Não gostava de hospitais. Primeiro por precisar ser recolhido, segundo pelo clima tenso e desagradável que consome o lugar. Deixar aquele ambiente foi uma das melhores coisas que lhe aconteceram naquela semana, sair de sua pokébola e sentir o chão com as almofadas cinzentas de suas patas traseiras. Rugiu em um bocejo preguiçoso, apoiando as patas dianteiras no chão e alongando sua coluna.

– Caramba, você nem ficou lá dentro por tanto tempo, Ty.

Sua treinadora riu e afagou suas costas. Ela afagava sempre do jeito certo e no lugar certo, na parte de baixo das suas costas onde ele mesmo não alcançava para coçar. Agitou-se satisfeito e virou para encarar Lyra. Ela estava com o tórax enfaixado, parecia cansada. O pokémon inclinou a cabeça para o lado preocupado.

– Eu to bem... Mesmo. Só preciso descansar.

Bufou baixo e apoiou a cabeça contra a barriga dela com o máximo de cuidado que era capaz. A treinadora o abraçou e afagou suas orelhinhas. Era surpreendente como aquela pessoa conseguia saber onde era agradável de se fazer carinho.

– Vem, vamos. Cansei de Goldenrod.

Ela riu e começou e andar lentamente. Ty a acompanhava pacientemente, não se importava em andar devagar para que ela não se cansasse. Olhava em volta interessado na cidade e nas pessoas, que volta e meia o encaravam com um pouco de receio. Ele era indiscretamente grande.

Subiram a cidade até a deixarem e alcançarem a rota 35. Ele gostava de caminhar nas florestas, gostava de estar perto da natureza, conseguia descansar e ficar em paz. Além de saber que rolar na grama era confortável e depois disso receberia muita atenção, pois Lyra sempre tirava os galhos e folhas de sua pelagem.

– Que dia bonito, não é? - Ele assentiu acompanhando uma borboleta com o olhar – Acho que é muito injusto só você aproveitar. Ainda mais por que estamos quase no National Park.

A observou pegar as pokébolas e abri-las, libertando seus colegas. Primeiro o Lugia, que imponente bateu suas asas com força e olhou para Lyra animado. Ele não gostava do Lugia, pois ele se achava muito mais importante do que realmente era. Depois dele o Pidgeot que, logo que saiu, disparou para cima em batidas rápidas e fortes de suas longas asas. Assim que subiu o quanto queria, caiu de costas, mergulhando relaxado até decidir se arrumar no ar e planar próximo à mestra. A próxima pokébola libertou seu Umbreon. Ele agitou seus pelos negros e amarelos e coçou atrás da orelha, bocejando preguiçoso. Estava cedo, mas sair era bom. A penúltima pokébola continha um belíssimo e imponente Ninetales. Suas caudas brilhosas se agitaram quando ela espreguiçou esticando as patas e bocejando de forma tão intensa que algumas faíscas cintilaram em sua garganta.

– Desculpa Dragonair, te deixo sair no parque, direto na água.

Ela acariciou a pokébola azul escura em que estava o pokémon dragão e voltou a andar. Lugia e Pidgeot decidiram aproveitar o tempo para esticar as asas e ficaram voando por perto. Umbreon e Ninetales vinham juntos de Lyra e Typhlosion, e o Dragonair esperava ansioso sua vez de sair.

Por estar machucada, ela andava mais devagar que o normal, mas ele sabia que se esforçava para chegarem logo. O parque era agradavelmente grande, tinha espaço para correr e voar, um lugar em que todos poderiam descansar. Ao chegar, Ty correu para dentro em busca de um lugar confortável. Ignorava alguns treinadores surpresos pelo grande pokémon estar solto e perambulando por ali, uma grande prova de amor, pois esse tipo de atenção sempre o divertia. Achou um banco que ficava sob uma grande árvore com uma sombra agradável. Estava fresco e não havia ninguém por perto para perturbar Lyra. Retornou ao local em que a mestra estava e a pegou no colo, colocando, com todo o cuidado que tinha enquanto pokémon, a menina sobre seu ombro.

Apesar dos claros protestos de Lyra, Ty prosseguiu com sua tarefa sem perturbações. Levou-a até o local que encontrara e, enfim, a colocou ali como se fosse uma boneca. Antes que ela abrisse a boca pra protestar ele deu tapinhas amigáveis sobre sua cabeça e rosnou muito satisfeito com ele mesmo pelo que realizara por conta própria. Era, de fato, o melhor de todos os pokémons existentes. A voz dela estava abafada pelo seu ego. Colocou as patas na própria cintura, rosnou orgulhoso de si mesmo e saiu andando para brincar com Umbreon.

Encontrou o colega pokémon perto do chafariz. Parecia desconfortável e desanimado enquanto bebia água em pequenos goles. Questionou o que havia de errado, recebendo como resposta o desagrado com a intensa luz do sol. Ty rosnou baixo pensando consigo mesmo como havia sido incrível em auxiliar Lyra dando a ela um lugar confortável e fresco, por que então alguém incrível como ele não conseguiria ajudar o pequeno Umbreon?

Pegou a eevolution no colo ignorando seus claros protestos. As patinhas pretas empurravam as grandes patas azuladas do Typhlosion, mas não fazia diferença. Tentou até mesmo mordê-lo, mas Ty sabia o que fazer, ele era incrível, útil e sábio. Ele tinha o poder de salvar e auxiliar. Sim, ele de fato o tinha. Novamente os protestos de alguém foram abafados pelo seu inabalável ego. Levou o pequeno colega até sua treinadora e o colocou na sombra. Umbreon rosnou para ele, disse várias vezes como aquilo foi totalmente desnecessário, mas desta vez um rugido de satisfação sufocou as vãs tentativas de reclamação do outro.

O dia prosseguiu tranquilo, foi um descanso bem vindo para todos eles, quase como um feriado. A medicação que Lyra recebeu era realmente boa, então no final do dia ela os assegurou de que logo retomariam sua jornada. Sentia-se melhor ao ponto de andar normalmente, talvez ainda precisasse de uma noite de descanso, mas no dia seguinte estava certa de sua melhora.

Ty sentia-se aliviado, além de saber ser o grande responsável por essa melhora ágil. Fazê-la evitar o sol e ficar confortável foram os pontos máximos que a fizeram ficar bem. Ele queria retomar a jornada, mas não o faria caso ela não estivesse bem o suficiente. Mas agora ele estava. Agora era hora de retomar o sonho de derrotar o atual campeão da Liga e todos os seus pokémons. Afinal, nenhum deles era tão incrível quanto o grande Typhlosion de Lyra.