Just Another Game - Jogos Vorazes escrita por Brooklyn Baby


Capítulo 1
A Colheita


Notas iniciais do capítulo

Diga Olá para Kay ♥ Boa leitura!



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O último som do chamado para a Colheita está sendo dado enquanto caminho pelas ruas do Distrito 4. Matt estava me esperando na esquina da rua principal como disse que estaria. Deste modo, tenho meu melhor amigo de um lado e Kristy do outro agora. Meu amigo está visivelmente nervoso. Não apenas por ele, suponho. Ele tem um irmão mais velho que já não precisa temer a colheita, e três irmãs mais novas. Uma delas, Amy, há um ano de ter seu nome nas urnas de vidro que selecionam os tributos na Colheita. Matt odeia pensar neste dia. Porém, ele terá de assistir a todas elas passarem por isso, sem poder fazer nada á respeito, e torcer para que todos os anos haja alguma Carreirista pronta para tomar o lugar de suas irmãzinhas. Mas no 04, não é sempre assim que funciona. Não há tantos voluntários como no 01 e no 02, por exemplo.

Começo a pensar sobre como o próprio Matt tem tantas vezes seu nome escrito nos papéis daquela urna, devido as tésseras. Meu corpo fica gelado por um breve momento, mas logo me convenço de que esse ano haverá Carreiristas.

Não vou mentir. Também estava bastante nervosa por mim, mas conseguia conter. Pelo menos, era o que eu achava. Kristy, que tinha sua pequena mão envolvida pela minha, perguntou por que eu estava suando. Apenas sorri, e respondi, numa voz rouca:

— Está fazendo muito calor...

Ela tirou seus olhos azuis do meu rosto e colocou-os ao redor, observando todos os pacificadores que enchiam o Distrito na época da Colheita. Eu detestava tudo aquilo. Não era uma grande fã da Capital, e muito menos dos Jogos Vorazes. Minha irmã tem apenas seis anos... Tem mais sorte do que a pobre Amy. Não sabe bem como a Colheita funciona, ainda. E tem muita sorte por isso. Espero que seja mais corajosa do que eu, e espero que não sinta o mesmo medo que eu sinto, ano após ano, toda a vez em que aquele papel é desembrulhado.

Chegamos à praça e deixei Kristy com meu pai, que já estava ali a nos esperar. Me deu um abraço forte, e me deixou com cheiro de peixe. Apesar do dia da Colheita ser algo como um feriado em Panem, as atividades não param nos lugares onde a vista dos pacificadores é falha. De qualquer modo, duvido que a única coisa que meu pai tenha feito durante essa manhã tenha sido trabalhar na peixaria. Seus olhos estavam vermelhos e há algo além do mar em seu odor. Ele não tinha nada para me dizer. Beijo a bochecha de Kriss pela última vez e me afasto. Aceno para Matt.

— Até logo — eu disse, e ele fez que sim com a cabeça.

— Que a sorte esteja sempre ao seu favor — respondeu ele, com um sorriso meio tenso, tentando fingir que estava tudo bem.

Antes que ele se afastasse muito, eu lhe grito:

— Quer ir pescar mais tarde?

Seus olhos azuis, claros e brilhantes me encontram pela ultima vez, e um sorriso verdadeiro aparece. Dou-lhe uma piscadela, e me junto às outras garotas. Dessa vez, eu era aquela que estava tentando fingir que estava tudo bem.

Passo pelas filas onde registro minha presença, e logo estou imersa na multidão. Desta vez, eu realmente tentei ser uma das garotas e estava satisfeita em perceber que havia conseguido. Meus trajes são um vestido azul de um tecido leve e sapatos baixos da mesma cor. Eu me sinto bonita, mesmo que a essa altura meu cabelo solto já esteja uma bagunça desgrenhada pelo vento. Não entendo porque realmente isso deveria ser importante, de qualquer maneira. Porque todas nós queremos estar tão bonitas perto uma das outras, quando nenhuma de nós quer ser sorteada e subir ao palco para encarar as câmeras e, mais tarde, encarar a morte.

