Lances da vida escrita por Jana


Capítulo 27
Começo de um jogo perigoso


Notas iniciais do capítulo

A viagem continua e as confusões começam.



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SOLUÇO

Ela ficou surpresa quando troquei de lugar com Felipe. Não posso suportar outro homem ao lado de Astrid, sei que é estúpido ser possessivo sem nem ter nada com ela.

– Soluço, fique no seu lugar. Bocão olha para trás.

– Estou enjoado e Jack fede.

– Eu ouvi isso.

– Era para ouvir mesmo.

Astrid me olha de forma repreensiva. – Por que está provocando o Jack?

– Não estou provocando, ele é chato. Falo feito uma criança, mas pouco me importa. Astrid fica me cobrando perfeição, ela sabe que eu não sou.

– Não seja tão agressivo.

– Que mal tem?

– Ah, cresce Soluço.

Bocão olha para trás. – Está acontecendo alguma coisa?

– Meu dedo tá doendo. Jack resmunga atrás. Dou uma olhada de advertência para ele quando Bocão lhe pergunta o que houve com o dedo. – Nada não.

Vejo Astrid abrir um guia do Canadá. – Planejando de novo viajar para o Canadá? Não tinha desistido?

– É, voltei.

Só isso e mais nada, ela obviamente não quer conversar comigo e nem ter qualquer contato.

Depois de duas horas Bocão estaciona em uma parada. – Rápido, vão ao banheiro e se estiquem um pouco. Iremos jantar logo.

Quando voltamos aproveitei um momento que consegui me aproximar de Astrid sem ninguém por perto. – E ai?

– O que você quer?

Ela está muito dura comigo, nada que faço é bom o suficiente para ela.

– Você pensou em nós?

– Pensei, pensei em como você me deixou.

– Você sabe que não dava.

– Não importa, eu segui em frente.

Mais tarde estão todos dormindo, exceto Bocão e eu. – Tira uma soneca, Soluço. Ainda tem muito chão pela frente.

– Não tiro soneca desde os dois anos.

Chegamos finalmente no acampamento e Bocão entra para acertar os detalhes da nossa estadia. Cinco minutos depois ele volta com uma cara de preocupação.

– Temos um problema.

– Os adolescentes não querem ouvir um bando de baboseiras e vamos embora? Digo

– Não, eles só tem uma cabine livre. Portanto...

– Vamos todos ter que dividir o quarto? A menina de cabelo preto se manifesta.

– Eu não vou me trocar na frente desses caras. A outra menina diz

– Se troca no banheiro, tem um a poucos metros. Bocão fala

– Se não tem jeito, fazer o quê. Mas não gostei nem um pouco.

A cabine é pequena, muito pequena e tem três beliches. Trabalhei em construção com meu tio por vários verões e sei só de olhar que esse lugar foi feito com cuspi e cola. Tem até prego exposto.

– Eu fico embaixo. Diz Felipe

– Eu fico embaixo também. Diz Elsa

– Eu também. Digo e logo olho Astrid. – Quer dizer, é melhor a Astrid ficar com a cama por causa...

– Fala, pode falar que é por causa da minha perna. Isso não é um segredo. Todos já perceberam que manco.

– Se é para falar de imperfeições eu tenho um cotoco no lugar do braço. Diz Felipe – Por tanto não me incomodo de que falem disso.

– Que horror, precisa chamar de cotoco. Reclama Elsa

– Prefere que eu chame de apêndice parcial?

– Não

– Agora que estão devidamente instalados quero vocês aqui fora em dez minutos.

– Por que tem que ser lá fora? Pergunta Elsa. Essa aí pelo visto vai disputar com o Jack o título de maior mala do grupo. Nunca está satisfeita com nada. Vive com cara de tédio e só reclama.

Terminamos de nos organizar e fomos até lá fora. Tinha uma fogueira e as crianças sentavam em um circulo. – Ok. Vocês vão um de cada vez compartilhar sua experiência, sem medo, estamos juntos para apoiar uns aos outros. Sem julgamento. Está tarde e não dará tempo de todos falarem, mas terão sua vez em outro momento.

