Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 63
O Passado pode trazer lembranças dolorosas (Bônus 11)


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Tudo bem com vocês?
O Capítulo de hoje é um pouco diferente do clima descontraído dos bônus, mas vamos lá. Esse é um pedido de uma amiga que queria saber um pouco mais sobre o passado do Moacir e, por esse motivo, esse será do ponto de vista dele. Espero que gostem. :)



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Eu sabia que, algum dia, seria inevitável eu ver minha ex novamente, mas não imaginei que teria que conviver com ela e o soldadinho de chumbo dela durante uma semana. Faz um mês que a minha pequena netinha, Alice, nasceu. Eu sou um avô coruja, mas preciso admitir que a pequena parece um filhotinho de rato sem pelos. É miudinha e magricela. Uma coisinha fofa. A única coisa que não é fofa é a avó da criança. Às vezes me pergunto como consegui casar com aquilo. Não falo pela aparência dela, ela já foi uma mulher deslumbrante um dia. Tinha cabelos loiros, falsos, mas loiros e eu sempre gostei dessa cor dourada, uma cintura violão e olhos mais azuis que o céu, de certa forma ainda continua bonita para a idade, mas agora parece uma perua com aquele cabelo loiro, duzentos quilos de maquiagem e a blusa com estampa de oncinha. Ela já teve mais bom gosto. O que eu não me conformo é não ter me dado conta de como ela era enquanto estávamos casados. Eu fui o seu primeiro e só por isso eu tenho certeza da paternidade da minha filha. Ela engravidou logo depois disso. Depois de a Mari nascer, as coisas desandaram. Ela começou a ver que a maternidade acabou com a vida de aventuras e viagens que ela tanto queria. Eu amei a minha filha desde o momento em que eu sabia que seria pai, mas a coisa não foi a mesma para a Sonia, não mesmo. A Mari representou o obstáculo e o gasto financeiro que ela não queria. Ela começou a me odiar por tê-la engravidado e, se minhas desconfianças estiverem corretas, ela me traiu logo depois que acabou o período do resguardo. Desde esse momento eu não toquei mais nela. Eu sabia que o casamento já estava terminado, mas não queria me separar e renegar a chance da pequena crescer com a mãe por perto, ou pior, sem um pai. Eu sei como essas coisas de guardas dão preferência para as mães. Eu cresci com os meus pais e não posso imaginar uma infância de uma criança sem uma mãe e um pai. Erro meu. Além de corno manso eu não tive paz por anos. Eu sabia que ela tinha os casos dela e eu também tive os meus, para ser honesto, mas nunca trouxe ninguém para dentro da harmonia que pintávamos para nossa filha, ao contrário dela. Quando a Mari tinha 7 anos, ela viu a sua mãe beijando um outro homem. Como eu explico para uma criança que dessa idade que os pais são casados só no papel e já não compartilham mais a mesma cama? Isso foi o estopim para ela me largar e ir morar com um soldadinho de chumbo que ela estava de rolo. O cara era cabo do Exército, mais fodido financeiramente que eu. Ela me trocou por aquilo, mas o que mais me doeu foi que ela trocou a filha por uma paixão.  Durante alguns meses ela esqueceu que tinha uma filha e que ainda era casada, no papel, e foi morar num apartamento fodido com ele. Para mim, restou correr atrás da papelada e consolar a pequena que não entendia a ausência da mãe.

Hoje o tal soldadinho é um general aposentado, mas está mais acabado que eu e olha que ele é mais novo que eu acho que uns 8 ou 10 anos. Eu ainda tenho cabelo, ralos e brancos, mas tenho. O desgraçado está totalmente careca e com uma barriga de chope de dar inveja a qualquer lutador de sumo. Como oficial do Exército, ele rodou o Brasil inteiro e até algumas partes do mundo. A Sonia foi em algumas dessas viagens. Pelo que sei, agora eles estão lá no Rio Grande do Sul. Ela não teve mais filhos (Graças a Deus! Menos uma criança para sofrer), mas agora, não sei se por arrependimento ou hipocrisia, quer bancar a família feliz e ser uma boa mãe e avó. Até mesmo o soldadinho de chumbo está querendo dá uma de avô postiço, mas só por cima do meu cadáver! A Alice, minha ratinha, só tem um avô babão e sou eu!

