Opostos que se Atraem escrita por paular_GTJ


Capítulo 6
Capítulo 6




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POV JACOB


Acordei com meu celular tocando embaixo do meu travesseiro - e com isso tremendo a cama inteira. Enfiei a mão para alcançá-lo ainda de olhos fechados tentando, cegamente, achar o botão de atender. Coloquei o aparelho no ouvido ainda muito grogue.


– Alô? – Resmunguei com a voz rouca de sono.


AMOOOR! – Ouvi a mais irritante voz do mundo logo de manhã. QUE PORRA EU FIZ PRA MERECER ESSA GAROTA SARNA?


– Leah, o que você quer? – Tentei não ser grosso e demonstrar minha raiva, mas talvez não tenha conseguido porque ela falou parecendo indignada.


Nossa Jake, isso é jeito de falar comigo?


– Foi mal! – Bocejei, indiferente. Voltei meus olhos para o relógio ao lado.


Eu não acredito! 07h28min? Ela me liga dois minutos antes do meu despertador tocar? Que merda! Eu sei que isso parece exagero, mas dois minutos a mais de sono fazem diferença, pelo menos para mim.


Tudo bem, eu te perdôo bebê! – Falou a criatura irritante do outro lado da linha. – Vai me dar carona hoje?


– Ãhm? – Murmurei levantando da cama um pouco sonolento ainda.


Carona, Jake. Nossa você é muito lento de manhã né? – Riu como se tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo.


Revire os olhos tentando achar uma desculpa rápida para não ter que ver ela assim tão cedo, porém meu cérebro de manhã não funciona com a agilidade que precisava para me livrar dela.


Eu vou te esperar então, beijinhos.


– Leah espera... – Tentei falar, mas o telefone já estava mudo. Droga!


Sai da cama chutando tudo que vi pela frente e me vesti rapidamente. Fui para o banheiro e senti um cheirinho bom de panquecas. Ah, eu já disse que amo minha irmã?


Entrei na cozinha e lá estava ela, preparando uma mesa cheia de coisas gostosas para comer. Ela sempre fazia essas coisas quando estava de bom humor ou se tivesse alguma coisa importante acontecendo.


– Nossa Rach, caprichou hoje hein?– Falei dando-lhe um beijo no topo de sua cabeça e já tratando de sentar e me servir de tudo que via pela frente. - Qual é a ocasião especial? – Perguntei já de boca cheia.


– Como assim? Papai chega daqui a pouco, esqueceu? – Perguntou quando sentou-se também.


– Ah é. – Murmurei dando uma grande garfada na panqueca em meu prato.


Eu havia esquecido completamente que Billy voltava hoje. Fazia uma semana que ele estava viajando em função de seu trabalho. Meu pai era produtor de shows e coisas do gênero, o que era muito bom porque ele conseguia descolar vários ingressos de graça para mim quando eu queria.


Terminei de comer rapidamente, escovei meus dentes e fui para a casa da chicle ambulante, como havia “prometido”.


Buzinei duas vezes quando cheguei na frente de sua casa, e Leah veio saltitando, na mesma felicidade do dia anterior, na direção do carro. Hoje eu daria um jeito de me livrar daquela garota custe o que custar.


Primeiro eu já estava com ela há muito tempo - muito mais do que era normal eu ficar com uma garota. Ela já estava se tornando grudenta e melosa demais.


Segundo, e este eu tentava não usar como argumento, eu tinha outra garota em mente quase o tempo inteiro agora. Eu não via mais tanta graça na beleza de Leah e me pegava comparando tudo que ela fazia com Nessie. Eu sei, isso é coisa de bobinho apaixonado, COISA QUE EU NÃO ESTAVA, e era por isso que eu tentava não usar isso como argumento.


– Bom dia, amor! Está de humor melhor agora? – Leah perguntou assim que sentou no carro e fechou a porta. Virou a cabeça para mim e fechou os olhos fazendo biquinho.


– Claro, claro. – Resmunguei lhe dando um selinho de leve e voltando atenção para a estrada.


Tentei pensar em um jeito de iniciar a conversa que queria ter com ela, para enfim terminar aquilo que estávamos tendo, porém Leah não calava a boca – novidade – e isso além de me deixar irritado, não me dava espaço para me livrar dela logo.


