Leo.

O dia amanheceu frio, assim como o humor de Leo. Ele sentou-se em sua cama e passou as mãos no cabelo encaracolado, lembrando-se dos acontecimentos da noite anterior, porém, preferiu não lembrar mais. Esvaziou a mente e tomou um longo banho quente: não conseguia tomar banhos curtos ou gelados, principalmente no frio que fazia naquele dia.
Ele suspirou e se vestiu rapidamente: uma calça jeans, camiseta laranja e casaco cinza estofado por cima das roupas. Ele bateu na porta do quarto de Piper, mas a meia-irmã já estava lá em baixo. Ela sorriu quando viu Leo e deu-lhe um abraço.
– Bom dia, garoto dos reparos! – ela exclamou.
– Bom dia, Pipes. – Leo sentiu sua cabeça doer, voltara para casa tarde após o trabalho de garçom. A dor de cabeça se devia a algo mais, mas ele não quis se lembrar.
Ele terminou seu café da manhã com Piper, pois seus pais não estavam em casa. Era assim com os dois: Afrodite, a mãe de Piper, era uma modelo famosa e Hefesto, pai de Leo, mecânico super respeitado. Porém, nada disso importava se os dois mal falavam com os filhos.
Leo seguiu Piper para fora de sua casa e entrou no carro branco da irmã. Ela ligou o rádio e estava tocando algo como Justin Bieber, músico que Piper admirava, e deu a partida. Quando chegaram na escola, passearam pelos corredores do local, sentindo falta de tal ambiente familiar.
– Piper, Leo!!! – ele ouviu uma voz conhecida gritar. De fato, era Annabeth.
A garota era alta e bronzeada, tinha corpo atlético e dotava de longos cabelos loiros encaracolados que emolduravam seu rosto e chegavam até suas costas. Os olhos cinzentos combinavam perfeitamente com os verdes de seu namorado, Percy Jackson. Percy também era alto e bronzeado, de corpo atlético. Tinha cabelos negros e olhos verde-mar; surfista e participava do clube de natação, era o oposto da namorada nerd e presidente do clube do livro.
Logo, foi reconhecendo outros rostos familiares: Katie Gardner e seu quase-namorado, Travis Stoll; Nico di Angelo, solitário como sempre; Hazel Levesque e Frank Zhang, namorados e melhores-amigos.
Ele abriu um sorriso ao ver seus amigos e abraçou Annabeth e Percy com força. Sentira falta dos amigos.
– Leo, você vai amar Jason e Thalia. Sério, eles são...
Mas Leo não prestou atenção mais na loira quando ouviu a palavra “Thalia”. Ele assentiu com a cabeça e sentiu uma tontura súbita. Abriu seu armário e enfiou a cabeça lá dentro, lembrando-se do que acontecera na noite anterior.
Ele conhecera a garota mais bonita que já havia visto em toda a sua vida, flertara com ela e ela o dispensara como lixo. Mas também, o que que ele podia esperar? Leo era só um garçom, deveria saber que garotas lindas e ricas como ela não gostavam do seu tipo, vocês sabem, o tipo fracassado e magricela.
Ele ainda se lembrava de seus olhos azuis elétricos, da boca carnuda e das sardas salpicadas no nariz arrebitado. O cabelo negro estava trançado e algumas mechas azuis eram notadas. O corpo era perfeito: era magra, mas não anoréxica, e sim na medida certa. Ele sentira cheiro de morangos nas três vezes que se aproximara dela, e seu nome era o mais lindo: Thalia.
Quando ouviu Annabeth dizer aquelas palavras, sentiu-se tonto. Mas é claro, quem não se sentiria? Ele sabia que havia várias Thalia’s no mundo, e provavelmente não era a mesma garota. Mas no que importava? O nome não seria mais bonito em outra pessoa, só nela.
Droga! Esta garota o estava deixando doido. Ele deveria parar de pensar nela, isso sim, e não se impressionar com qualquer uma que visse na rua.
Mas o problema é que ela não era qualquer uma.
