A porta fechou com uma batida. Ela se encostou nela e respirou fundo, suas pernas bambas caíram ao chão, e ela se ajoelhou com os punhos fechados pressionando seu peito. Ela queria gritar, mas não tinha voz; queria chorar mas segurou as lágrimas.

– Me desculpa – Ela sussurrou em um tom baixo – Mas eu não posso deixar você chegar mais perto de mim.

Levou as mãos a cabeça passando os dedos por entre os cabelos rebeldes , fechou os olhos e tentou se concentrar em coisas boas . Mas como conseguiria se concentrar em coisas boas ? , se aquele loiro roubava cada um de seus pensamentos . Ela imaginava como ele estaria agora .

Qual o problema Kushina ?. Você não parece tão forte agora .

Esse era o problema em fraquejar. Kushina tinha dentro de si uma besta de nove caldas chamada Kyuubi , ela vivia presa em algum lugar de seu subconsciente e despertava quando os pensamentos de Kushina a davam uma brecha . Ela carregava em sua barriga uma tatuagem em forma de espiral , um selo muito poderoso feito pelo seu clã e ele mantia a 9 caudas sobre controle .

Fica quieta ... eu não tô afim de brigar com você agora .

Você não é a Mito sabia ? , nunca foi e nunca será ela .

Sua tia, Uzumaki Mito foi o receptáculo antecessor a Kushina . Quando atingiu a idade de 105 anos Mito escolheu a dedo um novo portador. Kushina tinha todos os atributos e uma capacidade que apenas alguns membros do clã Uzumaki possuíam , as correntes de chakra ( Correntes de selamento ), com muitas aulas de fuinjutsu e treinamento avançado ,ela se tornou o segundo jinchuuriki de Konoha . Com o tempo ela foi aprendendo a lidar com a besta. Ela sabia utilizar 60% de seu poder, controlando a sua transformação em até 5 das 9 caudas.

Apenas observo os seus problemas, e você sabe como eu posso ajudar.

Você fala como uma serpente tentando ‘’ajudar’’ um rato.

Me liberte e verá o meu jeito de lidar com as coisas .

Ah pelo amor de deus , cala a boca.

Quando meditava, Kushina conseguia ir até o lugar onde a kyuubi ficava . Ela ficava acorrentada em uma plataforma gigante com 9 correntes no total . Uma prendia seu pescoço , duas as suas pernas ; duas os seus braços , 3 correntes prendiam a suas caudas e uma corrente atravessava o peito da Raposa que não permitia ela se levantar.

“Vou te dizer como você pode vencer o ódio que domina a Kyuubi . Preencha seu vaso de amor“

Foi a ultima frase que Mito disse para ela . Mito era tudo que ela admirava, ela foi uma poderosa representante do clã Uzumaki , sacrificou sua liberdade pela honra de se casar com o primeiro Hokage de Konoha ; sacrificou seu corpo para ser a primeira prisioneira da besta e por fim sacrificou sua vida para que a raposa continuasse presa.

Sacrifício

A palavra ressoou em sua mente . Como poderia ser tão egoísta ?. Tudo oque ela deveria fazer era ser forte pelos seus irmãos e cortar relações desnecessárias . Não podia arrastar mais pessoas para os seus problemas , que eram muitos . Fechou os olhos e respirou fundo .

– Já chega de drama Kushina ... – Ela se levantou e limpou o pó do uniforme .

Caminhou silenciosamente por entre a cozinha , abriu a geladeira e pegou um pouco de chá gelado. Lembrou subitamente de alguma coisa .

Preciso ver os meninos !

Subiu a escada caracol e encontrou o corredor vazio , abriu a porta do primeiro quarto e encontrou Makoto dormindo.

Ele ainda não voltou para casa , tsc .

Fechou a porta com delicadeza e continuou andando pelo corredor . Parou em frente a porta do segundo quarto , e não se atreveu a abrir . O irmão mais novo não gostava de invasões , então ela bateu três vezes na porta .

– Hyoru ?

Não houve resposta . Imaginou oque ela poderia encontrar no outro lado da porta , a curiosidade subiu pela cabeça e seus dedos tremiam .

Só uma olhadinha ...

Ela girou a maçaneta e empurrou a porta com suavidade . O quarto era tão simples como o resto da casa , as paredes eram pintadas de cinza e havia uma grande janela com cortinas brancas esticadas . Uma escrivaninha possuía um pincel e um pequeno pote de tinta preta. Papéis espalhados pela bancada continham desenhos de paisagens ; um havia um pequeno passarinho em seu ninho , outro estavam retratadas flores silvestres que eram facilmente encontradas pelos caminhos perto de casa . Olhou para as paredes e viu que alguns desenhos estavam presos nelas , retirou um deles e o observou atentamente .

