— Como assim? Vocês estavam indo tão bem, eu os vi por diversas vezes ensaiando, a coreografia ficou incrível – Alice lamentou.

— É... Eu sei, mas infelizmente não poderá dançar – Monica concluiu deixando claro pelo tom que não era uma conversa que gostaria de ter naquela hora.

— Que pena, a diretora da ONG me ligou para elogiar vocês, se eu fosse você pensaria melhor no fato de tira lo de sua apresentação, você é ótima e ele também, são a junção de dois grandes talentos, toma a chave – Ela estendeu o objeto metálico.

— Obrigada Alice.

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Monica abriu a sala e junto com o mormaço causado pelas janelas fechadas a nostalgia lhe atingiu em cheio, bem no rosto. Qualquer lugar do aposento que olhasse lembrava de algum momento que passou com ele; tão forte quanto aquela sensação, foi o que sentiu quando a musica começou a tocar e ela a tirar os passos antes dados por ele, os preenchendo com novos. 

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— Você diz isso porque não vê o quanto ela sofreu e ainda está sofrendo Xaveco – Denise defendeu a amiga, em uma tarde enquanto faziam algo para comer na casa do namorado.

— De, só estou dizendo que não é pra tanto ué, todo mundo do bairro sabe que o Cebola nunca foi de se apaixonar, ele tinha uma fila de menina atrás dele e não estava nem ai, não tem experiência com relacionamentos sérios, já pediu desculpas, já se arrependeu e agora demonstra que gosta dela de verdade. Ela quer que ele faça mais o que? – Xaveco perguntou enquanto cortava alguns tomates.

— Affe, pra você é tudo fácil assim, ele enganou ela, e você o ajudou, não pensa que esqueci não viu, ainda não te desculpei totalmente – Denise continuou, fritando alguns hambúrgueres. – Ai, isso está espirrando muito óleo.

— Percebi, veio até aqui haha, para amor, eu também já entendi que foi uma grande burrada tudo isso, acha que não fico mal por ver ele do jeito que está?! O cara ta meio pirado, até no futebol que ele manda bem pra caramba, está todo cabisbaixo – Xaveco lembrou se protegendo dos pingos de óleo que voavam pela cozinha – Amor, coloca uma tampa nisssooo socorro haha.

— Ai que horror – Denise riu tampando a frigideira e lhe dando um beijinho — É amor, aprende isso, na vida tudo que vai, volta. Tudo que fazemos reflete no que receberemos de volta, ele plantou a aposta e colheu isso, agora tem que correr atrás porque ela está decidida, tirou até ele da coreografia, uma das mais importantes da vida dela hein, que eles passaram metade do ano ensaiando, ela abriu mão para fazer outra em menos de 4 meses e sozinha – Denise contou voltando a se apoiar sob uma das pernas segurando a espátula.

— Nossa De, ela tirou ele da coreografia? Vish ele deve ter ficado pior ainda, passou dias e noites criando os passos para ajuda-lá – Xaveco comentou lembrando do esforço do amigo.

— Pois é, por isso te falo, nunca brinque com o coração de ninguém, o mundo da voltas – Denise concluiu desligando o fogo.

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Duas semanas tinham se passado e Monica encontrava se em estado de alerta, sempre que estava preocupada e com muita coisa acumulada tinha suas crises de pânico e nesse momento uma estava pronta para estourar.

Tinha passado uma boa parte da tarde conversando com seu professor por skype, não podia o alugar muito devido aos seus compromissos, mas ele sempre a ouvia com atenção e carinho, tentando a aconselhar da melhor forma possível, naquele dia, lhe disse para não desistir, ele sentiu nas palavras da menina que ela estava prestes a isso, propôs que tentassem montar a coreografia a noite juntos ou que ela lhe passasse como seria antes, para ele ajustar para solo.

— Vai lá Marquinhos, sei que jajá começa sua aula da tarde – Monica se despediu deitada no chão da sala de dança com seu note aberto.

— Promete que vai tentar se animar? Você é uma das melhores dançarinas da companhia inteira, tanto aqui, quanto ai e ama muito o que faz, então não deixe que estraguem isso, você é forte, corajosa e bateu de frente com sua família para conseguir estar ai, realizando seu sonho. Te amo, vai dar tudo certo Moniquinha – Marcos concluiu desligando seu skype com um aceno.

Monica não respondeu, mas também não conseguiria, seus olhos se encheram de lágrimas e a garganta apertou num nó, engoliu em seco.

Minimizou o skype e abriu o vídeo onde tinham gravado o último ensaio para ajustar os passos. Se não fosse trágico seria lindo assistir e reassistir mil vezes aquela coreografia, olhou quase que sem piscar para os movimentos por ele feitos, a leveza que ele a segurava para ampara-lá em um salto, a mesma leveza com que a pousava no chão, sentia muita falta disso, fazia exatamente duas semanas que não trocavam uma palavra, e por alguns segundos mesmo que contra sua vontade, temeu ser esquecida.