—Se você continuar rangendo os dentes desse jeito, velho, vai precisar mandar fazer outra dentadura. Tá rosnando mais que a Titília. –O Ricardo sussurrou, se apoiando em mim.

—Pena eu não ter os dentes iguais ao da Titília. Isso é muita hipocrisia para o meu gosto, Ricardo. –Falei, apontando para longe, para o banco em frente à estufa, onde a Mari estava conversando com a mãe e o soldadinho de chumbo.

—Você está com ciúmes, Moacir.

—Não é isso. Ela fica anos sem aparecer, quase não liga para a filha e bastou a Alice nascer para aparecer aqui com aquele soldadinho de chumbo para fazer o papel de família feliz, de avó dedicada.

—Ela só vai ficar por pouco tempo. Você será o avô coruja que vai ter os privilégios de estragar a sua pequena ratinha.

—Isso ainda não me agrada.

—Também não me agrada muito, mas ela é a mãe da Mari, no final das contas, não é?

—Maldita hora que cismei de casar para isso. Você como o meu padrinho bem que poderia ter me aberto os olhos, hein?

—E como eu iria adivinhar que ela era uma praga? Você que não soube escolher direito.

—A única coisa que não me arrependo é da Mari, foi a única coisa boa que saiu daquele casamento.

—A Mariana é maravilhosa. Eu devo muito a você e a ela. Vocês sabem que se não fosse por vocês eu estaria morto agora, não sabem?

—De certa forma você também nos salvou. Você e a Márcia foram como segundos pais para a Mariana.

—Foi, mas chega de lembrar e reviver coisas tristes. Pense que, em poucos dias, você estará livre de sua ex e do marido dela. Qualquer coisa, pode contar comigo, irmão. –Ele falou, me dando um tapinha nas costas e se afastando.

Eu também desisti de me torturar e meti o pé dali. Não valia a pena.

***

Eu consegui evitar a perua e o soldadinho de chumbo por alguns dias, mas minha sorte não ajudou e agora a perua produzida veio em minha direção e teve o descaramento de se sentar ao meu lado, no banco da varanda. Cadê o soldadinho de chumbo para segurar a mulher dele?

—Ainda não conseguimos conversar direito desde que cheguei, Moacir. –Ela comentou.

—Não temos nada para conversar, Sonia. Nosso casamento já acabou há muitos anos atrás. –Falei, sem olhar para a perua.

—O que eu quero falar não é de nós, mas da nossa filha.

—Ela está muito bem e não precisa mais de nós.

—Eu sei disso. Quem eu não confio é naquele marido nela, José.

—João, o nome dele é João.

—Isso, vá lá que seja. Nome de pobre. Ele não é bom para a nossa filha. Ele é um caipira gigolô que vive à custa dela.

Dessa vez eu não aguentei e me virei para encará-la.

—Mais respeito com o João, Sonia. Ele é o homem que a minha filha escolheu para amar e eu não vou permitir que você ou o seu soldadinho de chumbo falem mal do meu genro. –Adverti, em uma voz baixa, mas carregada de ameaça.

—Você não pode estar falando sério, Moacir! Você não pode estar feliz com aquilo como genro.

—Aquilo, como você disse, tem nome e é uma pessoa melhor que você foi. A Mariana abriu a casa dela para você e é assim que agradece? Insultando o marido dela? Eu não vou mais permitir que você machuque a minha filha, Sonia. Ou você a trata do jeito que ela merece, mesmo que seja com falsidade, ou eu vou pedir para você e o seu soldadinho se retirarem daqui e nunca mais voltarem.

—Você não pode fazer, isso, Moacir! Eu só quero o que é melhor para ela.

