Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 57
Quarto da Abdução (Bônus 5)


Notas iniciais do capítulo

Fala, pessoal! Mais um capítulo pra vocês. Espero que gostem. :)



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Eu desconfio que o Ricardo aprontando e com a Alien junto. Eu sei que pai e filha são muito ligados, mas ela não desgruda dele já há alguns dias, desde o dia que ele deu a história do Marciano com a Mimosa para ela. Eles passam as tardes enfurnados no quarto do novo Alien. Eu sei que o Animal está pintando a paisagem na parede, mas também não sei o que ele escolheu. Eu tenho evitado entrar lá. Apesar dos meus enjoos terem praticamente já passado, o cheiro da tinta revira o meu estômago do avesso. Essa é a merda de se ficar grávida: qualquer cheirinho acaba contigo.

Eu sei que vou me arrepender, mas a curiosidade está acabando comigo. Aqueles dois estão fazendo segredinho e não me falaram o que escolheram, mas eu acho que nada poderia ser pior do que eu vi quando entrei. Tá de sacanagem que aquilo é uma vaca sendo abduzida? Ainda está só rabiscado com o lápis e poucas cores, mas acho que é.

—Isso não é o que estou pensando, é Ricardo? –Perguntei.

Ele e a Alien estavam tão distraídos em uma conversa que, se peguei bem, é sobre o Marciano viajando com a Mimosa para um planeta distante, que nem viram quando entrei e os dois saltaram de susto.

—Amor, que susto!

—Ricardo, não desconversa. Que desenho é esse?

—É o Marciano e a Mimosa, mamãe! –A pequena Alien confirmou o que temia. Esses dois tem merda na cabeça, só pode.

—É um “lindo” desenho para o quarto de um bebê, filha... –Falei. Ela sorriu feliz e o Ricardo me olhou com cautela. Ele entendeu o meu conceito de “lindo”.

—Foi ideia da Bianca. –Ele tentou se livrar.

—Foi? E você embarcou?

—Eu não posso negar nada para a nossa pequenina, posso?

—Não, claro que não. Bianca, querida, você poderia ir brincar um pouco com o tio Moacir enquanto eu converso com o seu pai?

—Tá. Posso tomar um danone, mamãe?

—Pode, criança, mas peça para o seu tio. E só um, hein, senão você não come o seu jantar.

Ela me abraçou as pernas e saiu pulando igual um cabritinho feliz. O Ricardo só me deu um sorriso amarelo.

—Eu iria pintar araras, mas ela acabou me pedindo e a ideia não é assim tão má.

—Não é, eu acho até bonito, mas uma vaca sendo abduzida é algo meio sinistro para uma paisagem do quarto de bebê.

—Já chamamos nossa filha de Alien, não pode ser pior que isso.

—Mas uma vaca sendo abduzida...?

—É a Mimosa e o Marciano.

—Então esse Alien vai ser laranja com cavanhaque verde?

—Vai. Eu ainda não desenhei, mas colocarei um milharal embaixo, umas montanhas ao fundo e um celeiro aqui do lado. -Ele falou isso com um orgulho que começo a achar que ele realmente acha normal um desenho desses para um bebê.

—Tirando a vaca sendo abduzida e esse Marciano de cor estranha, vai ficar uma paisagem bonita.

—Vai, não vai? A Mariana deu ideia de colocar uma paisagem noturna com uma lua de fundo. Dá para jogar alguns brilhos prateados na nave. Acho que vai ficar show.

—Acho que a Mariana é tão louca quanto você.

Eu ouvi a Titília latir e logo depois a Bianca gritar “vovô”. Ótimo! Era só o que eu precisava para fechar o dia: meu pai aqui para falar disso. Até hoje ele reclama que chamamos a pequena de Alien. Antes que ele viesse para cá, eu fui para a sala para encontra ele com a netinha nos braços. Aquela garota adora esse meu velho rabugento.

—O que faz aqui, pai?

—Eu preciso ter motivos para visitar minha filha e minha netinha?

—Claro que não, mas eu te conheço, velho. A mamãe saiu, não foi?

—Não, aquelas amigas chatas delas foram lá para casa para almoçar.

—Sabia. Pode se refugiar aqui o tempo que quiser.

—Então vou demorar. Aquelas lá quando se juntam...

A pequena desceu dos braços dele e voltou para o quarto do Ricardo. O meu pai se aproximou de mim e colocou a mão sobre a minha barriga.

—Esse aqui não gosta muito de chutar não, não é?

—Esse não. Esse Alien é menos violento.

—Você e esses seus apelidos... Vocês não pretendem chamar esse de Alien também não, não é?

—Não. Seria confundir as coisas.

—Deem um apelido decente dessa vez, por favor.

—Você está reclamando do que pai? Você também tinha alguns apelidos para mim.

