Lances da vida escrita por Jana


Capítulo 26
Oito meses depois...


Notas iniciais do capítulo

Para quem estava curioso para saber por onde Soluço andou depois que fugiu de Berk ai está.



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SOLUÇO

Mais uma vez na minha vida me encontro sendo algemado e preso. Devo ser o cara mais azarado do mundo.

Da primeira vez fui preso por um crime que não cometi, bem, isso pouco importa. Eu assumi a culpa e paguei .

Agora sou preso por drogas, detalhe é que nunca fumei, cheirei nem injetei nenhuma dessas merdas. Tá bom, eu estava morando na casa de um traficante, mas que escolha eu tinha? Era ignorar a situação ilegal por um teto sobre minha cabeça ou dormir na rua. Nesse momento dormir na rua soa muito melhor.

Não tenho a mínima ideia de como sair dessa situação. Sem dinheiro, sem amigos verdadeiros e sem família. Sou um completo desastre.

Depois de chegar na delegacia tiram a minha foto e sou conduzido ao delegado que me faz várias perguntas. Procuro por Valdo e os outros que também foram detidos. Na hora da prisão eu estava vendo televisão enquanto Valdo e seus homens vendiam suas drogas. Eu sempre tentava me manter o mais distante dos negócios dele. Minha intenção ali era apenas ter onde dormir.

– Olha, Soluço. Diz o delegado. – Você está encrencado. Sua ficha já é suja e ser reincidente e ainda ser pego numa casa de drogas.

– Não sou traficante. Digo inutilmente. – Eu tenho emprego.

– O fato de ter emprego não limpa a sua barra. Tome, você tem direito a uma ligação. Ele diz passando o telefone para mim.

– Recuso meu direito à ligação.

– Tem certeza? Nenhum amigo? Alguém da família? Seus pais?

– Não tenho ninguém

– Você não quer se livrar disso? Sua fiança será estabelecida entre hoje e amanhã. Precisa que alguém a pague.

Fico quieto, não falo com meus pais e nem com Luane desde que saí de Berk , à oito meses e tenho certeza que meus pais não se interessariam em vir até aqui para pagar a minha fiança depois da forma que sai. O delegado pega uma pasta com meu nome. – Vejo que Bocão Bonarroto foi seu conselheiro de transição.

Bocão foi meu conselheiro de transição, ele era responsável por me ajudar a me adaptar à rotina de volta para a casa depois da prisão. Controlava meu serviço comunitário e não aceitava respostas vagas. Era um sargentão que deixava claro que se eu vacilasse não teria a menor dificuldade de pedir minha prisão diretamente ao juiz.

O delegado me estende um número anotado em um papel.

– Quê isso?

– É o número do Bocão.

– Pra quê eu quero isso?

– Se não tem ninguém sugiro que recorra a ele.

– Nem pensar. Afirmo

– Se não ligar eu ligo.

– Não entendo. Por quê?

– Li o relatório dele sobre você e sei que ele quase nunca erra em seu conceito.

– O que ele escreveu? Que sou um desgraçado inútil que merece ir para a cadeia?

– Por que não liga e pergunta diretamente para ele?

Frustrado pego o telefone e ligo.

–Bocão falando.

– Uh, é o Soluço. Soluço Strondus.

– O que manda?

– Bem, meio... que estou encrencado e preciso da sua ajuda.

– Minha ajuda? Quem diria que o grande Soluço Strondus era capaz de pedir ajuda.

Explico tudo o que aconteceu e depois da ligação sou conduzido para uma cela, na qual permaneço enquanto espero sua chegada. Uma hora depois me levam para uma sala de interrogatório onde ele me espera.

– onde andou se metendo, Strondus? Você não sabe andar na linha nunca?

– Aconteceu.

– Aconteceu? Ele parece frustrado e triste. – Pensei que se emendaria, mas acho que não dá. Ele baixa a cabeça. – Você me lembra eu na sua idade.

– Acho que está totalmente errado.

Saí de Berk para melhorar as coisas e só estou destruindo ainda mais.

– Eu não tenho culpa do que estou sendo acusado. Sou inocente. Falo mesmo sabendo que não adianta.

– Por que eu acreditaria?

– Por que é a verdade. Mas sei que não acredita.

– Já mentiu para mim?

Confirmo temeroso

– Sobre o quê?

Eu prometi a minha irmã que levaria a esse segredo para o túmulo. Não vou correr o risco dela ser presa também. – Deixa pra lá.

