Pequenos Dramas do Cotidiano Adolescente escrita por Manzke


Capítulo 4
IV – Todo amor do mundo.


Notas iniciais do capítulo

Ainda lembro de quando esse capitulo foi escrito.
Quatro da manhã, julho, inspiração enquanto congelava.



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Amélie – Sábado, dia 16

As pessoas acham estranho quando eu digo: Minha mãe é a Leah, e a outra mãe é a Irinna. Parei de me importar com isso tem um ano, mas as pessoas ainda não entenderam.

Minhas mães se conheceram num programa pra mulheres que tinham problemas pra engravidar/eram lésbicas/o marido não podia ter filhos e queriam inseminação artificial. As duas entraram no programa, engravidaram, e se apaixonaram nesse processo. Então, quando foram dar a luz, no mesmo dia, no mesmo hospital, uma das crianças nasceu morta. E antes que a enfermeira pudesse dizer qual das duas tinha dado a luz à criança que sobreviveu, minha mãe Irinna impediu. Elas combinaram de criar a criança como filha delas e manter a identidade da mãe biológica da criança em segredo.

E a criança, bem, era eu. E 16 anos depois, elas ainda não sabem quem me deu a luz. E nós achamos isso muito engraçado.

Antes de saberem da minha família, todo mundo acha que eu fui criada nos bons costumes da sociedade e por isso sou uma aluna tão aplicada, e uma jovem tão dentro das regras e correta. Já ouvi gente dizer que eu devia vir de uma família socialmente bem estruturada e tradicional.

Pra essas pessoas, eu pintei metade do meu cabelo de roxo, botei um piercing no lábio e apresentei minhas duas mães. E isso não interferiu em nada meu comportamento, minhas notas e na verdade, de nenhuma forma ter duas mães cabelos coloridos e piercing mudou drasticamente alguma coisa.

Porque elas me criaram muito bem, obrigada. Com todo o amor do mundo e tudo que uma criança merece na vida.

Só queria esclarecer isso mesmo, porque, de verdade, não estou nem ai pro que vão pensar disso.

Enfim, no dia seguinte, eu não queria ver ninguém. Nem o Andrew, nem minhas mães, nem a mim mesma, por isso virei o espelho pra trás e fiquei encarando a moldura de papelão atrás dele.

Foi lá por 16:00 que o Andy foi na minha casa. O som nos meus fones estava alto, por isso não o ouvi chegar. Então minha mãe Leah bateu na minha porta.

– Oi, Amélie. Andy tá ali embaixo.

– Oi mãe. – Eu respondi baixinho e surpresa. – Sério? Ahn, eu...

Minha mãe estava me olhando daquele jeito que ela faz, com as mãos na cintura.

– Oque você tem, Amélie?

Ela era minha mãe, não podia esconder nada dela nem que eu quisesse muito.

– Eu não to muito bem mãe, mas vai passar. Não precisa se preocupar.

– Quer que eu mande o Andy embora? Quer que eu faça café, fale com sua mãe te compre um livro ou coisa assim? Tenho um dia todo de folga.

Eu amava minhas mães mais que tudo nessa vida, eu juro.

– Não mãe, diz pra ele subir. Mas aceito o café.

Ela murmurou um “tá” e saiu deixando a porta meio aberta. Me encolhi na cadeira preta do meu quarto e fiquei esperando ele subir.

Meu quarto é o melhor lugar do mundo, pra mim. Eu tinha a minha cama permanentemente bagunçada, minhas estantes, meu computador, meu aparelho de som, todas as minhas fotos e as bugigangas das quais eu não era capaz de me desfazer. Tudo ali, inclusive o cheiro do meu perfume gritavam: AMÉLIE.

O Andy parou na porta, um pouco mais tarde do que eu calculei, com uma xícara de café na mão e um olhar estranho.

– A tua mãe mandou eu te trazer isso e... Mélie, eu queria saber se você ainda quer a minha morte, porque não vejo a hora de isso acabar.

Eu ri baixinho enquanto ele me alcançava à xícara.

– Nunca quis a sua morte. Exagerado.

– Então não fica assim comigo, por favor, Amélie.

