Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente! Tudo bem com vocês?
Primeiramente, gostaria de me desculpar pela demora em responder os comentários. Acabei ficando sem internet.
Sem mais, mais um capítulo. Espero que gostem. :)



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Eu estava puta de raiva com o Ricardo. Uma semana, uma semana que nem “bom dia, cão” ele me dá. Uma semana desde o maldito (bendito) beijo. Eu achei que as coisas fossem melhorar a partir daquele beijo. Tá, eu comecei, mas ele que aprofundou, e como aprofundou... Sei que cruzamos uma barreira que não dá para voltar, mas podemos conversar. Mesmo que não embarquemos em nada mais sério que isso, podemos manter uma boa convivência. Pena que ele não pensa assim.

Sinto que isso aconteceu depois dele ter feito algo tão bonito para mim. Eu realmente amei aquele quadro, independente se o pintor é um Animal.

Eu não quero largar isso aqui. Me habituei ao lugar, aos animais e as pessoas, ouso pensar que posso chamar isso de casa, mas é impossível continuar aqui com o Ricardo me tratando desse jeito.

Eu decidi que preciso de um dia de folga. Dane-se que ele vai descontar ou não, hoje eu só quero é encher a cara. Aquele vestido tubinho que a Patrícia me deu de aniversário vai servir para algo. Não me interessa ele queria conversar quando passei por ele, agora eu não quero e não vou. Se bem que eu acho que é só para falar como “desarmônica” estou sem um sapato adequado. Eu vi a careta que ele fez para meus tênis surrados.

Sei que não é uma boa escolha, mas é o lugar mais barato e mais perto para eu embriagar-me. Decidi pelo mesmo buraco do inferno, aquele barzinho que vim com a minha cunhada e torci o tornozelo. Por ser meio de semana, está relativamente vazio e isso é tudo o que eu preciso agora: paz e solidão.

Eu realmente acreditei que pudesse avançar em algo com o Ricardo, eu odeio admitir para mim mesma, mas estava passando a vê-lo com outros olhos. Ele estava despertando aquele friozinho no meu estômago que eu não sentia desde a minha adolescência quando tinha uma queda pelo meu professor.

E então o beijo, e que beijo! Ele fez jus ao apelido e foi um animal quase me devorando contra a parede. Fiquei com as pernas bambas, mas o maldito parou, do nada, e se afastou desde então. Eu sei que ele deve ter as reservas dele já que é viúvo, mas quem morreu foi sua mulher, porra! Viúvo é quem vai e não quem fica. Ele ainda está muito vivo e pode ter outro romance.

Eu nem quero pensar nele direito. Sei que deveria estar numa lan house preparando minha carta de demissão, mas estou aqui, três horas da tarde, e enchendo a cara no chope. Onde foi que eu caí tão fundo no poço para me embriagar a essa hora? Só falta as músicas depressivas para completar o meu dia.

***

Já tinha umas três tulipas de chope vazias na minha frente e, minha intenção, estava começando a dar certo: minha cabeça está começando a ficar tonta. Acho que mais umas três e ficarei num estado em que conseguirei esquecer meus problemas.

—Não acredito no que encontrei aqui! Que essa bela gata faz por essas bandas? Já largou seu cão de guarda? –Uma voz, desagradavelmente conhecida, falou pelas minhas costas.

Jaime, puta que pariu, era só o que eu precisava para completar meu dia e afundar de vez no poço.

—Vai embora, Jaime. Hoje não, por favor.

—Não é assim que se trata os amigos. –Ele falou, puxando a cadeira de frente para a minha e se sentando.

—O que você quer? –Perguntei, irritada.

—Nada, só conversar e, possivelmente, dar continuidade de onde paramos na fazenda, antes do seu cão de guarda me expulsar.

—Eu não vejo qualquer coisa que não terminamos e foi muito bom que o Ricardo te expulsou. Precisava acertar o pobre animal indefeso?

—Animais para mim só servem para um churrasco. Não suporto aquele bode.

—Hoje eu realmente não estou no clima, Jaime. Será que você pode, por favor, ir embora?

—Nem pensar. Agora que você está longe do seu cão de guarda eu não vou embora mesmo, gata. Ainda mais com esse seu vestido que deixa muito pouco para a imaginação.