Chegamos à escola e para a minha grande felicidade, eu não teria aula com ela. No meu novo horário, que eu terminara na noite passada, eu fiz questão de ficar fora de todas as classes que eu sabia que Leah estava.


Mesmo assim eu teria aula de mecânica agora, coisa que Leah nunca cursaria na vida. Despedi-me dela, que ira para aula de fotografia – graças a Deus eu mudei meus horários – e rumei lentamente para a minha sala.


As aulas se passaram lentas, chatas e monótonas como sempre. Quil estava um tanto estranho durante a manhã e sempre que eu perguntava qual era o problema ele balançava a cabeça e me respondia nada com nada. Eu estava falando bem mais do que o normal com Paul, outro amigo meu, pelo fato de Quil estar tão desligado hoje que me fazia sentir completamente sozinho.


Estava indo para o almoço mais tarde, com Paul e um Quil bastante tristonho - ele estava começando a me preocupar de verdade e eu já ia perguntar pela milésima vez qual era o problema quando senti alguém vendar meus olhos e sussurrar no meu ouvido.


– Adivinha quem é? – Como se alguém pudesse não saber quem é, com aquela voz de gralha. Reprimi a vontade de bufar e falei como se estivesse pensando:


– Leah? –


Ela deu uma risadinha e tirou as mãos dos meus olhos já tratando de me virar para me beijar.


Não a deixei aprofundar MUITO o beijo - sim, eu não sou gay não é? Não iria dispensar um beijo de uma gata como a Leah. Involuntariamente eu estava comparando aquele beijo com o de Nessie - não chegava nem perto.


Quil falou com uma voz monótona que iria para o refeitório e seguiu para lá com Paul, que me lançava sorrisinhos maliciosos. Enquanto isso, Leah me relatava as suas aulas tediosas com todos os detalhes que tinha direito. Ela não parava de falar e cheguei à conclusão que se não a interrompesse, eu NUNCA iria conseguir falar o que eu queria com ela.


– Leah escuta, a gente precisa conversar. – Ela parou de relatar sobre quantas fotos de florzinhas ela bateu na aula hoje e me olhou parecendo interessada.


Antes que eu pudesse abrir minha boca para continuar alguém me interrompeu.


– Jacob?


A voz de Nessie soou atrás de mim e abri um sorriso antes de virar para olhá-la. No mesmo instante que eu me virava, uma amiga loirinha de Leah chegara para levá-la ao refeitório.


– Tudo bem amor? – Leah perguntou me olhando um pouco apreensiva.


Até parece que eu iria me opor. Eu estava tão feliz daquela amiga dela, que eu não lembrava o nome mas sabia que beijava mal pra caralho, ter tido a brilhante idéia de tirar Leah dali bem quando Nessie resolveu falar comigo. Eu nem me importei dela me chamar de amor.


– Claro, vai lá. – Falei abrindo um sorriso para ela. Ela retribui-o e ficou nas pontas dos pés para me beijar. Dei-lhe um selinho rápido e me virei sorridente para Nessie.


Ela não parecia assim tão feliz como eu. Estava com a cara um tanto fechada e tinha um ruginha no meio da sua testa.


– Oi Nessie! Tudo bem? – Cumprimentei animadamente.


– Obrigada, foi muito útil. – Murmurou, ignorando os meus cumprimentos e me entregando meu casaco de couro, que eu havia lhe emprestado na noite passada, eu nem lembrava mais dele – Desculpe não ter te dado ontem, esqueci.


Ela já estava se virando para ir embora quando eu puxei seu braço.


– Espera, pra quê a pressa?


Ela não iria falar mais nada? Como se simplesmente não tivesse acontecido NADA ontem à noite?


– O que você quer Black? – Falou seca. Fiquei um pouco assustado com aquela frieza toda.


– Ah, então agora eu voltei a ser o Black? – Aquilo me magoou de um jeito que não queria acreditar. Deixa de ser gay Jacob, pensei me reprimindo, desde quando garotas magoam Jacob Black?


– Pensei que nossa trégua fosse só ontem. – Deu um sorriso amarelo, arqueado uma sobrancelha.


– Então pra você ontem não foi nada? Apenas uma trégua idiota? – Murmurei mais indignado do que queria soar.


Eu não estava acreditando naquela garota! Ela não sentiu nada quando me beijou? Nadinha? Ela era tão fria assim? Tudo bem que foi apenas um beijo, mas pensei que já havíamos passado dessa fase de briguinhas sem sentido.


