Keep u Safe. escrita por Liids River


Capítulo 5
Telling.


Notas iniciais do capítulo

Olá internet.
Eu gostaria de perguntar pra qualquer pessoa que reside em São Paulo... QUE FRIO É ESSE AMIGOS
eu tô toda empacotada de novo .-.
Olha,eu demorei um tequinho por conta das coisas da faculdade. Torçam por mim se não serei obrigada a ir vender minha arte. E a minha arte é um droga,então vou morrer de fome.
Just Kidding
Esse capitulo está cheio de drama e estamos fechando as pontas.
terá mais um capitulo ( provavelmente +18) que eu irei começar agora e vai ser uma droga mas o WriterBook insiste então...
Obrigada pelos comentários na ultimo One e pelas recomendações nas demais ( Rafaella e Jujuba Verde,amo vcs )
vejo vocês já já



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Nico estava sentado na poltrona do meu pai. Annabeth ainda estava preparando alguma coisa na cozinha da minha mãe. E eu não conseguia parar de pensar no quão estranho era estar em casa.Por mais que eu tivesse certeza que era o lugar mais seguro da rua....eu ainda não me sentia muito confortável daquele lugar.

O espaço onde deveria estar o sofá,estava vazios. Eu pensei que talvez pudéssemos descer um dos colchões de um dos quartos e colocarmos ali para Nico.Ele parecia muito cansado e tentava martes os olhos abertos mas dava para perceber a cabeça dele capotando de vez em quando.

Por mais que ele estivesse me irritando só por respirar,eu não conseguia imaginar não ter o Nico ali conosco.

Calem a boca. Shiu.

Annabeth estava usando o fogão,terminando alguma coisa que cheirava deliciosamente. De vez em quando eu sentia seu olhar em mim,mas eu ignorava. Eu não sei se conseguiria olhar para ela e não despejar toda aquela porcaria que estava formando um nó em minha garganta.

Talvez devêssemos mesmo ter ido para outro lugar. Mas eu queria tanto dormir em lençóis conhecidos pelo menos uma vez.

— Está pronto! – ela anunciou da cozinha.

Desviei os olhos para Nico,que praticamente dava pulinhos animados por ter a comida pronta. Os cabelos jogados para trás e eu quase podia ver a baba escorrendo pelos cantos da boca.

—Ei cara – chamei,levamtando-me – Limpa aqui – brinquei,limpando um dos cantos da boca apenas para vê-lo vermelho.

Os pratos estavam postos em cima do balcão de mármore. Perfeitamnete limpos,junto com os talheres. Em cima do fogão tinha uma panela com macarrão e brócolis. Na panela ao lado,carne moída com milho e tomate.

Parecia um banquete. Deuses,como parecia um banquete.

— Eu amo você – Nico disse,passando por Annabeth e dando-lhe um beijo no rosto – Você não tem ideia de como é bom comer alguma coisa que não seja feijão em lata.

Annabeth riu jogando os cabelos para fora do rabo de cavalo e cruzou as mãos.

—Eu espero que você goste – disse para ele.

Nos servimos em silêncio e nos dirigimos para a sala porque era o cômoda mais quentinho da casa.

Na mesinha de centro tinha uma foto da minha irmã junto com o meu pai. Os dois sorriam e ver aquilo quase me fez querer jogar a comida fora. Paine sempre foi muito amada por todos. E isso era bom,era ótimo porque ela era única criança da casa. E todo mundo queria protege-la.

Meu pai sempre a carregava nas costas aos domingos quando íamos ao parque. Eu ensinei-a a andar de bicicleta. Eu a levei ao médico depois de ela cair andando de bicicleta e papai a ensinou a andar de bicicleta direito. Ela e mamãe pareciam uma só. O mesmo sorrisinho de lado que minha mãe tinha ao nos acordar,Paine tinha na versão mais jovem e ainda mais inocente.

Chutei a foto para longe da mesa,fazendo com que Annabeth e Nico se calassem.

Pare com isso. Foi opção sua querer ficar aqui.

Nós... –pigarreei – podemos comer aqui. – sentei-me no chão,arqueando a sobrancelha para que eles fizessem o mesmo.

Nico sentou-se quieto e apoiou o braço na mesa,começando a comer. Annabeth continuou olhando-me de cima.

—O que? – perguntei.

