—Ai ai... – Me espreguicei inclinado a cadeira para trás, acabei batendo no boné de um menino e rapidamente parei de fazer.

Ficamos com um professor substituto, por que a nossa professora não voltou desde ontem, e demos as ultimas aulas com ela dois dias da semana,as meninas achavam ele muito bonito e ficavam fazendo de tudo para ele chamar a atenção delas, muito chato por que atrapalhava a aula.

O sinal tocou, todos se levantaram, tive que conferir duas vezes minha carteira para ter certeza de não ter esquecido nada, eu fui a última a sair, o menino que foi o penúltimo era o tal amigo daquele idiota. Ainda não arranjei um jeito de pegar meu livro de volta...

Andei como uma condenada até o fim do corredor , onde nele estava a Kah, o Isaac, o Andy e os outros dois irritantes.

—O que vocês estão fazendo? –Perguntem, com pouca expressão.

—Eu disse pro Fred que eu ia sair com a Kah. –Disse a Valerie colocando o braço em volta da Karen.

—Ai eu comentei que eu ia sair com o Andy. –Disse o Fred apontando para o Andy.

—E eu disse que você também ia conosco. –Disse a Kah tentando tirar os braços da Valerie de cima dela.

—E eu fiquei de fora desse telefone sem fio! –Disse o Isaac irritado, com os braços cruzados.

—Eu também. –Disse o Andy rindo.

—Bem, aparentemente eu também! Mas ainda não me disseram por que estão aqui.

—É que como vai ser um dia que todo mundo vai sair, mas para lugares diferentes, eu e o Isaac pensamos em todo mundo se encontrar antes de sairmos mesmo sabe?

—Ah sim...

—Mas gente! –Disse a Karen balançando os braços para prestarem atenção nela. –Precisamos ir, se não vamos pegar muita fila gigantesca!

—Okay, então vamos Emy?

—Ahn... –Eu só olhei pro Andy e ele me empurrou. –Claro. Até mais tarde.

Eu fui andando um pouco rápido, não correndo nem pulando, andando mesmo até alcançar as duas.

—Mas o que tem de especial nessa lanchonete?

—Você vai ver! –Disse a Valerie animada.

Nós três andamos por um pouco até chegar no ponto de ônibus, tivemos que correr por que o ônibus estava quase saindo, após uma hora e meia aproximadamente, eu não conhecia onde estávamos quando descemos, provavelmente por que eu nunca realmente vim para cá.

—Você já veio para cá Emy? –Perguntou a Valerie enquanto a Karen dava alguns centavos ao mendigo do lado.

—Não, nunca. Eu até vim, mas só andamos na rua, é que minha tia quis mostrar o centro, mas nada muito a fundo.

—Ah sim, talvez eu te leve para algumas lojas que eu gosto no futuro.

—Ah claro... –Eu evitei ser mal educada, mas realmente não queria sair com ela, com a Karen talvez, mas a Valerie? Eu passo.

A Karen nos guiou até a lanchonete. Ficamos uns 15 minutos esperando na filha, algo que não me agrade de longe, mas finalmente entramos na lanchonete, por fora era comum, mas por dentro parecia que eu tinha acabo de entrar num mundo totalmente diferente.

Eu juro que esperava uma lanchonete fofinha, cheia de gatos por exemplo, mas a lanchonete era toda tematizada com coisas de viagem, mapas, mini esculturas de vários lugares do mundo, me lembrava na verdade piratas, só sei que era maravilhoso, cada mesa tinha um desenho diferente de algum ponto turístico do mundo

—Wow...

—Maravilhoso não? Vamos sentar perto do muro de Berlim ou da muralha da china?

—Muralha da china parece mais exótico.

—Concordo. –A Valerie tomou a iniciativa e foi até a mesa.

Logo uma moça vestida com aquelas roupas de explorador perguntou o que nós iríamos querer.

—Eu quero esse aqui que parece árabe, que vêm doce, bebida e lanche. –Disse a Karen.

—Eu quero esse que parece um lanche inglês. –Disse a Valerie.

—Ahn... eu quero esse japonês! –Disse num desespero, eu não sou muito boa em fazer pedidos e essas coisas.

A moça exploradora sorriu e saiu. Após isso a Karen e a Valerie começaram a conversar, eu só fiquei ouvindo, afinal querendo ou não, eu estava sendo só um tampa buraco pro desconto valer.

—Então Emy o que você gosta de fazer? –A Karen perguntou, tentando me colocar na conversa.

—Ah, eu geralmente só fico lendo e ouvindo música mesmo. –Ficou um silêncio por alguns segundo, com as duas me encarando. – Ahn.. eu também gosto de assistir séries...

—Sério que demais! Eu adoro ver séries também, qual a sua favorita? –Disse a Karen feliz.

—Eu gosto de ler e de ouvir música também, qual a sua Banda favorita? –Disse a Valerie, me surpreendeu, achava que ela só gostava daquele tipo de boyband pop.