Tomamos nossos lugares e uma senhora se levanta e nos explica que aquela turma está fazendo curso de verão para passar na matéria. Logo depois Bocão fala sobre o objetivo do projeto. – Trouxe aqui alguns jovens para compartilhar com vocês como a condução imprudente mudou a vida deles. Vocês se sentem imbatíveis no volante, ouçam e pensem bem nisso. Ele se senta e segue um silêncio, parece que ninguém quer ser o primeiro. Então Felipe toma a palavra.

– Oi, meu nome é Felipe. Eu era jogador, tinha acabado de ganhar um jogo para minha escola e meus amigos e eu estávamos indo comemorar. Paramos no sinal vermelho, meu amigo com seu carro do lado do meu. O sinal abriu e aceleramos, a adrenalina no sangue, nos sentíamos os caras de velozes e furiosos. Então perdi o controle e fui parar contra uma árvore. Perdi meu braço esquerdo no acidente. Não me sinto nem um pouco imbatível agora. Nunca mais vou jogar de novo e até tarefas simples agora são complicadas. Experimentem vestir as calças com uma mão só.

Ele se senta, então Astrid toma a palavra. – Olá, eu sou Astrid. A quase dois anos eu fui atropelada. Ela olha para mim com um olhar acusatório. Será que ela vai apontar para mim e dizer a todos que fui eu? Se bem que não foi, mas ela não sabe. Ou será que ela espera que eu levante e assuma diante de todos? Não posso lidar com essa merda.

Não aguento a pressão e corro para a cabine.

ASTRID

O Soluço sair daquele jeito não foi bom. Queria que ele ouvisse minha história, mas isso só prova que ele não se importa tanto quanto falou.

– Ainda tenho as cicatrizes. Suspiro. – O garoto de quem eu gostava foi condenado pelo acidente. A pior parte é que isso não afetou só nós dois, nossas famílias foram afetadas e toda a nossa cidadezinha. Ninguém nunca mais foi o mesmo.

– E o garoto? Pergunta uma garotinha. Olho para bocão que pensa que Soluço me atropelou. – Não sei. Acho que ele me responsabiliza pela sua prisão.

– Que absurdo, ele tem que pagar pelos seus erros. Diz a professora. Eu não posso dizer para todos que ele assumiu a culpa no lugar de outra pessoa.

Logo passo a vez para a Elsa. Ela contou que estava em uma festa e alguém colocou cocaína na bolsa dela sem ela saber. Quando foi pega por dirigir em alta velocidade, encontraram a droga e ela foi fichada por porte de drogas.

Depois disso Bocão anuncia o fim das palestras e nos retiramos para dormir.

Ao chegarmos na cabine Bocão dá um grito. – Soluço. Todos estão assustados.

Soluço está deitado na sua cama, sem camisa. – Desce agora. Soluço desce e fica cara a cara com Bocão. – O que você fez foi grosseiro. Peça desculpas.

– Desculpa. Não foi sincero.

Furiosa, empurro Bocão ficando de frente para o Soluço. – Por que está fazendo papel de idiota, hein?

– Porque sou.

– Por que faz isso? Esse não é ele. Não entendo. O que aconteceu nesses oito meses para transforma-lo dessa forma?

– Nada. Esse sou eu. Goste ou não.

Saio dali para pegar um ar. Me encaminho até o gramado e sinto que Soluço está logo atrás.

–Asty

Continuo andando. – Me deixa.

– O que você queria? Que eu ficasse ali ouvindo você falar que te atropelei com meu carro quando estava bêbado e que fui preso e quando sai nós...

– Tivemos um relacionamento?

– que seja. Você sabe que não daria certo.

– Você nem tentou.

– Sua mãe me odeia, meus pais surtariam e até o Bocão me falou para ficar longe. Você deveria me agradecer por ter ido embora. Mas acho que guardou a ilusão de nós dois ficarmos juntos.

Chego perto dele. – Eu superei você, Soluço. Eu acho que foi você que não.

– A é. Me prove.

– Como?

– Me beija.


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Notas finais do capítulo

Eu amo imaginar a amizade do Soluço com Jack Frost, mas para mim nunca seria uma amizade normal.