—Você sabe o quê – reclamou.

—Eu não tenho a habilidade de ler os seus pensamentos ainda,amor – sorri sarcástico enquanto Nico tentava prender uma risadinha.

Por que ela ainda insistia em querer que eu abrisse meu coração para eles? Mas que droga.

— Olha você sendo todo ácido de novo – resmungou,deixando o prato sem cima da mesinha e indo até o porta-retratos no chão,pegando-o e colocando em cima da televisão.

— Por que você não se senta aqui e fica quietinha igual o Nico? – reclamei jogando o meu talher de volta ao prato.Levantando-me,peguei o porta-retratos de cima da televisão jogando-o de volta para o chão.

Annabeth arregalou os olhos incrédula e abriu a boca surpresa.

—Por que você está fazendo isso?!

—Porque é uma foto inútil.

—Não é inútil,é a sua irmã! – ela disse com raiva,pegando o porta-retratos de novo,porém eu tomei da suas mãos e levantei o braço para que ela não alcançasse – Você está sendo infantil! –reclamou dando pulinhos tentando pegar das minhas mãos.

— Você deveria se comportar melhor na casa dos outros – reclamei,puxando seus ombros para baixo – Para de ser teimosa!

— Eu juro que se vocês dois não calarem essas malditas bocas, sentarem a bunda nesse chão e me deixarem ter uma refeição em paz eu mato os dois! – Nico gritou,fazendo-nos calar.

Ele tinha o rosto vermelho e a boca cheia de brócolis....quase não o levei a sério.

Annabeth suspirou e balançou a cabeça,sentando-se ao lado dele. Passou os braços ao redor de seus ombros e beijou-lhe na bochecha surrando alguma coisa em seu ouvido.

Maldita provocadora.

Abri a janela que estava do meu lado,e joguei o porta-retratos por lá,arqueando a sobracelha e olhando-a desafiador,porém ela apenas baçançou a cabeça reprovadora.

Dessa vez até Nico me olhava meio chocado.

—Coma o seus brócolis – reclamei,sentando-me  de frente para os dois.

—Pode deixar,papai – respondeu revirando os olhos.

Foi a refeição mais estranha que já tive. E isso porque estávamos em amigos ali.

Annabeth olhava para baixo e comia devagar. Nico sorria para nós de vez em quando e comia como se aquilo fosse realmente a melhor coisa do mundo.De vez em quando ele se levantava e ia repor a comida no prato.

—Então...- Annabeth pigarreou olhando diretamente para ele – como você se separou dos seus pais?

Ele ponderou por um momento e limpou a boca na manda da blusa que vestia.

—Eu fazia faculdade do outro lado da cidade – ele riu – Meu pai e minha mãe sempre acharam melhor que eu ficasse em um dos campus de lá e então eu fui.

— Sua mãe era o que? – perguntou curiosa.

Sempre curiosa.

Conti um suspiro e percebi que quase não havia comido meu macarrão enquanto brincava com o milho com o garfo.

— Minha mãe era advogada – ele sorriu orgulhoso – Meu pai era jornalista mas ele fazia uns trabalhos como repórter esportivo na Itália.

—Que legal – ela sorriu de lado. O moletom ainda absurdamente grande e meu no corpo. Eu percebi que odiava ser grosso e rude com ela,mas...deuses ela podia por aquilo. Ela tinha que meter aquele nariz metido nos meus assuntos! – Meu pai também era jornalista.

Disso eu não sabia.

Continuei fingindo mais interesse no meu milho do que nos assuntos deles.

—Ele trabalhava fora?

—Não...ele trabalha para o jornal de São Franscisco – ela pigarreou – Ele fazia colunas e mandava por e-mail.

—Que legal,Annie – Nico sorriu e coçou a nuca – E sua mãe?

—Ela era professora – Annabeth disse desviando os olhos para o chão – Dava aulas no Instituto Tecnico Highmore.

—Ela ensina o que? – ele murmurou com a boca cheia de macarrão.

—Ensinava – ela corrigiu e sorriu com carinho – Ela era professora de matemática.  Era a pessoa mais inteligente....e mais teimosa que eu conheci – ela sussurrou e olhou-me nos olhos por um momento. –Aí eu conheci esse cara – ela apontou com a cabeça pra mim e riu baixinho.

