Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Fala pessoal. Acabei me empolgando e saiu outro capítulo mais rápido do que esperava. Espero que gostem.



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Fazia uma semana desde que eu comecei a trabalhar na casa daquele Animal e, a Isabel tinha razão, ele é chato pra cacete. Eu tentei rondar um pouco o Moacir, aquele senhor gorducho, e, o máximo que descobri, foi o nome do Animal: Ricardo Bittencourt. Ele mal parava em casa. Quando não estava cavalgando, sumia no meio da mata que tem por trás da fazenda. Será que ele planta maconha escondido? Não sai de lá. Mesmo que plante, que fique por lá, pelo menos não me enche o saco. Ontem, eu tinha acabado de aspirar e passar um pano na sala. Ficou impecável, mas, mesmo assim, ele cismou que estava sujo e tive que refazer o meu trabalho. Nunca fui lá grande cozinheira, não sei como ele ainda não reclamou da minha comida.

Hoje ele cismou que queria Estrogonofe de frango. Nunca em minha vida cozinhei essa merda e, confesso, estou com medo do resultado. A aparência não está muito bonita e, sinceramente, estou com medo de provar.

–Meio dia. Por que essa comida ainda não está pronta? É para isso que te pago? –Ele, o animal, cavalo estúpido, entrou na cozinha já com sua arrogância.

–Eu falei que não sabia cozinhar isso. Daqui a 10 minutos eu sirvo. –Falei, no mesmo tom que ele.

–Que seja rápido tenho coisas mais importantes para fazer!

Ele saiu e bateu a porta da cozinha com tanta força que pude sentir a casa estremecer. Coisas importantes... Ainda fico com a minha teoria de que ele está plantando maconha. Nunca o vi trabalhar.

Arrumei aquela comida e levei para a sala de jantar onde eu deveria servi-lo. Tudo bem, sou empregada, mas fazer o prato pro “bonitinho” já é demais. Ele tem duas mãos e dois braços, poderia muito bem se virar sozinho.

Eu fui servi-lo e ele não tirava os olhos de mim. Isso me enerva um pouco. Ele tem um olhar penetrante e essa cicatriz ainda me lembra o Scar do rei leão. Um Scar mais carrancudo que o desenho.

Tudo pronto, eu me retirei antes dele provar. Do jeito eu ele está mal humorado, não quero que o prato me voe na cabeça. Fui pra sala de leitura para conversar com o Moacir. Ele era o único que o animal respeitava. Se desse um ataque nele, pelo menos eu estaria protegida.

–Ele está difícil hoje, não é? –Ele falou, ao me ver.

–Hoje? Ele é difícil sempre.

–Ele é um bom homem, difícil, mas bom.

–Só você vê essa bondade. Todos os outros empregados o vem como um Animal.

–Ele pode ser o mais dócil dos animais, basta saber cativá-lo.

–Dou um prêmio pra quem conseguir.

–Ainda tenho esperanças que alguém consiga, pelo bem dele.

–Você já trabalha aqui há muito tempo?

–Acho que uns 12 ou 13 anos.

–Isso tudo e você ainda não o matou? Meus parabéns! Queria ter essa paciência.

–Se você aguentar mais de um mês aqui, você se acostuma. Todas que passaram antes de você foram embora com 3, 4 semanas. O maior recorde é o da sua amiga: um mês e meio. Com licença, mas preciso resolver uns assuntos.

Ele fez uma pequena reverência e saiu. Moacir era um bom homem. Também tinham outros empregados, peões que cuidavam dos animais. Eles também eram legais, mas quase não os via. Eles trabalhavam lá fora e eu, eu fico presa dessa casa o dia inteiro. É tão grande que, quando termino de limpar um cômodo, já preciso limpar o outro novamente. Aqui dá muita poeira.

Já se passaram uns minutos e ainda não escutei nenhum grito. Acho que a minha comida colou ou o matou envenenado. Melhor eu verificar. Sai e olhei de fininho. Que sorte! O lugar estava vazio. Mas, ao ir para recolher as louças, surpresa, um bilhete:

Não estava tão péssima, mas melhore a aparência da próxima vez se quiser garantir o seu emprego. Tinha a aparência de vômito.

P.S.: Limpe a biblioteca. Está suja.

Ricardo.

–Não acredito! É muito grosso e estúpido. Quando não ofende por voz ofende por escrita. E aquela sala eu limpei ontem. Esse cara tem toc e mania de limpeza!

***

Já era noite quando terminei tudo e pude me recolher em meu quarto. Estava quebrada. Além de ter que limpar, novamente, a biblioteca, ainda tive que encerar o chão da sala. Como minhas costas doem. Queria poder ouvir uma música, mas, como uma das regras, não posso sem ser com o fone de ouvido e, desgraçadamente, o meu quebrou. Depois das 9 da noite o Animalzinho não quer barulho nenhum na casa. Mas ele pode chegar batendo as portas e quase derrubando tudo sem se importar se já estamos dormindo ou não. Só na noite passada eu acordei duas vezes com a estupideza dele em bater portas e janelas. Ele não é nem um pouco delicado e, realmente, faz jus ao apelido: Animal.

Já que não tenho música, estou sem sono e aqui não pega internet, vou ver se arrumo algo pra ler naquela biblioteca que já cansei de limpar. Deve ter algum livro bom que me distraia.

Depois de muito procurar, achei um livro que sempre tive vontade de ler e que sempre me faltou grana para comprar: Don Quixote. E a edição ainda em capa dura. Acho que posso pegar emprestado e devolver amanhã. Ele nem vai notar já que a única função disso aqui é acumular poeira.

–Já não era pra senhorita ter se recolhido?

Eu ouvi aquela voz irritante atrás de mim e ele me pegou no flagra com o livro na mão.

–Me desculpe, mas, já que o senhor não me permite ouvir música, eu vim ver se havia algo para ler.

Dessa vez ele me mata. Ele apenas olhou para o livro em minhas mãos e com aquele olhar intrigante que não sei se é de ódio.

–Don Quixote não é bom para iniciantes. A linguagem é rebuscada demais. Tente algo menos desafiador. Sherlock Holmes tem uma linguagem mais simples. –Falou antes de se sentar na poltrona. Ele está realmente achando que não tenho intelecto para ler Don Quixote?

–Acho que perdi a vontade de ler. Você já julgou que meu intelecto não é capaz de decifrar essa linguagem rebuscada. –Falei, com ironia, coloquei o livro no lugar, sai de lá e voltei para o meu quarto.

***

Já devia passar das 10 da noite quando escutei uma leve batida na minha porta. Me levantei e fui ver quem era. Só encontrei um livro e um bilhete. Pela letra, já sei bem de quem é. Não estou gostando dessa mania de bilhetes. Acho que prefiro ser insultada na cara, ao menos consigo revidar.

Já que quer tanto ler Don Quixote, comece com essa releitura em quadrinhos. É mais simples. Se entender bem, vá para a obra original, mas pegue um dicionário junto. Com certeza haverá palavras que não entenderá.

P.S.: Lave as mãos antes de ler. Meus livros são limpos e impecáveis e quero que continuem assim.

Ricardo.

Dessa vez ele passou dos limites. Ele acha que não sei interpretar um livro ou que sou uma criança para ler quadrinhos? E essa de lavar as mãos? Posso trabalhar com sujeira, limpando as coisas, mas sou limpinha. Pena eu estar precisando desse emprego e do dinheiro. Como queria fazer ele comer, página por página, desses quadrinhos.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Opiniões?
Abraços e até o próximo.