Thalia.

Thalia não esperava passar a tarde inteira num shopping, mas foi o que aconteceu. Sabia que deveria comprar seu vestido para o baile de Outono – que, aliás, seria dali há dois dias –, mas fazer compras não era o seu forte.

As amigas adoravam fazer compras, embora já tivessem roupas suficientes por 3 anos, mas Thalia não ligava. Na verdade, sua parte favorita do shopping era a praça de alimentação, onde comeria um grande sanduíche de 30cm do subway.

Ah, isso sim é diversão!, pensou.

Voltou à loja quando ouviu Annabeth a chamar. Foi até a loira, que examinava as araras da loja de vestidos de baile, e esta sorriu para ela.

– Thals, olha esse daqui! – e entregou um vestido azul para a morena.

Thalia arregalou os olhos, colocou o vestido na frente do corpo e se olhou no espelho.

Era perfeito.

Era um vestido azul escuro, talvez azul royal, de um tecido leve e fino que era pura maciez. Era justo até o busto, e a saia era larga e comprida. Entre o busto e a cintura, pedras prateadas - talvez strass, talvez cristais – estavam colocadas de um jeito que parecia que alguém as tivesse jogado de qualquer jeito no vestido, mas elas continuavam lá.

Parece uma estrela, ela notou.

Annabeth abriu um sorriso largo e deu alguns pulinhos.

– Ele é lindo, não? Você vai comprar ele, não vai? Ele combina tanto com a sua pele, Thals!

Ela fez uma careta. Nunca entendeu esses comentários de "combina com sua pele" ou " combina com seus olhos". Se as pessoas queriam usar algo que combinasse, usassem preto, oras. Não era preto a cor que combina com tudo?

Mas ela tinha que admitir: o vestido era lindo. O azul royal realmente combinava com sua pele e ficava perfeito nela. Ela se imaginou usando o vestido e abriu um sorriso mínimo.

– Eu também acho, Annie, mas ele deve ser muito caro. Imagine só um vestido assim, deve custar 1.000 dólares!

Ela encarou Thalia, com um olhar repreensivo. Depois, tirou o vestido da frente do corpo da amiga.

– Eu vou te oferecer uma proposta. – ela disse, os olhos cinzas tempestuosos. Thalia sabia o quão persuasiva Annabeth podia ser quando queria, e esperava que não caísse em seus encantos. – Você pode deixar este vestido de lado e procurar outro mais barato, mas vai ver que não vai gostar de nenhum; ou você deixa de ser orgulhosa e me deixa pagar pelo menos, um terço deste vestido e fica feliz. E aí?

Ela suspirou, cansada. Sabia que Annabeth estava certa, mas não queria gastar muito dinheiro em futilidades.

– E além do mais... – ela sussurrou em seu ouvido, a voz persuasiva como a de uma sereia – pense em Leo. Como ele se sentiria se visse você com este vestido?

Droga. Thalia não queria pensar em Leo. Era um dia de garotas, devia ser dedicado apenas para elas. Ela queria comprar um vestido para si mesma, não para Leo, mas era quase impossível deixar de imaginar o que ele pensaria sobre ela.

É, bem-vinda ao mundo das mulheres, pensou ela.

– Vamos fazer assim, – começou a loira – você vai lá e prova o vestido. Vai ser o mesmo esquema: eu vou te ajudar a pagar, mas você só vai leva-lo se todas as garotas aprovarem, inclusive você. Okay?

Ela suspirou.

– Annabeth... você sabe que eu não posso discutir com você.

A loira abriu um sorriso orgulhoso. Thalia sabia que havia inflado seu ego ainda mais.

– Tudo bem, agora vá lá! – ela a empurrou para um dos provadores, onde Thalia se trocou.

Ela encarou seu reflexo no espelho e se surpreendeu. Ficou ainda mais perfeito do que imaginara. Ela experimentou várias posições diferentes, mas gostou de si mesma em todas. Por fim, suspirou. Estava derrotada.

Ela saiu do provador, esperando o pior. Como previra, aconteceu: as garotas adoraram. Piper soltou gritinhos, Katie e Hazel bateram palmas e Annabeth deu pulinhos alegres. Ela pôde sentir o olhar invejoso de Calipso, prima de Katie, e se sentiu bem com isso. Não ia com a cara da morena.

– Está perfeito, Thals! – a loira exclamou – Você tem que comprar!

Ela suspirou e passou as mãos pela saia do vestido, alisando-o.

– Como irmã de seu par no baile, – começou Piper, antes que Thalia pudesse dizer algo. – eu tenho certeza de que Leo vai amar!

As garotas soltaram mais gritinhos agudos sem motivo algum, pelo o que Thalia achava. Ela viu Calipso fechar ainda mais a cara e sorriu para ela. Não entendia o porquê dela estar com tanta inveja, mas não deixaria passar batido. Afinal, ela era Thalia Grace, e Thalia Grace não levava desaforos para casa.

– Tudo bem. – ela disse – Eu vou levar.

As garotas soltaram ainda mais gritos de comemoração e mandaram ela tirar o vestido para elas passarem no caixa. Ela entrou no provador e recolocou a camiseta de mangas compridas do Batman, a calça rasgada e os all stars pretos. O cabelo azul e preto estava preso numa trança que mostrava os dois lados, já que ele só era azul na nuca.