—Ah de série eu gosto daquelas de detetive, mas minha favorita é uma de um grupo de amigos num clube. –Eu não queria especificar a minha favorita, por vergonha mesmo.

—Mas a tantas assim...

—E minha banda favorita é Happy Sadness e meu livro favorito é... –Eu lembrei por alguns segundos daquele retardado que roubou meu livro. – ... é...   “A pedra perdida de 1939”.

—Eu adoro Happy Sadness, ano retrasado eles vieram para a cidade e eu não pude ir no show. – Ela colocou a cabeça sobre a mão e apoiou seu braço na mesa, ela fez uma feição desapontada.

—É sobre o que esse livro?

—É a história de uma pedra mágica trazida por aliens que foi perdida na época da segunda guerra mundial, na qual a mesma traz só discórdia e morte, igual uma guerra, ai os personagens principais precisam ir atrás dessa pedra para salvar o mundo. –Eu disse meio desconfortável, afinal não era uma histórias

—Parece interessante! Eu e a Val amamos a história da Segunda Guerra! Certo Val?

—Sim. –Ela parecia meio sem graça.

—Você quer fazer história? –Eu disse por dizer, mas na verdade saiu da minha boca sem eu pensar duas vezes.

Ela ficou me olhando um pouco pálida, mas aos poucos um sorriso surgiu no rosto da Valerie.

—Wow, eu tento esconder geralmente, mas acho que pra você não tem problema.

—WOW! Como descobriu?

—É que ela sempre está pelos cantos lendo algo de história, ou conversando sobre isso contigo, até a lanchonete tem essa pegada, então eu só chutei, mas por que esconder? –Não que eu realmente quisesse saber.

—Ah bem, é que meus pais querem que eu seja algo envolvido com esportes e tal, ai eu escondo pra não ter o risco deles acabarem sabendo e ficarem desapontados. –Ela disse sorrindo, mas ela parecia evasiva.

—Ah sim... eu ainda não sei o que eu quero...

A comida chegou e então conversamos mais um pouco, mas eu não engoli muito a conversa da Valerie, certeza tem coisa por trás, mas eu não quero me meter.

**********************

A  Emy olhou para mim, eu a empurrei para ela ir logo. –Espero não tê-la machucado.

—GALERA! HOJE VAMOS AO SHOPPING!!

—Shopping? –Eu disse ao mesmo tempo que o Fred.

—Sim! Gente, vamos poder ver as lojas, comer, talvez assistir um filme, que tal?

—Tem algum filme legal passando por acaso?

—Tem maratona de filmes de comédia romântica! –Disse o Isaac animado. –Claro não é o meu tipo favorito, mas como não tenho uma namorada é um ótimo jeito de sofrer e ficar feliz ao mesmo tempo, mas seria ótimo se tivesse um filme de ação não é por que...

—Ele não vai parar de falar?

—Daqui a pouco ele para.

—... então, mas pensando bem acho que não é uma boa ideia gastar dinheiro pra ver isso, vamos só passear e comer algo, o que você acha Andy?

—Ah, claro, por mim tudo ...

—Não, Vamos ver um filme sim, vai ser divertido. –O Fred cortou-me no meio da frase.

—Mas Fred, você só quer ver o filme para ter uma ideia de presentes românticos para a sua namorada.

—Assistir filmes de romance só serve para isso? Eu faço parte do teatro, a maioria das histórias são sobre isso, esqueceu?

—Ah, mas tem umas peças super macabras e divertidas também.

Eles vivem brigando, mas fico feliz por podermos ir ver o filme, eu nunca tive muitas chances de ir ver um filme desse gênero no cinema, a Emy sempre disse que era desperdício de dinheiro.

—Vamos então Andy? Vamos lá no centro, pode demorar um pouco, então vamos conversando até lá okay?

—Não me excluam ,eu que tive a ideia de sair! –O Isaac disse isso enquanto saiu na frente.

—Não entendo, fala pra não excluir ele, mas ele vai andando na frente?

—Ele é retardado assim mesmo, vamos.

Nós fomos até o ponto de ônibus que eu sempre pego  pra voltar pra casa, mas pegamos outro ônibus , um que ia para o centro, ficamos um bom tempo no ônibus, ficamos um bom tempo também no silêncio. O Isaac as vezes falava algo e ficava olhando para um lado e para o outro, sendo que ele se sentou no meio, eu não conseguia acompanhar o que ele falava, ele parecia mais animado do que qualquer um dentro daquele ônibus, eu ainda estava meio desconfortável, eu não tinha muito o que dizer, eu estava na base de pergunta e resposta.

—ESTAMOS CHEGANDO ! – O Isaac levantou os braços animado, ele quase enfiou o cotovelo dele no meu olho, mas ele parecia tão feliz, preferi ficar quieto.

—Sim estamos Isaac, não precisa quase me assassinar com os seus braços.

