. Não! Droga… — “Bela bufa se sentando ao lado dele. Aquela mania dele de achar coisas nas entrelinhas do que ela dizia a irritava, ainda mais porque ele deveria estar com um sorriso sarcástico no rosto”.

— Sei muito bem disso… — “Pisca pensando que ela deveria estar toda vermelha e quente”.

— E estou… — “Ela cora ainda mais ao colocar a mão dele sobre a própria bochecha. ‘Ela é tão macia’. Ele repara que a mão dele podia cobrir mais do que toda aquela metade do rosto dela sem nenhum esforço”.

— Uow, isso já não é considerado febre, não?

— Cala a boca… — “Ela morde o lábio para segurar o riso”. — Eu estava dormindo até agora pouco, é óbvio que vou estar quente. Vai dormir, vai. — “Ela se sacode toda enquanto ria”.

— Seu desejo é uma ordem, mas só dessa vez. — “Ele ri tirando a mão do rosto dela, ela estava lá até agora…”

“Bela desliza e deita de frente para ele e com um riso leve no rosto, puxa as cobertas que nem sabia como tinham parado em cima dela. A Fera faz o mesmo e acaba dormindo um pouco depois dela, estava pensativo”.

— Bom… dia. — “Bela boceja ao cumprimentá-lo”.

“Mesmo depois de tomar um banho e sair andando pelos corredores atrás dele, ela continuava tão pensativa quanto estava quando acordara, seus pensamentos teimosamente caíram sobro o que ela chamaria de ‘coisas do mundo real’. Ela come um pouco e puxa a cadeira para mais perto da Fera, observando-o”.

— Acho que depois de amanhã eu volto. Vou lá preparar as coisas, tá bom?

“Como ele dá de ombros, ela prepara a mesma bolsa que usara para ir para o castelo dias atrás com algumas roupas. Depois disso ela pega o livro que deixara numa das mesas da biblioteca no dia anterior”.

— Len, eu achei um livro igual aos da arca, mas ele está completamente em branco e… — “Ele toma o livro das mãos dela”. — Na capa só está escrito “B” e “e”.

— As mesmas letras que você leu antes de entrarmos no livro. — “Ele passa a mão pela capa e devolve o livro”.

— Faz sentido, mas se esse é o livro em que entramos, como ele pode estar aqui? — “Ela enrolava e desenrolava uma das mechas do cabelo em um dos dedos”. — Isso é louco demais, até para mim…

— Mas “B” “e” do quê? De Bela?

— Wou! — “Bela larga o livro”.

— O que foi? — “Ele abaixa para pegar o livro no chão”.

— A-apareceu!

— Apareceu o quê? — “A Fera vira os olhos, Bela estava fazendo aquilo de novo”.

— Bela. Quando você falou Bela, as letras surgiram na capa, mas parece que não está certo ainda, deve ser Bela e… o “e” apareceu também. — “Bela estava cada vez mais empolgada”.

— Bela e… a Fera? — “O título do livro se completa”. — Isso foi muito estranho… Mas se parar pra pensar a maioria dos títulos é o nome das personagens.

— É verdade. — “Ela senta no braço do sofá e abre o livro quase tendo uma síncope”.

— Dá para pelo menos um dos dois parar de falar as coisas pela metade!? — “A Fera cruza os braços enquanto os olhos da garota corriam pelas páginas do livro”.

— Está escrito aqui, Len! Tudo o que falamos e-e estamos falando agora. — “Bela fala rápido demais”.

— Nossa… Isso está ficando cada vez mais bizarro. — “Ele senta ao lado dela”.

— Bom, é melhor eu ir para casa logo. Acho que é isso o que falta acontecer.

— Tudo bem. — “Ele passa a mão pelos cabelos.

— Hm… Tchau. — Bela o abraça rapidamente”.

“Já não estava nevando, era um bom dia para partir. Olhando para trás Bela monta no cavalo com a bolsa atravessada no corpo vai ao vilarejo em que a casa de seu pai ficava, mas antes de ir para lá ela para na padaria para buscar uns pães que o pai dela gostava”.

— Não é que as lembranças voltaram? — “Ela sorri”.

— Bela, você está viva! — “Um rapaz muito bonito, que queria se casar com ela desde que a viu pela primeira vez, a abraça com força antes que ela pudesse desviar”.

— E… por que não estaria? — “Ela se afasta dele”.