– Por quê? Pra você por acaso foi alguma coisa a mais? – Debochou, mas parecia indignada ao mesmo tempo. – Me poupe com esse discursinho Jacob, você não tem vergonha na cara, não? Eu não sou que nem as garotinhas que você está acostumando a ficar, ok? Se você pensou que eu vou ser idiota o suficiente para imitar as panacas que você pega normalmente e ficar babando por você pelos quatro cantos, sinto lhe informar que se enganou feio. Eu não vou fazer papel de boba e você deveria pensar mais nos sentimentos dos outros e não fazer Leah de idiota também. Ela gosta de você. Mais do que você merece!


Fiquei completamente mudo diante das palavras dela. Não tinha fundamento nenhum o que ela acabara de me dizer. O que eu fiz para ela pensar isso de mim?


– Do que você está falando? E como Leah veio parar nessa discussão?


Nessie abriu a boca por um momento parecendo chocada, um segundo depois sua expressão mudou para raiva.


– Você é um cara de pau mesmo! Você acha que eu sou idiota? Além disso, você não liga a mínima para o sentimento dos outros. Se liga Black, você não é tudo isso não. – Sibilou para mim já virando e indo embora.


Eu estava estagnado no mesmo lugar tendo entender aquilo tudo. QUE PORRA FOI ESSA? Qual é o problema dessa garota? Não havia outra explicação: ela era bipolar ou tinha algum outro problema de humor. Não pode ser normal ser tão doce em um momento e no outro simplesmente te atacar com cinco pedras na mão.


Não estava com fome então não vi motivos para ir ao refeitório. Quil deveria estar com Paul, assim não vi motivos para ir avisá-lo que não almoçaria com eles. Além do mais, dúvido muito que ele estivesse se importando com isso, estando tão distante como estava hoje.


Dei a volta e me encaminhei para uns bancos que tinha no pátio do colégio perto do estacionamento. Para minha grande surpresa, quem eu vejo sentado sozinho em um banco? Quil.


– Não tinha ido para o refeitório? – Perguntei quando cheguei ao banco e me sentando ao seu lado.


Eu estava segurando meu casaco de couro, que estava impregnado com o cheiro de Nessie. Era simplesmente um aroma único. Eu não vou lavar essa jaqueta nunca mais.


– Ah, to sem fome. – Quil deu de ombros, indiferente – E você?


– Também. – Olhei bem pro meu amigo. Ele estava muito pra baixo e aquilo estava me deixando um tanto inquieto. – Cara, o que você tem? Nunca te vi desse jeito.


Quil me olhou por um momento com os olhos desfocados, parecia não estar prestando muita atenção no que estava ao seu redor, completamente perdido em pensamentos.


– Não é nada, não. – Disse voltando a encarar o estacionamento a sua frente.


– Qual é cara, sou eu, o Jake. – Dei um empurrãzinho em seu ombro, preocupado. – Pode se abrir comigo.


Quil suspirou fundo, mas não respondeu.


– É a Claire? – Tinha que ser, eu não o vi com ela desde o começo da manhã, o que é muito anormal sabendo que os dois não se desgrudam nunca.


Quil afirmou com a cabeça e começou a desabafar.


– Eu não sei o que ela tem cara, ela simplesmente começou a ficar estranha comigo. – Falou olhando suas mãos. – Ontem a gente saiu e tava tudo numa boa, ai ela passou mal e começou a ficar pensativa. Não falava mais direito comigo e quis ir para casa. Não vi ela o dia inteiro! Liguei para ela umas dez vezes já entre hoje e ontem, mas ela não me atende... Ela ta me evitando e eu não sei por quê.


Ele disse tudo isso muito rápido e depois suspirou pesadamente e apertou as têmporas dos olhos com os dedos com força.


– Hum. – Não sabia bem o que dizer. Eu não era o cara mais adequado para dar conselhos amorosos. – Quer saber, assim talvez seja melhor. Namorar é coisa para maluco. – Tentei fazer graça disso e dei uma risadinha singela.


– Olha quem fala! – Quil revirou os olhos e me olhou com uma expressão um pouco reprovadora.


– O quê? – Falei confuso.


– Aliás, não ia me contar não? Pensei que fosse seu melhor amigo! – Quil murmurou indignado.


