Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 52
Capítulo 52 (Epílogo)


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal. Tudo bem com vocês?
Com uma certa tristeza, esse é o capítulo final. Espero que gostem. :)



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A gravidez é uma benção, eles falaram. A gravidez é a maior realização na vida de uma mulher, eles falaram. A gravidez é o melhor momento na vida de uma mulher, com certeza o filho da puta que disse isso foi um homem. Com meus quase nove meses estourando eu estou prestes a matar um. Tudo na minha vida está uma merda. Eu não consigo andar mais que dez passos sem achar que minhas pernas vão explodir, minhas costas doem, não encontro posição para dormir e quando adormeço acordo com um chute nas costelas, vou ao banheiro a cada 20 minutos e não consigo mais fazer amor direito com o meu marido, além de não ter posição para isso, se tornou um pouco incômodo e doloroso.  Resumindo: vida de grávida é uma merda.

Eu sei que não é culpa do Ricardo. Não, o que estou dizendo? Ele é tão culpado quanto eu. Eu não fiz a minha filha com o dedo... Calma, Sofia, não o culpe agora. Falta pouco mais que uma semana para isso acabar... Não é culpa dele e nem minha. Aconteceu e eu preciso acreditar nisso para não matá-lo. Ele tem tentado me aliviar, mas não adianta muita. Suas massagens já não aliviam tanto assim. Eu cheguei em um ponto que não dá mais. Essa pequena monstrinha precisa sair de mim. Essa desgraça vai jogar futebol. Não para de chutar um minuto e o pior, sempre acerta minhas costelas. Acho que tenho uma pequena Alien em minha barriga. Parece que ela vai rasgar minha pele, como no filme, e sair comendo todo mundo. Agora sei o porquê nunca desejei muito a maternidade.

Tirando esses inconvenientes muito grandes, o resto vai de boa. O quarto dela ficou lindo. O Ricardo pintou uma paisagem de savana com leões, zebras, elefantes e girafas na parede. Tem trocador de fralda, guarda roupa, estante para livros, mas o berço mesmo foi para o nosso quarto. Ele não quer deixar ela afastada de nós. Eu concordei. Também não me agrada ela dormindo em outro quarto, mas quando ela crescer um pouquinho vai para o quarto dela. Se eu tivesse um quarto daqueles quando era criança, nunca iria dormir com meus pais.

Ele também mandou fazer uma cadeira de balanço para mim. Eu passo minhas tardes naquilo. É confortável, não posso negar, mas no meu estado tudo me incomoda. Até o balanço desse troço. Eu estou aqui e estou quebrando o meu recorde. Já estou há meia hora sentada e ainda não fui ao banheiro.

—Amor? –O Ricardo, cautelosamente, apareceu na porta e chamou. Esses dias ele tem andado com medo de ficar perto de mim. Até eu estou com medo de mim.

—Entra, Ricardo. –Falei e ele se aproximou, se ajoelhando aos meus pés.

—Você está bem?

—Tirando a dor nas costas, os chutes nas costelas, a dor nas pernas e o fato que estou parecendo um balão inchado, estou bem.

—Se eu pudesse eu carregaria nossa filha por nós.

—Você pode não carrega-la, mas, depois que ela nascer, você poderá ser um bom pai, trocar as fraldas, dar banho, dar mamadeira, ninar. Depois que ela sair, eu vou querer dormir por um mês para colocar em dia o meu sono.

—Depois que ela sair, você poderá ter o que quiser. Eu ficarei feliz em ser o escravo de suas vontades.

Se não fosse meu desconforto, eu acharia fofo da parte dele, mas agora eu só queria mesmo é estrangulá-lo, mas, se fizer isso, perderei meu escravo.

—Seja um bom escravo e me ajude a levantar. Sua filha, mais uma vez, está pressionando minha bexiga e eu preciso mijar.

—Tudo que minha senhora quiser. –Ele falou, com um sorriso. Não sei como ele pode sorrir ainda para mim, mal humorada como estou.

Eu usei ele de apoio para levantar, mas, assim que tomei impulso, senti algo escorrer por entre as pernas. PUTA QUE PARIU! Eu tenho certeza que isso não é xixi.

—PUTA QUE PARIU! –Gritei.

—Quê?! Você está com dor? –Ele perguntou, assustado.

—Não desmaia e não grita. Chama o Moacir, a Mariana ou o João e manda eles prepararem o carro. Acho que a minha bolsa estourou.

Ele ficou com um olhar de peixe morto por alguns segundos. Eu já estava quase dando uns tapas na cara dele para ver se ele voltava, mas não foi preciso. Ele voltou a si e saiu correndo e gritando pela casa. Dentro de pouco tempo eu estava no banco de trás do carro com ele, apavorado, tentando me acalmar. Como eu pude escolher, eu coloquei a Mariana para dirigir. O Moacir e o João estão mais assustados que eu, só perdem para o Ricardo. A mais sã desses loucos é ela.

Chegamos ao hospital e ele começou a gritar pedindo ajuda. Eu tive que dar um esporro no meu marido. Porra, estamos em um hospital, silêncio e respeito são bons. Eu estou tendo um filho e não morrendo. Pelas pesquisas que fiz, ainda vai demorar algumas horas para essa pequena Alien sair de mim. Pra que, eu pergunto, esse desespero e pressa toda? Homens...

