Tudo é tão calmo e cheio de harmonia

Eu vejo novas flores a cada dia

E só por esse tempo a vida é mágica pra mim

— Bom dia, Sakura! – Uma moça com aparência para ser mãe dela diz.

— Bom dia, senhorita Nara! - Sakura responde meio sem jeito, por estar segurando cinco cães, sim cinco cães. Por ser uma cidade que a maior parte dos moradores são idosos, tem muitos cães e Sakura ama todos eles. Não me pergunte como sei tanto sobre ela. Ainda não é o momento certo para responder, mas continue acompanhando para que quem sabe antes do final você descubra quem eu sou.

 – Desculpa não poder ficar e conversar com a senhora. Tenho que levar os cães de volta – Ela até tenta falar sem gritar, mas como conseguir essa proeza sendo arrastada pelos peludos? Tenho apenas um cão e mesmo assim não consigo sair para passear sem que ele me arraste.

— Sakura, venha buscar seu pagamento amanhã, tudo bem?

— Ah, não se preocupe dona Naomi – Disse já se virando para ir embora – Eu passo sim!

E então depois de deixar cada cachorro em sua devida casa ela sai correndo em direção a sua. Veja bem, sua casa é a mais afastada da pequena cidade e além disso tem que passar pelo bendito lago que tem entre a cidade e a casa. Até hoje não entendo o porquê de ter uma, como posso dizer, tem uma cabana no meio da ponte, sim, tem uma ponte para atravessar até sua casa e no meio dela tem uma cabana, que mais parece um banheiro. E também porquê sua tia mora assim, bem perto de uma floresta? Isso até parece aqueles filmes de terror, eu ficaria com medo. Você não?

 A cidade é tão pequena que não tem essas coisas de centro, lá é tudo junto e misturado. Chega até a ser engraçado. Estranho, não é? Ao menos eu acho, como pode não ter um shopping? Ou se compra os jogos para vídeo game?

Ainda ofegando, ela entra em casa e parte em disparada para seu quarto. Ela vai ter que se trocar em tempo recorde. Já que tem exatamente 25 minutos para começar a trabalhar.

Mas o relógio chama

E eu pulo da cama

Para fazer de novo o que eu sempre fiz

— Sakura?

— O que foi tia? – Diz enquanto revira os olhos, lá vem ela brigar sem motivo de novo.

— Você está atrasada de novo? – Ouve a tia praticamente gritar enquanto sai do banheiro – Eu já disse para você parar de levar aqueles pulguentos para passear.

Eles são mais limpos que você.

 Ela pensa em dizer para tia, mas conhece bem com quem mora e não quer chegar realmente atrasada. Abrindo a porta do quarto, e tentando fazer a tia dar passagem, mas essa missão não foi completada.

— Tia? Olha, não quero discutir com você novamente – Ela tenta fazer a outra parar de gesticular, inutilmente – Estou indo trabalhar.

Ela suspira.

Sakura sabe muito bem que devia agradecer todos os dias pelo que a tia fez por ela. Já que desde os cinco anos, Tsunade é o único parentesco que tem. Depois que seus pais morreram num acidente de carro, ninguém quis a guarda da pequena e Sakura é muito grata pelo que ela fez.

Ao menos era.

Até o momento que descobriu que a tia tão boazinha, queria apenas o dinheiro de seu meio irmão.

 E como ela descobriu?

Bem, Sakura tem um sonho desde pequena de ser medica veterinária e pediu a tia que não gastasse mais seu dinheiro, e sim, fizesse uma poupança para ela. Coisa que a tia não aprovou muito e depois que completou quatorze anos pode tirar o direito dela de ficar com sua pensão. Só que a tia não gostou muito da ideia, afinal, quem iria bancar seus gastos inúteis e fúteis? Ai, que ela mudou completamente. Sempre deixando a moça para baixo, sempre arrumando algo que pudesse falar mal. Enfim, a meta dela é tirar a garota de sua vida. E olha, posso dizer que ela está quase conseguindo.

Ela suspira novamente.

— Nossa Sakura – Ela levanta o olhar – Quanta animação hein.