Porra, maldita hora que a Patrícia me deu esse vestido e mais maldita ainda esse escroto ter me visto nele.

—Tu não se toca não? Eu não quero nada com você e você não tem a menor chance comigo.

—Que isso, eu sei que é dos malandros que vocês gostam. Posso te garantir que faço melhor que o seu cão de guarda.

Ele tentou segurar minha mão, mas dei um tapa na mão dele.

—Me toque de novo e eu te arrebento.

—Selvagem, gosto disso. Também sou selvagem.

—Vá embora ou eu vou chamar a polícia.

—Suas ameaças não me assustam.

—Vá embora, Jaime!

—Ou o quê?

—Ou eu juro que te darei uma surra pior que a que o Ricardo te deu.

Ele abriu a boca para falar, mas seus olhos se perderam em algo atrás de mim, mas, antes que eu pudesse falar ou me virar, eu senti um par de mãos sobre meus ombros. Ricardo. Puta que pariu, isso não poderia ficar pior!

—Acho que a dama foi bem clara com você, Jaime. Ela não deseja sua presença aqui. –Ele falou, quase um rosnado.

—Não? Acho que estávamos nos entendendo bem até você chegar. Mais uns minutos e ela teria vindo comigo. –Ele falou, tentando esticar a mão sobre a minha, de novo.

—Já te falei para não me tocar. –Falei, irritada.

—Mais é uma puta mesmo. Até agora estava tão carinhosa comigo, mas bastou esse aí chegar que muda de ideia. Ele pode ter uma carteira cheia, mas eu tenho o que as mulheres gost...

Ele não teve chance de terminar. O Ricardo voou sobre a mesa de plástico e o agarrou pela gola com um soco certeiro no nariz. O Jaime revidou com um soco. O Ricardo ainda conseguiu acertar ele mais algumas vezes, no rosto e nas costelas, antes que os garçons conseguiram separar os dois. Eles pareciam cães de briga tentando avançar uns nos outros. Os garçons tiveram um pouco de trabalho para segura-los até que uma viatura apareceu e um policial algemou os dois. Puta que pariu, tem como esse dia piorar?

***

Tivemos que esperar mais uma viatura. Do jeito que estavam, não poderiam ser colocados no mesmo carro para irem para a delegacia. Um policial começou a tomar meu depoimento enquanto aguardávamos.

Lá na delegacia, fiz um B.O contra o Jaime e falei em favor do Ricardo. No final, a policial, por sorte era uma mulher, me entendeu e entendeu que estava sendo assediada e deixou o Jaime enjaulado e soltou o Ricardo.

Assim que ele saiu da cela e me viu, olhou um pouco arrependido e evitando meus olhos. Eu sei que não deveria sentir pena desse idiota depois de tudo, mas ele me defendeu. Para aumentar minha pena, ele tinha algumas manchas de sangue na camisa e um corte sobre a sobrancelha. Sem contar que suas mãos eram um desastre de cortes sobre os nós dos dedos, mas acho que o outro levou a pior.

—Me desculpe, por tudo. –Ele sussurrou ao se aproximar de mim.

—Isso não é lugar para conversarmos. Vamos lá para fora. –Falei.

Assim que saímos da delegacia, procuramos um banco para nos sentarmos.

—O Moacir deve estar nos procurando. Eu o deixei no carro perto do bar. –Ele falou.

—Você trouxe o Moacir?

—Minha carteira está vencida, esqueceu?

—Tá, mas, primeiro, como me achou? Como sabia que eu estava naquele bar?

—O Moacir acabou me falando.

—Merda! Por que eu fui falar aonde ia para aquele língua solta?

—Que bom que falou. Pelo menos pude te proteger daquele babaca. Sofia, se for querer arruinar sua vida, não faça isso por minha causa.

—Por sua causa? Que pretencioso...

—Eu sei que te devo algumas explicações e um milhão de desculpas, mas, por favor, não se machuque por minha causa. Você não merece. Se quiser realmente ir embora, eu te mando embora, não precisa pedir demissão. Ao menos assim você fica com seus direitos trabalhistas. É o mínimo que posso fazer.

—Eu não quero ir embora. –Sussurrei.