– Isso é mal, muito mal.

– Fazer o quê? Decido falar com ele sobre alguns assuntos. – Antes de sair descobri que minha mãe está viciada em remédios e minha família acha melhor ignorar o fato. Minha presença agravou o quadro e eu não consigo fingir que nada está acontecendo. Nisso tudo Astrid foi a única que me fez me sentir em paz, mas não posso chegar perto dela sem que a policia apareça na história e você também apareça. Como uma vez você disse que se eu não podia lidar com ela era melhor sair eu segui seu conselho e aqui estou.

– Fugir para a casa de um traficante não é a melhor opção, Soluço.

– Não tive outra.

– Sempre há opções.

Ele se retira me deixando sozinho. Olho as marcas das algemas em meu braço. Eu não quero isso para minha vida.

Meia hora depois o delegado chega junto de Bocão.

– Você está com sorte, garoto.

Sorte? Na situação em que me encontro não sinto com nenhuma sorte.

– Sua fiança vai ser estipulada ainda essa tarde. Sou amigo do promotor que vai cuidar do caso. Vou pagar sua fiança.

– Por que faria isso por mim?

– Porque um dia fizeram por mim. Mas tem uma condição.

Ferrou. – Qual?

– Você vai fazer parte do Re- FORMAR.

– E o que é isso?

– É um grupo de jovens cuja a vida foi mudada por causa de condução imprudente de adolescentes. Viajamos por um mês passando por várias cidades fazendo palestras motivacionais. Sem conforto, dormindo em cabanas ou dormitórios cedidos em campus de universidades ou em acampamentos. Sua prisão nada tem a ver com drogas, é resultado direto do acidente. Venha comigo e use sua experiência para ajudar outros ou eu não te ajudo. Se eu te abandonar tenha certeza que você vai parar na prisão sem chance de sair. Você já tem dezoito e não vai mais para o reformatório e sim para o presidio.

– Não tenho escolha né?

– Tem, fique aqui e aproveite a comida da prisão ou levante esse seu traseiro e me siga.

Sem escolha, sigo meu antigo conselheiro de transição para essa viagem. – Você vai para minha casa essa noite e amanhã vamos nos encontrar com o resto do grupo.

No caminho Bocão me faz perguntas e me esquivo de todas. Ao chegar em seu apartamento vejo que ele é solitário. Seu apartamento tem aparência de que ele passa ali só para dormir. Encontro uma foto de um garotinho na estante. – É seu? Pergunto

– Sim.

– Cadê ele?

– Com a mãe em outra cidade.

– Você é divorciado?

– Você não para de perguntar não? Gostava mais de você na viagem

Depois de um jantar delicioso de arroz com frango feito por Bocão deitei em um canto numa cama improvisada. Sabendo que não dormiria. Não sei o que é dormir a anos, desde antes do acidente.

De manhã estou comendo cereal quando Bocão entra e eu preciso perguntar. – Por que você está me ajudando?

– Você é um bom rapaz. Só faz más escolhas.

À tarde chegamos no local do encontro. Bocão entra no prédio e fala para eu ir entrando na van para conhecer os outros. São dois garotos e três garotas. Quando uma delas vira para mim, meu corpo inteiro amolece.

Astrid

ASTRID

Meu queixo caiu. O que ele está fazendo aqui? Onde esteve esses oito meses? Por que não ligou ou mandou algum sinal de vida para mim?

Ele está vindo em minha direção. – Como você está?

Eu não vou responder. Se ele quisesse mesmo saber teria voltado. Ele perdeu muita coisa nesses oito meses. Ele perdeu o natal, ano novo, o dia dos namorados,o meu aniversário, o baile, a formatura. Ele não estava lá quando recebi a noticia de que minha perna não tem conserto. – Por que está aqui?

– Também queria saber.

Um dos caras que está conosco, de cabelos brancos solta um peido fazendo gracinhas.

– Quer ser mais educado? Soluço fala

– É a natureza, cara. Tenho que deixar sair.

– Faça isso quando estiver sozinho seu idiota.

– Você quer controlar o que sai de mim é? O cara fala indo em direção a Soluço como se fosse encará-lo. Soluço não se intimida e parece que vai partir para cima do cara. Eu não acredito que Soluço vai brigar por um peido.

– Parem agora. Um cara aparece com uma prancheta na mão. Ele aponta para mim – Astrid, posso conversar contigo um instante? E você também Soluço.