— Bom dia, meninas – Diz enquanto coloca a bolsa na mesa – E então? Hoje ainda é terça feira e já está lotado de gente.

Todas riram.

— Aí, Sakura não faz isso – Elas colocam a mão na barriga de tanto rir – Você acha que nesse fim de mundo alguém vai ficar doente?

Como podemos ver. Ela trabalha na unidade básica de saúde da cidade. É tipo um hospital, só que pequeno. Tem muito mais trabalhadores do que pacientes. Pessoas da cidade grande diz que isso é tipo o paraíso. O que vocês acham? Eu não sei dizer, todas as vezes que fui no hospital, não me lembro de muita coisa então não posso dar minha opinião.

— Ok meninas – Ela diz enquanto se senta em sua mesa - Vou organizar uma papelada que o doutor me pediu.

— Ok, ok – Uma delas diz, dando uma piscadela – Prepare- se para almoçarmos juntas.

Sakura balança a cabeça rindo. Para logo se animar e dizer:

— Ao trabalho!

***

— Sakura? Você pode me ajudar aqui? – Ela levanta num pulo, assustada.

— Ah, sim, doutor. O que precisa?

— Preciso que pare de me chamar de doutor. E me chame apenas de Gaara. O que acha? – Ele diz enquanto passa a mão nos cabelos rosados dela. E eu diria para ele tirar as mãos dos cabelos dela.

— Acho que estamos no NOSSO local de trabalho – Ela diz enquanto se livra da mão dele. Isso mesmo, não deixe ele te tocar.

Ele ri em tom de deboche. Não gosto desse cara. Mas, minha opinião não conta.

— Sakura você é a única garota que se faz de difícil para mim. Sabia?

— Eu não me faço de difícil, DOUTOR – Ela diz dando ênfase a última palavra – Agora se me der licença – já virando para sair da sala -  já que você não quer minha ajuda irei para meu posto.

Ela senta em sua mesa. Bufando. Como pode um cara tão inteligente como ele ficar se rebaixando a tal ato? É por isso que Sakura não gosta dele, nem eu. E ele já devia ter percebido isso. Se pudesse, faria ele entender rapidinho.

— Vai ficar até mais tarde hoje de novo testuda? – Ela levanta pegando sua bolsa.

— Já falei para não me chamar pelo apelido – Ela pega a colega pelo braço – Vamos?

— Mas seu apelido, Sakura, é muito engraçado e não posso perder a oportunidade de te zoar um pouquinho – Ela diz enquanto coloca a língua para fora e ri – Não é verdade, testuda?

Testuda.... Quer dizer, Sakura suspira fingindo estar chateada.

Só entre a gente. Não pode contar para ninguém, hein. Quem coloca o apelido de testuda em alguém? Até parece que ela tem uma testa enorme. Bem, parando para pensar agora... ela realmente te uma testa grande.

Que ela não leia isso!

Só para deixar claro... caso essa história não tenha final. Saibam que foi porque ela descobriu que eu a chamei assim.

— Ei. Agora que lembrei – Ela para de supetão – Amanhã não é o dia que sai o resultado do vestibular?

Os olhos verdes de Sakura brilham por um instante.

— Como eu posso ter esquecido? – Ela dá uns pulinhos e bate palmas – Como eu pude esquecer? Você tem razão – Diz tornando a passar o braço no da amiga – E você não devia ter me falado – Finge raiva – Agora não vou conseguir dormi. Não se o que tem demais neste tal de vestibular, mas quem fica sem dormir por causa de um resultado? Eu mesmo só tive uma vez que fiquei por conta de ter trado nota vermelha... mas isso é história para outro dia.

— Problema é seu. Quem manda querer sair daqui – Falou com tom de magoa na voz – Porque você tem que ir pra Tóquio? Se pode ficar aqui, se casar com o doutor bonitão e ter milhares de filhos?

— Ino – ela fecha os olhos e suspira, sempre que faz isso quer dizer que sua paciência está acabando – Não acredito que você esteja falando sério – Nem eu acredito, imagina ela! Com tom de indignação ela continua – É isso que você quer para sua vida? Sério?

