Zugzwang escrita por MB


Capítulo 31
Capitulo 31


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662472/chapter/31

Charlie estava entre o sonho e a consciência. Deveria ser bem cedo. Ouvia vozes e não fazia ideia se eram da sua cabeça. Identificou a de Spencer, mas não a ajudou a saber se era real, a voz dele sempre estava em sua mente. Foi quando ela sentiu uma dor excruciante no estômago.

— Spence. - ela conseguiu sussurrar enquanto, ainda de olhos fechados, tentava se curvar para ver se a dor passava, mas nem isso conseguia fazer. - Spencer. - falou mais alto, percebendo que as vozes haviam parado. 

Ela abafou um grito no travesseiro, ficando de barriga para baixo, e os fios em seu braço e mão se entortaram, machucando-a mais. Sentia que todos os seus órgãos estavam sendo arrancados ao mesmo tempo. Quando menos percebeu, não tivera tempo de abrir os olhos, já que sentiu uma dor aguda na veia e soube que lhe davam mais anestesia.

Depois de quase uma hora, voltava a ouvir as vozes. Abriu um pouco os olhos e tentou se acostumar com a claridade do hospital. Virou o rosto e viu Spencer sentado no sofá, lendo um livro gigante, onde ela identificou uma equação de física que teve que decorar quando mais nova.

Charlie sonhara com o homem que ela não sabia o nome. O homem que a humilhou de todas as maneiras possíveis e filmou tudo, mesmo que não transmitisse as imagens ao vivo. Filmara com seu celular, o qual os agentes não acharam. Isso a atormentava. Charlia chorava, sem emitir som ou se mexer, não tinha forças para isso.  Só deixava as lágrimas caírem.

— Me desculpe, Spence. - sussurrou alto o bastante para ele ouvir. Spencer levantou os olhos do livro e o colocou ao seu lado no sofá, aberto. Levantou-se e andou até Charlie, passando a mão pelos cabelos dela. Sua feição não estava mais vazia, havia uma ponta de desespero enquanto as lágrimas caiam.

— Não tem porque se desculpar. - Spencer tentou sorrir para ela, sem deixar transparecer o quanto triste estava por vê-la daquele jeito. - Você não fez nada.

— Eu fiz... - ela balançou a cabeça. - Eu pedi pra ele parar, mas ele continuava. Eu juro que eu tentei fazer ele parar, mas eu não conseguia. Eu tentei, Spence, eu juro...

— Eu sei, Charlie... - ele olhou nos olhos encharcados dela. - Tá tudo bem agora.

— Ele filmou tudo. - contou. - Não só o que vocês viam, mas com outros apare... - ela parou de falar e arregalou os olhos para ele. - Vocês viram? - seu tom era quase uma afirmação.

— Não, amor, não vimos tudo. - Spencer falou rapidamente. - Não sabemos metade do que aconteceu, e é por isso que você precisa e pode falar comigo. 

Charlie negou, chorando. Ele pegou sua mão e a acariciou.

— Se você guardar tudo vai piorar. Eu não vou te forçar. Se você não quiser falar, tudo bem, mas saiba que pode, ok?

— Tá bom. - Charlie balançou a cabeça positivamente, querendo parar de chorar, mas as sensações que sentiu se esforçando para tentar chamar alguém ou fazer o homem sair de perto dela, e o desespero ao achar que morreria sem poder se despedir de Spencer, voltavam para ela o tempo inteiro. - Eu quero a minha mãe.

— Charlie... - Spencer engoliu em seco e beijou sua testa, enquanto ela continuava deitada, com os olhos fechados e segurando o choro.

— Você iria amar ela. - Charlie falou após um tempo e limpou o rosto. - Ela e Frances. Minha irmã odiava o nome, mas minha mãe achava lindo. - Spencer sorriu um pouco. - É como se a ficha de que nunca mais vou vê-las caísse todos os dias, mil vezes no mesmo minuto e quando ele me mostrou o vídeo daquele cara a matando... Eu praticamente criei minha irmã, Spence, ela era minha filha e eu não a protegi...

— Você fez o possível. - ela negou, triste, mas não chorava.

