Pequenos Dramas do Cotidiano Adolescente escrita por Manzke


Capítulo 3
III – Era só uma menina.


Notas iniciais do capítulo

~Finja que está lendo uma introdução bonita, mesmo que eu não saiba como ela deveria ser~



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Lily. – Sexta, dia 15.

Faz uns 45 minutos que eu devia estar em casa, eu acho.

Mas na verdade, eu estou sentada numa mesinha na frente de um cinema, olhando pra um enorme cartaz de Jurassic World que alguns carinhas lutam pra remover.

Antes que você leia qualquer coisa, melhor saber quem eu sou. Acho que gosto de começar assim.

Na minha vida, tudo sempre foi inconstante. Meu pai criou a mim e minha irmã gêmea, que é completamente diferente de mim na personalidade, sozinho. Com as mulheres sempre saindo da vida dele, porque aparentemente, ninguém quer um cara de 30 e poucos anos com duas adolescentes e uns quadros quase sempre em exposição numa galeria qualquer.

E nos mudávamos muito de casa. Então quase nada do que eu tinha era permanente. E na escola as coisas não eram diferentes. Eu era quase invisível. E sempre ainda mais escondida pela minha irmã que era brilhante em todas as áreas da vida. Mas com isso eu não me importava nem um pouco.

No fim das contas, não era tão ruim.

Eu tinha meu pai e minha irmã, a Cecília, minha melhor amiga, tinha os copos de café, tinha “145 Motivos Para Sorrir”, tinha minhas notas e a expectativa de que tudo ia ficar melhor, que eu ia ficar bem, mesmo quando tudo estivesse ruindo.

Eu sempre vive com uma expectativa no meu peito, cada vez maior. Que nunca parecia ser atendida. Até o John entrar na minha vida.

O John era um aluno do San Martin há uns dois anos. Então a família se mudou pra Nova York. Mas ele não gostou muito de lá então achou um grupo da escola no Facebook, e lá, nesse grupo, quase sem ter trocado uma palavra com outro alguém, estava eu.

E bem, eu falei com o John. E ele comigo. E por alguma razão ele gostou de mim, Lily Wish, uma loirinha com os cabelos sempre escorregando dos elásticos de cabelo, de óculos, e que só é conhecida em um site de resenhas de livros.

E eu gostei dele. Gostei dos cabelos ruivos demais dele, das músicas dele, de como ele falava comigo, das histórias sobre ele que ele me contava pra me fazer rir. Gostava da forma como ele me enxergava, tão diferente da das outras pessoas. Ele não dizia que eu não era ninguém, mas nunca me pôs em um pedestal que não era pra mim. Eu era só uma menina pra ele, uma menina que ele gostava de chamar de fascinante.

Claro que nós nos apaixonamos. Claro que começamos a namorar. E, claro, eu não podia ir ver ele em Nova York. Nem mesmo contei ao meu pai. Ele ia dizer que era loucura isso. Só a Cecília e a minha irmã Luce sabiam. E já era gente demais. Quanto menos pessoas souberem do que você planeja, mais chances existem de dar certo.

Agora é preciso saber uma coisa sobre relacionamentos a distancia: São a pior e a melhor coisa do mundo. Por um lado, a pessoa é tudo pra você, e você é tudo pra ela. Todas as coisas boas de um relacionamento, como o carinho, as palavras, as experiências e até o ciúmes estão ali também, e chega a ser mais verdadeiro porque pela internet ninguém tem vergonha do mundo. Só que pelo outro lado, a pessoa não está ali. Você nunca vai poder abraça-la se estiver com medo, sentir seu beijo, seu toque, e vocês nunca vão fazer um programa de casal como todos os outros.

Pra mim e pro John as coisas boas sempre superaram as ruins. Porque a gente se amava demais pra se perder. Não importava nem Boston nem Nova York.

Mas a mais ou menos 2 semanas as coisas estão estranhas entre nós dois.

Cansei de olhar pras pessoas removendo o cartaz, e peguei o celular da minha bolsa. Sem mensagens do John, sem mensagens da Luce, sem mensagens do meu pai, uma da Cecília e nenhuma da minha mãe. Claro que não existiriam mensagens da minha mãe, ela não ligava pra minha existência. Abri a mensagem da Cecília.

Cecília: Amiga, onde cê tá? Te procurei na escola depois da detenção e não achei, ai eu pensei que você tivesse ido pra casa com a Luce, mas ela está na aula de música...

Ai, droga, eu esqueci que devia ter esperado a Cecília sair de uma detenção que ela pegou por quatro dias seguidos de atraso.

Eu: Ai, Cecíl... Desculpa. Eu me esqueci. Tô no shopping, vim comer qualquer coisa e ir na livraria. Precisava relaxar.

Cecília: Tudo bem, flor KKKKK tô indo pra casa, vou dizer pra minha mãe que eu estava com você pra não falar da detenção. Tudo ok?

Eu: É, está. Mas sabe que vai acabar tendo de falar com ela, não?

Cecília: Não será hoje.

Revirei os olhos e entrei na caixa de mensagens do John, por hábito. Ele nem havia lido a minha mensagem sobre a frase nova de status dele que eu enviara pela manhã. “

Eu lembro que cada dia doía cada dia com ela, mas eu nunca ia abandona-la, mesmo que isso doesse tanto, eu a amava muito – Pequenos Grandes Amores”.

Eu sabia que era sobre nós dois. Era sobre o livro favorito dele, sobre aqueles romances que ele lia e me mandava áudios de voz com longas passagens das páginas favoritas, e mesmo que eu não entendesse as tramas por completo, ele amava, e oque ele amava me fazia feliz.

“Quisera eu saber onde se esconde o segredo de amar sem sofrer”.

Não sei porque, mas colocar aquela frase me deu a sensação de que ele iria ler, e iria me responder. Seria ótimo se ele pudesse voltar a falar normalmente comigo. Não se pode ter tudo.

– Meu Deus porque a minha vida precisa ser assim tão difícil?

Talvez eu esteja fazendo um drama enorme por pouca coisa. Mas aquela era a minha vida, e tinha coisas erradas nela. Podia me preocupar com problemas maiores dos outros e do mundo, mas, e talvez isso soe muito egoísta, mas eu tenho os meus problemas, e preciso dar um jeito neles antes.

Não sou aquele tipo de pessoa que pode ter um caco de vida, mas se doa de completo pros outros. Sou aquele tipo de pessoa horrível que fica presa nos próprios problemas, e sinto muito se você me odeia por isso. Porque talvez não pareça, mas o John, do outro lado do país, era a coisa mais constante na minha vida. E eu não queria perde-la. Não queria perder a única coisa que eu podia chamar de porto seguro. Ninguém gosta de se imaginar flutuando no vazio. Por isso se agarram em âncoras invisíveis. Só que meus dedos estavam quase escapando da minha âncora.


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Notas finais do capítulo

Minha relação com esse capitulo é meio tensa porque ele é muito ahn, Eduarda. Eduarda demais.



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