— Porque não? – Ela balança a mão para o alto – Qual o problema? Se eu casar com o Gaara meus problemas estariam resolvidos. Não sei porque você não gosta dele. Ele é filho do prefeito da cidade, ruivo, lindo. Qualquer mulher gostaria de estar no seu lugar. Afinal, não sei se você reparou, mas, está na cara que ele está caidinho por você!

— Ino... por favor. Você sabe...

Ela nem deixa a rosada terminar. E já começa o discurso.

— Eu sei muito bem que ser bonito e rico não é nada para você. Mas então porque fica dando esperança para ele? Da um basta e pronto! Assim, pessoas como eu tem chance com ele.

— Pessoas como você? – Ela diz parando de andar – Você tem de parar de se achar feia. Você tem que se valorizar mais! Com esses cabelos lindos louros e esses olhos azuis, qualquer homem ficaria caidinho por você. E digo mais! Você merece coisa bem melhor que o doutor Gaara!

 - Para você é fácil, Sakura – Ela ri com sarcasmo – Olhos verdes, cabelos estranhamente rosados. Quem não vai gostar da exótica Sakura? Hein?

Realmente, Sakura é muito bonita com esses cabelos rosas e longos, esses olhos verdes. Sim, ela é perfeita. Mas ela é bem mais do que isso. Seu jeito humilde, sempre valorizando o interior das pessoas mais do que a aparência, a torna digamos que única. Ainda bem que ela é minha...Ops ainda não posso falar!

— Olha, vou te dizer, para alguém nos amar precisamos amar a nós mesmos primeiros.

— Olha. Vou te falar uma coisa que está engasgado aqui – Ela aponta para própria garganta – A muito tempo – Ela aponta o dedo para a cara da amiga. Quem ela pensa que é para ficar apontando o dedo assim? – Espero que você passe nessa merda de vestibular e que vá para a cidade grande, por que assim eu terei o que sempre quis.

— Ino! Para com isso...

Ninguém nunca me entende

Dizem que sou rebelde, reclamo demais

Mas você tem que ser diferente

A loura se vira e sai pisando duro. A rosada fica ali com olhos arregalados, assustada e sem reação.

 Não fica assim, amanhã tudo vai voltar ao normal.

Ela sai do transe e de cabeça baixa se dirige a sua casa.

— Cheguei.

— Faça seu próprio jantar! – A tia grita da sala, onde assiste um programa com o volume no último, vou te contar. Ninguém merece uma tia dessa – Esqueci de deixar o seu.

Esqueceu? Ou simplesmente não quis deixar?

— Não quero jantar – Ela suspira, indo para seu quarto – Obrigada.

Seu quarto é pequeno. Afinal, desde que veio morar com a tia, a casa teve que sofrer algumas alterações. E com muita relutância da tia ela conseguiu fazer um banheiro, mesmo que minúsculo, no quarto. Assim, ela tem mais privacidade. E bem, com essa tia, até eu iria querer ter privacidade.

Deitou-se e ficou ali com o pensamento na briga que teve com sua melhor amiga. Sim, Ino foi e ainda é muito importante para sua vida. Afinal, ela foi a primeira pessoa que conheceu, que a fez sorrir depois que seus pais morreram e sua vida mudou completamente. Você tinha que ver, não que eu tenha visto, mas todos contam. A cidade a achava muito estranha, não só pelos seus cabelos serem rosa, mas também porque ela estava sempre chorando. É meio difícil imaginar a Sakura que eu conheço chorando por qualquer coisa. E agora ela fica assim, triste porque justo essa amiga, não concorda com suas decisões.

— Se eu passar no vestibular... – Ela coloca os braços sobre seus olhos – Se eu passar, não vai ser fácil deixar todos que conheço por aqui. Mas sei, que vai ser necessário – Ela interrompe um soluço – O que menos quero é que as pessoas que são importantes para mim, fiquem com raiva de mim. Não vou suportar perder todos eles de novo...

E assim. Com olhos em lagrimas, com o coração inquieto e sentimentos conturbados ela adormeceu.

Me deixa parar o tempo

E só por um instante ser dona de mim

Eu quero ser diferente

Sair dessa rotina que me deixa assim

                                                              Thaeme Marinoto - Rotina