– Eu me lembro desse dia ...

Lá estava ela , retratada com um sorriso inocente e cabelos brilhantes ; tinha uma calêndula atrás da orelha , que a fez lembrar imediatamente onde ele se inspirou .Foi em uma missão , onde eles pararam para acampar perto do vale do fim . Era uma campina muito bela com grama verde fresca e flores em plena primavera , não se lembrava de ter ouvido Kurama falar com ela naquele dia . Colocou o papel em seu lugar , e viu alguns outros desenhos nostálgicos . Um desenho da casa da arvore que Makoto tinha feito quando eram crianças , Hyoru ficava lá o tempo todo , ele sempre gostou da altura e da natureza como um todo .

Ele cresceu tão rápido ....

Sentou na cama e abraçou o travesseiro . Havia uma pequena cabeceira ao lado da cama onde alguns desenhos estavam perfeitamente enfileirados . Ao pegar um deles percebeu que se tratavam de uma menina , sempre retratada com uma flor . Observou cada desenho e a mesma menina e as mesmas flores se repetiam , uma a uma .

– Isso são ...

– Camélias .

Hyoru estava apoiado na porta do quarto , com um rosto sério e fixo em Kushina .

– Ah ....- Ela colocou os desenhos em seus devidos lugares e se levantou rapidamente – Me Des-culpe ...

Ela abaixou a cabeça e prosseguiu para fora do quarto .

– Está tudo bem . – Ele continuava calmo , sua frieza a impressionava – Eu pretendia te mostrar esses desenhos um dia desses .

Ela deu um sorriso tímido e se virou a caminho para seu quarto , enquanto caminhava uma curiosidade acometeu dentro de si . Queria saber quem é aquela menina ....Ela queria perguntar , mas já tinha invadido a sua privacidade o suficiente por um dia . Analisou e formulou uma nova pergunta .

– Porque camélias ?

Ele arregalou os olhos como se estivesse viajando ao tempo em uma de suas lembranças . Colocou a mão direita suavemente sobre seu olho defeituoso e sorriu .

– É o nome dela – Ficou de costas para o corredor e abriu a porta – E eu lembro dela toda vez que olho essas malditas flores .

Ele fechou a porta e Kushina nada disse . Ela queria ter palavras para poder ajudar , mas ela não seguia nem mesmo os próprios conselhos . Tentou entender suas palavras confusas em busca de uma resposta . Camélias huh ....Lembrando do kanji que representava a flor disse :

– Tsubaki

Não conseguia pensar em qualquer pessoa com esse nome . Quando foi que eles se conheceram ? , Quando eles se tornaram amigos ? , Estaria ela morta ?.As perguntas preencheram sua cabeça em uma espiral sem fim . Caminhou de volta para seu quarto e fechou a porta . Puxou a base da camiseta e a tirou , segurando a camisa em suas mãos a puxou para perto e sentiu um cheiro familiar .

Minato ...

Aquele perfume que o loiro adorava passar , porque sabia que era seu favorito . Marcante mas não agressivo ou enjoativo , exatamente como ela descreveria sua personalidade . Colocou a blusa na cabeceira da cama e pegou o seu pijama , atirou-se na cama e abraçou o travesseiro .

– Cada vez fica mais complicado – Atirou o travesseiro do outro lado do quarto – Tebbanne !

Olhou o relógio e percebeu que já se passava da meia noite . Fechou os olhos e tentou relaxar , não queria perder a hora amanhã .Quando estava em seu profundo sonho , ela foi transportada para um lugar de grama verde e flores vermelhas . Sentando-se na grama ela colheu uma flor e a cheirou , mas a flor não tinha um bom aroma e sim um cheiro repugnante de morte . Atirou a flor longe de si , e impulsionou o corpo para trás .

Mas que merda foi ...

Levantando rapidamente ela olhou em volta , a grama se tornou cinza e as flores se tornaram pessoas mortas. Levou as mãos a boca para conter um grito , mas algo molhado encostou em seus lábios .

I-Isso .... Isso é .....

Sangue escuro impregnava as suas mãos e escorriam por entre os dedos , chegando a altura de seus cotovelos . Gritos de agonia saiam dos corpos irreconhecíveis pelo trabalho do fogo , ela levou as mãos aos ouvidos e começou a repetir para sí .

Isso não é real , não é real , não é real , NÃO É REAL , NÃO É REAL !

O passado pode ser assustador , mas não deixa de ser real .