— Porque você sumiu e seu pai contou para todos que você tinha sido sequestrada por aquela Fera “imaginária” das montanhas. Eu mataria aquela criatura com as minhas próprias mãos caso algo assim existisse. Você sabe que eu sou o melhor de todo o vilarejo. — “Ele arruma os cabelos mordendo o lábio. Bela pensou que ele estava tentando parecer sedutor ou algo assim”. — Uns até pensaram que você estava noiva, mas como não era comigo, é obvio que eu não acreditei. — “Olha para as unhas”. — Mas como não te vi por esses dias, fiquei preocupado.

— Não, não. Ele não é um monstro, talvez um pouco mal-humorado, mas nada disso não. — “Ela ri”. — Bom, tenho que ir ver meu pai. — “Ela tira um dos livros da bolsa para encaixar os pães”.

— Você com isso de novo. Nunca larga esses livros? — “Ele vira os olhos”.

— É… — “Ela monta no cavalo querendo sair de perto daquele sujeito”.

“Não precisou entrar na propriedade para perceber as mudanças, criados cuidavam do campo e uns rapazes estavam começando a construir pelo menos mais três cômodos na casa. Seu pai era realmente criativo quando se tratava de negócios”.

— A Bela chegou, papai! — “Um dos meninos grita para o lado de dentro da casa ao vê-la amarrar o cavalo no estábulo”.

— Minha menina, quanta saudade!

“O mercador a recebe com um grande abraço, todos os irmãos, inclusive as mais velhas ficaram felizes por vê-la. Apenas por acaso as duas estavam ali, já que antes que soubessem que não eram mais pobres, o pai delas oferecera dotes a dois bons moços que na riqueza elas recusaram noivar por não serem nobres e que ao fazerem o pedido, logo no dia seguinte aceitaram e puderam se casar”.

“Depois de conversarem e se divertirem bastante, o pai, junto com o mais velho, coloca os dois meninos mais novos na cama, deixando assim, as três irmãs na sala. Era uma boa oportunidade para contarem as novidades. Depois de dois monólogos sobre a vida delas, as irmãs focam na vida de Bela”.

— Então… Como é viver com aquela criatura? — “A mais velha faz uma careta”.

— Nada demais. Quando não está carrancudo, ele até que é bom para se conversar e me fazer rir. Não é uma pessoa ruim, talvez um pouco mais ácido do que a maioria, mas quando se esforça, ele até sabe ser gentil. Gosto do jeito que ele sorri nessas horas. — “Bela admite”.

— Hm… Então ele não é exatamente o que dizem… Conte mais, conte mais! — “As duas irmãs quase pulam em cima dela de tão curiosas”.

“Bela suspira e faz o que podia para saciar a curiosidade das irmãs, pensava que não faria mal algum, afinal, estava falando nada demais. Pôde notar uma pontinha de inveja em alguns momentos, mas ignorou. Elas eram assim desde o começo, o que teria mudado?”.

— Bela, apreste atenção, pelo o que você diz, não é como se ele fosse a mesma pessoa de noite e de dia… — “A irmã do meio aponta”. — Vai que é uma maldição!

— Como assim? — “Ela ri não levando aquilo muito a sério”.

— É, eu já ouvi falar de coisas assim e não deve ser atoa que dizem que ele é um monstro que nunca sai das montanhas. — “A outra completa”. — Maldições deixam marcas, você deveria verificar.

— Mas de dia ele é meio arisco, tente de noite, quando ele estiver dormindo, deve ter uma marca no peito dele.

— Mas como? — “Bela não sabia no que acreditar”.

— Leve uma vela em suas roupas e quando ele dormir é só acender e espiar. — “A mais velha cochicha”.

— Mas por que ele não me falaria isso?

— Vai que não contar faz parte da maldição! — “As duas irmãs balançam a cabeça afirmativamente”.

— Acho que vou fazer isso. — “Ela pensa com seriedade. Parecia mesmo ter algo de errado com ele e como estava tudo muito confuso, poderia ser verdade”.

— Acho melhor dormirmos para aproveitarmos bem amanhã. — “A mais velha aconselha”.

“As três se deitam em suas camas e dormem logo em seguida. Todos desfrutam o dia, mas ao saberem que Bela precisava voltar na manhã seguinte, as irmãs insistiram para que ela voltasse só dois dias depois, como elas duas fariam, chegando depois do ‘prazo’. Achando que não faria mal, Bela concorda. Tinha certeza de que nem ele nem ela perceberia aqueles dias passando”.

“Já era noite quando Bela voltou para o castelo. Ela esperava que a Fera não tivesse se irritado com a demora dela. Não queria deixá-lo chateado, mas para ela, era como se aqueles dias todos durassem meras horas ou então minutos”.