Suspirei contento um sorriso. Eu queria parecer desinteressado e não um idiota apaixonado.

Nico riu e roubou um brócolis do prato dela.

—Como você sabe que eles não está por aí?

—Porque...bem – ela mordeu os lábios – Meu pai... – pigarreou.Eu queria subir e me trancar no meu quarto como quando  eu tinha 12 anos e estava revoltado com o mundo. Não queria ouvir tudo aquilo de novo,mas eu tinha a leve impressão de que ela não estava se abrindo apenas para Nico. Então eu contive todas as minhas vontades de adolescente mimado e continuei ouvindo pacientemente – Meu pai havia sido demitido em...março? Eu acho – ela suspirou – Havia atrasado milhares de colunas que ele tinha que mandar por e-mail,então o jornal o demitiu. O problema..é que mamãe ou nem mesmo eu sabíamos o porque daquilo tudo sabe? – ela brincou com o milho no prato. Nico prestava tanta atenção quanto eu. Ele até havia deixado o prato de lado. – Meu irmão mais novo estava entrando no instituto que mamãe dava aula e eu estava esperando as aulas na faculdade voltarem. Já estava procurando um emprego para ajudar nas despesas da casa e tudo.... – Annabeth passou os braços ao redor de si mesma como se não quisesse terminar.

—Você não precisa contar se não quiser – sussurrei.

Nico virou a cabeça para mim e de volta para ela,que sorriu de lado e continuou :

— A mamãe descobriu que o papai estava saindo com outra moça – ela deu de ombros – Já era de se esperar....ele não aparecia no jantar e era o primeiro a sair de casa de manhã,então eu não estava surpresa. – Annabeth mordeu o lábio inferior de novo,e suspirou,apoiando as costas na poltrona atrás dela e colocando o cotovelo no joelho,afundando a mão nos cabelos agora secos – Ficamos nisso por mais um mês,eu acho....e então era sexta-feira,eu estava voltando para casa depois da faculdade – ela perdeu os olhos pelo rosto de Nico – Era tarde,sabe? Umas oito horas e eu tinha um encontro com o pessoal da minha sala,mas eu queria me trocar porque tinha um cara e.. –ela olhou pra mim e suspirou – Eu meio que estava interessada nele. Eu queria ficar bonita e –

—Você é bonita – sussurrei.

E então eu me dei conta de que disse aquilo e também me dei conta das bochechas coradas dela e do riso idiota de Nico.

—Quer dizer... – pigarrei – Não é ...Nico ?  Hein Nico ?– cotovelei ele.

—Eu hein...não me meta nisso. – ele brincou.

— Idiota – resmunguei – Você dizia ... – passei a palavra para ela de novo,respirando fundo.

Era tão fácil eu me envergonhar com ela ali.

— Eu cheguei em casa – ela suspirou depois de um risinho,chegando discretamente mais para o meu lado e encostando a cabeça no meu ombro. Automaticamente,meu braço passou ao redor dos seus ombros e ela se aconchegou melhor ali. Nico tinha a cabeça virada de lado e eu quase podia ouvir seus pensamentos : Se casem! – Estava tudo escuro...mamãe estava jogada no chão com um negócio encravado no coração – ela suspirou e virou o rosto para Nico de novo – Pai me bateu porque eu tinha chegado tarde,mas na verdade eu estava no meu horário...ele que nunca tinha me visto lá porque ele quem chegava tarde. Eu tentei revidar,mas meu irmão mais novo não deixou e então – ela suspirou – Papai bateu ainda mais em mim.

—Annie – Nico tenteou impedi-la de continuar.

—Não...eu quero falar – ela sorriu tranquilizando-o – Tá tudo bem.

—Espera um minutinho então ele se levantou,pegando os pratos e levando-os para a cozinha.

Annabeth passou os braços ao redor de si mesma de novo e estremeceu.

—Você quer outra blusa? –perguntei em seu ouvido. Ela levantou a cabeça,ficando cara a cara comigo. Passou uma das mãos pelo meu maxilar e puxou para que ficássemos ainda mais próximos.

—Você tá ficando com barba – ela sussurrou,e acariciou meu nariz com o seu – Tá bonito.

—Eu tô? -  Perguntei confuso e envergonhado. – Só você consegue ver beleza numa situação dessas.

