– Ty, use Eruption!

O pokémon obedeceu de imediato. O mesmo fogo que queimava em seu coração queimava no dela. O golpe foi poderoso, as chamas, pedras e lava caíram sobre o Dragonite sem piedade. Ele era resistente, mas o poder empenhado no golpe foi tão intenso que resultou da vitória sobre o pokémon inimigo. Depois dele veio outro Dragonite, esse bem-disposto e descansado. Lyra suspirou e apertou as mãos, sentindo o tecido de suas luvas gerando atrito, esquentando.

– Não deixe isso te intimidar, Ty. Você é muito mais forte. Vamos, Eruption de novo!

Mais uma vez ele usou seu golpe. O Dragonite estava se preparando para atacar e, por ser resistente ao fogo, ele tratou levianamente a ameaça incandescente. Mas o pokémon de Lyra era muito melhor treinado do que aparentava e o golpe do Dragonite foi facilmente evitado graças ao ataque anterior.

– Certo, ótimo! Você está indo muito bem! Agora vamos, Lava Plume!

Uma quantidade de lava maior que a anterior atingiu o Dragonite. Ele tentava lutar contra aquele ataque, mas falhava sem conseguir avançar. No final do ataque ele enfim conseguiu usar algum golpe, atingindo o Typhlosion com um poderoso Thunder. Ty arfou e se apoiou nas quatro patas enquanto uma centelha azulada rodeava seu corpo.

– Vamos lá, estamos quase. Só mais um pouco, você aguenta, certo?

Questionou ela. Estava quase dentro do campo de batalha com ele. O pokémon se ergueu novamente e rugiu para o Dragonite. Lyra sorriu e olhou para arquibancada encontrando o olhar de Silver. Ele olhava para ela, não para a luta em si. Ele acenou. A garota olhou de volta para frente e tossiu, retomando a batalha.

– Ty, tente Rock Smash, talvez tenhamos um pouco mais de sucesso. Com tudo agora!

Ty bateu com as patas no chão fazendo com que este rachasse. Abaixou e enfiou as patas nas rachaduras, puxando uma pedra consideravelmente grande e erguendo-a acima da cabeça. O Dragonite tentou desviar com uma ofensiva, mas quando se aproximou tudo o que conseguiu foi ser jogado com violência para trás junto com pedaços da pedra partida em sua cabeça. O pokémon dragão caiu inconsciente no chão. Ty olhou por cima do ombro para olhar para Lyra, e ela pulou animadamente acenando para ele. Estava orgulhosa. Um Charizard.

– Uau... - Murmurou ela ao ver o imponente pokémon de fogo. Seria difícil, usar golpes de fogo seria arriscado. - Ty, vamos lá. Rock Smash de novo, cuidado!

Mais um pedaço do chão do ginásio foi retirado. O Charizard levantou voo, seria um alvo difícil, mas ele vinha diretamente para Ty.

– Ele está se arriscando demais... Ty, eu acho que ele vai ficar em combate próximo, não deixe ele chegar muito perto de você!

O pokémon acenou e recuou arremessando a pedra no Charizard. Apesar de não causar muito estrago, conseguiu afastar o inimigo de si. Ty era lento, esta era sua desvantagem. Sua nova estratégia então seria não se mover mais, usar o fato de ser grande e lento a seu favor. Era isso o que ela havia ensinado a ele.

– Flamethrower, Ty!

A garganta do pokémon se iluminou e um jato intenso e impiedoso de fogo atingiu o Charizard de Lance, mas apenas um bater de asas dispersou as chamas e interrompeu aquele ataque.

– Ele vai vir agora com tudo, aguenta firme e depois usa Eruption, isso deve desacelerá-lo um pouco!

Ty abaixou e as chamas atrás de sua cabeça ficaram mais intensas. O golpe do Charizard o atingiu em cheio. Dragon Claw era um golpe extremamente forte, mas ele aguentou e tomou menos dano do que poderia. Aproveitou a proximidade e usou Eruption. Charizard estava muito próximo e muito vulnerável no momento, então recebeu todo o golpe em sua barriga. A força foi tanta que o pokémon foi lançado para fora do campo, ficando preso na lava. Foi recolhido por Lance.

– Só mais um pokémon para nós dois. - Disse Lance com um sorriso. - Vamos então! Dragonite!

O último pokémon de Lance entrou em campo e bocejou. Estava descansado e bem, diferente do Typhlosion cansado e machucado.

– Vamos Ty, só mais um!

O Typhlosion tomou fôlego e rugiu baixo, se agitando. O Dragonite se ergueu acima deles e sua boca brilhou intensamente. Lyra estreitou os olhos e sentiu o desespero subir. Respirou fundo e deu um passo para frente.