Passei muitas horas no quarto com o Ricardo. Eu comecei com as contrações e doíam pra caralho. O médico ainda me mandou ficar andando um pouco. Eu não prestei muita atenção na explicação, mas ele disse que ajudava. Quem sou eu para negar. Em pouco tempo a minha família chegou. Perfeito! Todos matracando no meu ouvido e dando conselhos que eu não precisava. Depois de quase uma hora coloquei todos para fora, só o Ricardo ficou. Eu estou com dor e não preciso dessas matracas no meu ouvido, especialmente o meu pai resmungando que o meu sofrimento é culpa do Ricardo e lamentando-se por não ter capado ele a tempo. Eu sei que é culpa do meu marido, mas ele não precisa e nem pode me lembrar disso agora.

Depois de quase 10 horas de contrações, dores e a companhia, não tão agradável dos meus familiares, eu estava com a dilatação boa para entrar em trabalho de parto. Eu deixei o Ricardo entrar junto comigo porque ele prometeu não desmaiar. Se ele desmaiar, eu juro que mato ele.

—Empurre, querida, mais uma vez. Como o médico disse. –O Ricardo sussurrou.

—E o que você acha que eu estou fazendo, filho da puta? Puxando para dentro? –Perguntei, irritada, quando uma contração forte veio.

—Eu sei que é difícil, mas você está fazendo muito bem. Respire comigo. –Ele começou a bufar igual a Titília quando corre muito.

—Para, não está ajudando. Você parece um cachorro com calor.

Não sei se foi impressão minha, mas acho que o doutor e as enfermeiras riram disso. Eu sei que ele só está tentando ajudar, mas, puta que pariu, eu estou com dor e acho que sei o que preciso fazer.

—Vamos, empurre mais uma vez. Eu te amo, Sofia. Vamos, minha Coelhinha.

—Coelhinha mesmo, filho da puta! Do jeito que fizemos como coelhos só poderia dar nisso.

Dessa vez, definitivamente, o médico não conseguiu segurar o riso.

—Vá se foder também, doutor. É bom rir da desgraça alheia, não é? –Xinguei.

—Calma, amor. O médico só quer ajudar. Se quer descontar em alguém, desconte em mim. A culpa é minha. –O Ricardo sussurrou.

Eu xinguei mais, acho que xinguei a cada vez que tive que empurrar, mas foda-se! Não é eles que tem um alien te rasgando de dentro pra fora, é? Não sei quanto tempo fiquei nessa, só sei que quando senti ela deslizar para fora e ouvi o seu choro eu apaguei. Minha visão escureceu e desmaiei.

***

Acordei com um Animal com os olhos muito vermelhos sentado na cadeira ao lado da minha cama.

—E aí, como se sente? –Ele perguntou.

—Como se eu tivesse passado pelo triturador, sido atropelada por um caminhão e ele voltasse de ré. E a nossa filha?

—Ela é linda. Está no berçário. Ela é gorduchinha. Nasceu com quase 3 quilos e meio.

—Eu queria vê-la.

—A enfermeira a trará para você a alimentar. Toda sua família já viu. Eles estão deslumbrados com ela. Eu também estou, mas não podia te deixar sozinha. Ela está com os avós e os tios.

A enfermeira entrou e, me vendo acordada, foi buscar a minha filha. Em poucos momentos ela trouxe a pequena Alien embrulhada em uma mantinha rosa. Ela é uma coisinha estranha, careca e zoiuda, mas era a coisa mais linda que eu vi. Quase um ser de outro planeta, minha pequena Alien.

Ela custou a acertar o bico do meu seio, mas, quando fez, doeu pra caralho. Por que nada da maternidade pode ser fácil?

—Nossa pequena Alien. –Falei ao ver o Ricardo jorrando em lágrimas.

—Nossa pequena Alien. –Ele concordou, se sentando na cama e passando um braço sobre meus ombros para olhar para ela.

—Bianca. –Falei.

—Quê?

—Ela tem cara de Bianca. Você não acha?

Ele olhou para ela e passou um dedinho sobre a bochecha da Bianca. Sim, vai ser Bianca, mesmo ele não concordando, eu já decidi. Mereço escolher o nome depois do que passei.

—Nossa Alien Bianca. Gosto do nome. Ela se parece com uma Bianca. –Ele concordou.

—Bianca...

—Eu sei que você ainda está com raiva de mim, mas posso te beijar? –Ele pediu.

Eu estou doída, moída, triturara, cansada e com sono, mas a raiva que eu estava dele já passou. Como poderia sentir mais raiva se estou com essa pequena Alien linda em meus braços e nos braços do homem que eu amo? Eu dei um beijo terno nele e ele nos segurou mais apertado ainda. Pode ter sido difícil, mas valeu a pena para ter essa pequena Bianca em meus, nossos braços.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a todos, de coração, que embarcaram nessa história comigo. Eu espero que tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Obrigada!

Eu pretendo fazer alguns capítulos bônus, one shots, sobre eles. Devem ser, aparentemente, uns 10 ou 15. Começarei a postar, se tudo der certo, na semana que vem.

Um forte abraço e, novamente, obrigada!



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