Ele escutou o tom de voz de Annabeth aumentar e teve certeza de que ela estava falando com alguém mais. Porém, quando escutou o nome de Thalia, ele teve de se virar.
E se surpreendeu.
Era ela, a garota da pizzaria, e ela estava olhando para ele, como se estivesse tão surpresa quanto o mesmo. Ela o surpreendeu ainda mais e abriu um sorriso. Leo fez o mesmo.
Era impressão dele ou ela ficava ainda mais bonita ainda sem maquiagem?
– Este é Leo, Thalia... hã... vocês já se conhecem? – perguntou a loira.
– O quê? Ah, não, não... claro que não! – ela continuava sorrindo, e Leo fazia o mesmo. Hazel o encarou com malícia, mas ele não se importou. A garota à sua frente era o que havia de mais extraordinário ali.
***
O tempo passou e Leo só conseguia pensar em Thalia. Ela tinha um sorriso lindo e o rosto mais belo do mundo. Quando o sinal bateu, ele arrumou suas coisas e correu para o vestiário. Era aula de educação física e ele tinha que se trocar. Pôs uma regata preta, bermuda e tênis de corrida; quando saiu do vestiário e foi para a quadra, ele a avistou.
Thalia estava linda: usava uma bermuda roxa de galáxia, uma regata preta do AC/DC e tênis de corrida. O cabelo ainda estava preso num coque e ela estava com cara de tédio.
Ele riu e sentou-se na arquibancada, assim como o resto dos alunos. Quando o treinador Hedge chegou, mandou todos se sentarem no centro da quadra para iniciarem o alongamento. Leo avistou Thalia sentada em um canto e apareceu em seu lado.
– Então, – ele começou – seu nome é Thalia, tem 16 anos e costuma esquecer sua bolsa em restaurantes, sem contar que tem uma queda por garçons gatos. Isso é tudo?
Ela jogou a cabeça para trás e gargalhou.
– Meu nome é Thalia Grace, tenho 16 anos e costumo esquecer minha bolsa em restaurantes.
– Mas e o garçom gato? – perguntou.
– Não vi nenhum.
– Ouch! – ela riu – Você é sempre tão má com pessoas bonitas?
– Não, só com convencidas. – ela sorriu – E você é Leo, tem 16 anos e se acha um garçom gato. Acertei?
– Eu não me acho, eu tenho certeza – ela riu e Leo estendeu a mão para ela se levantar – Vamos?
– Para onde?
– A aula já começou, temos que correr.
Com o tempo, Leo percebeu que Thalia não era apenas uma garota bonita, e sim divertida, engraçada e um pouco grossa. Ele gostava de arrancar sorrisos dela com suas cantadas, mas a aula deixou de ser tão divertida quando ele se cansou e perdeu o fôlego.
– Ei, quer ver uma coisa legal? – perguntou Thalia, que parecia tão cansada quanto ele.
– O quê?
Ela sorriu, soltou um grito de dor e se lançou no chão. O treinador Hedge saiu correndo até ela e Leo a encarou, preocupado, mas entendeu o joguinho quando recebeu uma piscadela desta.
– O que aconteceu? – o treinador perguntou.
– Eu não sei. – ela fez uma careta de dor – Eu estava correndo quando senti uma pontada de dor nas costelas e de repente caí aqui no chão...
– Sei. – ele pareceu desconfiar, mas não disse nada – Valdez, leve-a à enfermaria.
– Si-sim, treinador.
Leo se abaixou e Thalia passou o braço por seus ombros. Ele segurou em sua cintura e os dois saíram do lugar. No corredor, ela sorriu e se livrou do garoto.
– E aí, te poupei de uma aula chata em que as pessoas só suam o tempo inteiro?
Ele sorriu.
– Com certeza.
Os dois andaram até o armário de Thalia, onde ela pegou a mesma bolsa preta da noite anterior e um molho de chaves. Depois, ela pegou em sua mão e o levou até os portões principais, os destrancou e partiu para um carro preto.
– Onde arrumou as chaves da escola? – perguntou.
– Roubei do diretor. – ele riu.
