The coffee shop escrita por Moonpierre


Capítulo 1
The coffee shop




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O sol surgia, e a cafeteria "Coffee Shop" abria, era mais uma manhã e eles deviam suprir a necessidade dos viciados em cafeina. Uma missão nobre, pois a maioria dos adultos acordava muito cedo.

"Quero um expresso", gritava uma mulher, cliente constante. "Um cappuccino", um homem dizia com um tom de voz grave. "Mocha!", uma jovem falava, sorrindo.

Tenho uma teoria que compara a personalidade com o café: todos temos uma personalidade diferente, porém continuamos humanos - do mesmo modo o café, não importa o estilo, ele nos supre de cafeina (a não ser que você esteja no grupo dos que curtem a bebida descafeinada).

Bem, sem mais delongas devemos começar essa história, não concorda? Penso que já estou enrolando demais. Nessa cafeteria há três frequentadores assíduos: um é um fotografo na faixa dos trinta anos, usa a cafeteria para editar as fotos, outro é um músico jovem que toca piano com perfeição, a terceira cliente é uma escritora que atingira certo sucesso, tem apenas vinte e cinco anos. E foi em somente uma tarde que essas pessoas (desconhecidas) se conheceram.

"Então eles se beijam".

"Eles se beijaram apaixonadamente"

"Eles se beijam, como se o mundo houvesse parado"

Clichê, clichê - a escritora Luciane pensava, muito clichê, por que esse cara não para de tocar um só minuto? Ela se perguntava mentalmente.

O pianista, Diogo, estava do outro lado da cafeteria, desanimado tocava "Sonata ao luar" de Beethoven. Ele soubera por esses dias que iriam diminuir seu pagamento. Suspirou.

Antigamente ele tinha esperanças de se tornar membro de orquestras, ser famoso, ou um grande professor de música em universidades. Quem sabe um dia? Afinal ele ainda tem vinte e quatro anos. Mesmo assim, para esse jovem ainda era uma grande ironia estar trabalhando naquele local - além de não gostar do gosto da bebida, parecia que ninguém estava realmente escutando sua música. Alguns até pareciam irritados.

— Posso tirar mais uma foto de você? —  um fotografo de trinta anos lhe perguntou.

O fotografo, chamado Jorge, perguntou ao pianista pela segunda vez ao dia. Ele gostava de editar suas fotos lá, se concentrava melhor, porém as vezes saia de sua mesa e buscava inspiração tirando fotos do lugar (e das pessoas).

—Claro —  o pianista resmungou.

Então ouviu-se flashs.

— Você é muito bonito —  diz o fotografo —  Poderia ser modelo.

— Quero ser músico — Diogo fala com grosseria.

Passos.

— Você pode por favor parar de tocar essa música? Já faz cinco minutos que você toca ela! — a escritora Luciane chegou.

— É meu trabalho moça! Se você não gosta de música não é problema meu!

— Minha cara, esse jovem rapaz com certeza está realizando um ótimo trabalho —  Jorge intervem.

— Só porquê você o está fotografando não quer dizer que ele não deva parar de tocar. É um inferno! Estou me concentrando no meu mais novo romance e ainda mereço ficar...

— A vida não gira ao redor de você! Eu estou seguindo meu sonho! —  Diogo grita.

— Muitas pessoas não estão gostando de sua maldita música! Elas estão tentando trabalhar, se você não percebe isso! — Luciane grita mais alto.

— Eu não me importo, porra!

— Agora resolveu ser mal educado, é? — ela insiste.

O fotografo suspirou:

— Parem de brigar, estão agindo feito crianças —  ele diz, calmamente.

— Calado! —  falam juntos.

— Essa briga não é sua — o pianista retruca. — Pare de se meter.

Porém, isso não durou tanto, o gerente chegou correndo:

— O que é essa balburdia dentro de minha cafeteria? Para fora vocês três, estão afugentando meus outros clientes! E Diogo, não precisa voltar aqui amanhã!

O pianista rosna e sai pela porta, os outros dois o seguem. Diogo está fumando.

— Você não devia deixar o estresse te consumir desse modo —  Jorge ralha. —  A nicotina faz mal!

— Você não é meu pai —  o jovem o fuzila com o olhar.

A escritora só revira os olhos.

— E graças a você moça —  o pianista diz, com sarcasmo. —  Perdi meu emprego, olha que legal?

— Me desculpe se você resolveu brigar comigo. —  Luciane responde, dando de ombros.