– De que porra tu ta falando cara? – Ele só podia estar maluco ou chapado.


– Do teu namorozinho. – Quil deu uma risadinha debochada agora.


– Namorozinho? Tu tá fumando Quil? – Perguntei assustado.


– Não né animal – Revirou os olhos. – Tô falando do teu namoro com a Leah.


Agora eu gargalhei alto. Ele estava mesmo achando que eu estava namorando ela? Com aquela gralha irritante?


– Tu definitivamente ta fumando um. – Falei quando consegui parar de rir. – Você realmente acha que eu estou NAMORANDO? E ainda mais com a Leah?


Quil me olhou um pouco surpreso, coçou o queixo pensativo e falou dando de ombros:


– É o que estão falando por ai.


– Como assim? – Perguntei sem entender nada.


– Sei lá... Estão dizendo que vocês decidiram deixar o relacionamento mais sério. Eu ouvi uma garota conversando com uma amiga antes de vir para cá: “finalmente conseguiram colocar uma coleirinha no Jacob Black”.


Olhei para o Quil com os olhos cada vez mais arregalados. COMO ASSIM COLERINHA NO JACOB BLACK?




POV NESSIE


Cheguei à escola bem cedo no outro dia. Eu estava com Black demais na cabeça e tinha que me distrair um pouco antes que ficasse maluca. Eu estava um pouco mais animada que o normal, e mesmo que eu tentasse me enganar constantemente, eu sabia que era porque eu iria falar com aquele idiota. Aliás, eu teria que falar com ele, afinal estava com seu casaco.


Minha primeira aula era de fotografia, então rumei para a sala e sentei em um banco perto da porta. A sala não estava aberta pela hora ser tão cedo e não havia nenhum colega ali perto para me fazer companhia, portanto puxei um livro de Inglês e comecei a fazer uns exercícios que o professor dera para quarta-feira.


Quando a sala foi aberta, eu já tratei de entrar e arrumar um lugar ali pela frente. Eu simplesmente amava fotos e tirá-las era meu hobbies preferido. A única matéria que eu realmente gostava nessa escola monótona e a única que eu realmente me esforçava.


Claire não fazia aula comigo até mais à tarde, então estaria sozinha nas primeiras aulas da manhã. Pelo menos que eu sabia, porque na verdade meus horários novos, que finalizei na noite passada, foram totalmente no chute por eu não saber exatamente quais eram os horários de minha amiga, então era bem possível que não fizéssemos mais tantas aulas juntas agora. Tudo culpa desse colégio incompetente!


Sentei na segunda mesa e fiquei aguardando a turma chegar e se acomodar ainda fazendo os exercícios de Inglês.


– Posso me sentar? – Nahuel, um menino loirinho que eu conversei uma ou duas vezes, perguntou com uma mão na cadeira ao meu lado.


– Claro. – Respondi indiferente, voltando minha atenção aos exercícios.


Demorou mais uns cinco minutos para todos entrarem e se acomodarem, e, para a minha grande infelicidade, Leah e uma amiguinha dela chegaram por último e tiveram que sentar nas cadeiras da minha frente, sendo as únicas restantes da sala.


– E ai, falou com ele? – A amiga dela, que eu sabia se chamar Kim, pediu quase quicando na cadeira de tanta expectativa.


– Siiiim! – Leah indagou sorrindo de orelha a orelha. – Ele...


– Srta. Clearwater, Srta. Garner, podem deixar o papinho para mais tarde? – A professora ralhou fazendo as duas fecharem a cara e virarem para frente fazendo bico. – Bom, hoje a aula seja no pátio e vocês deverão fazer fotografias sobre paisagens coloridas. Como hoje o sol resolveu aparecer, acredito que podemos fazer trabalhos muito interessantes.


Ninguém parecia muito animado para a tarefa, eu, porém, estava amando. Ou pelo menos até a professora concluir.


– Vocês deverão se juntar em um grupo de quatro pessoas e depois passarei um trabalho escrito que deverão me entregar na próxima semana.


Como vocês já devem ter reparado, a minha sorte conspira muito contra mim e não precisa ser um gênio para descobrir que o meu grupo foi um lixo. Lá estava eu, rumando para o pátio com Nahuel (nada contra ele, até que é bonitinho), Leah e Kim.


– Acho que fotos aqui ficariam legais. – Nahuel comentou indicando um ponto do pátio onde havia lindas flores e o sol estava em uma posição perfeita para ser fotografado.