—Você também – ela brincou – Você disse!

Olhei em seus olhos cinzentos como a noite lá fora. As bochechas coradas,as pupilas dilatas,a boca avermelhada levemente aberta , a sobrancelha esquerda arqueada. Annabeth era sem dúvida nenhuma a minha mais nova definição de “beleza”.

— E daí? Você sabe que é bonita – reclamei revirando os olhos.

—Mas você disse. – ela riu.

—Vou precisar dizer as coisas pra você começar a percebê-las? –perguntei olhando novamente para. A maldita inclinou a cabeça e assentiu.  Revirei os olhos novamente e beijei-lhe na testa – Odeio você.

—Eu sei que odeia.

—Vocês querem que eu volte depois? – Nico perguntou na entrada da sala – Ou vocês vão subir logo pro quarto?

— Idiota – resmunguei. Ele nos entregou canecas com café e sentou-se novamente na nossa frente,tomando um gole da sua própria caneca.

—Então...você dizia – ele sorriu para ela.

—Então... – ela segurou a caneca com mais força e suspirou – Meu pai nunca foi um cara violento ou algo assim....ele só estava confuso,eu acho. Ele bateu em mim e começou a arrumar as coisas dele e as coisas do meu irmão. Saiu pegando o dinheiro do pote de biscoitos e arrastando o meu irmão com ele,xingando-me e dizendo que eu não ”sobreviveria” a mais um dia – ela deu um meio sorriso – Só que eu obviamente não tinha ideia do que estava acontecendo.

— A primeira cidade com o surto foi São Francisco – Nico disse – Eu aposto que ele sabia que estava tudo acontecendo.Ou no nosso caso caso,prestes a acontecer.

—Provavelmente – ela fungou e bebeu do café – Ele arrumou as malas,pegou o dinheiro,pegou tudo que tinha fiado em casa e arrastou o meu irmão com ele. O Malcom tinha uns oito anos e como a mamãe não estava mais viva...se eu tivesse como escolher,também tinha ido com o papai.  – bebeu mais um gole do café e olhou para a caneca – Ele saiu e me deixou lá com a mamãe. Eu não sei se ele matou a mamãe para...poupá-la do que estava prestes a acontecer,ou se matou a mamãe porque... porque achou que ela fosse uma ameaça – ela estava confusa – ou porque ele quis fazer isso,sabe?

—Sei – sussurrei.

—E então,a mamãe acordou uns vinte minutos depois – ela  olhou para mim – Eu já havia ligado para a minha melhor amiga e tentado explicar as coisas mas ela também parecia muito assustada e já estava indo até a minha casa me buscar. E quando a mamãe tentou me morder no ombro,eu percebi que eu estava realmente ferrada.  Eu não tinha nem uma faca em casa e eu...eu acho que por mais que tivesse,eu não conseguiria matar a mamãe – ela tentava se explicar – Eu não ia conseguir matar a mamãe.

—Eu entendo –Nico suspirou.

—Não...Nico – ela se sentou dessa vez gesticulando nervosamente – Eu não podia matar a mamãe.

— Annie-

—Mas eu tinha! – ela suspirou – Porque se não eu ia morrer,entede? Ela babava sangue dela mesma,e eu não tinha percebido que o meu próprio pai tinha levado a faca que ele mesmo tinha usado nela,então Nico,eu estava sozinha – ela deixou a caneca na mesa e começou a passar as mãos pelos cabelos – Era pular pela janela e deixar ela lá,ou ficar lá e tentar argumentar.

—Mas-

—Exatamente! Imagine a minha surpresa quando eu comecei a conversar com a mamãe e ela tentou me morder de novo – ela se encostou novamente em mim. Eu já tinha visto Annabeth daquele jeito e não estava muito afim de ver novamente.

— Se acalme,ok? –sussurrei,pegando sua mão e entrelaçando nossos dedos. Ela olhou pra mim com os olhos marejados e deu de ombros como se estivesse bem. – Ei,não chore.

—Não estou chorando – ela respondeu brava – Eu tô ótima.

— Docinho –

—E aí – ela me ignorou – Eu saí correndo pela casa. A porta debaixo da escada estava aberta e era onde costumávamos guardar nossos patins e bicicletas...e tudo relacionado a esportes,asbe? –ela riu sem humor – Eu peguei o taco de baisebol do meu irmão e bati na mamãe.

