A neve anuncia a chegada do fim do ano, finalmente. Todos escondidos sob várias camadas de roupas, inclusive eu, com meus fones nos ouvidos reproduzindo no volume mais alto a voz de uma das minhas divas favoritas enquanto eu corro. Por que? Esqueci os trigêmeos na loja de brinquedos.

Adentro a loja como se o mundo estivesse acabando, mas ninguém notou minha presença pois o mundo estava acabando dentro da loja. Vi um dos pestinhas correndo no corredor de Barbies enquanto as derrubava sem piedade. Outro passou por mim com amebas enfiadas nas narinas com uma das funcionárias em uma tentativa falha de capturá-lo. O terceiro, que julgo ser Hubert, reúne os três com sinais que só eles conhecem. Estava mortificada no meu lugar até ver o real objeto de desejo dos três pestinhas: uma enorme nave espacial de plástico que cobria toda a loja.

Hamish, Hubert e Harris estavam em cima de uma das estantes mais altas, uns sobre os outros, era uma altura que, se caíssem, teriam sérios danos físicos. Estava tudo um absurdo caos, os funcionários gritavam com eles enquanto os mesmos só riam e continuavam seus planinhos malignos. Com a imponência que minha mãe me ensinara (por habito) e com fúria, gritei para eles.

–CHEGAAAAAAA!! -Todos pararam e me encararam, fuzilando os três que estavam pálidos por finalmente me notar, continuei com uma voz extremamente ácida- Desçam daí. Agora.

Sem reclamar ou se opor (raridade) eles obedeceram. Ouvi a porta ser aberta atras de mim, mas não vi quem adentrara ou saíra, estava focada nos três.

–Muito bem -Eu disse a eles quando se aproximaram- Este ano não ganharão nada além de carvão, se depender de mim. -Tentaram protestar, mas bastou um olhar em meus olhos e se calaram.

–Nossa -Conheço esse raio de voz de taquara rachada- Deu até medinho de você agora, gata. Mas que bagunça eles fizeram aqui! Deve ser de família, né, fofa?

Que bom para ele que meu arco e flechas não estão aqui. Os meninos estão perdendo o medo de mim.

–QUEM VAI PAGAR POR TUDO ISSO? -O gerente veio gritando a mim.

–Coloque na conta dele -Acenei para Jack enquanto saía com os trigêmeos.

–QUÊ?!?! COMO ASSIM EU VOU PAGAR POR ISSO??? -Jack gritou assombrado acenando para a loja em ruínas.

–Gata, se vira. Fofa -Pisquei e mandei-lhe um beijo maligno.

Quando saímos pela porta os três pararam de repente.

–Ele vai mesmo pagar por tudo aquilo?- Hamish com olhar culpado

–Claro! -vi as expressões deles- ...que não?! -se alegraram- Agora, para casa!

Voltei-me para a loja determinada a falar com o gerente, mas ao ver Jack desesperado resolvi esperar um pouco mais.

Dias depois Jack esquecera do que houve, ou pelo menos foi o que demonstrou. Continuamos com o treinamento, que para mim parecia mais adequando para um maratonista. Mas os momentos de descanso são bons, sempre descubro algo novo sobre ele (nem sempre é legal) e ele meio que está... mudando? Jack aprece menos afeminado com o passar do tempo, agora está quase... hetero e tenho a impressão de que as vezes ele dá em cima de mim, sério.

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Já estamos quase no Natal e nada de eu pegar a ruiva. Aposto que ela riu muito da minha cara enquanto eu discutia com o gerente da loja de brinquedos, que bom que a conta foi pra prefeitura, caso contrário não iria rolar sair com a Elsa, ou qualquer outra garota.

É estranho como com o tempo ela ficou na minha cabeça por cada vez mais tempo, agora sempre antes de dormir lembro do que ela disse durante o dia para facilitar meu objetivo e tento bolar algo para tê-la para mim.

Meu celular vibra ao receber uma mensagem. Era Aladdin, um amigo/rival.

"Soube que a ruiva deixou você treinar ela... COMO VOCÊ FEZ ISSO????"

Respondi:

"Segredos do ofício, meu caro"

Ele:

"Tá fingindo que é gay?!"

Quase engasguei com o ar.

"Q?? Pirou?! De onde vc tirou isso??"

Ele:

"Fácil. Ela não suporta homens" .... "e vi você andando todo se requebrando. Já pensou em ser gay de verdade?!"

Morri. Espero um momento até ter algo para responder.

"O q vc quer com isso??"

Ele digita:

"Tô afim de descolar uma grana pra sair com a Jasmine. Aposto 500 paus que você não pega a ruiva"

Hum, é um bom valor. Dá pra fazer uma festa maneira com essa grana. Mas...

"E se eu recusar?"

Ele:

"Falo pra todo mundo que vc é viado e só pega as mina pra dar uma disfarçada"

Lascou.

"Separa sua grana pq vai ser minha"

E esse é o momento que há a guerra de consciência. Mas já está feito e agora é só lucrar ou lucrar. Vou ser o primeiro cara a pegar a ruiva (é, já soube da fama de 'impegável' dela) e com quinhentinhos garantidos.

No dia seguinte soube que a Fada ia dar uma baita festa a fantasia de Natal (tudo haver! ...sqn), tratei logo de chamar a ruiva, afinal, não quero perder essa aposta.

–Uma festa?

–Sim, uma festa. Onde as pessoas da nossa idade dançam, bebem, se pegam e...

–Tá! Entendi! -Mérida levanta a voz.- Mas festa a fantasia no Natal?!

–É mais uma das nóias da Fada que nunca vou entender, mas as festas dela são maneiras.

–E vai ser no Natal mesmo ou véspera?

–Natal! 25 de Dezembro, saca? O mundo para nesse dia.

–Eu sei seu mongol! -Ela grita mas depois parece preocupada. Resmunga:

–Meus pais não vão gostar...

–Quê?

–Tá! Eu vou! Mas não quero ficar segurando vela enquanto você pega outros caras! Vou chamar uns amigos meus, pode ser?

–Beleza. Mas você sabe que essas festas a fantasia não é pra ir toda vestida, né?!

–QUÊ???? VOU TER QUE IR NUA???

–Claro! Que não né, lesada. Só usar fantasias com menos tecido.

–Mas é inverno!

–Vista um casaco. -E finalmente encerramos a discussão e voltamos ao treino.

Ela acerta o alvo com perfeição.

–Consegue fazer isso em cima de um cavalo em movimento?

–Claro.

–Quero ver. -Vamos até a casa dela, onde ela tem o próprio cavalo e arrasa com os alvos.