– Ty, use Rock Smash para amortecer o impacto do golpe, se proteja!
O pokémon arrancou outro pedaço do chão e usou como escudo, então quando o Hyper Beam colidiu, boa parte foi dispersado com a pedra, evitando boa parte do dano.

– Flamethrower!

Mais uma reação instantânea, as chamas engoliram o Dragonite. Era um golpe forte, o dano foi visível. Lyra respirou fundo.

– Tente desviar do próximo e usar Lava Plume, toda a força nisso, ele não vai conseguir desviar de jeito nenhum!

O esforço que ele fazia era visível. Respirou fundo e permitiu que a lava e as chamas que o acompanhavam fosse para todos os lados, sendo contidas apenas pelo escudo que cercava o campo de batalha. O Dragonite foi gravemente atingido e não conseguiu prosseguir com seu ataque.

– Agora Ty, finalize com Rock Smash!

Não houve tempo para que uma Hyper Potion fosse usada no Dragonite. O pedaço do ginásio colidiu com tanta força contra o pokémon que ele mal viu de onde veio.

E caiu.

Ela havia vencido. Foi tão instintivo que ela apenas percebeu que havia feito alguma coisa quando sentiu o corpo absurdamente quente do Typhlosion em contato com o próprio em um abraço animado. Afagou o companheiro animada, sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto. Só parou ao ouvir a voz de Lance.

– Você se tornou verdadeiramente poderosa, seu Pokémon responde à sua natureza forte e íntegra. Como treinadora, você vai continuar crescendo ao lado de seu companheiro. Parabéns.

– Eu... Eu venci...

– Sim, venceu! - Lance riu e colocou a mão sobre o ombro dela – Você mereceu essa vitória.

Mal podia acreditar enquanto Lance a conduzia para uma sala nos fundos. Passaram por um corredor belíssimo em dourado e vermelho, os passos abafados pelo carpete, a excitação clara em seu respirar acelerado. Ao entrar no Hall of Fame ela apenas parou de andar.

Vários treinadores diante de seus olhos sustentavam posições confiantes ao lado de seus pokémons orgulhosos. Eles sorriam, pareciam gentis. Encontrou o quadro de Lance e se aproximou dele com um sorriso.

– Você era tão novo... Uau...

– Assim como você. - Lance caminhou pelo tapete vermelho até a pequena rampa que levava para o sistema de registro. Parecia um pergaminho aberto feito de ouro com seis depressões perfeitamente esféricas pela metade. - Coloque suas pokébolas aqui.

Lyra subiu atrás dele e tirou o cinto de pokébolas da cintura, colocando cada uma com o máximo de cuidado. Surpreendeu-se em nunca ter reparado quantas pokébolas diferentes usara em sua jornada. Cada uma delas a lembrava de quando os encontrara, cada uma tinha uma história.

Colocou a última pokébola em seu lugar e suspirou. Um sorriso insistia em marcar seus lábios, não queria ir embora e ela não queria que fosse. As pokébolas brilharam quatro vezes, e em um painel diante deles surgiu uma imagem com os seus seis pokémons. Lyra sorriu encantada com a visão. Todos estavam em suas poses mais imponentes e ameaçadoras. Menos Lugia, ele olhava indiferente para o lado, mas ele costumava fazer isso então Lyra não se surpreendeu. O Typhlosion era o terceiro da direita para a esquerda, curvado com a boca aberta e dentes visíveis em um provável rugido.

– Agora é a sua vez.

O campeão mostrou um painel ao lado onde ela deveria colocar a mão. Posicionou a destra sobre ele e a teve escaneada. Logo Lyra surgiu entre os pokémons como estava em sua ID, decidida, animada. Um suspiro. Ela havia conseguido. Afastou a mão do painel e juntou com a outra diante do peito admirando os arredores mais uma vez. Até que um retrato chamou sua atenção.

Lyra desceu e seguiu lentamente até ele e o encarou surpresa. Um garoto de cabelos negros e olhos vermelhos estava parado entre pokémons visivelmente fortes. Usava um boné vermelho com um círculo branco antes do começo da aba. Ele segurava a ponta deste boné e sobre se formava sobre seus olhos, mas de alguma forma o vermelho ainda brilhava o suficiente para a imagem tê-lo registrado. Não era alto, devia ser mais novo que ela ali.

– Ele...