Sentamos em uma mesa próxima da van. Ele se apresenta a mim como Bocão Bonarroto, o supervisor do grupo. – Bem, você sabe que os dois não podem ficar juntos. Astrid, eu não sabia que minha secretária tinha colocado você no lugar da Manu quando ela desistiu.

– Ótimo, eu saio. Soluço fala com ansiedade

– Nem pensar Soluço, você não tem escolha.

Ele quer que eu desista, se fosse antes eu desistiria na mesma hora. Mas agora sou mais forte e não me intimido.

– Não vou desistir

– Astrid, entenda vocês...

– Não adianta, eu vou e pronto.

Num instante que Bocão se afasta de nós, encaro Soluço nos olhos. Ele parece desgastado, mas ainda assim tem uma força feroz irradiando dele.

– Passou muito tempo. Estou tentando ser forte diante dele e seguro as lágrimas para que ele não veja minha fraqueza.

Estamos prestes a sair em uma viagem para compartilhar com outras pessoas o que passamos, sendo que a verdade é que não passamos de verdade, já que ele não me atropelou.

– Soluço, ele disse que você não tem escolha. O que isso quer dizer?

– Pois é, novidade, me meti em encrenca de novo. É essa viagem ou cadeia. Você escolhe, se quiser que eu saia eu saio e aguento as consequências.

Por mais chateada que esteja é claro que não quero ele preso, mas não pude pedir detalhes sobre essa história. Queria saber, mas tenho medo de perguntar. Se ele tiver que me contar vai faze-lo por si mesmo. Mas conhecendo o Soluço e sua mania de esconder as coisas importantes é claro que ele não vai contar.

– Dá para aguentar quatro semanas

– Isso, quatro semanas e depois nunca mais me verá de novo.

Ele não deve fugir novamente, a família dele precisa que ele volte. – Soluço, você tem que voltar.

– Sem chance, tire essa ilusão da sua cabeça.

Me encho de coragem, preciso falar umas coisas para ele. – Quer saber de uma coisa?

– O quê?

– O perigoso e misterioso Soluço escolheu o caminho fácil.

– Fácil? Você não tem ideia do que passo, fácil não está sendo. Você acha que estar frente a frente contigo agora é fácil?

Voltamos para a van. As duas garotas que sentam no banco da frente eu conheci de manhã. Uma se chama Heather, tem cabelos negros presos em uma trança e fica lendo o tempo inteiro. A outra se chama Elsa, loira platinada, muito calada também. Sento no meio do lado de Felipe. Conheço Felipe da fisioterapia. Ele perdeu quase todo o braço esquerdo e tem cicatrizes no braço direito. Ele nunca me contou como aconteceu, mas durante a viagem vamos saber as histórias de cada um.

Bocão senta do banco do motorista e olha para trás. – Olha gente, nossa primeira parada é em um acampamento de férias de verão. Dormiremos em cabanas no acampamento. Então que tal se apresentarem para irem se conhecendo. Como alguns sabem eu sou Bocão seu acompanhante.

– Sou Elsa. Diz indiferente

– Sou Heather. Ela diz sem tirar os olhos do livro.

– Sou o Felipe.

– Eu sou a Astrid. Digo e olho para Soluço.

Ele está desconfortável. –Sou o Soluço

– E eu sou o Jack. Fala o cara do peido sentando do lado do Soluço.

– Se soltar outro eu chuto seu traseiro para fora dessa van.

– Soluço, sem ameaças no grupo. Bocão fala com voz firme. – E Jack, sem flatulências, ok?

Jack faz um sinal com polegar para cima. Assim que seguimos ele se vira para Soluço e diz – Puxa meu dedo? Oh, não, tive que olhar. Soluço podia simplesmente ignorar o cara, ao invés disso ele pega o dedo do cara e torce.

– Soluço larga ele. Digo

– Você pediu por isso. Ele fala para Jack .

Depois de contornada essa situação a viagem segue. Tento me comunicar com as meninas, já que iremos dormir no mesmo quarto é bom fazer amizade com elas, mas as duas são muito arredias e evitam conversa. Travo um pouco de conversa com Felipe do meu lado, até que Soluço pula para frente. – Felipe, troca de lugar comigo?


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Notas finais do capítulo

Soluço foi preso outra vez e de novo está na corda bamba da justiça. E mais uma vez nas mãos de Astrid a liberdade dele. será que essa viajem vai dar certo? Soluço e Astrid viajando na mesma van. O que acham? Receita para o desastre ou oportunidade para pegação? Ou os dois juntos?