O caminho até a praia foi silencioso. João Lucas preferiu olhar a paisagem pela janela, ainda não sabia o que iria falar e não conseguia puxar nenhum assunto com a amiga. Eduarda o observava discretamente. A certeza que ele não estava bem só ia aumentando dentro dela e sua cabeça não parava de tentar adivinhar sobre o que ele queria conversar. Ela sentia um aperto no coração e isso a afligia cada vez mais.

Só perceberam que haviam chegado porque Antônio os avisou, cada um estava muito distraído em seus pensamentos.

_Espera aqui tá Antônio– Lucas disse e Antônio assentiu com a cabeça.

Os dois saíram do carro sem trocar nenhuma palavra. Eles estavam parados no calçadão perto de um poste público onde o carro estacionara e Eduarda o olhava esperando que ele fizesse alguma coisa, mas ele parecia que estava evitando encara-la.

João Lucas estava criando coragem para pedir desculpas e o constrangimento pela noite anterior o impedia de olhar nos olhos dela, mas ele precisava fazer isso. Ele que ora olhava o chão ora olhava o mar ao longe, respirou fundo e procurou o rosto de Eduarda. A luz amarela do poste público fazia parecer que estivessem saindo chamas do seu cabelo vermelho e ele ficou encantado com aquilo. Ela o olhava e seu olhar era de preocupação então ele respirou fundo para poder falar.

_Du eu quero muito falar com você– ele disse e ela assentiu com a cabeça, o garoto olhou para a praia e a olhou novamente - vamos andar um pouco?

Eduarda só assentiu, não sabia o que falar. João Lucas foi caminhando até a areia da praia e ela o acompanhou. Eles caminharam mais um pouco e João Lucas resolveu sentar na areia um pouco distante do mar e ela fez o mesmo.

A praia não estava deserta, tinha alguns casais andando não muito distante deles e os quiosques estavam movimentados.

Os dois estavam olhando o mar, que estava calmo, a lua cheia parecia que ia toca-lo no horizonte e as estrelas, com o seu brilho intenso, enfeitavam mais ainda aquela noite. Eduarda estava curiosa, mas resolveu não falar nada e esperar ele se pronunciar. João Lucas estava procurando as palavras certas e como não vinha nenhuma resolveu falar o que estava vindo do seu coração.

_Desculpa– ele disse a olhando.

_Pelo que?– Eduarda o olhou.

_Por ter feito você passar por tudo aquilo ontem– ele disse envergonhado.

Eduarda estava sentindo o coração apertado. Ela imaginava o que ele estava sentindo, pois seus pais também já tinham brigado com ela na frente de seus amigos e familiares e ela tinha sentido vergonha, vontade de sumir. Ela pensou que era assim que ele devia estar se sentindo também. Eduarda queria que ele soubesse que ela o entendia.

_Não precisa pedir desculpa– ela disse.

Lucas não entendeu. Ele mesmo não conseguia desculpar-se por fazer tudo sempre errado.

_Claro que preciso Du, eu fiz você presenciar a ira do meu pai– ele soltou o ar dos pulmões - e você ficou assustada, eu sei.

_Mas não precisa pedir desculpa, porque...– ela respirou, precisava falar aquilo – porque eu te entendo.

Lucas a olhou confuso e seu olhar encontrou o dela. Ela estava triste.

_Os meus pais também brigam comigo daquele jeito– Eduarda disse com a voz triste.

João Lucas ficou surpreso, mas achou que ela estava pensando que a familia dele era como todas as outras, tinham brigas, mas acabava todo mundo se entendendo.

_Não deve ser do mesmo jeito Du, os meus pais pegam pesado demais, é sempre daquele jeito que você viu, eu estando bêbado ou não.– Lucas disse triste.

_Comigo é a mesma coisa, eles também pegam muito pesado, eu até imagino como você deve esta se sentindo, eu fico do mesmo jeito– ela disse olhando fixamente para ele.

João Lucas também a olhava fixamente, estava surpreso, não imaginava que ela passasse por aquilo, ela sempre estava tão alegre. Tinha encontrado alguém que o entendia.

_Seus pais também brigam com você daquele jeito?– ele perguntou e ela assentiu com a cabeça, o seu olhar estava triste.

_Eles nunca procuram me entender Lucas, eu sempre tô errada.– ela disse, sentia que ele também a compreendia.

_Comigo também é assim. Eu sou sempre o problema– o garoto disse com o tom de voz triste.

_Não precisa pedir desculpas por ontem não tá, te entendo.– Du disse, ela realmente o entendia.

Lucas estava mais aliviado.

_Obrigado por me entender. Sabe Du, eu nem sempre faço besteira por que quero, as vezes as coisas fogem do meu controle, sabe?– ele estava com o coração angustiado precisava desabafar. Eduarda só assentiu com a cabeça e ele continuou - mas os meus pais nunca procuram me entender, sempre é uma paulada atras da outra. Eu até tentei agradar eles sabe? mas nada do que faço é bom o suficiente. As vezes acho que eles não gostam de mim.

João Lucas nunca tinha dito o que sentia pra ninguém, mas tinha alguma coisa em Eduarda que o fazia conseguir falar sobre os seus sentimentos mais profundos. Ele sentia confiança nela.

