No Mundo Das Séries escrita por Biah Costa


Capítulo 27
Diminuir O Barulho


Notas iniciais do capítulo

Prontas para ficarem tristes??
Enjoy!
PS.: Obrigada pelos comentários ♥



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As semanas começaram a passar rapidamente. Meus pesadelos continuaram frequentes. Todos eles sempre continham a mesma mulher. Eu. Era sempre uma versão de mim com os olhos vermelhos e um vestido de fogo. Sempre havia terror e medo. Sempre.

Steve passou a dormir comigo sempre, mesmo que nenhum de nós conseguíssemos dormir. A cada pesadelo, o quarto tremia. Eu quebrava várias coisas e, algumas vezes, cheguei a machucar Sam, Rhodes e Natasha.

Wanda tinha o mesmo problema que o meu, mas em menores escalas. Ela também não conseguia controlar os seus poderes e acho que foi isso que mais nos aproximou. Apesar de não mover a base de lugar, ela fazia pequenos tremores quando sonhava com seu irmão.

Passei a parar de participar das missões. Falei para Steve que eu ajudaria mais do lado de dentro do que do lado de fora e ele, por causa do meu estado, concordou. Quando havia alguma missão, eu ficava na base apenas observando o perímetro através dos computadores e indicando aonde haviam inimigos.

Não treinava mais os Vingadores. Aquela missão se tornou responsabilidade de Natasha e Steve, os únicos Vingadores originais, além de mim, que haviam sobrado. As coisas estavam ruins para mim. Eu não conseguia dormir.

Mas, elas pioraram. Acho que uma das coisas que mais me magoou foi o que aconteceu após uma missão dos Vingadores. Eu estava assistindo televisão no sofá, quando eles chegaram. A missão havia sido frustrada, por isso, todos estavam estressados.

Steve passou por mim como se eu nem estivesse lá e foi diretamente para o seu quarto. Ele bateu a porta tão forte que me assustei. Olhei para Wanda que deu de ombros. Levantei-me e fui em direção ao quarto dele. Respirei fundo antes de bater na porta.

Então bati e entrei. Steve observava a noite através de sua janela. Ele ainda usava o seu uniforme com seu escudo em suas costas. Suspirei. Fechei a porta atrás de mim usando meus poderes e fiquei parada no meio do quarto, esperando que ele me notasse. Mas ele não me notou.

— O que houve? – Perguntei, cruzando os braços.

— Quase perdemos o Sam hoje – sua voz estava áspera. – E você não estava lá.

Ele não me olhou. Ele não teve coragem de falar aquilo na minha cara. Fiquei chocada, mas brava também.

— Então foi culpa minha? – Perguntei, com raiva.

— Você deveria estar lá – ele não me respondeu.

— Você não tem o direito de falar isso – senti meus olhos marejarem.

— Você é uma vingadora! – Ele gritou, olhando para mim. – Deveria agir como tal!

Seu rosto estava vermelho de raiva. Fiquei apavorada. Nunca havia visto Steve daquele jeito. Tão bruto... tão... cruel.

— Eu não consigo dormir, ok?! – Gritei de volta - Minha mente não desliga! Eu só quero diminuir o barulho! Eu preciso diminuir o barulho... – comecei a chorar baixinho.

Mas ele não veio até mim, para me consolar. Ele se virou de costas e ficou em silêncio por um tempo. As minhas lágrimas pareciam não querer cessar. Por que ele estava sendo tão cruel comigo? Por que ele não conseguia entender?

— Me desculpe – ele disse, sem me olhar. – Você tem razão. Eu não tenho o direito de falar isso. Eu só... estou muito estressado.

— E você acha que eu não estou? – Perguntei. Já não me importava mais em segurar o choro. – Eu perdi a minha família, meus amigos, meu mundo e tudo com o que eu me importava. Eu tenho algo ruim crescendo dentro de mim. Eu não consigo nem controlar os meus poderes! – Gritei. – Eu sou uma ameaça à segurança de todo mundo! Pelo menos olhe para mim!

Ele se virou para mim. Uma lágrima escorria em seu rosto.

— Eu perdi tudo... – disse, olhando para o chão. A dor em minha voz era palpável.

— Esse é o problema – ele disse, com amargura. – Você diz que perdeu tudo, mas você tem a mim. Sei que não sou a sua família, nem o seu mundo, mas... eu sinto que só existo em metade da sua vida. E isso não é o suficiente para mim.

Olhei para ele.

— O que isso quer dizer?

— Talvez nós devêssemos terminar – ele impôs.

Senti algo dentro de mim quebrar. Ouvi algo dentro de mim quebrar. Tinha quase certeza de que era o meu coração. Não sabia como responder àquilo. Não sabia nem se deveria responder.

— É isso o que você quer? – Perguntei, enxugando minhas lágrimas.

— Você me ama? – Ele perguntou.

— Não mais do que amo o meu mundo – respondi, sinceramente.

— Sim – a dor em sua voz era notável. – É o que eu quero.

