Meu domingo infelizmente passou voando. Eu, Angie e as meninas fomos no cinema e foi muito divertido. Não imagino uma tia melhor que a Angie, que é alegre e super compreensível. As meninas gostavam muito dela, e não tinha como ser diferente.

No dia seguinte acordei 1 hora antes do despertador tocar, o que me deixou surpresa. Eu nunca fazia isso, mas eu estava muito ansiosa o que fez com que eu demorasse a dormir também.

Não estava com o mínimo sono e eu não conseguiria voltar a dormir. Resolvi me levantar e depois de me arrumar tomei café e deixei um bilhete pra Angie não achar que eu havia sido raptada e chamar a polícia como uma outra vez.

A escola não estava muito cheia quando cheguei. Entrei na nossa sala e vi apenas León, lendo a apostila. Algumas carteiras estavam sendo ocupadas por mochilas de alunos que não queriam perder o lugar e estavam zanzando na escola. Puxei uma carteira e me sentei ao lado dele.

— Bom dia. – Eu disse.

— Bom dia. – Ele sorriu.

— Muito bem, tá estudando!

— É pra dar uma agilizada hoje. Acho que vamos ter que ir mais cedo hoje. – Ele disse balançando o lápis na mão.

— Tudo bem. Que desculpa eu invento pra Angie? – Ele riu.

— Fala que vai sair comigo.

— Todo dia?

— Fala que estamos frequentando alguma coisa.

— Tipo o que?

— Sei lá, estava estudando álgebra há um minuto atrás. Meus miolos estão meio enrolados. Fala que são aulas de yoga, não sei.

— Yoga? Tá brincando? – Eu disse rindo.

— Não sei Violetta, você é criativa. Vai ter uma ideia boa, tenho certeza. – Ele disse rindo também.  Passou o braço ao meu redor, depois de um tempo assim ele começou a se aproximar de mim.

— Nada disso! Se a diretora pegar, estamos ferrados. – Eu disse o empurrando devagar pra trás.

— Não acho que isso vai acontecer.

— É, mas quase que a Ludmila e Federico foram expulsos por causa disso no começo do ano, lembra?

— Lembro, mas é que eles foram meio burros! Eles estavam se beijando no meio do corredor!

— Prefiro não me arriscar.

— Acho melhor você ir se acostumando. – Ele estava se referindo a ASCC. Acho que a ficha não cairia até que chegássemos lá. De repente a diretora entra na sala e ao nos ver tão próximos franziu a testa.

— Violetta, León.

—Estamos fazendo algo de errado? – Ele perguntou. Ela provavelmente sabia que não teria como nos dar uma bronca. Não fizemos nada demais (por mais que parecesse).

— Estou procurando a Ludmila, ela já chegou?

— Não, acho que não. – Eu disse.

— Se não for perguntar muito, o que ela fez dessa vez? – León disse.

— Rasgou a ficha de inscrição de aulas de música da senhorita Francesca.

— Bom, não a vimos. – León falou.

— Muito bem, bom dia. – Ela disse e foi embora.

— Você tem algum tipo de poder premonitório? – León perguntou brincando.

— Estou achando que sim.

Logo a aula começou e fui para o meu lugar, do outro lado da sala, bem longe da carteira do León. Comecei a prestar atenção redobrada nas aulas, pois o tempo que eu usaria para estudar eu estaria usando para prender criminosos secretamente.

No intervalo, Francesca e Camila vieram falar comigo.

— Vilu, você e o León estão tão juntinhos agora né. – Francesca disse.

— Pois é, cochichando tanto entre vocês. – Camila disse.

— Ele está se abrindo mais com você? – Francesca perguntou.

— Está sim. – Eu disse.

— E o que ele contou? – Camila perguntou falando mais baixo.

— Camila! Se ele não contava nem pra Vilu, que é namorada dele, é óbvio que ele não quer que a gente saiba! – Francesca se segurou para não falar mais alto do que devia.

— Tá bom, relaxa! Mas e aí? Podemos ir na sua casa hoje Vilu, fazer qualquer coisa? – Camila perguntou.

— Não! – Eu disse quase gritando.

— Nossa! O que foi? – Francesca perguntou.

— Vou sair com o León.

— Ah... Então tudo bem! Pra comemorar né? – Camila disse.

— Tipo isso. – Eu respondi. Quem me dera se fosse pra isso!

****

Depois da aula, eu e León fomos pra casa juntos. Depois almoçarmos com Angie fomos estudar. Teríamos que ser mais rápidos agora, eu não poderia me atrasar no primeiro dia né.

— Bom, acho que você já melhorou noventa por cento. – Eu disse colocando meu caderno dentro da mochila que estava em cima da cama.

— Obrigado, foi muito difícil mesmo estudar com você. – Ele disse brincando e me fazendo rir.

— Você tá nervosa? – Ele perguntou, virando a cadeira em direção a cama.

— É, eu estou. – Eu disse dando um sorrisinho amarelo.

— O que mais te preocupa?

— Vou ter que correr muito?