—Não?! –Ele pareceu confuso.

—Não, eu só queria conversar com você. Sei que posso ter começado com o beijo, mas não se isente dessa culpa. Você o aprofundou e me beijou de volta. Por que, Ricardo?

Eu o olhei diretamente nos olhos para tentar ver se ele mentiria para mim. Sua expressão era de dúvida e, talvez, até medo. Ele hesitou alguns momentos antes de abrir a boca para falar.

—Porque eu não pude resistir. Eu queria ter beijar.

—E por que fugiu de mim quando eu fui para conversar contigo?

—Porque isso não é certo. Eu não devia ter te beijado...

—Eu te beijei primeiro. Então, isso serve para mim. –O cortei.

—Foi, mas não me dava motivos para fazer o que fiz.

—Se você queria, por que lamenta?

—Porque agora nossa relação ficou confusa, nunca mais será a mesma e, provavelmente, você irá embora e eu perderei a única amiga verdadeira que tive em anos. –Ele confessou, escondendo seu rosto entre suas mãos.

—E se eu falar que não vou embora e que gostei do beijo?

Ele levantou e me olhou como se eu tivesse falado a maior das besteiras possíveis.

—Você não devia ter gostado e muito menos querer ficar.

—Por quê?

—Porque eu sou alguém complicado. Não acho que sou mais apto para me envolver novamente com alguém.

—Minha vida sempre foi complicada. Acho que mais uma complicação não será tão mal assim.

—Há coisas que você não sabe sobre mim.

—Me conte.

—Sofia...

—Ricardo. –Eu peguei a mão dele e o fiz olhar para mim. –Eu não sei o porquê, mas eu aprendi a conviver com você, mesmo você sendo um idiota nos últimos dias, eu sinto sua falta. Me acostumei com nossa rotina, nossas conversas e nossos jogos à noite. Podemos ao menos tentar? Se quiser, posso fingir que não lembro do beijo.

—Se fosse fácil assim.

—Pode ser, se não complicarmos.

—Acho que podemos tentar.

—Sem se fechar e me ignorar novamente, combinado?

—Prometo tentar.

—Isso para mim já basta. –Há dias que quero conversar com você sobre o livro do Don Quixote e você foge de mim.

—Se eu soubesse que era só pelo livro, não fugiria.

—Não era só pelo livro, mas, por agora, posso conviver com isso.

Ele ficou um pouco desconfortável e mudou de assunto, dizendo que devíamos ligar para o Moacir. Ele fez as honras e, depois de uns minutos e alguns resmungos ao telefone, sossegou de novo meu lado no banco.

—Fico feliz que dessa vez cheguei a tempo. –Ele comentou.

—A tempo de quê?

—De impedir que você bebesse muito e torcesse o tornozelo, de novo.

Eu não aguentei e dei um tapa no braço dele, de brincadeira, e ele começou a rir.

—Apesar de tudo, obrigada, Ricardo. Eu nem sei o que faria com o Jaime se você não tivesse chegado.

—Possivelmente um escândalo e teria batido nele, mas também fico feliz por ter chegado. Limpei minha alma batendo nele.

—Talvez eu teria feito isso.

Caímos, novamente, no silêncio que só foi quebrado quando o Moacir encostou o carro na nossa frente, abaixou o vidro e falou:

—Caramba, eu sabia que esse encontro não seria bom, mas nunca pensei que terminaria numa delegacia. E você, Sofia, não sabia que era violenta. Olha como deixou o pobre homem.

—Ha, ha, ha, muito engraçadinho. Você sabe que briguei com o Jaime. Te contei pelo telefone. Agora, será que podemos ir para casa? –O Ricardo perguntou, irritado.

—Vocês já fizeram as pazes?

—Não totalmente, mas estamos nos entendendo melhor. –Falei.

—Então entrem aí.

O Ricardo sentou no banco da frente e eu fui para o de trás. O Moacir ainda soltou umas piadinhas, mas foi uma viagem tranquila. Talvez agora eu possa entender melhor o Ricardo. Ele me considera como uma amiga e já é um começo.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. O próximo será a mais importante revelação acerca do passado do Ricardo. Ainda tenho alguns ajustes para fazer, mas, se der, posto entre hoje e amanhã.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



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