*Beca*

ERA SÓ O QUE ME FALTAVA!

Eu queria gritar, pedir para que ela saísse. Não queria tê-la no meu quarto quando sabia que não teria ela na minha vida.

Aguentar olhar para esses olhos sem poder abraça-la, aguentar ela trocando mensagens com Melissa, ela trocando de roupa, será péssimo.

Ela organizou suas coisas nos lugares, guardou suas roupas no armário, que antes era de Amy. Eu estava sentada “mexendo no computador”, mais prestando atenção nela do que em qualquer outra coisa.

Ela se deitou e pegou seu celular, ela pareceu mexer em algumas coisas, mas depois parou, pareceu pensar por um instante. Depois de um tempo ela tirou a capinha de seu celular e começou a jogar para cima. Eu estava sentada na minha cama, com as costas apoiada na parede e não na cabeceira, eu estava de frente para Chloe, porém, com o notebook em minhas coxas e eu estava sempre a bater os dedos no teclado, fingindo estar mexendo, então ela não reparou que eu a olhava.

Meus olhos pegaram logo o momento em que ela deixou a capinha cair sobre o rosto. Uma gargalhada saiu de mim e ela me fitou de imediato, depois que vira que minha risada era por conta do ocorrido com ela, Chloe soltou gargalhadas também. Eu ria só de lembrar da cena, e ela, provavelmente, ria por conta de minha risada que vez saía som, e outra, não.

Seu cabelo estava mais ruivo do que o normal, devido ao sol das cinco da tarde que invadia a janela. Seus olhos estavam mais azuis, pelo fato dela estar rindo. Suas bochechas haviam corado por ter deixado a capinha cair. E meu coração batia mais forte por tê-la aqui.

Quando paramos de rir, eu senti meus lábios quase soltarem algo do tipo “você é idiota!”, mas os mantive. Quando paramos de rir, simplesmente...paramos, não teve um outro olhar, um sorrisinho, parou, e ela voltou a jogar a capinha para cima e eu a fingir mexer no computador.

*Chloe*

Qual é a da Beca?

Algo tem que ter acontecido! Não é possível que uma pessoa que age assim, não sinta mais nada.

Mas, pensando bem, se tem alguma explicação, ela provavelmente não quis dar.

Eu continuava a jogar a capinha, cada vez mais alto, e ela continuava pensando que eu não via que estava apenas fingindo mexer no computador.

Resolvi parar. A fitei com apenas uma das sobrancelhas levantada. Seus olhos estavam postos sobre mim também. Abri um sorriso malicioso e ela percebeu que eu sabia que estava me olhando, foi quando, no mesmo instante, se virou para o computador, vermelha como um tomate.

Ri sozinha.

— Ãã... Beca, os ensaios começam amanhã, ok? Eu vou até mandar uma mensagem para as meninas e avisar, então...se quiser começar a pensar na demo...

— Ah, certo, que músicas você acha que eu devo...- ela deu uma pausa, provavelmente percebendo o que estava fazendo, estamos tão acostumadas a querer a opinião uma da outra sobre tudo, que acho que ela acabou fazendo isso automaticamente.- É...esqueça, eu vejo isso depois.

Apenas devolvi o sorriso sem jeito que ela me dera.

Comecei a mexer em meu celular e aproveitei para mandar a mensagem para as meninas.

“Os ensaios começam amanhã, ok?”

Obtive algumas respostas logo em seguida.

Meu celular tocou, fazendo eu me assustar.

— Alô?

— E aí?

— Desculpe, quem fala?

— Ah, qual é? Não reconhece mais minha voz?

— Ah, James!- exclamei dando risada.

— E então, ruiva, eu queria te pedir um favor...

— Diga.

— Será que teria como você se desculpar por mim com a Beca?

— Ham?

— Ah, sobre a noite da festa, lá no sitio, queria até te pedir desculpa, acabei fazendo você beber e tal, e a Beca, pois foi bem estranho com ela.

— Ah, sim...

— Ela estava realmente preocupada com você, deve ter contado até 100 para não me dar um tapa.

— Claro, tudo bem, essas coisas acontecem, eu vou falar com ela.

— Ah, ok, avisa também que o Luke voltou, não sei se ela lembra, ele comandava a rádio no primeiro ano dela aqui, o cara de tanquinho...ele é um amigo meu, se Beca ainda lembra dele vai gostar de saber que ele voltou.

— Certo, obrigada por ligar.

— Imagina.

— Beijo.

— Beijo.

Desliguei a chamada e vi os olhos dela me fitar, dessa vez ela não desviou o olhar e nem corou.

— O que aquele babaca queria?

Como que uma pessoa dessa ainda nega que me ama?

— Ele queria se desculpar com você.

— Hum...

— Para de ser marrenta! Ele falou numa boa!- falei passando de minha cama para sua, e só quando eu sentei aqui que percebi que dessa vez quem agira automaticamente foi eu. Mas eu não recuaria agora, então, continuei aqui, e ela, já acostumada, pareceu nem se importar.