— Tudo bem – respondi.

Sai de seu quarto e fui diretamente para o meu quarto. Pode parecer clichê, mas começou a chover. E, enquanto a chuva batia na minha janela, naquele dia de julho, as lágrimas desciam em meu rosto. Seria uma noite longa. E eu não conseguiria dormir.

(...)

No dia seguinte, não sai de meu quarto. Não sei se conseguiria encarar Steve ou qualquer um. Mas aquilo não impediu Wanda de ir até o meu quarto na madrugada. Ela bateu na porta por algum tempo e, quando viu que não haveria resposta, não desistiu.

— Lucy, eu sei o que aconteceu. E eu sei que você não quer um amigo agora, mas isso não significa que seus amigos não precisam de você. Por favor, eu não quero ficar sozinha – ela pediu.

Sabia que ela também não conseguia dormir. As lembranças de seu irmão a faziam chorar toda noite. E seus poderes não a davam descanso. Por isso, usei meus poderes para abrir a porta. Ela entrou e depois a fechou. Então se sentou nos pés da minha cama e ficou observando o chão.

— Como você está? – Ela perguntou.

Recolhi minhas pernas e as abracei.

— Nada bem – suspirei. – Mas vou sobreviver. E você?

— O de sempre – ela também suspirou.

Dei uma risada seca, sem vontade. Ela me olhou e arqueou uma sobrancelha.

— Sabe, quando eu cheguei neste mundo... – comecei.

— Espera, como assim “quando cheguei nesse mundo”? – Ela me interrompeu.

Então expliquei para ela que eu era de outro universo. Um universo onde super-heróis eram apenas personagens de histórias em quadrinhos. Ela ficou surpresa com tudo, mas pediu que eu continuasse.

— Quando eu cheguei neste mundo, eu fiquei empolgada. Sempre quis fazer parte de uma aventura assim, sabe? – Sorri triste. – Agora, eu sinto tanta falta da minha família, dos meus amigos que eu terminei o meu relacionamento por causa deles.

— O seu mundo é diferente deste? – Ela perguntou.

— Em partes. Temos as mesmas tragédias. A Segunda Guerra, os nazistas, as bombas no Japão, o onze de setembro... Mas nós não temos super-heróis que inspiram, que estão lá para salvar o dia. É um tanto triste – suspirei.

— Às vezes eu queria nunca ter aceitado aquela proposta de Strucker – ela olhou para o chão. – Pietro ainda estaria aqui. As coisas seriam mais fáceis...

— Talvez se você não tivesse aceitado, as baixas em Sokovia tivessem sido maiores – eu disse, fazendo ela olhar para mim. – Você não pode fugir da sua vida. Ela é uma dádiva. Tem que aceita-la, não importa o quão bagunçada ela seja.

Ela sorriu para mim.

— Isso foi poético – ela disse.

— Foi sim – sorri. – É o que eu repito para mim todos os dias.

Ela suspirou. Só nós duas sabíamos o quanto estava sendo difícil passar por tudo aquilo.

— Por que vocês terminaram? – Ela perguntou, tocando no assunto.

— Porque ele queria que eu escolhesse entre o meu mundo e ele. Por mais que eu goste muito dele, eu amo a minha família, o meu mundo. Ele não tinha o direito de me pedir isso – senti meus olhos marejarem de novo. – Mas não quero falar sobre isso – respirei fundo. – Que tal assistirmos à um filme?

Ela sorriu.

— Vou fazer a pipoca, escolha o filme – ela disse e saiu do quarto.

Wanda era uma pessoa legal. Mesmo que os meus pesadelos fossem, na maior parte, culpa dela, eu sabia que ela nunca teria feito aquilo se não estivesse com sede de vingança.

Então, quando ela voltou com a pipoca, fechamos a porta e colocamos uma comédia romântica. Nós duas demos risadas a noite inteira e não dormimos. Nem tentamos, porque sabíamos que seria em vão. Mas pelo menos, não estávamos mais sozinhas.

(...)

Na noite seguinte, Wanda não veio até o meu quarto. Não fiquei chateada porque precisava de um tempo sozinha. Precisava fazer uma ligação, mesmo que ninguém me atendesse. Eu precisava daquilo. Precisava ouvir a voz de Oliver.

Então, peguei o telefone e disquei os números. Mas não foi Oliver quem atendeu, foi Felicity.

— Alô? – Ela disse.

— Oi... O Oliver está? – Perguntei, meio chateada.

— Lucy? Desculpa, não dá para falar agora – ela falou rapidamente. – Te retorno outra hora.

Então desligou o celular. Tive que conter minha vontade de chorar. Tive que conter minha vontade de ir até Steve e beija-lo como se não houvesse amanhã. Contentei-me em ficar apenas deitada na minha cama, me revirando de um lado para o outro, sem conseguir dormir pela quarta noite seguinte.

Mas, por um deslize, deixei que meus olhos se fechassem. Acho que aquele foi um dos piores pesadelos que eu tive.