Thalia deu a partida no carro e os dois saíram da escola.
– Para onde vamos? – perguntou.
– Vamos para a minha casa. Não se preocupa, a Zeuza tá trabalhando e minha madrasta deve estar dando a... – ela parou ao ver o olhar de Leo e riu – é brincadeira, Hera está no shopping.
– Como sabe disso? – perguntou.
– Não é a primeira vez que mato aula.
Eles chegaram à casa de Thalia, e Leo se surpreendeu. Era uma casa branca enorme, de três andares e um jardim cheio de flores. A garota abriu os portões e a porta de entrada e Leo se deparou com uma sala ampla de decoração fina.
– Vem, você pode usar as roupas do Jay.
Thalia o levou para o segundo andar, onde ele encontrou um corredor amplo com duas portas, e outro corredor no fim daquele corredor.
– Lá fica o quarto dos meus pais e os de hóspedes. O quarto do Jay é este.
Ela abriu uma porta simples de madeira e revelou um quarto de paredes brancas com prateleiras cheias de troféus de futebol americano e porta-retratos. Ele viu Jason e uma garota morena com os cabelos trançados e outras fotos mais. Ele viu Thalia e Jason quando pequenos e uma foto mais recente, que mostrava Thalia de cabelos curtos e Jason de óculos de leitura.
Thalia jogou algumas roupas para ele, mandou-o se trocar e avisou que iria se trocar no banheiro de seu quarto e que quando ele estivesse pronto, era só entrar e espera-la. Leo terminou de se vestir e entrou no quarto de Thalia.
Era um quarto de paredes cinzas e decoradas por pôsteres de bandas de rock e desenhos em preto e branco. Haviam prateleiras cobertas de livros e CD’s e sua cama estava com as cobertas emboladas e roupas jogadas nela. O armário estava aberto e suas portas eram preenchidas por diversas fotos. Ele pôde ver Thalia com um garoto loiro de cicatriz, Thalia com Annabeth e Percy, Thalia com Jason e Thalia com diversas pessoas mais.
Neste momento, a porta do banheiro foi aberta e Thalia saiu. Ela trajava um moletom preto com os dizeres “eyeliner darker than my heart”, um shorts de galáxia minúsculo e UGGs cinzas. O cabelo, antes preso, caía em cascatas pelo rosto e ela sorria daquele jeito que só ela sabia sorrir.
– Você está com cara de playboy com estas roupas, Valdez. – ela riu e ele também – mas tudo bem, eu já liguei para o Jason e inventei uma desculpa para ele contar para as pessoas.
– O que você disse?
– Que minha madrasta foi assaltada e desmaiou. – ele riu.
– Mas então... o que vamos fazer por enquanto?
Ela sorriu e lançou-lhe um controle de videogame.
***
Quando a madrasta de Thalia chegou, os dois pularam a janela e caíram num arbusto de flores, mas continuaram correndo. Thalia ligou o carro e dirigiu até a escola. Os dois chegaram bem a tempo do sinal da última aula tocar e viram os primeiros alunos saírem correndo do local. Quando avistaram os amigos, acenaram e pularam e logo estavam todos reunidos.
– Onde vocês estavam? – perguntou Annabeth. – A gente procurou vocês por toda a parte!
– Nós só matamos aula, – Thalia disse – nada demais.
Todos riram da cara de Annabeth, principalmente Leo.
– Mas desde quando vocês dois têm intimidade o suficiente para bolar aula? – perguntou Piper, e Leo quis esganá-la.
– E precisa ter intimidade para bolar aula? – Thalia questionou – Não sabia que era regra.
– Não, mas... vocês se conheceram hoje e já estão bolando aula?
– É. Mais simples do que parece, não?
Piper revirou os olhos e deu tchau para seus amigos, em seguida chamou Leo para ir para casa. Ele sorriu para Thalia e bagunçou seus cabelos, deixando-a de mau humor; em seguida, deu tchau para os amigos e partiu.
No caminho para casa, só pode pensar em uma coisa para preencher sua mente: os olhos azuis de uma certa garota.