Ela saiu o provador bem a tempo das garotas chegarem à fila do caixa. Ela entregou o vestido e a moça o registrou. Annabeth tirou três notas de 100 do bolso e entregou para a moça.

– Annabeth... – Thalia começou.

– Cala a boca, Thalia. Eu avisei que eu ia ajudar a pagar, e além do mais, é para um bem maior. – ela piscou para Thalia e a morena sentiu seu rosto queimar.

Droga de loira esperta!

Elas saíram da loja e passaram a tarde juntas, comprando sapatos e comendo (o que Thalia admirou) e quando ela voltou para casa, já eram sete horas da noite.

Thalia se despediu de Annabeth e fechou a porta de casa. Ouviu Hera gritar alguma coisa que ela não deu a mínima e os resmungos de seu pai. Ouviu passos fortes e Zeus Grace apareceu no topo da escada.

– Onde você estava? – ele perguntou.

– No shopping, com Annabeth e as meninas. Eu avisei vocês.

– Ah. – ele só disse isto. Deu meia volta e retornou ao seu quarto ou escritório, ou sei lá onde mais estaria.

Thalia suspirou e passou a mão pelos cabelos. Zeus era sempre tão aéreo quando o assunto eram os filhos, que ele mal devia saber quantos anos tinham. Para ele era só trabalho, trabalho e trabalho, e compensava Hera com vários cartões de crédito e roupas sem limite de preço. Mas os filhos? Ele deixava-os crescer sozinhos. Thalia gostava da liberdade que ela tinha, mas sentia falta do amor do pai. Será que ele não teria tempo algum para cuidar dos filhos? Ele era tão requisitado assim no trabalho para não dar atenção à família?

Ela deixou os pensamentos de lado quando subiu as escadas. Quando chegou ao corredor, se perguntou se Leo ainda estaria ali e onde diabos seu irmão se metera. Ainda com a sacola com o vestido, o sapato e os acessórios nos braços, ela bateu à porta do quarto de Jason.

Sem sinal.

Resolveu abri-la, e a cena foi cômica.

Jason estava largado em sua cama, com uma caneta na boca. Ele dormia profundamente e filetes de baba escorriam por seu queixo. O rosto estava perto de um dos pés de Leo, que estava só de meias e dormia na mesma cama que ele, mas com os pés na cabeceira.

Thalia não conseguiu resistir: pegou o celular e tirou uma foto. Porém, ela se esqueceu de tirar o flash e Leo logo abriu os olhos. Ele encarou Thalia, confuso, e logo percebeu o que estava ocorrendo. O garoto fechou os olhos e resmungou.

– Thauli mwi duaeyhx duuieimir.... – a voz soou abafada pelo colchão, então ela não entendeu nada. A garota se aproximou mais e agachou-se ao lado de Leo.

– O que você disse? – perguntou, segurando o riso.

Ele levantou a cabeça, e mesmo sonolento, abriu um sorriso malicioso e pegou Thalia pelos braços.

Ela nunca poderia imaginar que Leo era forte o suficiente para carrega-la e joga-la na cama junto a ele, mas foi o que ele fez.

Ela caiu com o tronco acima de Jason e as coxas na barriga de Leo, e levou alguns segundos para assimilar o que havia ocorrido. Finalmente, conseguiu voltar à realidade e riu. Leo a acompanhou, e logo os dois caíram nas gargalhadas. Eles conseguiram acordar Jason de seu sono profundo, que se mostrou confuso.

– O que vocês estão fazendo aqui? Por que eu estou abraçado com as pernas do Leo? Por que vocês estão rindo? Por que estamos todos na mesma cama?

Isso só fez os dois rirem mais, o que deixou Jason mais confuso. Thalia não conseguia se levantar, sua barriga doía.

– Leo... – ela disse, entre risos – me ajuda, eu não consigo levantar.

Ele riu da desgraça de Thalia, que tentou o encarar com olhar reprovador, mas ela não conseguia segurar o riso. Após mais alguns segundos de riso, ele jogou as pernas de Thalia (que ainda estavam em sua barriga) e levantou-se da cama. Ele puxou a garota com força, e ela teria caído se ele não a tivesse segurado.

Jason continuava confuso, encarando os dois de modo estranho.

– Tudo bem. – ele disse, por fim - Eu vou tomar um banho. Thalia, quando vocês acabarem de se paquerar, leva o Leo até a porta para mim, ok? – e dito isto, ele entrou no banheiro.

Ela sentiu o rosto esquentar, mas sabia que não devia levar a sério as provocações do irmão.

Leo abriu um sorriso, embora o rosto estivesse um tanto corado.

– Eu já vou, Thals. Fiquei muito tempo aqui e já terminei o trabalho. Mas, ei, o baile é daqui há dois dias. Se anima, ok? – ele disse, enquanto passava o braço pelos ombros de Thalia. Ela já se acostumara com esta mania, e passara a adorá-la. Não era mais algo que a deixava constrangida com a proximidade; eles eram melhores amigos agora.

Ela arqueou a sobrancelha.

– Você parece estar mais animado do que eu. É só por causa da minha companhia? – brincou.

– Ha-ha. – ele ironizou, já do lado de fora da casa – Na verdade, Thals, – ele a encarou. Era para demonstrar malícia, mas Thalia sentiu algo a mais sob o olhar. Algo mais... verdadeiro. – eu estou louco para te ver de vestido.

E dito isto, saiu do lugar.