—Se você quisesse, você não teria deixado ela, quando criança, para correr atrás de homem. Era eu e o Ricardo que sempre estivemos lá com ela, quando ela passava mal, quando ela tinha pesadelos e nas festas que ela sempre te convidada e você nunca aparecia. Fui eu que fiquei com ela acordado enquanto ela chorava pela mãe que preferia um soldado e não ligava para ela. Não mais, Sonia. Eu posso não ser muita coisa, mas eu não vou mais permitir que você a machuque. Nem ela, nem a minha netinha e nem o Ricardo ou a família dele. Você já veio aqui, já cumpriu o seu papel de avó dedicada, agora, arrume suas coisas e vá viver seu sonho dourado, de novo. Você nunca gostou mesmo de crianças.

Ela abriu a boca para protestar, mas eu estava com o sangue tão quente que preferi não ficar perto e ouvir mais mentiras. Eu tinha vontade de dar um soco na cara dela, mesmo sendo contra todos os meus princípios de não bater em mulher. A Sonia é uma filha da puta e nunca vai mudar, mas eu não posso mais ficar calado enquanto ela machuca nossa filha de novo, não mais. Eu entrei na casa. A Sofia estava no sofá com a Bianca e o Zé. Ela me deu um olhar, mas parece que entendeu que eu queria ficar sozinho e segurou as crianças que já vinham em minha direção. Eu subi para o meu quarto e a Titília, que não desgruda da Alien, veio caminhando até mim. Eu permiti que ela entrasse comigo e, assim que eu me sentei na poltrona, ela colocou a cabeça em minhas pernas. Eu comecei a acaricia-la e aquilo me acalmou um pouco. Realmente os animais podem sentir nossas emoções.

—Obrigado, Titília. Você é uma boa cachorra.

***

A Sonia e o soldadinho dela ainda ficaram mais uns dias, mas foram embora antes do esperado. Graças a Deus! A Praga é tão filha da puta que nem veio se despedir de mim ou do Ricardo. Acho que nem do pobre João ela se despediu. Melhor assim. Agora o clima está mais tranquilo e eu posso, finalmente, voltar a respirar melhor e com menos raiva.

—É bom voltar a te ver sorrir, papai. –Mariana comentou, enquanto me entregava a Alice nos braços e ia para o fogão, esquentar o café.  

—É bom voltar a sorrir. O que aconteceu para a sua mãe ir embora mais cedo?

—Eu não sei, realmente. Ela enrolou, mas não falou coisa com coisa.

—Ela é assim.

—Ela não me falou, mas eu sei que o senhor tem uma parcela nisso.

Eu a olhei, com medo de que ela poderia estar pensando algo ruim de mim, mas ela tinha um sorriso suave no rosto e todas as minhas dúvidas foram para o espaço quando ela veio me abraçar e colocar um beijo em meu rosto.

—Obrigada, papai. Eu não aguentava mais a mamãe aqui reclamando das coisas. Eu gosto dela por ela ser minha mãe, a respeito, mas eu prefiro quando só somos nós. Sempre foi só nós, não é?

—Acredito que sim. Você sempre poderá contar comigo, Mariana. Eu te amo, minha filha, você e a minha netinha, mais que qualquer coisa.

—Eu sei disso, pai. Eu também amo o senhor.

Eu a abracei com um braço só, já que o meu outro estava ocupado com a Alice, e ela me agarrou fortemente. Eu posso não ser o melhor dos pais, mas não vou permitir que ninguém machuque minha garota enquanto eu estiver vivo, disso eu tenho certeza.

Fim.  


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Notas finais do capítulo

Se desejarem, deixem um comentário.
Acredito que, por agora, tenha apenas mais alguns capítulos bônus, uns cinco, pelas minhas contas. Eu pretendo parar no inicio do namoro da Alien. Portanto, volto a lembrar: se tiverem algum pedido de cena, não hesitem em deixar o pedido. Tentarei atender da melhor maneira possível. :)
Agradeço por lerem.

Um forte abraço e até mais!



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