Pequenos Dramas do Cotidiano Adolescente escrita por Manzke


Capítulo 5
V – Seguindo as Estrelas.


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo marca o inicio de uma coisa muitooo importante pra lavínia.



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Lavínia – Segunda, dia 18

A escola estava finalmente, finalmente, acabando.

Claro que isso significava perda de contato com algumas pessoas que estavam na minha vida há milênios, e toda a pressão com minha mãe e a faculdade, mas estava acabando. E isso significava algo enorme pra mim. E também era a única coisa que eu podia criar alguma expectativa.

– Falta menos de um mês, menos de um mês. Quase lá, Lavínia.

Nos corredores, os cartazes do baile de formatura com o tema Anos 90, dali a exatamente 23 dias, já tomavam quase todo o espaço livre das paredes, ao mesmo tempo os folhetos de festas nas casas dos adolescentes que eu estava tão acostumada a ouvir falar já voavam de um lado a outro pelo vento, ou passando de mão em mão.

– Ei Lavínia! – Eu ouvi alguém me chamar. Me virei rápido e era o Josh. Ah, não.

– Ah, hoje não Josh. – Eu respondi me virando e batendo com a cabeça na quina de um armário.

– Ai... Droga, sua desastrada. – Eu murmurei pra mim mesma.

Ai eu me virei e dei de cara com o Josh.

– Ta tudo bem com você?

Na verdade, estar não estava né.

– Está sim, obrigada. Agora licença.

– Não, não, não, espera.

Ai vida. Eu só queria ir logo pra sala da Matilde, minha professora, será que é pedir muito?

– Oque é?

– Porque é que você foge de todo mundo em garota? – Ele me encarou de um jeito que tipo, ninguém me encarou antes. – Você não vai às festas, não sai e ninguém nunca sabe de você. Eu só queria entender o por quê.

Não havia nada que eu odiasse mais que discutir a minha vida social com qualquer um, e isso inclui a mim mesma.

– Eu sou ocupada demais pra perder tempo com essas coisas, me deixa ir pra aula.

– Você não tem nenhuma ideia do que faz as pessoas pensarem não é? Você não tem amigos porque você simplesmente ignora todo mundo, e...

Agora, eu me irritei. Nada nesse mundo me deixa mais indignada que quando falam da minha vida sem saber dela.

– Você não sabe da missa a metade, não sabe os meus motivos e oque me leva a tomar todas as decisões da minha vida. E quem é você pra falar assim comigo, acha que não sei que só vive atrás de mim porque ainda não me teve na sua cama como mais um troféu só um pouco mais difícil de conseguir.

Os olhos dele eram gelados, e fixos em mim de um jeito muito, muito...

– Nunca ninguém fez uma ideia tão errada sobre mim. Estou decepcionado com você. Achei que fosse diferente, mas é do jeito que todo mundo me avisou: Incapaz de ver que no mundo é possível haver pessoas que queiram ser suas amigas.

Talvez ele tenha me abalado de leve, mas eu nunca ia admitir. Resolvi dar uma chance a, sei lá, a vida.

– Ok, você venceu. Quer sair comigo como ‘amigo’ então vamos lá.

Ele pareceu surpreso, mas não riu da minha cara nem nada do tipo. Na verdade, ele até sorriu.

– Ah é? Porque você não almoça comigo, então?

Eu podia fazer aquilo. Se não por ele, ou por mim, por ele ter me peitado daquele jeito.

– Fechado.

Eu devo estar ficando é maluca.

– Ok, me trouxe aqui, me pagou um sanduiche, e agora? Ainda pareço à garota que ignora a todos.

Ele apoiou os cotovelos na mesa, me olhando nos olhos, da mesma maneira que os caras conquistadores olham pras mocinhas burras e ingênuas de filmes.

– Porque não fala de você, Lavínia? Ou faz o gênero garota misteriosa?