— Vai, e ainda por cima aprender a bater. – Ele disse.

— Pois então, eu não faço muito o estilo atlética. Me sairia melhor se jogássemos partidas de xadrez com os criminosos e quem perdesse ia pra cadeia. – Brinquei, tentando me acalmar. León riu.

— Não vai pra nenhuma missão sem aprender o básico, não se preocupe.

— Vou precisar de alguma coisa? Ir com alguma roupa específica?

— Tudo o que você precisa está aqui. – Ele disse tirando uma maleta prateada da mochila dele, o que devia acrescentar muito peso na mala da escola. Era muito chique e parecia muito importante.

— Posso ver?

— Sim, só espere um minuto. – Ele disse indo até porta e a trancando.

— Como se abre essa coisa? – Eu disse puxando a maleta com toda minha força.

— Tem uma senha, tá vendo? – Ele disse pegando a maleta da minha mão e me mostrando uma pequena telinha, com botões em baixo. Abaixo dos botões estavam vários números. Aquilo era prova do quão seriamente e absurdamente secreto tudo aquilo era.

— E qual é a senha? – Eu perguntei.

— Esta aqui. – Ele disse me dando um papelzinho. – É melhor você decorar isso o mais rápido possível e enquanto isso, não perca esse papel.

— Tudo bem. Deixa eu ver. – Eu disse enquanto apertava os botões. Ao terminar, a maleta se abriu de repente e bruscamente. Quase caindo no chão.

De primeira vi uma roupa um tanto quanto esquisita, mas nem toquei nela. Havia também um celular super tecnológico, igual ao que o León me mostrou. Ao lado da roupa havia vários tipos de balas de armas. Fiquei ainda mais tensa ao ver aquilo, mas a pior parte foi ver três tipos de revólveres na tampa, sendo segurados por suportes.

— Vou ter que usar tudo isso? – Perguntei meio assustada.

— Na verdade você só terá que levar as armas e a roupa, as balas vão acabar em certo momento e depois eles vão repor. – Ele explicou.

— Então tá. – Eu disse sem saber exatamente como agir depois de ver aquilo.

— É hora de ir. Você vai colocar a roupa quando chegarmos na minha casa.

— Na sua casa?

— Vamos passar lá, porque tenho que pegar as minhas coisas e pegar o outro carro.

— Outro carro?

— Calma, você vai ver e entender tudo. Agora pegue uma outra mochila e coloque a mala lá dentro. – Ele disse destrancando a porta enquanto eu fazia o que ele pediu.

Descemos as escadas enquanto fingíamos que nada de anormal acontecia.

— Onde vocês dois vão?

— Vamos sair, pra passear um pouco.

— Mas não iam estudar? – Ela perguntou desconfiada.

— Já acabamos. Não se preocupe Angie, o León está melhorando muito. Ele se esforça bastante. – Eu disse.

— Muito bem. Então podem ir. – Ela disse.

Saímos de casa e León me levou até a casa dele. Eu nunca tinha entrado lá, só tinha visto a fachada. Como a casa dele era muito perto, não demoramos pra chegar.

Quando entramos lá, fiquei espantado com a quantidade de tecnologia que tinha lá. Parecia que eu estava entrando na NASA. Era tudo brando e prateado. Acho que é por isso que León nunca deixam ir visitarem ele.

Subimos as escadas e me deparei com algumas portas.

— Entre aqui e se troque. Eu vou por a minha roupa também e depois vamos ok. – Ele disse abrindo uma das portas.

Entrei lá e León e fechei a porta. Peguei o papelzinho e reabri a maleta e tirei a roupa de lá. Era uma única peça que cobri o corpo todo, eu a segurei na parte do ombro e a olhei de cima a baixo. Era muito estranha! Eu iria parecer uma surfista do futuro! Coloquei a roupa e parei na frente do espelho. Não estava (tão) ruim, mas me sentia estranha. Comecei a me movimentar e percebi o quão confortável e flexível a roupa era.

Depois de ‘brincar’ um pouco com o meu novo traje, fechei a maleta e desci. León estava lá embaixo, com a mesma roupa que eu,  revisando se todos os equipamentos dele estavam na mala. Ele tinha muito mais coisa, deduzi que fosse porque ele estava lá a mais tempo.  Ao me ver, ele sorriu.

— Está linda.

— Até parece. – Eu disse.

— E então, vamos?

— Vamos.

Descemos as escadas, León abriu uma porta que dava para uma garagem enorme e linda. Mas o carro era demais! Nunca havia visto algo daquele tipo. León apertou a chave do carro e as portas se ergueram, como se fossem uma nave espacial, se é que não fosse uma.

— Entre aí. – Ele disse e foi o que eu fiz. Por dentro, era tão lindo quanto por fora. Ele abriu o portão da garagem e deu partida no carro.

Sentia meu coração batendo cada vez mais rápido. Eu não fazia ideia de onde eu estava me metendo, só sabia que aquilo era passagem só de ida. Não poderia voltar atrás agora, já é tarde.