Eu estava em um deserto. A areia queimava os meus pés. O céu estava vermelho. O vento era forte e fazia meu cabelo voar. Minhas vestes eram as mesmas de sempre: um vestido branco. Eu olhei para todos os lados, tentando achar alguém, mas estava sozinha.

Eu comecei a correr, tentando encontrar alguém ou alguma coisa. Uma voz sussurrava na minha mente “você matou todos”. E quanto mais eu corria, mais desesperada eu ficava. Então, uma águia de fogo cruzou o céu, fazendo um barulho ensurdecedor. A águia voava em cima de mim. Olhei para o céu e vi ela de asas abertas. Olhei novamente para a terra e já não estava mais no deserto. Estava de frente para Thor.

Ele segurava seu martelo e o girava, como se estivesse se preparando para lutar. Ele girou o martelo e o atirou em mim, mas eu o parei no ar e o virei contra ele. Eu não queria lutar contra Thor, mas estava lutando. Com o impacto de seu martelo, Thor voou longe. Aos poucos, o cenário se mostrava ser Asgard. Estávamos no grande palácio, lutando entre as colunas. Meu vestido branco, logo se tornou vermelho alaranjado. E, ao invés de um vestido, era uma armadura naquele momento.

Thor se recuperou e voltou a me atacar. Mas eu peguei uma faca e enfiei em sua barriga, matando-o.

— O grande deus do trovão – a outra eu, a mulher que sempre aparecia em meus sonhos, disse, ao meu lado – agora está morto.

Thor caiu aos meus pés e aquilo me fez sentir bem. Fez com que eu me sentisse poderosa.

— Nós gostamos disso, não gostamos? – Ela me perguntou.

— Sim gostamos – concordei.

Conseguia sentir todo aquele poder. Aquilo era incrível. Então comecei a destruir Asgard. Comecei a movimentar cada pilar dentro daquele enorme castelo e o pus abaixo. Foi quando ouvi Steve chamar pelo meu nome.

Eu me virei e o vi. Chamas nos separavam. Ele gritava por mim, pedia que eu acordasse, mas eu não conseguia entender. A outra eu disse que eu deveria mata-lo. Então, eu obedeci, porque ela me fazia sentir poderosa. Peguei Steve pelo pescoço e comecei a estrangulá-lo com meus poderes.

— Acabe logo com isso, desintegre-o – a outra eu disse.

— Vou matar ele. Então matarei cada um dos Vingadores, porque eu sou... – Minha voz começou a falhar.

— Acorde – Steve falava, fracamente.

Acordei desesperada. Steve estava na parede de meu quarto e eu o estava matando. Wanda estava ao meu lado, usando seus poderes para me acordar. Todos os Vingadores estavam no quarto, prontos para me matar.

Soltei Steve no chão e levei minha mão para a minha cabeça. O que estava acontecendo comigo?

— Você está bem? – Wanda me perguntou.

Ela era a única que não me olhava como se eu fosse uma aberração. Meu quarto estava destruído.

— O que aconteceu? – Perguntei, ainda assustada.

— Você começou a gritar – Natasha explicou – e nós viemos ver o que estava acontecendo. Steve foi o primeiro a chegar. Quando ele abriu a porta, você estava acordada, destruindo seu quarto. Seus olhos estavam vermelhos, como se estivessem em chamas.

— Você atacou Steve – Sam continuou – e começou a mata-lo. Você disse que iria matar ele e depois mataria cada um dos vingadores.

— Eu tentei te acordar antes, mas você estava me bloqueando – Wanda olhou para mim.

Olhei para Steve, que ainda tentava se levantar. Eu tentava falar alguma coisa, mas as palavras não queriam sair. Eu não sabia o que fazer ou falar. Como explicaria algo como aquilo?

— Me desculpe – sussurrei.

Meus olhos estavam encharcados de lágrimas. Eu andava chorando demais.

(...)

Steve estava com o pescoço enfaixado. Eu havia tirado seu pescoço do lugar enquanto dormia. Eu havia feito um estrago enorme enquanto dormia. Quando passava pelas pessoas que trabalhavam no primeiro andar, elas me olhavam com medo. Não tirava a razão delas. Eu mesma estava com medo do que podia fazer. Por isso, decidi que era a hora de ir embora. Eu já havia ficado tempo demais com os Vingadores. Nada poderia durar para sempre. Eu não tinha motivos para ficar. A única coisa que me prendia ali era o meu relacionamento com Steve. Mas nós já não éramos mais namorados, então eu podia sair a hora que eu quisesse.

Ainda tinha um dinheiro guardado de quando eu trabalhava para a SHIELD. Era dinheiro o suficiente para me manter por muito tempo. Não tive coragem de me despedir de ninguém pessoalmente. Sabia que eles ainda me olhariam assustados, como se eu fosse um monstro. Por isso, deixei uma carta e parti.

Fui para uma cidade na qual ainda não havia tentando a sorte: Central City.


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Notas finais do capítulo

E então? Devo apagar?



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