O garoto parecia gostar dessa matéria assim como eu - pelo menos alguém decente no grupo que está inclinado a fazer o trabalho, porque aquelas duas estavam mais animadas a continuar a conversa antes interrompida pela professora.


– Então me conta o que ele falou! – Kim falou urgente para Leah assim que chegamos ao ponto indicado por Nahuel.


– Ele me levou para casa, sabe... Ele ficou preso aqui na secretaria não é? – Aquilo prendeu minha atenção.


Ela estava falando de Jacob. Fingi que não estava ouvindo e me posicionei como se estivesse ajeitando a câmera para bater uma foto, porém meus ouvidos estavam ocupados com o que Leah ia dizendo.


– O quê? Como assim? – Kim falou eufórica.


Leah começou a relatar para Kim o que sabia sobre o que acontecera ontem à noite. Ela esqueceu de mencionar que eu também estava na sala trancada, fazendo parecer que Jacob ficara lá sozinho durante duas horas. Não que eu me importasse, claro.


– Aí ele me levou para casa de carona. – Ela ia relatando enquanto Nahuel batia um milhão de fotos e eu ainda fingia ajeitar a minha câmera para a configuração adequada.


– E ai...? – Kim pressionou e Leah fez uma pausa dramática.


Droga, eu não queria ouvir o relatório daquela imbecil de como sua noite com Jacob foi prazerosa e perfeita e blábláblá.


– Eu falei para ele que a nossa relação era muito superficial e que a gente se dava tão bem e combinava tanto que não havia nenhum motivo para não aprofundarmos ela. – Declarou apaixonadamente me fazendo escancarar a boca em choque.


Eu estava morrendo ali, esperando para saber o que foi que Jacob respondeu a ela diante desse relato.


– E ele? – Kim perguntou para minha imensa alegria.


– Ele concordou! – Leah deu um gritinho batendo palminhas, emocionada. – Eu perguntei se ele concordava em namorar mais sério e ele disse que sim!


Kim e Leah começaram a pular no mesmo lugar gritando que nem duas crianças enquanto eu sentia uma alguma coisa muito estranha tomar conta de mim. Ele concordou em namorar sério com Leah? Depois de falar mal dela e evitá-la descaradamente? Depois de ME BEIJAR? Aquele desgraçado, galinha, cafajeste, filho da p...! Eu estava sentindo uma raiva acima do que eu podia evitar.


Mas ao mesmo tempo eu me perguntava por que dessa surpresa toda. Eu não havia concluído ontem mesmo que não passei de mais uma na lista de Jacob? Eu imaginei que só porque ele me elogiara, ou melhor, jogara cantadas baratas, ele queria alguma coisa a mais comigo?


Eu não estou acreditando que me deixei iludir por um garoto que nem Jacob. Eu estava indo contra tudo que sempre desprezei, que acreditei. Sim porque Jacob era tudo de ruim que eu sempre achei que um homem seria. Sem o mínimo de apresso pelos sentimentos das mulheres. Eu estava realmente sentindo raiva por causa de um garoto?


Leah estava eufórica ao meu lado agora e eu senti um pouco de pena dela. Quer dizer, Jacob prometeu alguma coisa séria com ela na mesma noite em que me beijou. Ela iria ser a garota mais corna da história desse colégio.


– Está tudo bem Nessie? – Nahuel perguntou baixinho para mim.


Eu deveria estar com uma cara nada agradável para o garoto perceber. Lancei-lhe um sorriso amarelo e acenei uma vez com a cabeça colocando a câmera na frente do meu rosto para topar minha expressão.


Passei a manhã inteira cabisbaixa e me repreendendo a todo o momento por isso. Idiota! Para de sofrer por causa de garoto. Onde já se viu?! Queria tanto falar com Claire, mas eu não a vi a manhã inteira e não fazia a mínima idéia de onde minha amiga estava.


Quil apareceu no último período da manhã para me entregar meu celular. Ele estava tão para baixo que chegava a dar pena. Queria perguntar o que acontecera com ele, ou se sabia algo sobre Claire, mas ele não deu tempo nem de eu abrir a boca e já sumira de vista. Eu hein!