— Ele foi mesmo um babaca!

— Eu sei, mas está pedindo desculpas.

— Avise que eu não aceitei, caramba, ele te embebedou e estava te levando para um quarto, já parou para pensar que ele não ia se importar com o fato de você querer ou não ir para a cama com ele?

— Acha mesmo que eu transaria com James?

— Vocês já fizeram isso antes!

— Ah, isso faz anos.

— Certo, mas você estava bêbada, acha que conseguiria escapar dele naquele estado?

— Isso eu não sei, mas eu acho que mesmo bêbada, eu tinha noção de que não era com ele que eu queria transar!

Ela entendeu o recado, o que eu acredito que tenha feito ela perceber que eu estava sentada em sua cama e que agiu sem pensar no fato de que “não quer ficar comigo”.

Vi suas bochechas corarem.

— É...eu acho melhor se...

— Acha melhor nada! Anda, diga logo, por que não quer ficar comigo?

Ela se surpreendeu, provavelmente pelo fato de eu ter sido tão direta.

— Acha mesmo que eu não quero ficar com você?

Arregalei os olhos.

— O que me disse noite passada...

— Chloe, eu não posso ficar com você, não pode existir um “nós”, não é que eu não te queira, eu te desejo mais que...- ela parou.

— Mas, por que...?

Ela negou com a cabeça, não queria, não podia me dizer.

— Ah, eu queria poder te explicar, eu queria saber como, mas você ficaria tão...

— Você ficou com outra pessoa?

— NÃO! ESTÁ LOUCA? Chloe, eu jamais faria isso com você.

Por mais que eu estivesse brava por não ter uma explicação, não pude deixar de sorrir por vê-la falar daquele jeito.

— Então o que é que está acontecendo?

— Chlo...por favor, não faz isso, eu não quero dizer.

Eu fechei os olhos, respirando fundo, eu queria entender.

— Tudo bem.

— A gente pode continuar se falando?

— Acha mesmo que, depois de tudo, eu irei querer você só como amiga?

— Eu sei, acredite, eu entendo, mas...podemos só não nos ignorar que nem estamos fazendo?

— Tudo...tudo bem.- dei um sorrisinho fraco.

Voltei para cama e fechei os olhos, eu não queria dormir, apesar de saber que isso vai acabar acontecendo se eu continuar aqui, mas eu também não queria me levantar.

            - E aí, se resolveram?- abri os olhos lentamente.

— Ah, que merda, Stacie. Que horas são?

— Oito horas, os ensaios começam as nove, né? Chega de vida mansa!

— Cadê a Beca?

— Foi no mercado com Amy, e aí, se resolveram?

— Você já perguntou isso.

— Engraçado, porque não me lembro de obter nenhuma resposta.

— É, talvez seja porque você não precise ficar sabendo.

— Fala logo, para de ser chata, está mais marrenta que Beca!

— Ninguém é mais marrenta que Beca!

— Ok, isso é verdade, mas vai! Fale logo!

— Não, quer dizer, sim, na verdade, ah, sei lá, concordamos em não nos ignorar mais, mas não vamos voltar com nosso “relacionamento”.- falei fazendo aspas com a mão por ser algo que eu não sabia como nomear.

— Ah!

— Pois é.

Ela pensou um pouco.

— Mas, ruiva, pense comigo, ela nunca ficou com outra garota antes, é algo complicado.

— É, você e Aubrey são exemplos disso.

Ela pulou encima de mim e tapou minha boca com sua mão.

— Está louca?

Revirei os olhos.

— Quer saber? Eu não falo mais nada, tem muita gente precisando se assumir por aí. Vou tomar banho.

Ela deu um sorrisinho e saiu do quarto.

Entrei no chuveiro e deixei a água quente escorrer pesadamente por meu corpo, queria que ela fosse capaz de tirar todas minhas preocupações. Pensei em tirar meu cabelo do coque em que ele se encontrava, mas resolvi não lavá-lo, eu ia suar e ter que lavar depois de qualquer forma. Meu banho foi rápido e relaxante. Me amarrei na toalha e saí no quarto. Me dirigi até a porta com a intenção de trancá-la, mas na hora em que toquei a chave a porta de abriu.

— Aaaaii, meu dedinho!

— C-Chloe, desculpa!

Ela olhou para meu pé, onde meu dedo mindinho latejava. E então subiu o olhar, passando por minhas pernas e curvas, até se encontrar com meus olhos.

— Só pode estar de brincadeira.- escutei ela sussurrar, para si mesma e não para mim, mas me fiz de desentendida.

— O que disse?

— H-Ham? Não, nada, quer dizer, machucou?

Dei um sorriso ao ver o quão tensa ela estava.

— Não, estou bem.- seu olhos estavam cravados em mim.- E você? Precisando de ar, ou de um...lenço?- falei erguendo uma de minhas sobrancelhas.

— Ah, não...- ela disse sem graça.

— Preciso me trocar.

— Isso seria...bom.