Lances da vida escrita por Jana


Capítulo 25
Lembrando


Notas iniciais do capítulo

Capítulo meio deprê. À partir do próximo as coisas vão ser um pouco diferente.



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ASTRID

Ainda estou absorvendo o que aconteceu na quadra. Soluço me beijou, e eu correspondi. Eu deveria lavar minha boca com sabão ao invés de ficar revivendo tudo de novo. Não posso evitar que os sentimentos do passado voltem com tamanha força.

Sento em minha cama e suspendo minha calça olhando as cicatrizes. Percebo que não me incomoda tanto quanto antes. Eu costumava vê-la como horríveis, agora nem me assustam mais. Passo meus dedos por elas e não desejo mais que elas sumam. Elas fazem parte do que sou.

Fecho os olhos e relembro a noite do acidente. A imagem de Soluço no volante vai se delineando na memória.

Mas algo está errado.

Porque quando aperto os meus olhos a imagem do motorista fica mais clara na mente.

É Luane, com um olhar desesperado enquanto perde o controle do carro.

Foi Luane, não Soluço.

Mas por... quê?

A campainha toca e estou nervosa, eu não sei no que pensar. Minha mãe me chama e desço para ver quem é. Quase caio ao ver um homem e uma mulher usando conjunto azul marinho.

– Senhorita Astrid Hofferson, somos do departamento correcional e viemos checar sua queixa contra Soluço Strondus.

– Quê queixa? Eu não fiz queixa nenhuma.

A senhora abre uma pasta e retira um papel. – Temos documentado que você ligou para o departamento dizendo que o operador Soluço Strondus a estava assediando.

E agora? Balanço a cabeça olhando para minha mãe. – Eu não liguei. Mãe, eu não liguei.

– Não precisa ter medo, estamos aqui para assegurar que nada de mal irá acontecer.

– Eu não tenho medo do Soluço, ele é meu amigo.

– Desculpem minha filha, ela foi instruída a não se aproximar desse garoto.

Agora tudo faz sentido. A reação dele ontem a noite no parque. Ele acha que eu o denunciei. Preciso falar com ele.

– vou vê-lo

– filha, não.

Sigo até a casa dele antes que me impeçam. Bato na porta e sou atendida pela mãe dele. – Senhora Strondus, o Soluço está? Preciso falar com ele, é importante. Eu sei que deve me odiar por mandar seu filho para a cadeia, mas e-

– Ele foi embora. Não parecia nem um pouco abalada, inclusive tinha um sorriso estranho no rosto. – Se foi.

Minha mãe chega seguida dos agentes. Ela cumprimenta a senhora Strondus de forma estranha. – Valka, o que aconteceu?

Logo que minha mãe fala a senhora Strondus escorrega nos braços dela. Minha mãe grita por ajuda e logo os dois investigadores a ajudam carregando-a para o quarto.

O que ela quis dizer com foi embora? Corri até minha casa e peguei as chaves dirigindo até a casa da senhora Reymond. Olhei na garagem, no gazebo, ele não estava ali.

Sempre achei que tinha algo estranho naquela história toda. Na época eu pensei que era falta de remorso, e na verdade era falta de culpa.

Dirijo por toda a cidade o procurando, torcendo para encontra-lo em algum canto. Noto que estou exatamente no local do acidente. As lembranças começam a vir em um turbilhão. A briga antes do acidente e o momento em que fui atingida.

Desço do carro e procuro a marca de derrapagem do pneu.

As minhas cicatrizes não são nada perto do estrago emocional que Luane e Soluço estão enfrentando. Eu quero ajuda-los como Soluço me ajudou. São as pessoas que amamos que nos tiram das situações difíceis. Sinto muita falta de Luane como amiga, confidente e meu amor por Soluço é para sempre. Nunca vai desaparecer por mais que eu tente.

– Astrid

Soluço está em um Astra preto, com um cara estranho no volante. Ele pede para o cara parar e sai do carro vindo até mim.

– Como chegamos nesse ponto?