— Você... – Nico pigarreou – Ela morreu?

—Não – ela respondeu – Eu não consegui fazer isso. Ela ficou jogada no chão,e eu sai correndo carregando o taco de baisebol do meu irmão. Encontrei a minha amiga na rua de baixo à minha,entrei no carro dela e a gente saiu correndo. – ela suspirou,limpando os olhos – E aí eu perdi a Thalia também.

—Thalia? – Nico perguntou – Sua melhor amiga?

—Isso – ela riu – Ela era tão tosca.

Nós rimos junto com ela e logo depois Annabeth relaxou contra mim e deu de ombros.

—Eu não ouvi mais sobre o meu pai ou sobre meu irmão. Não ouvi mais sobre a minha mãe,mas eu aposto que estão todos mortos – ela riu baixinho –Melhor assim.

— Muito obrigado por compartilhar sua história comigo – Nico sorriu inclinando a cabeça – Eu acho que respeito muito mais você agora.

—Ei! – ela reclamou.

—Isso foi um elogio! – ele se explicou e sorriu para ela com carinho.

Annabeth revirou os olhos e sorriu para ele.Os cabelos dela cheiravam a limão por conta do sabonete do banheiro,eu aposto.

— Eu espero que você encontre quem você procura – ela disse para ele – E que eles não tentem comer você.

—Ah eu sei que encontrarei – ele sorriu de lado e  piscou – E eu comeria eles primeiro.

—Você é nojento – resmunguei.

Nós respiramos fundo,e eu tive a sensação de que eles esperavam que falasse agora. Mas ainda era difícil para eu falar sobre...bem,isso.

Nico inclinou a cabeça de lado,alternando o olhar de mim para Annabeth. Ela respirava fundo e apertava minha mão na sua enquanto trocava os mesmos olhares com Nico.

— Eu jurava que vocês dois –ele gesticulou com o indicador – Vocês sabem...

—Hn? –ela pigarreou.

—Vocês sabem – ele disse como se fosse óbvio – Dois adultos....muito próximos....

—Nós somos amigos,Nico – resmunguei.

— Amigos que parecem pular na frente de um bala um pelo outro? –ele perguntou – É parece mesmo.

Annabeth riu corando daquele jeito tímido e revirando os olhos para ele. Olhei novamente para Nico,aquele cara que tentou roubar os bolinhos da minha menina,que parecia muito cansado para manter mais uma conversa....e decidi que era o certo a fazer.

—Eu morei aqui a minha vida toda – pigarreei,calando-os. Eles discutiam sobre pular ou não na frente de uma bala....e é obvio que eu faria aquilo sem pensar duas vezes. Não por ser Annabeth....mas por ser a única pessoa com quem eu consegui conviver por mais tempo. – Minha mãe construiu isso aqui com o meu pai,quando eram mais jovens.

—Sua mãe? – Nico interrompeu – Qual era o nome dela?

—Sally Jackson – sorri vendo a sua foto na estante de cds do meu pai – Ela era enfermeira,e meu pai era engenheiro do exército,ele fazia armas.

—Isso explica a monstruosidade da sua .. –Nico pigarreou – você sabe. A boa pontaria,a espada,sua falta de paciência.

—Eu sou paciente!

—Não é não – Annabeth concordou e riu.

—Odeio vocês dois – revirei os olhos e suspirei – Calem a boca e me deixem terminar. – os dois assentiram. Senti Annabeth levantar os olhos e me encarar. Eu não tinha certeza sobre contar isso para eles,mas eu já tinha começado mesmo.

Agora eu iria até o fim.

— A Paine era mais nova – murmurei afastando-me de Annabeth e cruzando os braços – Ela tinha seis anos,mas era tão esperta quanto cada um de nós aqui – sorri,lembrando-me dela – Os cabelos pretos,os olhos verdes,teimosa como ninguém – olhei para Annabeth piscando e ela corou,fazendo Nico rir – A minha mãe era....tão organizada e cheia de manias. Meu pai era  uma delas.

—Seu pai.... ele? –Nico perguntou apontando para uma foto onde meu pai estava fazendo uma pose ridícula com uma mão na cintura,e as pernas abertas no ar.