— Len? — “Ela grita largando a bolsa no corredor. Não o encontrava de jeito nenhum, então ele só podia estar no jardim”. — Deve ser. — “Ela fala sozinha e segura a barra do vestido com uma mão e na outra a luminária que trouxera de casa, assim poderia caminhar mais depressa”.

— Luna? — “A Fera pergunta. Ele parecia um tanto desligado, como se não tivesse dormido muito bem. Até onde sabia, poderia ser uma daquelas ‘ninfas’ que trabalhavam no castelo”.

— O que foi? — “Ela abaixa tentando ficar na altura dele que estava sentado num banco”.

— Nada. — “Ele continuava pensativo, mas mesmo se ela insistisse ele não falaria”.

— Hm… — “Ela senta do lado dele, ele estava estranho”.

— Estranha é você.

— Pare de me enrolar. — “Bela coloca uma mecha teimosa atrás da orelha”.

— É que você demorou muito.

— Sentiu minha falta, é? — “Bela sorri subindo e descendo as sobrancelhas”.

— Não é isso, idiota… — “Ele nunca admitiria”.

— Então é verdade? — “Ela aponta e ele se levanta indo para o quarto. Tinha começado a chover forte”.

— O narrador diz o que ele quer, não precisa ser necessariamente verdade. — “A Fera diz a primeira coisa que pensa, só para se livrar dela logo. Bela ri”.

— Come alguma coisa. — “O estômago dele roncava alto o bastante para ela ouvir”.

“Ele dá de ombros e pega um bolinho que repentinamente aparece na mesinha do lado dele da cama. Estava muito cansado, então depois de Bela contar brevemente como foi o tempo em que passou fora ele acabou caindo em um sono pesado”. Depois de uns minutos bela levanta e acende a vela que trouxera de casa. Mal dá a volta na cama iluminando o rosto do moço e já puxa a parte de cima da camisa dele. Ela vê um peito liso e um tanto musculoso, as únicas marcas que viu foram umas poucas pintas e uma cicatriz fina ente as costelas e outra mais curta num canto da barriga. Nenhuma daquelas marcas fantasiosas de maldição. Ela se achava tão estúpida por estar fazendo aquilo”.

“Foi aí que a chama da vela brilhou sobre o rosto dele e os olhos de Bela grudam em cada detalhe. Era sereno apesar dos traços duros do maxilar quadrado e das sobrancelhas angulosas que ainda mantinham algo daquele ar de esperto que ele sempre tinha. Ela se inclinou reparando nos olhos fechados sem força com seus cílios escuros enquanto algumas mechas daquele cabelo rebelde caiam até mesmo sobre eles. As sardas quase invisíveis espalhadas pelas bochechas altas e ponte do nariz fino e então os lábios. Por algum motivo, Bela não conseguia tirar os olhos deles e quando foi ver já era tarde demais. Um estrondo forte que parecia vir da porta da frente a assustou e ela, sem conseguir recuperar o equilíbrio, rompe a curta distância entre seus lábios e os dele. Mas, com o gesto, umas três gotas da parafina caíram no ombro dele fazendo-o acordar alarmado”.

— O que você está fazendo!? — “Ele esfrega o lugar queimado, notando que era cera em sua camisa”.

— E-eu… — “Bela quase cai no chão”.

“Uma rajada forte de vento entra no quarto sacudindo as cortinas. Bela pôde ver várias tochas se aglomerando perto da entrada. Eles não sabiam que ao ver Bela na cidade, o moço que queria desposá-la, assim como as irmãs movidas pela inveja, convenceram a todos do vilarejo que o pai dela não mentia e que ela tinha sido sequestrada pela Fera que vivia nas montanhas. Temendo que aquilo pudesse ser verdade ou acreditando que encontrariam um castelo cheio de riquezas abandonado, quase todos do vilarejo subiram a montanha armados”.

— Len, nós temos que sair daqui! — “Ela acende a vela novamente e o puxa para fora da cama”.

— Não adianta. — “Ele pensa na maldição que não poderia ser quebrada”.

— Então tinha mesmo uma maldição! — “Bela abre a janela vendo que daria para andar pelo lado de fora”.

— Já disse, não adianta, acho que dessa vez estragamos tudo. Deveríamos ter entrado em outro livro, nós vamos ficar presos nessa história.

— Deixa de ser pessimista. — “Bela engancha a mão dele no próprio cotovelo”.

“A grande porta da frente é arrombada e os homens entram correndo na casa atrás do monstro que pela primeira vez, acreditavam mesmo que poderia existir, mas as ninfas não iriam facilitar o avanço deles”.