Talvez eu devesse entrar no jogo dele.

– Faço. Ninguém sabe onde eu moro, meu sobrenome, minha história ou as coisas que faço fora do alcance dos olhos de todos. Sou um mistério que todo mundo gostaria de desvendar.

– Chego a estar assustado agora. Talvez devesse dar a honra a um simples habitante terráqueo de saber um pouco sobre você.

Por alguma razão, eu queria mesmo ficar ali, e não estava com vontade de enfiar uma faca no peito. Aquele tipo de conversa não era tão difícil como eu tinha imaginado.

– Oque é que quer saber?

Ele sorriu pra mim, oque me fez pensar que talvez eu não devesse falar alguns tipos assim tão sugestivos de frase. Mas a culpa não é minha. Eu acho.

– Seu cabelo é natural?

Segurei uma mecha ruiva do meu cabelo e revirei os olhos.

– Sim, é natural. Podemos começar com questões interessantes?

Ele deu de ombros.

– Ok. Onde mora, e porque nunca te vejo ir pra casa ou vir pra escola andando?

– Umas duas ruas pra trás dessa escola tem um prédio cinza desbotado com doze andares, divididos em blocos, eu moro no bloco J, com a minha mãe. Eu saio depois de todo mundo porque faço aula de piano, que só pode ser feita depois que todas as aulas normais acabam.

Ele pareceu surpreso, eu acho.

– Legal. Não sabia que tocava piano. Enfim, vamos lá... Oque vai fazer depois que tudo isso... – Ele fez um gesto abrangendo todo o refeitório. – Tiver ficado pra trás?

– Eu sempre gostei de ciências, astronomia. É isso que eu vou fazer.

– Sonho... Diferente pra uma garota.

Eu deveria ter me irritado com o tom dele, mas ignorei. Às vezes ignorar é tão melhor que me dar ao trabalho de fazer dramas.

– É mágico. E sempre a mais a estudar e a descobrir. Não é fácil, mas... É como perseguir as estrelas. E é oque eu quero.

Ele sorriu, e não fez nenhum outro comentário sobre aquilo, e eu gostei disso, embora não saiba especificar direito o motivo.

– Ok, vamos pra perguntas mais básicas. Música?

Eu sorri de volta pra ele. Aquele programa de entrevista estava até que valendo a pena.

– Rock, indie, metal, alternativo, música clássica.

Ele parecia impressionado.

– Livros?

– Romances franceses, mistérios, investigação policial, dramas e séries sobre distopias.

Era diferente conversar com ele porque conforme as coisas que eu respondia ele parecia se impressionar mais.

– Oque você faz no seu tempo livre?

– Leio estudo, toco piano, escuto música. – Dei de ombros casualmente. – Não possuo muito tempo livre.

– Porque não?

Ai, Deus. Ok, eu estava realmente... Feliz de estar tendo uma conversa de verdade com alguém da minha idade, mas não estava pronta pra falar da minha vida pessoal daquele jeito. Não que eu tivesse vergonha, a odiasse ou fosse fingir ser oque eu não era. Só não gostava de proclamar a minha vida daquela forma.

– Sei lá. – Dei de ombros de novo. – Só não tenho mesmo.

Ele me pressionou mais um pouco com os olhos, mas acabou por deixar pra lá. Me fez mais umas perguntas que respondi sem hesitar. Até o sinal tocar.

– Ainda sou a garota que todo mundo te avisou que eu era?

Ele ergueu as mãos pra se render.

– Não. Você é uma garota bem legal. Diferente do que eu tinha imaginado. Podíamos ser amigos, se isso não atrapalhar a sua aura misteriosa.

Parecia que ele estava me propondo uma amizade de verdade, e eu gostei disso.

– Ok, podemos ser amigos.

Então nós demos um cumprimento formal por cima da mesa e fomos juntos de volta pra aula.


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Notas finais do capítulo

Beijo Beijo



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