—É...esse mesmo – sorri – Ele era o cara mais engraçado que eu já conheci. Quem visse,não acreditaria que ele trabalhava para o IME.

— Eu mesmo não consigo acreditar – Nico riu.

—Pois é – sorri para ele – Ele era paciente,tranquilo....e o melhor de tudo,eele amava todo mundo de um jeito especial.

—E aí? – Annabeth perguntou,olhando-me nos olhos.

Eu sentia uma estranha conexão agora. Como se eu estivesse de terno,com uma bandeja na mão e nela estivesse pousado o meu coração. E o eu com a bandeja na mão dizendo : Toma aqui.

Ela podia fazer o que quisesse agora.

—E aí que eu desci para ir à faculdade um dia desses,e meu pai estava sentado no sofá comendo os rins de minha mãe – dei de ombros como se não fosse nada demais – Acontece.

—Percy – Annabeth se aconchegou mais perto de mim,dando-me a mão – Não fale como se não fosse horrível.

—Não estou dizendo que não é – sussurrei – Só que....é horrível demais,entende? Eu sai correndo,obviamente. E o pior de tudo isso,Annie....eu nunca vou saber o que aconteceu com o meu pai para que ele se transformasse. Meu pai não tinha doenças,meu pai não tinha intrigas com ninguém.... e ficou bem óbvio que para que...bem,para que nós nos transformemos nessas coisas,precisamos ser mordidos ou morrer.

—Sua mãe pode ter se transformado ates... e ,bem você sabe. – Nico deu de ombros.

—Não – repliquei – Eu vi meu pai transformando a minha mãe. Ou bem,fazendo um lanchinho com os rins de dela.

— Talvez um vizinho...

—Talvez – concordei com a cabeça.

Annabeth encostou a cabeça no meu ombro de novo e acariciou meus dedos com os seus. O cabelo dela cheirava a limão,e ela estava bem protegida com o meu  moletom vinho ao redor do corpo. Parecia relaxada....quer dizer,o quão relaxada alguém na nossa situação pode estar.

—E a sua irmã? – Nico perguntou hesitante. Acho que desde o momento em que eu comecei esse relato absurdo que está estampado no meu rosto que o assunto “Paine” é difícil para mim. Não foi uma pessoa qualquer que esteve comigo no ínicio do fim do mundo,foi a minha irmã mais nova.

—Ela... era um docinho de criança –sorri – Era atentada também. Mas tudo que ela queria era ficar assistindo As Pistas de Blue na televisão. – apertei a mão de Annabeth – Eu penso as vezes que talvez.... a gente não sobreviva,mas tudo bem gente. Mas imagina crianças morrendo,bebês não nascendo por conta dessa merda toda.

—Eu sei – Nico sussurrou – É revoltante.

—Estavámos saqueando uma casa – sussurrei. – Eu andava de mãos dadas com a Paine,para que ela não se perdesse. Ela andava com pedrinhas no bolso,como se aquilo fosse parar as coisas lá fora – sorri de lado. O taco de baisebol parou,porque não pedrinhas? Agora não me parecia tão absurdo – Nós entramos em uma das casas,comemos os biscoitos do armário. Tomamos leite com chocolate....a gente até tentou dormir,mas tinha muito barulho vindo de cima,sabe?

Tinha gente na casa? – nico perguntou chocado.

—Não...gente não – murmurei,fechando os olhos com raiva.  - Se eu tivesse ido checar....mas eu estava com tanta fome.

—Não é culpa sua – Nico murmurou. Annabeth apertava minha mão,e eu podia sentir seus olhos em mim.

—Você não sabe sobre isso – murmurei. – Eles derrubaram a porta do quarto de cima ,desceram tão rápido que eu até cheguei a achar que fossem pessoas,Nico. Nós estávamos juntos,eu levantei a Paine,ela gritava e gritava assustada. Nós não tínhamos enfrentado nada até sairmos de casa.

—Quanto tempo tinha desde que vocês saíram de casa? – perguntou.

—Uma semana? Duas? Não sei – murmurei. Annabeth passou a mão pelo meu cabelo,fazendo-me olhá-la. Os olhos cinzentos marejados,e apesar de bem agasalhada ela estava trêmula. –Tudo bem? –perguntei baixinho.

Annabeth sacudiu a cabeça e suspirou.

Tudo bem.

Estamos bem.