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Cebola terminou de montar sua aula da semana e fechou o seu caderno destinado a dança, ainda sob a luz da cabeceira de sua mesa do computador jogou seu corpo para trás apoiando se no acento com as mãos sobre a cabeça.

Por noites andava tendo uma dor de cabeça forte, pensava em suas tardes após as aulas da Lemon que agora estavam livres e em o quanto tinha que se esforçar para não invadir a sala em que ela ensaiava e toma-lá nos braços.

Quanto tempo será que doeria? Por quanto tempo ela o ignoraria?! Essas perguntas rondavam sua cabeça o tempo inteiro, juntamente com a agonia que era pensar no Fabio. Ele tinha certeza que ela não se envolveria com o garoto, mas em contra partida não sabia do que era capaz para agradar os seus pais.

Socou involuntariamente sua mesa se arrependendo instantaneamente, pois no segundo seguinte sua irmã já batia a porta.

— Ce? Está tudo bem? – Maria perguntou aflita, era esperta, há muito tempo vinha percebendo o irmão diferente.

— Entra pirralha, vem cá – Cebola a chamou se levantando e abrindo um sorriso – Que tal aprender mais uns passos hoje?

— Jura? Jura que vai me ensinar Ce? – Maria sorriu de orelha a orelha.

— Claro, vamos, já preparei a aula de amanhã, vou te ensinar uma coreografia nova – Cebola concluiu feliz por poder compartilhar seu amor pela musica com a irmã.

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Monica saiu da Lemon bem mais tarde que de costume, percebeu a cidade agitada, muita gente fora de casa curtindo o mormaço daquela noite, sendo assim decidiu ir caminhando para casa ouvindo uma musica em seu fone, só parou quando alguém a cutucou.

— Ei.

Quase sem acreditar Monica se virou tirando calmamente seus fones para encarar a dona da voz.

— O que você quer Camila?

— Calma gata, só queria perguntar do Cebola, anda sumido, tem noticias dele? – Ela perguntou sorridente.

— Não, não sei, é só isso? – Monica perguntou com preguiça na voz.

— Soube que não estão mais digamos que juntos, então deduzi, ele esta com saudade de mim, como sempre – Camila provocou com o ego inflado – Eu sabia que não duraria nada, você era só uma distração.

— Camila, não me enche! – Monica retrucou virando para voltar a seu caminho para casa - Vocês se merecem.

— Ele não é pra você Monica, nem faz seu estilo, vê se vai procurar seu Ken – Camila concluiu virando as costas. 

Monica parou onde estava ainda de costas, seu corpo se dividiu entre a razão e a emoção, metade queria agarrar o cabelo dela e não soltar tão cedo, porém não era louca, nunca tinha brigado, era lógico que apanharia. Já a outra metade queria simplesmente chegar em casa e tomar um banho quente depois de um dia cansativo.

Se a razão ganhou? Não! Dessa vez não, Monica voltou e agarrou com suas unhas compridas o mais forte que conseguiu o cabelo da menina, Camila já era treinada para situações como essas, virou com um tapa certeiro na cara dela, a dor que inundou sua face lhe indicava que muito mais que dedos tinham acertado seu rosto, provavelmente algum anel a machucará, empurrou Camila para longe com o máximo de força que conseguiu e antes que revidasse sentiu dois braços as separando.

— Monica, o que é isso no seu rosto? – Cascão perguntou assustado, se colocando entre elas – Camila está louca?

— Foi essa patricinha que começou, não se controla, aceita você perdeu – Camila concluiu arrumando o cabelo – E fica esperta, isso vai ter volta.

Monica a olhou se afastar ofegante estava tão nervosa que seus olhos se encheram de lagrimas, mas dessa vez sem nenhuma tristeza nelas, colocou as mãos sobre a bochecha e sentiu o machucado recém feito, percebeu que um pouco de sangue despontava e tentou enxugar com sua blusa.

Sustentou o olhar do Cascão, quando o mesmo a encarou assustado.

— Você só pode ser doida, a Camila não tem juízo Monica, pra ela arrebentar sua cara é um dois – Cascão a repreendeu.

— Tanto faz – Monica deu de ombros, checando todas suas unhas.

— Vocês só podem ter pirado, se o Cebola souber disso vai ficar louco – Cascão continuou a falar – Vamos te acompanho até sua casa.

— Me deixa, não estou nem ai pro Cebola, estou é cansada disso já – Monica protestou virando as costas e seguindo seu caminho pisando firme.