– Red. - Lance se aproximou dela e parou ao seu lado - Esse é Red, ele é o campeão de três anos atrás. Ele derrotou a equipe Rocket, ajudou pessoas de todas as cidades de Kanto... E conseguiu me derrotar e derrotar o jovem que havia acabado de se tornar campeão... - Lance coçou a nuca - Devo dizer que a derrota do jovem Green partiu meu coração, o rapaz mal curou seus pokémons da batalha comigo.

– Sério? Mas então quem derrotou Red?

– Sobre isso... - As mãos dele repousaram na própria cintura enquanto olhava de soslaio para outro retrato. - Red não foi derrotado. Mas seus feitos foram muito significativos e ele ainda queria treinar, então ele... Bom, não é uma informação que você precise no momento, Lyra. Tudo a seu tempo. Vamos, é hora de ir. Acredito que estejam te esperando.

Ele tinha razão. Por uma saída lateral eles passaram por todas as salas até voltarem para a entrada de Indigo Plateau. Lyra parou no topo das escadas e olhou para baixo. E ele estava ali. As mãos nos bolsos, o olhar distante. Apenas esperava no pé da escada olhando em volta. Seus olhares se encontraram. Lyra esquecera-se de Lance ali, não sabia se ele estava do seu lado ou se já havia voltado, não pensava mais nisso.

Silver começou a subir as escadas em direção a ela. Subia apressado, mesmo que não corresse, olhando para ela. Ela começou a descer também. Colocou a mão enluvada no corrimão e foi até ele. No corredor entre os dois lances de escada dali eles se encontraram, e assim como aconteceu com seu Typhlosion, ela só percebeu que o abraçara ao sentir o calor de seu corpo contra o próprio.

Os braços dela envolviam o pescoço dele em um abraço intenso. Apenas queria estar perto dele, ele estava ali, apenas ele. Sentiu os braços dele envolverem-na em retorno. O abraço era confortável, ele tinha um perfume agradável, podia ficar ali por muito tempo, mas não podia. Afrouxou o abraço e segurou as mãos dele animada.

– Eu consegui! - Lyra tremeu e riu nervosamente - Eu... eu realmente consegui, Silver! - Seus olhos se encheram de lágrimas ao mesmo tempo em que o garoto pareceu preocupado.

– Não precisa chorar... - Ele levou a mão o rosto dela e secou uma lágrima que acabara que escorrer. Pareceu mais tranquilo depois - Parabéns... Mesmo.

– Eu... - Murmurou. Parecia anestesiada, a confusão de ter conseguido se tornar a campeã, a felicidade trazida por isso e a presença de Silver apenas a confundiam. Ele parecia realmente feliz por ela. Apertou levemente a mão dele e as ergueu junto com as próprias, segurando-as diante do próprio rosto - Obrigada por ter vindo... Eu... - Lyra suspirou e deu um passo para frente, reduzindo a distância entre eles. - Eu não teria conseguido sem você.

Ela manteve um sorriso sereno no rosto e estranhou a rapidez com que a cor do rosto dele se aproximou daquela de seus cabelos. A menina soltou uma das mãos dele, mas continuou segurando a outra, a esquerda, e o conduziu escada à baixo. Precisava ir para New Bark contar para sua família.

O garoto a acompanhou em silêncio até chegarem ao lado de fora. Lyra abriu uma de suas pokébola e libertou o descansado e disposto Lugia. Parecia particularmente entediado. Encarou a menina de volta com indiferença, repetindo a ação com Silver.

– Vamos então. - Ela subiu nas costas do Lugia e estendeu a mão para Silver. - Vem.

– ... Pra onde? - Estreitou os olhos e recuou um passo.

– Pra New Bark, Silver. - Relaxou os ombros e ajeitou o vestido preto para evitar que erguesse enquanto voavam.

– Mas... Eu não... Eu não posso simplesmente voltar pra lá... - Silver recuou mais um passo e colocou a mão sobre a primeira pokébola em seu cinto, uma branca e vermelha.

– Silver... - Ela desceu das costas do Lugia, que revirou os olhos e resmungou. - Fica na sua. - Murmurou para o pokémon ameaçadoramente. - Silver... O que foi?

– Como o que foi? - E então ele ficou de costas. Não queria olhar para ela naquele momento. - Já esqueceu? O Feraligatr...

– Ferali. Dê apelidos, lembra?

– Enfim. - Ele suspirou e cruzou os braços - Eu não quero ter que devolvê-lo.

– Silver... - Lyra andou até ele e levou as mãos ao seu rosto. E então apertou suas bochechas de leve - Acha mesmo que eu deixaria alguém tirar o Ferali de você?

– Mas...

– Eu prometo. - Disse séria - Ninguém vai tirar pokémon nenhum de você. Não vou comemorar se você não estiver comigo, vamos.