—Mas coisas normais como tampinha, baixinha, cabritinha...Não coisas como Alien. Isso não é normal.

—O senhor se acostuma.

Passamos um tempo conversando e depois paramos para tomar um café. O Ricardo saiu com o Moacir e a Bianca para comprar mais tintas para aquela pintura estranha deles. Estaria tudo bem, se o meu pai não começasse a xeretar e encontrasse a pintura na parede. Merda!

—Sofia Fernanda, que merda é essa?! –Ele gritou e eu nem precisava olhar para saber que ele estava no quarto da abdução.

—É a pintura do quarto do bebê, pai.

—Vocês desenharam uma nave com um alienígena? Vocês querem que a criança cresça perturbada?

—É bonitinho e isso é coisa da Bianca e do Ricardo.

—Só poderia mesmo ser coisa daquele traste perneta do seu marido. Tem certeza que eles não tiraram o cérebro dele junto com a perna?

—Ele não é perneta, pai!

Ele me olhou com uma cara desdenhosa e eu tive que ceder:

—Tá, ele pode ser perneta, mas isso não interfere em nada no nosso casamento.

—Não, claro que não. O problema é só na perna e não no meio das pernas, tanto é que você já está no seu segundo filho para provar isso.

—Pai! Será que o senhor sempre vai implicar com o Ricardo?

—Deveria, não deveria? Vocês, bonitinhos, demoraram mais de um ano para falar que ele era perneta. Também só descobri por um acaso, não foi?

Foi verdade. A minha mãe acabou descobrindo, falou um pouco na minha orelha, mas deixou de lado. O meu velho que quase desmaiou ao ver, um dia que ele chegou de supetão, o Animal de bermuda e a prótese. Graças aos Deuses a Bianca era pequena e não escutou o chilique do meu pai. Ele resmunga até hoje disso.

—Quantas vezes precisaremos nos desculpar por isso?

—Se vocês tivessem falado, logo no início, não precisariam se desculpar...

—Se o senhor soubesse que o Ricardo era perneta antes de me casar, isso mudaria alguma coisa?

—Não.

—Então para de reclamar, velho. Não sei qual é essa sua implicância com ele.

—O dia que os seus filhos crescerem e começaram a namorar, você vai me entender.

—Isso é ciúmes, papai?

—Claro que é! Você acha que eu gosto de ver minha garotinha nos braços de outro homem? E ainda Perneta? Você sempre será minha menina, Sofia. Você pode ter crescido e estar grávida, de novo, mas eu sempre te verei como aquela tampinha que puxava os cabelos do seu irmão.

Eu abracei o meu velho rabugento e ele se acalmou um pouco, mas sabia que não seria por muito tempo. Assim que o Ricardo chegou, ele o arrastou para um canto para conversar. Imagino o sermão que ele não vai dar.

***

Assim que deitei na cama com o Ricardo, para dormir, eu não aguentei e tive que perguntar qual foi o sermão dele dessa vez.

—E então?

—Então o quê?

—O que o meu pai implicou dessa vez? Vocês ficaram mais de meia hora conversando.

—O de sempre: que é estranho chamar a Bianca de Alien, que eu devo tratar vocês bem ou ele me mata. E que não é normal eu pintar o Marciano e a Mimosa no quarto do bebê.

—Demorou isso tudo só para ele te falar isso?

—Ele também me fez prometer que não chamaremos o nosso filho de Alien, que já basta a Bianca com esse apelido estranho.

—Está bom então. Não ficaria mesmo muito prático os dois com o mesmo apelido. Arrumaremos um outro.

—Não tenho dúvidas disso.

—Nem eu.

—Você ainda está brava comigo pela pintura, Sofia? –Ele perguntou, cauteloso, quando eu estava quase dormindo.

—Essa não era a minha primeira opção, mas se a Bianca está feliz, eu estou feliz. A gente vai escutar que somos loucos de qualquer maneira.

—E não somos?

—Eu devo ser para ter casado com você.

—Eu sou louco por você, por vocês. –Falou, colocando a mão na minha barriga. Maldito, ele sempre me derrete com esses gestos.

—A Bianca já dormiu? –Perguntei.

—Quando eu fui lá da última vez ela estava apagada. Acho que vai até amanhã. Ela ficou acordada até tarde brincando com o seu pai.

—Bom. Acho que temos tempo então.

Eu o surpreendi o puxando para um beijo. Eu estou de quase seis meses e não é tão fácil como antes, se torna até um pouco desconfortável, mas que culpa eu tenho se esse Animal é irresistível? Eu não vou mesmo engravidar mais e, quando o bebê nascer, ficaremos sem tempo para isso. Pode ser um louco, mas eu amo meu marido, mesmo com o quarto da abdução.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, se quiserem, deixem um um comentário. :)
Obrigada por lerem!
Um grande abraço e até mais!



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