Eduarda o ouvia atenta. Ela estava se identificando com cada palavra que ele falava. Nunca tinha imaginado que alguém como ele passasse pelas mesmas situações que ela. Ele era rico, filhinho de papai, podia ter todos aos seus pés. Ela estava realmente surpresa.

_As vezes penso isso também, que meus pais não gostam de mim– Du disse - Comigo foi sempre assim, desde quando eu era só uma criança, sentia que eles me deixavam de lado– a voz dela embargou, ela respirou fundo para não chorar - Ai eu fui crescendo e tudo só foi piorando.

_Também aconteceu isso comigo, meus pais sempre preferiram meus irmãos a mim– Lucas disse, também estava sentindo dificuldade em falar. - Então eu resolvi me meter mesmo em confusões, fazer o que me der vontade. Eu sempre seria um problema então resolvi ser de verdade.

_Também resolvi fazer isso, eu era sempre a errada mesmo.– Eduarda disse.

_Então a gente realmente passa pelas mesmas coisas Du– Lucas concluiu, ainda a estava olhando.

_É– ela concordou - Eu nunca tinha encontrado ninguém que me entendesse tão bem assim, sabe?

_Sei. Você também é a primeira pessoa que não acha que sou só um moleque inconsequente. Você tá sendo uma amiga de verdade viu?!– ele disse a olhando nos olhos.

_Você também tá sendo um verdadeiro amigo, parceiro sabe?– ela também olhava-o nos olhos.

João Lucas pegou na mão de Eduarda e a segurou entre suas mãos. Ele sentiu uma energia boa e um arrepio percorrer pelo seu corpo.

_Amigos então leki? parceiros de verdade?– ele disse, sua expressão estava melhor.

Eduarda olhou para as mãos e depois o olhou nos olhos, ele tinha um olhar sincero. Ela começou a sentir o coração bater mais forte no peito.

_Amigos pro que der e vier!– ela colocou sua outra mão em cima da dele, apertando também.

João Lucas sorriu e ela acabou sorrindo também. Ali estava nascendo uma verdadeira amizade. Um sentimento mais forte do que eles poderiam imaginar.

A lua estava cheia e linda no céu, o mar estava calmo e as estrelas tinham um brilho único. Eles olhavam-se intensamente.

Os dois sentiam que já se conheciam a tempos. João Lucas estava agradecido por ter encontrado, finalmente, alguém que o entende-se, não queria estragar aquela amizade como já havia estragado outras coisas boas em sua vida. Não queria perder ela. Eduarda sentia que entre eles havia uma ligação muito forte, aquela amizade realmente tinha que acontecer. Ela sentia-se ligada a ele.

Eles resolveram ir embora. João Lucas deixou Eduarda em casa, trocaram o número do celular, afinal, iam se falar muito dali para frente.

Eduarda foi direto para seu quarto, não queria conversar com Rosa naquele momento, ela iria fazer muitas perguntas e Eduarda sabia que não teria respostas para todas, por isso preferiu ficar só com seus pensamentos. Du deitou na cama e olhou a lua pela janela de seu quarto.

A garota de cabelos vermelhos ficava repassando cada palavra e gestos do que tinha acontecido. Lembrava-se do rosto dele, de seu olhar intenso, de como ele estava sendo sincero e de como ela estava mexida com tudo aquilo. Quanto mais pensava, mais sentia seu coração pulsar forte no peito. Du sentia-se cada vez mais atraída por ele, de um jeito que ela nunca tinha sentido antes por nenhum garoto, mas eles eram amigos, Lucas a entendia melhor do que Rosa porque ele passava pelas mesmas situações que ela. Ela não queria perder a amizade dele. Eduarda tentava conciliar aqueles sentimentos que ele provocara em seu coração, mas sabia que não estava conseguindo resistir a Lucas.

"isso não pode estar acontecendo comigo" ela pensava.

João Lucas estava deitado na cama, também olhava a lua pela a janela do quarto. O garoto estava pensando na sua amiga de cabelos vermelhos. Ela foi a única a compreende-lo. Ele tinha a conhecido fazia pouco tempo, mas ela já tinha se tornado muito importante pra ele. Sabia perfeitamente pelo que ele passava e não ignorava isso como sua própria família fazia. Ele precisava dela.

João Lucas pensava em como ela era linda com aqueles cabelos vermelhos e aquela pele extremamente branca como ele nunca tinha visto antes e no quanto se sentia atraído quando chegava perto dela. Ele sentia vontade de tocar aquela pele branca, sentir outra vez o cheiro dela proximo a ele e essa vontade era muito forte. O garoto sabia que não poderia deixar-se levar pelas suas emoções, pois ela não era como todas as outras garotas, ela era diferente, única para ele. A amizade que tinha surgido entre os dois era muito importante pra ele, pois a tempos esperava alguém que o entendesse tão perfeitamente como ela fez. Ele tinha que ser mais forte pela a amizade dos dois. Tinha que ser mais forte do que todos aqueles sentimentos novos que Eduarda estava causando em seu coração. Não queria que a amiga se afastasse.

"não vou perder você Du"

O garoto mal sabia que naquele exato momento a garota de cabelos vermelhos também buscava forças para não estragar a amizade dos dois.