Eu ainda estava com a jaqueta de Jacob na mochila, e muito pelo contrário de mais cedo, eu não estava nem um pouco contente em ter que falar com ele agora - não depois de saber daquele fato pela Leah. Andei lentamente em direção ao refeitório varrendo o pátio com os olhos e tentando encontrar Jacob em algum lugar.


Achei-o perto da fila com Quil e um outro amigo galinha dele. Para minha grande infelicidade Leah estava indo na sua direção com um sorriso bobo no rosto. Ao longe assisti, muito mal-humorada, Leah vendar os olhos de Jacob, depois os dois se beijarem e começar a conversar animadamente. Quil e Paul, o outro garoto que estava com ele, se mandaram para o refeitório no momento em que os dois se beijaram. Aproximei-me de muita má vontade e ouvi Jacob falando:


– Leah escuta, a gente precisa conversar.


Resolvi interromper logo. Não queria ficar ouvindo as besteiras e mentiras que ele devia falar para ela.


– Jacob? – Chamei de má vontade.


Quase instantemente que eu o chamei, Kim chegou e convidou Leah para ir ao refeitório com ela. Fingi que não vi os dois se despedindo com um beijinho e me concentrei em meus pés.


Jacob virou-se para mim com um sorriso enorme. Ele está achando o quê? Que eu virei uma das peguetes dele só por causa de ontem à noite? Que eu iria ser só mais uma daquele colégio? Ah, mas quanta ingenuidade.


– Oi Nessie, tudo bem? – Falou amigavelmente com aquele sorriso de tirar o fôlego. Ignorei aquilo e estendi o casaco para ele.


– Obrigada, foi muito útil. Desculpe não ter te dado ontem, esqueci. – Resmunguei, já tratando de me virando para ir embora. Jacob, porém segurou meu braço e me virou de volta para ele.


– Espera, pra quê a pressa? – O cara de pau insolente perguntou inocentemente.


– O que você quer Black? – Perguntei tentando manter a voz calma.


– Ah, então agora eu voltei a ser o Black? – Ele parecia indignado.


– Pensei que nossa trégua fosse só ontem – Indaguei ironicamente com um sorrisinho sarcástico.


– Então pra você ontem não foi nada? Apenas uma trégua idiota? 


Ele só pode estar tirando com a minha cara. Como ele tem coragem de falar isso depois do que prometeu para a Leah minutos depois de ter me beijado?


– Por quê? Pra você por acaso foi alguma coisa a mais? – Debochei um tanto irritada. – Me poupe com esse discursinho Jacob, você não tem vergonha na cara não? Eu não sou que nem as garotinhas que você está acostumando a ficar, ok? Se você pensou que eu vou ser idiota o suficiente para imitar as panacas que você pega normalmente e ficar babando por você pelos quatro contos, sinto lhe informar que se enganou feio. Eu não vou fazer papel de boba e você deveria pensar mais nos sentimentos dos outros e não fazer Leah de idiota também, ela gosta de você. Mais do que você merece.


É eu sei, eu estava defendendo a Leah. Mas vamos falar sério, a garota é pateticamente apaixonada por ele e ele a trata desse jeito? Tudo bem que ela é irritante e tudo mais, mas porque ele não termina logo se não gosta dela? E além do mais, iludiu a garota prometendo alguma coisa mais séria e agora vem dar uma de santinho indignado para cima de mim?


– Do que você está falando? E como Leah veio parar nessa discussão? – Perguntou fazendo uma careta, parecia, teatralmente, confuso.


ELE TÁ DE PALHAÇADA COMIGO?


– Você é cara de pau mesmo! Você acha que eu sou idiota? Além disso, você não liga a mínima para o sentimento dos outros. Se liga Black, você não é tudo isso não. – Falei seca, virando-me e indo para o refeitório.


Como pude ser tão idiota a ponto de dormir agarrada naquela jaqueta estúpida? E sonhar com ele a noite inteira? O que eu tenho na cabeça? Cadê aquela Nessie que tinha um cérebro no lugar? E cadê a Claire quando eu preciso dela?


Liguei para o celular de minha amiga e ela não atendeu. Procurei-a com meus olhos pelo refeitório, mas ela não estava ali. Ótimo! Sozinha o dia inteiro só com aquele panaca na cabeça para me fazer companhia.