E dizem que os dramas adolescentes não são bons ou fundamentalmente sérios.

– Eu to cansada de ver ela te magoando e você não fazendo nada e estou cansada de... Você não ver que eu...

Fiquei quieta, mas os olhos dele estavam ali, me pressionando.

– Fale.

– Não é nada.

Ele respirou fundo, cinco vezes.

– Você nunca termina frases não é?

– Termino sim, eu terminei essa, tá vendo?

Ele começou a andar pelo meu quarto, no qual estivera tantas vezes que provavelmente poderia andar por ele de olhos fechados.

– A Debbie tem mudado muito. Amadurecido.

Aham. E meu nome não era Amélie, era Leôncia.

– Ao que me parece ela está em um grande processo de amadurecimento que tem durado a vida toda dela.

Ele me ignorou de novo.

– Eu já tentei te motivar com outras garotas, já disse pra sair dessa, já te deixei quebrar a cara, mas você nunca me escuta, não é? Não sei mais oque fazer com você. Porque nunca se da ao trabalho de me ouvir, Andy?

Ele ficou girando meu globo terrestre por um tempo.

– Eu não sei talvez eu esteja apaixonado por ela, eu não sei. Eu não consigo dormir direito, comer direito, eu fico pensando na Debbie e em você o tempo todo e eu não entendo oque tá acontecendo agora, não mais do que entendo as matérias da escola, e é tudo tão confuso.

Eu comecei a chorar, mas ele estava de costas pra mim, então desde que eu não abrisse a minha boca, poderia manter a pose de melhor amiga irritada.

– Esse sempre é o problema, Andrew, você não consegue decidir oque tá sentindo, oque tá acontecendo, e deixa as pessoas que você sente alguma coisa no meio dessa história toda e...

Eu nunca fui capaz de ficar quieta, não é mesmo?

– Ei, ei, ei, ei. Não chora, para de chorar Amélie. – Ele disse numa tentativa inútil de se aproximar de mim e me fazer parar de chorar. – Mélie, Mélie, para. Olha pra mim. – Eu olhei pra ele, parando de chorar. – Isso, isso mesmo.

Ele me fez ficar ali olhando pra ele até tudo voltar ao normal. Quase tudo. Ele ainda estava tocando em mim, e isso me deixava tão... Confusa.

– Oque tá acontecendo e você não quer me contar?

– Eu só... Não quero ficar longe de você, e pode me chamar de egoísta, mas não quero ter que ver você com outras pessoas e esquecendo que eu existo, como todo mundo sempre faz. Por Deus, Andy eu não posso te perder.

Em especial porque, caso não tenha notado, Andy, eu sou apaixonada por você.

Ele me deu um abraço tão forte que chegou a doer. Só que de um jeito bom.

– É com isso que tá preocupada? Mélie, eu não vou te deixar nunca. Você é minha melhor amiga, não é mesmo? Não se abandona os melhores amigos.

Eu me soltei dele e me sentei na cama, feliz, mas ao mesmo tempo com aquela dor que batia forte no meu peito.

– Você voltou a tirar fotos de si mesma? – Ele perguntou, puxando da cabeceira da cama uma foto minha deitada na cama das minhas mães.

– Não era pra ninguém ver ainda, larga isso. – Eu protestei.

– Por quê? – Insistiu ele. – Tá bonito.

Eu puxei a foto da mão dele junto com as outras que eu tinha tirado e as escondi numa gaveta da minha mesa.

– Mesmo que eu vá mostrar pra alguém um dia, ainda não é hoje.

Ele deu de ombros.

E passou à tarde comigo, como se nunca tivesse voltado com a Debbie, nunca tivéssemos brigado, e nada tivesse acontecido.

E por mais que pareça que eu me torturo com isso, não. É a melhor parte da minha vida. É quando eu sinto que tá tudo bem, que vai ficar tudo bem e que eu estou feliz de verdade.

Talvez, talvez, eu seja louca de viver isso e dizer que tá tudo bem, mas enquanto me fizer feliz, não vejo razão pra parar.


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Notas finais do capítulo

É com orgulho que digo que ontem eu escrevi o ultimo capitulo dessa história C: agora só preciso postar ela



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