—Ah cala a boca Frederick!

Deu mais alguns segundos  e realmente tínhamos chegado, era mais bonito o lugar pessoalmente, sabe, sem um carro passando rapidamente pela rua.

—Já veio aqui Andy? –Perguntou o Fred enquanto descia ainda do ônibus.

—Sim, mas só de carro, nunca andei por ai.

—Hoje vamos no shopping, mas qualquer outro dia eu te levo para conhecer o centro aqui da cidade, okay?

—Okay... –Eu olhei para os lados, as vezes ele me lembra meu pai, antes dele nos deixar de novo.

Nós atravessamos a rua e entramos no shopping, não era muito grande, mas ele era lindo! Tinha várias flores e plantas por lá, tinha uma iluminação alaranjada, os pisos tinham vários desenhos, tinha vários corredores que juntavam as partes do shopping e era tudo com janelas, era um local realmente bonito, apesar de que se tivesse uma catástrofe seria um péssimo lugar para ficar.

—Vamos fazer o que primeiro? –Perguntei.

—Vamos ver o filme primeiro, por que ai a gente vê o filme, anda um pouco e já da o tempo de comemos algo.

—Que horas são agora Fred?

—São... –Ele pegou o celular dele no bolso para olhar, mas ele fez uma cara de irritado pro celular e depois o guardou. – São três horas, da tempo de fazer o que eu disse sim.

—Por que você fez essa cara? –Eu disse sem pensar muito. –Ah esquece, desculpa.

—Que nada. –Ele voltou a sorrir. – Meus pais perguntando se eu vou jantar em casa hoje ou na casa da Valerie, apesar de eu ter dito que vou sair com vocês hoje, eles não acreditaram muito.

—Mas você nunca janta na Valerie. –Disse o Isaac indignado.

—Eles acham que se eu chegar tarde é por que eu to com ela, não posso ter amigos. –Ele fez uma pose dramática para satirizar a situação.

Nós três rimos e começamos a andar em direção ao cinema, claro, eu um pouco atrás por não saber onde ir e também por não ter o que eu falar,é um daqueles momentos que você pensa “Como as pessoas nos outros anos andaram comigo?”.

O Isaac ficava tagarelando e de vez enquanto o Fred olhava para trás, teve uma hora no qual o Isaac simplesmente parou, eu quase bati neles, mas eu vi eles parando.

—Por que você fica ai atrás? –Disse o Isaac um pouco bravo e desapontado.

—Ah... –Eu comecei a ficar desesperado, por quê? Não faço ideia, mas as palavras não saiam da minha boca.

—Não fale irritado com ele Sr. Newton, eu tenho quase certeza que é a primeira vez dele saindo com pessoas que não sejam a irmã dele nessa cidade. –Ele puxou a orelha do Isaac e depois veio ao meu lado. –Não vai mais andar atrás também, deixa ele ali na frente.

—EI EU NÃO QUERO FICAR EXCLUIDO!

—Vem cá então pai! –Disse o Fred caçoando do Isaac.

Nós pegamos a fila para comprar os ingressos, pegamos a sessão que estava prestes a começar, porém na hora que o Isaac foi comprar os ingressos deu um problema na impressora da bilheteria.

—Sério isso!?  -O Isaac estava quase matando o atendente. –Vão vocês dois arranjar um lugar, eu vou dar um jeito aqui.

—Ah ok... –Eu fiquei meio confuso, mas era o que podíamos fazer.

—...

Nós dois subimos, só dava para ouvir a gritaria do Isaac, o Fred só colocou a mão na cara, provavelmente por vergonha do que o Isaac estava fazendo.

Nós entregamos nossos ingressos e logo depois entramos na sala do nosso filme, nós tínhamos decidido assistir “Quando em Roma”, por que o Isaac ainda não tinha visto, mas agora ele não estava aqui, é o destino conspirando contra ele, só pode. Nos sentamos em umas cadeiras, tinha exatamente 3, eu me sentei perto da parede e o Fred se sentou do meu lado, ficamos em silêncio para esperar o Isaac, mas eu estava ansioso para ver o filme, era um dos meus prediletos.

—Você gosta desse tipo de história não é?

—Oi? –Eu virei para ele surpreso, por que se tinha uma coisa que eu tinha certeza era que eu não dava a entender que eu gostava desse tipo de coisa.

Ele se virou para mim também. –A sua irmã chegou a comentar comigo. –Ele cruzou as pernas. –Então decidi ver o filme para você se sentir mais confortável com o ambiento todo.

Eu fiquei olhando ele por alguns segundos tentando raciocinar o por que minha irmã teria falado algo desse tipo para ele, afinal ela vive dizendo que ele é insuportável. E ele só continuava olhando para mim, sorrindo como ele sempre faz 90% das vezes.

Entre esses segundos as luzes se apagaram e o filme  começou.

Queria ter agradecido ele naquela hora.