O dia se passou lentamente e quase dei pulinhos de felicidade quando o sinal tocou e eu rumei para o estacionamento. A fofoca do colégio agora era sobre o mais novo casal da escola. Não que isso fosse normal para um assunto de fofoca, porém o fato de JACOB BLACK estar namorando era surpreendente demais. E logicamente eu estava odiando ainda mais aquele ambiente onde o assunto era Leah e Jacob para todos os lados.


Cheguei em casa e tentei mais uma vez ligar para o celular de Claire. Ela não atendeu. O que será que aconteceu? Isso não é nada normal. Tentei ligar para casa dela e sua mãe me informou que ela deveria estar chegando da escola. Tive que dar uma disfarçada e inventar uma história de que ela deixara seu livro comigo para a mãe dela não desconfiar de nada.


Agora eu estava preocupada. Ela não fora para a escola, mentira para a mãe que fora, não atendia o celular e não estava em lugar nenhum!


Eu estava no meu quarto, na minha posição preferida, de cabeça para baixo e pernas para o alto ouvindo uma música no rádio e pensando nisso. Bem, nisso e em mais uma coisinha... Mas prefiro não comentar sobre isso.


“…The seven things I hate about you (As sete coisas que eu odeio em você)

The seven things I hate about you (As sete coisas que eu odeio em você)

You're vain, your games, you're insecure (Você é inútil, seus jogos, sua insegurança)

You love me, you like her (Você me ama, você gosta dela)

You make me laugh, you make me cry (Você me faz rir, você me faz chorar)

I don't know which side to buy (Não sei que lado comprar)

Your friends they're jerks (Seus amigos são uns idiotas)

And when you act like them, just know it hurts (E quando você age como ele, sabe como machuca)

I wanna be with the one I know (Eu quero estar com alguém que conheça)

And the 7th thing I hate the most that you do (E a coisa que eu mais odeio que você faz)

You make me…” (Você me faz...)

Seven Things - Miley Cyrus


Sai da posição que estava e desliguei a droga do rádio antes daquele maldito refrão terminasse. Era só o que me faltava! Ficar em casa ouvindo música e lembrar dele. O que estava acontecendo comigo? Cadê a Nessie que não se abala com garotos, especialmente com garotos com Jacob Black?


Fui tirada dos meus devaneios por um barulho estranho. Aquilo parecia ter vindo da minha janela. Olhei para ela a tempo de ver uma pedra atingir o vidro e produzir o mesmo barulho de antes.


Levantei da cama e me encaminhei até a janela um pouco confusa. Olhei para fora, e quem eu vejo? Sim, aquele idiota, irresistivelmente lindo, me olhando com uma carinha de pidão.


– O que você quer aqui Black? – Dei ênfase no sobrenome para ele se tocar que eu estava furiosa com ele.


– Da pra você descer aqui? Quero conversar com você. – Sussurrou urgentemente.


– Não, vaza daqui. – Resmunguei, fechando a janela com um baque surdo e indo me sentar na cama.


Fiquei ali em uma luta interna. Uma parte dentro de mim queria descer e conversar com ele, a outra – mais racional – não queria sair de dentro daquele quarto. Eu tinha a leve impressão de que aquilo só me deixaria pior do que eu já estava.


Alguns minutos demais eu escutei o mesmo barulho no meu vidro. Levante fula da vida. Iria jogar alguma coisa na cabeça naquele animal. Eu já estava, inclusive, procurado algum objeto com os olhos - um bem pesado de preferência - porém quando eu olhei pela janela levei um susto. Não era Jacob que estava lá fora, era Claire.


– O que você ta fazendo aqui? – Perguntei espantada em um sussurro. Sabia que se ela estava jogando pedras na minha janela, ela não queria chamar atenção, se não teria ligado.


– Estou com um problema. – Claire sussurrou com a voz trêmula. Ela estava com cara de choro. – Vem abrir a porta, mas não deixa sua mãe me ver.


Desci com passos suaves para não despertar minha mãe, que dormia que nem um anjinho no sofá. Abri a porta e Claire rumou para o meu quarto sem falar absolutamente nada.


– Você está me assustando. O que houve? – Falei em misto de desespero e curiosidade assim que fechei a porta do quarto.


Claire virou-se para mim e ficou me encarando com os olhos marejados. Ela estava com olheiras profundas no rosto e parecia que iria desmaiar a qualquer momento.


– Eu acho que estou grávida. – Declarou tapando o rosto com as mãos e começando a chorar compulsivamente.




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