–Será que eu deveria comer o que eu trouxe e ficar na escola ou comer em casa? –Estava me perguntando em sussurro, afinal era uma decisão muito importante para mim.

Na última aula antes da saída, a professora de química teve que sair inesperadamente na metade da aula, então minha classe foi dispensada antes, todos que estavam naquela minha aula tinham algum clube estranho, ciclismo, poemas, adoração à carne vermelha, tinha uma menina que participava do clube de protesto, mas até agora não vi ninguém se manifestar.

Apesar de eu poder sair e ir embora, eu me senti desconfortável de sair, besteira minha, mas decidi enrolar um pouco até todas as aulas se encerrarem, então fui para meu cantinho como sempre. Eu me sentei, aconcheguei, porém na hora que fui pegar meu livro, um dos poucos que me interesso para ler, ele não estava lá!

Meu desanimo pra ir até a classe e busca-lo era maior do que meu desespero, eu já esperava que ninguém fosse pegar, afinal era uma ficção que misturava história, magia e aliens, não é um tipo de assunto que interessa a todos, mas era um presente de 3 anos atrás que o Andy e meu pai tinham me dado, então criei coragem para ir busca-lo. Posso ser raivosa, mas não sou babaca.

Quando eu me dirigia até a classe no qual tinha deixado meu livro, eu tive uma surpresa, um tanto desagradável, ao chegar na porta da sala.

–O que você pensa que está fazendo?

–Eu estava procurando meu amigo e vi esse livro e pensei em... –Ele se virou para mim e parou de falar, por um segundo achava que ele estava sendo um ser humano normal. – O que você está fazendo aqui? –Disse raivoso

–Esse livro é meu, terei que desinfetar quando chegar em casa.

–Sempre tão desagradável.

–Olha quem fala “Mar-sujo”

–Meu nome é Martin! –Ele se aproximou de mim como se fosse aqueles trolls de história medievais. –E esse livro é realmente seu?

–Não, é do teu traseiro, óbvio!

Ele deu uma risada irônica e se aproximou cada vez mais perto de mim, não pude evitar chegar para trás, afinal ele era um muro! Ele se aproximou de mim até a parede do corredor, eu estava mais enojada do que amedrontada.

–Então eu ficarei com esse livro. –Ele disse num sussurro.

Admito ter ficado um pouco amedrontada naquela hora, aquelas palavras ecoaram na minha cabeça, e depois de alguns segundos me toquei o que ele tinha dito.

–Espera! Mas esse livro foi um presente, você não pode pegar assim do nada! –Eu disse tentando o empurrar, o que era igual jogar água no mar.

–Se quer de voltar arranje um jeito de me convencer. –Ele só pegou a mochila dele, que estava num canto e colocou o livro lá dentro, apesar dele ter pego sem permissão e ter me irritado, ele não jogou o livro de qualquer jeito, ele guardou direito, parecia até tomar cuidado, isso é só um detalhe, pois nunca esperei uma coisa tão simples assim dele.

Eu segui meu rumo até a diretoria da escola, afinal era o correto a se fazer, mas quando cheguei no tal lugar, não tinha ninguém, na mesa da secretária tinha até uma plaquinha mal feita de papel de caderno. “Não estamos atualmente, volte mais tarde, obrigada pela cooperação.” Eu só bufei para mim mesma e sai de lá, totalmente revoltada.

–Ai... –Uma voz bem leve, se fosse algum tipo de material físico se compararia com um algodão.

–Desculpa. –Eu olhei para a pessoa no qual tinha esbarrado, era um menino com o cabelo todo bagunçado liso, usava roupas que me lembravam de um mendigo, sua voz também não era tão máscula.

–Ah! Emy? –Olhei para o outro lado e era Karen carregando algumas caixas, como sempre. –O que está fazendo por aqui? –Diferente das outras vezes, ela parecia bem acordada.

–Ah eu ia resolver uma coisa na diretoria, mas não tinha ninguém, e você?

–Ah, essa direção da escola é totalmente porca, ainda bem que temos o clube de economia doméstica! –Ela ajeitou as caixas em seus braços e continuou. –Eu estou levando essas coisas para o clube, quer me acompanhar? –Logo depois ela bocejou.

–Ahn... claro..? –Eu disse sem pensar muito, estava me perguntando o que raios o clube de economia doméstica faz...

Nós duas andamos um pouco e chegamos numa pequena casinha atrás da biblioteca, ela era feita de várias coisas recicláveis, tinha até uma hortinha e um caminho para atravessar a hortinha sem pisar nelas. Não preciso dizer que era super bizarro, parecia que eu tinha ido parar na casa de uma fada da reciclagem!