—A casa não tinha luz,como era bem antiga eu nem esperava que tivesse mesmo. – sussurrei. – E então...

Cada um deles tinha uma forma diferente. E não podiam ter,certo? Eram seres humanos! Alguns cuspiam sangue,outros uma gosma preta. A cabeça da maioria estava deformada,e os olhos eram totalmente brancos. Poucos fios de cabelo pendiam da cabeça deles. A boca de duas das criaturas estava eternamente aberta. A parte de baixo não existia,e tudo aquilo era nojento demais.

Eles seguiam pela escada da casa velha e o meu único pensamento era de sair daquele lugar com a minha irmã. Eu não tinha consciência de que eu possuía duas armas e uma katana nas minhas costas. Eu podia simplesmente fazer as coisas desaparecerem,mas tudo era muito novo e a possibilidade de matar alguém me dava náuseas.

— Vamos,pequena – puxei seu bracinho,sussurrando. Ela estava paralisada olhando tudo aquilo. Eu queria que ela imaginasse que tudo aquilo não passava de uma brincadeira e que na verdade aquelas coisas eram o Barney e o Garibaldo fantasiados na sua forma mais maligna.

— Percy – ela murmurou baixinho – Tem sangue-

—Vamos – puxei-a pela mão e saí correndo pela casa em busca de uma saída.

Eu não tinha ideia de quantas pessoas moravam ali. Ou se aquilo era um albergue mas tinham muitas daquelas coisas. E tudo fedia a pólvora e coisa podre. Correndo por um corredor estreito cheio de portas,gritei para Paine :

—Você não vai soltar a minha mão,Paine.

—Eu não vou soltar a sua mão,irmão – murmurou de volta – Nunca.

Corri com ela,chutando as portas no caminho,quando a maioria delas eram abertas e arrombadas pelas coisas fedidas. Paine jogava as pedrinhas nos rostos das coisas que corriam atrás de nós e eu tentava a todo custo não cair sentado e chorar. Estavamos indo tão bem!

Virei a esquerda,me dando conta de que a casa era maior do que parecia por fora. As janelas estavam quebradas,e eu estava considerando jogar Paine por uma delas,mas eu não tinha certeza se o que esperava lá fora era melhor do que tínhamos aqui. Uma das criaturas veio na minha direção,virando o ultimo corredor da casa.

Eu agarrei minha irmã pelo braço,jogando-me com ela pela porta do lado esquerdo que estava aberta,só para depois que a criatura passasse por nós eu pudesse chutá-la para longe. Continuei correndo com Paine até ver a porta pela qual entramos,aberta.

Tão próxima que eu quase sorri.

Quase.

Eu senti um puxão na minha mão que estava grudada na de Paine e fui puxado para trás junto com ela.

Um maldito canibalzinho tinha pegado minha irmã. Eu só tive tempo de vê-lo morder a mãozinha dela,aquela que jogava pedrinhas na cara deles. Eu a ouvi gritar como nunca,xingando a coisa de palavras que com certeza mamãe não aprovaria. Mas o grito dela não espantou os malditos cuspidores de sangue.

Pelo contrário....chamou ainda mais deles. Olhando para trás de Paine eu vi cerca de trinta ou quarenta deles. Ela gritava de dor e os olhos verdes estavam cheios de água.

—Sai –ela gritou – Sai logo! – Paine puxava a mão para longe.

—Não! – murmurei,chutando o canibalzinho que tentava mordê-la de novo – Você disse nunca!

— Eu menti,eu tenho idade pra mentir,agora sai!! – gritou de novo,os olhos correndo para trás,vendo quantos deles tinham.

Eu abaixei pronto para coloca-la no meu ombro e correr,mas ela me parou :

—Se você fizer isso – ela engoliu,puxando os cabelos – Eu nunca mais te chamo pra assistir Barney comigo.

—Paine!

—Vai,irmão –ela sussurrou – Não mata ninguém,você não tem que fazer isso. – ela olhou nos meus olhos,quase chorando – Nem com você mesmo.

—Eu não vou deixar você,cala a boca – gritei,tirando a espada das minhas costas e empurrando-a para fora da casa,fechando a porta em seguida. Ela batia e esmurrava a porta pedindo para que eu saísse,mas aquilo não estava em cogitação.