— Para cima. — “A Fera aponta quando eles atravessam a janela ficando em cima do telhado”. — Tem uma passagem secreta lá no topo”.

“Os dois correm o mais rápido que podiam pelo lado de fora do castelo, escalando, sem muitas dificuldades o segundo andar mais alto, mas só conseguiriam acessar o último por dentro”.

— Anda logo, é por aqui. — “A Fera toma a frente”.

— Tire as mãos dela. — “O homem que queria se casar com Bela apontou um facão para Fera”. — Eu pedi para que deixassem você só para mim. E não é que a Fera não passa de um garoto… — “Ri”.

— Não ouse tocar nele. — “Bela se coloca na frente da Fera”.

— Isso é coisa de homem, não se meta, minha garota. — “Tanto a Bela quanto a Fera reviram os olhos ao ouvir aquela frase”.

— Se quer tanto lutar como “homem” largue isso no chão.

— Interessante. — “O homem faz o que ele pede”. — Mas tire a Bela daqui!

— Ei! — “Bela resmunga quando uma rajada de vento a leva para fora”.

— Avise para os outros que foi tudo um engano. Eu me viro aqui. — “A Fera pede pouco antes da porta bater”.

— Que porcaria é essa!

“Ela desce as escadas enfurecida. ‘Queriam ver se existia uma fera nas montanhas? Por que bater na porcaria da porta e perguntar, se eles podiam entrar destruindo tudo?’. Descontaria sua raiva em todos que encontrasse no caminho. E foi exatamente o que fez. Todos saíram de lá correndo, uns levando alguma prataria, mas não ficariam lá por nem mais um segundo. Nenhuma alma viva desejaria ficar no mesmo ambiente que ela e daquele vento nervoso que parecia segui-la. Com a casa mais vazia, ela sobe”.

— Len! — “Bela arregala os olhos ao ver que ele tinha acabado de levar um soco na boca do estômago. Ele estava mais fraco do que imaginava quando começou a luta”.

— Veja Bela, eu que sou o mais forte, o que merece ficar com você; não esse daqui. — “Mesmo que estivesse se gabando ele arfava e estava com um olho roxo e a boca sangrando. A Fera respira fundo e dá uns dois passos para trás antecipando os passos da Bela”.

— Espere.

— Imbecil. — “Bela cruza os braços. A Fera não sabia qual dos dois ela estava xingando”.

— Agora você vai ver eu ganhar e ir comigo para a nossa casa. — “Ele arregaça as mangas da camisa e olha para o facão pensando em pegá-lo”.

— Isso, continue falando. — “A Fera sorri enquanto se aproximava”.

— O quê? — “Bem nessa hora a Fera acerta o queixo dele e ele cai desmaiado”.

— Aff, esse cara não apagava nunca. — “A Fera senta no chão, respirava com um pouco de dificuldade”.

“Bela vai até ele batendo os pés com força no chão”.

— O que foi? — “Ele recua”. — Você deveria estar brava com ele, não comigo! — Achou que eu não conseguiria ganhar de um babaca daqueles só porqu…

— Seu… — “Ela morde o lábio com força”. — Seu idiota, você poderia ter morrido e… e eu não sei o que eu faria se isso acontecesse! — “Ela chorava de raiva e ele estava estático sem saber como reagir”. — Eu não estou brava com você eu estou mais do que brava eu… — “Ela olha bem no fundo dos olhos dele”. — Eu…

“Bela finalmente junta os lábios dela com os dele e o beija como nunca tinha beijado alguém em toda a vida. Queria que ele parasse de se arriscar sem necessidade ou então de inventar desculpas e fingir que estava tudo certo quando não estava… Ela não queria que nada de ruim acontecesse com ele. Era isso! Era como se fogos de artifício subissem pelo ar. Ela gostava mais dele do que era capaz de colocar em palavras num momento como aquele. O que sentia já não era raiva, não sabia dizer o que era, mas precisava estar com ele ali naquela hora”.

— Desculpa eu não… — “Bela começa a se afastar. Ela estava tão vermelha que parecia estar com febre”.

— Não. — “A Fera a abraça”. — Não precisa falar nada. Só não saia correndo, por favor… — “Ele ri de leve”.

— Por que eu…

“Ele a envolve e junta os lábios dele com os dela antes que ela terminasse a frase. Sem que Bela percebesse, o feitiço tinha sido quebrado e todo o castelo pareceu ganhar um brilho novo, a Fera que antes assustava agora era o homem que Bela queria estar ao lado”.


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Notas finais do capítulo

O título diz tudo, não? kkk
Espero que tenham gostado, inclusive vocês, fantasminhas :D



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