–Pode entrar. –Ela sorriu animada, mas meio avoada.

–Posso entrar primeiro senhorita? –Eu pulei de susto, era o mesmo menino de antes, ele entrou, antes de eu fazer o mesmo eu perguntei para Karen.

–Ahn... quem é ele?

–Ele quem? – Ela estava olhando para o lado contrário do menino.

–Ahn deixa... –Eu entrei naquela casinha bizarra e, novamente tive uma surpresa, a Valerie estava sentada lá, com uma calça jeans, uma camiseta preta simples e estava usando rabo de cavalo, ela estava sentada com as pernas cruzadas e segurando algumas revistas, que não consegui distinguir direito por que ela guardou no segundo que me viu.

–Ah! Emy... –Ela parecia sem jeito, ficava mexendo naquele enorme cabelo.

–Kah, o que ela está fazendo aqui? –Ela tentou disfarçar sorrindo.

–Eu a convidei. –Ela disse com uma cara sem muita expressão.

–Ah sim... haha! –Ela obviamente estava sem jeito.

Eu dei uma olhada em volta, meio assustada com o tipo do lugar, nunca imaginaria esse tipo de coisa numa escola...

Elas estavam conversando e aquele menino estranho estava sentado analisando uma fazendo de formigas que tinha em uma das paredes, pensando bem ele se vestia do mesmo modo que a Karen.

–Kah, a gente ainda vai naquela lanchonete né? As coisas de lá parecem mega blaster boas!

–Vamos sim, mas o cupom é só para três pessoas, se formos só nós duas a gente vai pagar muito caro.

–Eu posso ir! –Disse baixinho, o menino mendigo, mas a Karen nem pareceu prestar atenção, a Valerie só deu de ombros para ele como um modo de desculpas muda.

–A Emy pode ir Val?

–Oi?

–A Emy?

–Sim ela é legal, e ela precisa socializar mais!

–Kah... olha quem fala...

–Ahn, eu... –A Karen olhou para mim e se aproximou, ela sorriu bem simpaticamente.

–Você pode ir? Eu gostaria de te conhecer melhor.

–Ahn... claro... –Eu novamente não pensei em dizer, tudo em volta era muito bizarro para eu realmente saber o que estava acontecendo.

–... –A Valerie só ficou quieta, enquanto a Karen comemorava de um jeito bem sonolento.

–... –Só fiquei em silêncio também.

–Nós vamos amanhã! E vai ser legal, a comida dever ser boa... –Dizia Karen preenchendo o silêncio.

Apesar de eu poder ouvir um choramingo de fundo.

*****************************

Depois das atividades do clube o Fred me deu o número dele, para se eu quiser, falar mais com ele, se eu precisar de ajuda com algo, coisas do gênero, fiquei sem graça, afinal ele sempre está sorrindo, deixa qualquer um constrangido dependendo da situação.

Depois disso, eu fui para casa, sozinho por que a Emy, com quase certeza, já tinha dado o pé da escola.

Acabei tirando um cochilo no ônibus, mas por sorte eu acordei ao se aproximar de casa, eu levei um susto de começo, achando que já tinha passado do ponto.

Quando cheguei na varanda de casa, a Emy estava sentada na frente da porta.

–Emy?

–Andy!

–Por que você não entrou?

–Esqueci a chave.

–Quanto tempo você está ai?

–Ah –Ela olhou pra baixo e depois voltou a olhar para mim. – Uns 15 minutos.

–Que? Chegou agora? Como?

– Isso não importa! –Ela olhou pra baixo de novo. –Pega a chave por favor!

–Está ok, está ok...-Eu procurei a chave, abri os bolsos da frente, os laterais, os pequenos bolsos que ficavam dentro da mochila.

–...

–Você também esqueceu não é?

–Desculpa... –Ela só colocou as mãos na cara e eu me sentei de frente para ela.

–Vamos ter que esperar a tia acordar.

–Como você sabe que ela está lá?

–Quando cheguei eu me pendurei pela janela, mas ela estava fechada, mas ai eu vi a tia dormindo na sala, logo depois cai no arbusto.

–Você deveria ter mais cuidado.

–Eu só queria entrar logo! Ainda bem que não vim mais cedo pelo menos.

–Você estava fazendo o que?

–Já disse que não importa

–Ah okay...

Ficamos no silêncio, mas decidi falar pra ela sobre o que aconteceu hoje, acho que ela deveria saber.

–Ahn, Emy... amanhã a gente não tem nada programado, certo? –Falei hesitando.

–Não. –Ela disse olhando para mim, apoiando o braço na perna dela e colocando sua cabeça sobre sua mão.

–Ah bem é que.

–Você vai ter um encontro já? –Ela disse brincando.