Por um momento parecia que os dois iriam se socar até a morte.

— É muito fácil se livrar da culpa —  Jorge fala, monotonamente. —  Não acha moça?

— Olha aqui! Não é culpa minha se a música estava irritante, e eu, certamente, não queria que esse moço perdesse o emprego!

— Diogo, senhora.

— Luciane, não senhora.

— Certamente conseguiremos arranjar um emprego novo para você Diogo! —  Jorge só faltou bater palmas com o objetivo de animar esse indivíduos esquisitos.

— Conseguiremos? - a mulher indaga.

— De músico? - Diogo revira os olhos.

— Mas é claro que sim! E você, moça, nem tente não ajudar, você teve um (grande) parcela de culpa ao fazê-lo perder o emprego.

Diogo sorri, maliciosamente:

— Obrigado, meu fotografo oficial - diz, se deliciando.

— Jorge! Esse é meu nome - sorri ele.

— Você conhece lugares onde poderia trabalhar? - pergunta o pianista.

— É claro, sou fotografo de bandas/bares/baladas... vivo no meio musical. E no meio erudito também, caso goste.

— Que empolgante —  a escritora diz, com ironia. —  Muito empolgante!

— A senhora parece não apreciar muito a música... — Jorge resmunga.

— É Luciane. E eu odeio a música.

— E eu odeio livros —  o músico revira os olhos. —  Mas eles existem... —  sussurra ele.

Jorge senta-se em um banco da praça, pega uma agenda de sua mochila e começa a ligar para um monte de bandas perguntando se eles teriam espaço para um pianista, ao que eles sempre respondem: "não precisamos de mais ninguém, obrigado".

— Eu preciso de uma cerveja — o jovem reclama, extremamente bravo.

— Estou indo para o bar Deluxe, se quiserem —  Luciane diz, mais por educação do que por desejar que eles venham com ela.

Esses indivíduos não conversam durante a trajetória. Diogo ainda estava bravo, Jorge parecia triste por não ter conseguido nenhum trabalho legal para o pianista, e Luciane, apesar de tentar parecer acima de tudo, começava a sentir um pouco de remorso pela briga anterior.

Deluxe era um bar muito bonito, com paredes de pedra, lustre antigo, e uma vista para o parque da cidade, as cadeiras eram estofadas com tecido vermelho e em cima de todas as mesas haviam cardápios bem feitos.

— Por minha conta — disse entediada a escritora.

— Fazendo isso você não vai salvar meu emprego. —  Diogo nota.

— Já ouviu a música desse lugar? - Luciane continua. — É de elevador, reproduzida por uma rádio. Os donos desse lugar com certeza vão amar terem um pianista.

— Desde quando você gosta de música? — Diogo diz, irritado.

— Olhe, não me culpe por ter tido um pai bêbado que, por acaso, era músico —  ela o fuzila com o olhar. —  Mesmo porque você falou abertamente que odiava livros. Como consegue odiar livros?

— Não é todo tipo de livro, só os que a escola e minha mãe me obrigavam a ler.

— Ora, ora, Luciane! Que prazer te ver minha querida! — um homem de trinta e cinco anos chega perto da mesa e beija a escritora nos lábios. —  Quem são essas pessoas?

— Olá Lucas, bem, esses são meus amigos: Jorge e Diogo. Diogo é um ótimo pianista e pensei em apresentá-lo a você.

— Chegou em boa hora meu caro! Tínhamos já três pessoas para formarem uma banda ao vivo aqui no Deluxe, mas nenhum pianista hábil suficiente para tocar nesse local requintado. —  ele aperta as mãos do jovem.

Logo Lucas senta à mesa com a esposa Luciane, e começa a conversar animadamente com todos. Chega-se o garçom:

— Quais são os seus pedidos senhores?

— Cappuccino —  diz a escritora.

— Expresso —  o fotografo lhe pede.

— Irlandês! — o músico fala.

— Árabe —  Lucas sorri.

E na verdade foi assim que começou a amizade entre essas três pessoas, com uma despedida de emprego que causou remorso.

Atualmente Diogo trabalha no bar Deluxe, lutando para fazer uma carreira solo e dando aulas particulares para alunos. Luciane está tentando apreciar mais a música e irritando Diogo para ele ler seus livros. E o fotografo? Bem esse ainda aparta todas as brigas que vê e tenta agir do modo mais otimista possível.

As pessoas são iguaizinhas ao café, diferentes gostos, porém a mesma dose de cafeina.


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