No final,eles nem foram tantos. Eu me cansei,mas saí intacto. Graças as coisas que eu havia pegado no sótão de casa que meu pai projetava.

Eu quase estava pronto para sorrir de novo. Quase.

Saindo daquela carnificina – e não me orgulho de dizer que matei todos eles – eu estava pronto para voltar a correr com Paine.

Mas ela não era mais a Paine Quanto tempo eu tinha ficado lá dentro? Uns trinta,quarenta minutos,talvez? Então era esse o tempo que nós tínhamos com alguém depois de ser mordido? Ou só a baba daquele canibalzinho fazia isso conosco,porque se não eu também estava perdido.

A pele mais pálida que o normal,os olhos – antes verdes – totalmente brancos. O cabelo quase sem aquele brilho inocente. A boca escorrendo a gosma preta.Da mão que a coisa havia mordido,saiam larvas para o resto do corpo e eu quase sucumbi ao vômito,vendo tudo aquilo sair da minha irmã.

Minha irmãzinha.

—Paine – sussurrei. Talvez ela pudesse me ouvir,afinal...ela era uma criança. Aquilo não podia acontecer com ela – Vamos embora,ok? Vou cuidar de você.

Ela virou a cabeça de lado,e continuou olhando-me. Eu não tinha certeza se ela me via,ou via um pedaço de carne.

—Vamos Paine,você....não pode me deixar – sussurrei de novo,estendendo a mão. – Você disse que não ia soltar a minha mão,Paine.

Ela avançou três passos,a cabeça virando de um lado para o outro,a gosma ciando nas roupas esfarrapadas.

—Paine – sussurrei,sentindo aquela coisa na garganta. Eu não podia fazer aquilo sozinho.  – Vamos embora.

Então ela avançou. Correndo na minha direção,as mãos erguidas na minha direção,os olhos perdidos. Se ela não tivesse sido mordida,eu direi que ela queria uma abraço. Ela alcançou minha mão mas eu a empurrei.

—Sai Paine – sussurrei – Eu não vou te machucar.

Ela continuou virando a cabeça de lado e avançando....e sem pensar,eu tirei a espada do meu pai das costas.

—Tchau Paine – sussurrei,antes de descer a lâmina pela cabeça dela.

— Eu queria que a ultima lembrança dela fosse mesmo a gente assistindo Barney – sussurrei com a voz embargada – Mas não foi.

Nico olhava-me com a boca aberta,os olhos arregalados. Ele tinha as mãos entrelaçadas e os nós dos dedos brancos. Parecia ainda mais pálido.

—Você deveria dormir,Nico –sussurrei,pigarreando – É melhor.

Ele continuou em silêncio,mas assentiu,engolindo em seco.Levantou-se,a calça de moletom pendendo nos quadris quase me fez rir da sua cara.Ele suspirou virando-se para mim de novo.

—Obrigado Percy –ele murmurou e sorriu de lado – Obrigado.

Balancei a cabeça envergonhado e apenas fiz um aceno para que ele subisse.

Virei o rosto para Annabeth. Ela tinha um rastro de lágrimas nas bochechas coradas. A boca vermelha,também por conta do choro. Os cabelos bagunçados,os olhos fixos nos meus. As sobrancelhas franzidas,com preocupação.

Beijei-lhe a testa e sussurrei :

—Desculpe se a minha história preocupou você – sorri de lado – Ou lhe entediou,docinho.Você parece com sono.

Mas ela não sorriu como eu esperava. Ela continuou me encarando com preocupação. Eu esperava que ela me afastasse,empurrasse ou me chamasse de monstro. Que ela não quisesse olhar na minha cara e jogasse tudo que estava ao alcance ,na minha cara. Mas também não o fez.

Pelo contrário.

Annabeth puxou o meu rosto para mais perto dela,acariciando o nariz com o meu. As bochechas ganharam ainda mais rubor.Passei uma mão pelo seu pescoço,e ela estremeceu.

—Desculpe,é a má circulação – disse tirando-a de lá – Minha mão fica gelad-

E então..

Annabeth me beijou.


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Notas finais do capítulo

Tá com erro até pq eu sou miope que não enxerga nada direito e tá com óculos vencidíssmo
espero que tenham gostado.
(Parece que o Nico mentiu em relação aos pais dele hun?)
Eu gostei.
até daqui a pouco