– Aqui é onde tudo começou.

– Eu não te denunciei, eu não fiz ligação nenhuma. Apareceram dois investigadores lá em casa dizendo que eu te denunciei, eu não te denunciei, eu juro. Quando soube imaginei que estava me odiando e te procurei e...

Soluço coloca seu dedo nos meus lábios para eu calar a boca.

– Não importa.

– Importa sim.

Preciso que ele entenda que confio nele. Levanto a perna esquerda da calça revelando as cicatrizes. Ele faz uma cara de dor. Pego sua mão e passo sobre as marcas.

– Viu, não há mais segredos. Entende Soluço? Vamos ser totalmente francos agora. Preciso que ele me conte a verdade, quero e preciso ouvir da boca dele que não foi ele que me atropelou.

– Oh, amigo. Dá para vir logo?

– Quem é ele?

– Valdo

–Quem é ele Soluço?

– Não vai querer saber. Deixa eu ir.

Percebo que ele não vai dizer mesmo, seu instinto de proteção é maior que qualquer coisa.

– Para onde vai? Quando vai voltar?

– Eu não vou voltar

– Não vai, por favor. Quero segura-lo, implorar para ele ficar.

– Vem comigo

– Agora eu entendo o que você tentou me falar. Sair é se esquivar. Eu vou ficar em Berk, vou economizar o dinheiro que recebi da senhora Reymond e vou para a faculdade.

– Strondus, vem ou não?

– Já vou.

– Por favor, diz que o que tivemos foi real?

– Sim, foi real. Nunca questione isso.

– Agora nesse momento estou questionando tudo. Nem sei por que estou aqui.

– Você está pronta para seguir em frente, Astrid. O passado não pode mais te machucar. Agora para mim, liberdade é deixar Berk. Ele me beija, um beijo doce e cheio de tristeza.

– Então significa que estamos livres?

Ele balança a cabeça incapaz de colocar em palavras.

Sei que ele nunca vai se corresponder, vai cortar qualquer laço com sua família e essa cidadezinha que só lhe deu desgosto. Nem comigo ele tornará a se comunicar. Como eu queria que ele nunca tivesse assumido a culpa, se bem que se isso acontecesse e ele nunca tivesse sido preso ele não prestaria serviço comunitário e consequentemente nunca teríamos ficado juntos. Quer saber? Não mudaria nada.

Ele se afasta e dá uma piscada para mim. –Tchau

– Não vou dizer o mesmo, tá.

– Então me diz alguma coisa para eu lembrar de você. Diz que me ama, que nunca vai me esquecer.

– A galinha vermelha voou do galinheiro. Digo

Ele ri. Vira as costas e entra no carro.

Como eu queria impedir, gritar com ele, fazer algo para impedir essa loucura. Fugiria com ele e viveríamos nas ruas ou onde desse, contanto que fossemos um time. Mas no fim, ele não me contou a verdade. Afinal, foi Soluço que não confiou em mim e nem nele mesmo.

Vejo seu carro partir. Volto para casa,no caminho chorei bastante, mas depois de um tempo não mais. A vida é curta, disse uma certa vez a senhora Reymond. Ao chegar em casa vejo Luane com os olhos inchados.

Vou ao seu encontro. – E sua mãe? Mellhorou?

– Mais ou menos. Sua mãe está com ela. Essa barreira foi quebrada.

– Você esteve com ele? Ela pergunta

– Sim

– Eu preciso te contar uma coisa, mas não posso te encarar.

– Não precisa ser agora, ok. Quando estiver pronta conversamos.

– Você vai me odiar

– Não vou, Luane. Eu sei o que não.

– Sabe?

–Isso não importa agora.

– É mesmo?

– Sua amizade é muito mais importante do que rancor do passado. Sabe o que vai fazer a gente se sentir melhor?

– O quê?

– Torta. Vamos levar nossas mães junto.


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Notas finais do capítulo

Astrid lembrou, pena ter sido tarde. Pena nada, ainda não acabou e ela vai ter outra oportunidade.