Silver suspirou, mas acabou indo com ela. Ambos subiram no Lugia. Lyra ficou na frente e depois de ajeitar o vestido novamente ela ajudou o garoto a subir.

– Lembra de segurar firme, principalmente antes de estabilizarmos.

–Tá.

Sentiu um arrepio estranho quando ele envolveu sua cintura com os braços. Lugia bateu com força as asas em uma arrancada rápida, ganhando altitude e então se empurrando para frente com mais batidas de asas. Silver segurou Lyra com mais força. Não a machucava, mas estavam tão próximos que ela apenas se sentia estranha. Ele era quente, e ali em cima e isso era bem-vindo. O contato era confortável, era agradável. Se perguntou por um momento como ele estaria se sentindo.

A volta que deram era um pouco grande. Precisavam desviar de Mount Silver e seu mau tempo, então praticamente sobrevoaram as rotas de volta pra New Bark. Passaram rapidamente Tohjo Falls e enfim Lugia plainou para o chão da cidade natal da menina. Pousaram na parte mais larga da cidade espalhando um pouco de poeira em volta quando o fizeram. E então desceram.

Lyra abriu sua pokégear e viu a hora. Sete da noite. Ainda não estava tão tarde. Logo que Silver desmontou do Lugia ela o deixou brincar na água. Acabou libertando seus seis pokémons, ali era seguro, eles podiam aproveitar um pouco. Eles mereceram, ela fez questão de deixar isso claro para cada um deles.

Chamou Silver consigo e foi até a própria casa. Podia ouvir o som da água agitada pelo Dragonair e o Lugia mergulhando animados quando abriu a porta. Ethan e sua mãe estavam ali.

– Oi... - Lyra coçou o rosto com os olhares ansiosos sobre ela - Eu consegui.

Os dois sorriram e levantaram para cumprimentá-la, mas pararam ao ver alguma coisa atrás dela. Distraída ela olhou para trás e viu Silver. Ele apenas olhava para o lado como se assistisse os pokémons na água. Ele não parecia feliz.

– O que foi mãe, Ethan? Esse é o Silver.

– Sabemos quem é. - A mulher levantou e cruzou os braços. Tinha cabelos castanhos mais claros que os de Lyra, mas seus olhos eram da mesma cor - Ethan me contou o que ele fez há algum tempo.

– O que? Mas isso faz tempo, já está tudo bem. - Lyra andou até a mãe e sorriu - Sério, tá tudo bem.

– Eu não acredito. Não acho que você devia andar com alguém que faz algo do tipo e...

– Mãe! - Lyra exclamou interrompendo-a. - Eu não vou admitir que ninguém fale nada sobre o Silver na minha frente, nem mesmo você.

– Mas eu só estou...

– Não, não está. Se estivesse teria ido me ver lutar contra a Elite, eu te chamei! Mas sabe quem foi a única pessoa que foi me ver? Ele! - Apontou para Silver - Ele foi me ver lutar, eu não teria vencido sem ele e não admito que alguém que sequer esteve lá por mim diga alguma coisa sobre ele.

– Lyra...

– Não. Eu não vou ficar aqui depois de você ofender meu... Tsk, vou embora.

Lyra deu as costas irritada e pegou Silver pelo pulso, andando com ele para longe da casa. Não sabia muito bem para onde ir, mas assoviou para o Lugia e puxou Silver para as costas dele na água. O pokémon escorregou pela superfície do lago até que podiam descer num gramado. Estavam próximos à entrada da caverna que levaria até Tohjo Falls, mas ela decidiu sentar na beirada do lago.

Viu que Silver sentou ao seu lado com as pernas cruzadas e apenas parou com ela ali. Ficaram em silêncio por algum tempo observando as estrelas no reflexo da água. Então a voz dele interrompeu os ruídos da noite.

– Desculpa.

– Desculpar? - Ela olhou para ele. O garoto olhava para cima.

– Pelo que aconteceu, por me atrasar. - Pôde ouví-lo suspirar antes dele virar para ela. - Desculpa.

– O que aconteceu não foi culpa sua.

– Obrigado por me defender. Não esperava que você fosse... Confrontar alguém por minha causa. Por isso eu pedi desculpa.

– Ei... Não precisa.

Ela ergueu a mão para que desse tapinhas amigáveis no ombro dele, mas ele segurou sua mão antes. O vento soprou e os envolveu naquele momento, agitando o cabelo de ambos. Ele estava com o olhar estranho de novo. Nunca sabia o que aquilo queria dizer.

– Lyra, eu preciso te contar uma coisa.