–NÃO! –Virei o meu rosto. –É que o Isaac e o Fred... –Eu olhei para ela de canto de olho, ela estava sorrindo, mas não ironicamente, ela parecia feliz por algum motivo. – ... ahn e o Frederick me chamaram pra sair com eles amanhã e eu não queria que você ficasse sozinha caso a gente tivesse marcado algo e eu tivesse esquecido. –Eu gaguejei um pouco na metade da frase por estar prestando atenção na Emy.

–Eu também vou sair.

Eu virei para ela surpreso. –O que? Com quem? –Agora quem estava com o sorriso de felicidade era eu.

–Com a Kah e a Valerie! –Ela voltou a ficar com a cara fechada, acho que ela reparou que estava muito sorridente.

–Achava que não gostava delas e... Kah? Está chamando por apelido?

–Bem a Karen pediu para eu chamar ela assim hoje, se não ela não me dava carona.

–Você veio de carona? –Eu me inclinei até ela e coloquei as mãos em sua testa. –Tem certeza que não está doente.

–Não enche! –Ela me empurrou com a cara de raivosa de sempre, mas dava para reparar que escondia um sorriso naquele momento.

Eu estava muito orgulhoso dela!

Ficamos lá por quase uma hora, até uma hora que, enquanto a Emy estava encostada na porta, ela se abre e a Emy caiu com tudo para dentro de casa, por sorte a Fran tinha aberto a porta finalmente.

Nós fizemos o mesmo ritual de todas as noites, escolher a roupa pro dia seguinte, arrumar o material, jantar, tomar banho, assistir alguma coisa e dormir.

No dia seguinte, eu acordei novamente mais cedo, eu estava realmente nervosos, eles dois pareciam ser os tipos de pessoa super legais, me acho sem graça, então só estava piorando meu nervosismo mesmo.

Eu cheguei na escola, e andava até o bloco do meu ano, quando fui chegando perto do meu armário o Fred estava encostado por perto, tinha várias garotas falando com ele, elas pareciam desesperadas por atenção, com certeza. Fui em silêncio ao meu armário, vi então a Valerie e o Isaac empurrando as meninas, ainda mais por que a Val é a namorada dele, elas ficaram receosas com a presença dela. E o Isaac estava falando que não era assim que se agia numa escola, um verdadeiro pai... eu acho.

Eu vi a Valerie olhando para mim, ela sorriu e falou com o Fred ele olhou para o lado sem jeito e depois ela saiu, ela nunca fica muito tempo com ele apesar de serem namorados. O Isaac parecia não entender direito o que tinha acontecido com o Fred, mas ignorou, ele não tinha me visto ainda.

Eu vi o Frederick vindo na minha direção, ainda sem jeito

–Hey dude.

–Hey! O que ouve?

–Ah essas novatas ficam me enchendo, por isso evito vir nesse bloco.

–Aparentemente elas não se tocam que você tem namorada. – Eu ri, mas sozinho, logo depois o Fred percebeu o que eu disse e riu junto.

–Sim! Elas são meio iludidas, eu não queria ser ruim com elas, por isso não recuso falar com elas, eu sei como é ser desiludido e não é legal. –Ele sorria, um pouco corado, não entendi direito o por que, mas tinha quase certeza que era pelo o que a Val tinha falado.

–Ontem o Andy e hoje você? Vocês deveriam ser ursinhos de pelúcia.

–Que?

–Isaac, eu já disse para pensar antes de falar! –Ele riu e colocou a mão na cara dele

–... –Eu novamente, só vi as brincadeiras deles, eu não reparei do sorriso que estava em meu rosto, mas estava feliz, por que eu sentia que eles se divertiam, mas também que eles queria, vamos dizer, “se aproximar” de mim.

Enquanto o Isaac tentava tirar a mão do Fred do rosto dele, o Fred olhou para mim, com o mesmo sorriso de sempre, mas ele notou que eu estava sorrindo, creio eu. Fiquei tão envergonhado. Que fechei meu dedo de raspão no armário, não teria sentido tanta dor se não tivesse acidentalmente cortado, eu evitei gritar ou acabar chorando, por que doeu muito, eu segurei ele bem forte escondendo o rosto, por que sentia algumas lágrimas de dor quase saindo, eu pensei em sair dali e ir a enfermaria, eu até comecei a sair de lá, mas senti uma mão na minha cabeça igual quando eu faço com a Emy. Era o Fred ele saiu andando rápido enquanto o Isaac gritava. “Você não pode pegar minhas coisas assim idiota!”

Quando mexi a cabeça um band-aid caiu, eu só fiquei olhando eles gritando lá do lado de fora.

Fazia tempo que alguém não fazia algo do tipo para mim.