Conforme a hora se aproxima, há o anuncio de que a Colheita no 03 teve início. As câmeras e luzes estão sendo ajustadas. Minhas mãos estão suando cada vez mais, e o tecido por cima da minha pele é incapaz de absorver a umidade. Um tempo curto se passou, até que de repente a mulher da Capital sobe ao palco, com um sorriso de orelha a orelha no rosto, e uma maquiagem bastante pesada. Tinha desenhos de ondas azuis delineadas ao lado de seus olhos, em uma clara "homenagem" á nosso Distrito. Sua peruca de corte chanel também era de um azul forte e cintilante, igualzinho a cor de seus sapatos. Eu quis muito que ela despencasse daqueles saltos, mas seu andar fora perfeito até o microfone. Há uma contagem regressiva e a Colheita tem início.

— Olá, moças e rapazes! — diz ela, feliz da vida. — Vamos começar mais uma Colheita. Ansiosos?

Sienna era o nome dela. A figura mutante que sou obrigada a ver desde os 12 anos sobre aquele palco. Ela parece gostar bastante de nosso Distrito, o que não faz a menor diferença. Aposto que minha apatia é compartilhada por todos os garotos e garotas presentes aqui, e também os pais prestes a perderem seus filhos. Permaneço imóvel enquanto o vídeo sobre a rebelião e os Dias Escuros termina.

— Agora, finalmente vamos saber. Quem representara o Distrito 04 na nova edição dos Jogos Vorazes! — anuncia a mulher, dirigindo-se a urna de vidro cheia de papéis. "Graciosamente", se assim posso dizer.

Todo o suspense, o silencio, a respiração presa nas gargantas das meninas ao meu redor, e a minha própria, como se estivéssemos prestes a mergulhar bem fundo no oceano.

— E a tributo feminino do Distrito quatro é... Kaylee Donner!

Todas as respirações são libertadas em forma de suspiros aliviados. Exceto pela minha. Ela continua engasgada e estacada e por um momento eu acredito que não consigo me lembrar como se respira. Posso sentir os olhares sobre mim, mas demoro a me mover. Eu estou me afogando.

— Vamos Kaylee, querida. Venha até aqui. — A mulher chama, e eu me vejo sendo guiada pelos pacificadores, até o palco.

Nenhuma Carreirista. Nenhuma voluntária. Sem escapatória. A tributo feminina do 04 sou eu. Assustada, encaro as lentes das câmeras de TV me atingindo. Olho em volta e reconheço os olhos verdes horrorizados em um telão, que aos poucos, completamente pasma, percebo serem meus. Posso ter uma visão perfeita de Matt e sua expressão é de desalento, como se já pudesse me ver morta. Ouço um choro em meio ao silencio, e não demoro a encontrar minha irmã no colo de meu pai.

Aquilo destrói meu coração. Quero consolá-la, mas os pacificadores apertam meus braços no primeiro sinal de recuo, e me forçam a seguir andando. Subo as escadas. Sienna me puxa pela mão até ficar próxima ao microfone, e me parabeniza. Meu parceiro é sorteado, e eu mal percebo. Parece que houve um voluntário. Não estava escutando nada. Era realmente como se ainda estivesse mergulhada no fundo daquele oceano. Sem visão, audição ou pensamentos perfeitos. Um oceano onde eu ficaria presa para sempre, nunca mais voltaria para ver a superfície.

Um garoto de cabelos castanhos está subindo ao palco. Estou congelada, olhando para todos do meu Distrito. Olhando para meu pai e para Kristy distantes, sabendo que dali a alguns minutos poderia ser a última vez que eu os veria. Aperto a mão do garoto, desejando que Sienna dissesse seu nome novamente, mas isto não acontece. Ela apenas berra, animada:

— Os tributos do Distrito 4 na quadragésima sétima edição dos Jogos Vorazes!

Então os pacificadores me guiam novamente, desta vez, até o Edifício da Justiça, onde tudo o que eu espero é ver Kriss e abraçá-la pelo maior tempo possível antes do pesadelo começar pra valer. Aquele era apenas o começo.


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Notas finais do capítulo

Reviews são sempre bem vindas. Até a próxima!



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