— Se eu não tivesse mentido - Charlie começou depois de engolir em seco. -, se eu tivesse falado o que meu pai fez...?

— Charlie, você não poderia... - Spencer a interrompeu, sabendo aonde ela chegaria, mas ela fez o mesmo que ele.

— ... minha irmã ainda estaria viva?

— Eu não sei, amor, mas você não tem que pensar nisso agora.  

Charlie respirou fundo e olhou para ele por um tempo, antes de se afastar do meio da cama e dar um espaço para ele.

— Deita aqui? - perguntou com uma voz baixa. - Não tem problema nenhum, não estou mais tão fraca fisicamente. - adicionou rapidamente quando percebeu que ele protestaria. Spencer balançou a cabeça minimamente e se deitou ao seu lado, passando os braços pelo corpo dela, tomando cuidado para não machucá-la. Charlie estremeceu, como se só estivesse aceitando contato porque era Spencer. - Achei que nunca mais iria te ver.

Ele beijou o topo de sua cabeça e a abraçou mais forte, sentindo Charlie se aninhar mais nele.

— Estou aqui. - Spencer disse suavemente. - Você vai ter um grande problema para me fazer sair.

— Nem tente. - ela sorriu um pouco. - Já que eu fiquei esse tempo desacordada, quer dizer que... Bom, não preciso ficar tempo demais aqui.

— Vai ficar o tempo que os médicos acharem necessário. - ele sorriu enquanto passava os dedos pelas pequenas ondas do cabelo de Charlie.

— Eu sou uma médica e nós não deveríamos ficar nessa situação. - ela tinha o braço direito por cima do corpo de Spencer e brincava com o tecido da camisa dele. 

Eles ficarem um tempo em silêncio, só apreciando a companhia um do outro.

— Charlie, sabe que eu escrevo para a minha mão todos os dias. – Spencer disse após um tempo.

— Está tudo bem com ela? - ele balançou a cabeça.

— Sim, tudo bem. Ela achou você muito bonita.

Charlie levantou o olhar para ele, sorrindo.

— Você falou de mim?

— É claro. Não o que aconteceu, é claro, mas... Sobre você.

Ela levantou o olhar novamente, encontrando os olhos doces de Spence analisando as mechas escuras de cabelo de Charlie entre seus dedos. Ela poderia olhar para o rosto dele o dia todo, sem se cansar. Como o cabelo mais claro que o dela caia perfeitamente sobre seu rosto, os olhos castanhos esverdeados que brilham toda vez que ela sorria, e a boca perfeitamente desenhada. Charlie tinha que respirar fundo toda vez que seus olhos se encontravam com os dele, querendo que as borboletas em seu estômago parassem de bater as asas.

Spencer olhou para o rosto de Charlie algum tempo depois, encontrando-a com um sorriso quase imperceptível para ele, mal puxava o ar, querendo sentir aquela sensação típica da paixão o tempo que conseguisse. Charlie abriu a boca lentamente, ainda olhando nos olhos dele e puxou mais um pouco de ar.

— O que foi? - ele perguntou acariciando o rosto dela. Charlie abriu um pouco o sorriso.

— Só... - deu de ombros. - Eu te amo.

— Vem aqui. - ele a puxou para mais perto. - Eu falo sério. Sobre você poder falar comigo.

— Eu sei, Spence. Quando eu estiver pronta... - ele assentiu, querendo a abraçar como se fosse um escudo, protegendo-a de tudo que pudesse fazer algum mal. - Eu só quero ir pra casa, mesmo.

— Nós vamos daqui a pouco. - Charlie sorriu ao ouvir o "nós". - Volta a dormir, não são nem oito horas ainda. 

— Pode ler algo...? - perguntou.

— Só tenho um livro teórico sobre física. Eu tenho uma memória boa, também. - ele sugeriu.

— "O nosso amor era mais que amor"...? - ela continuava a brincar com o tecido da camisa dele e percebeu que ele riu suavemente.

Annabel Lee, será. - Charlie sorriu, balançando a cabeça positivamente.

— Eu amo sua memória. – ela disse baixinho.

— "Foi há muitos e muitos anos já,
num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento, que amar-me e eu a adorar." - Spencer começou e ela só voltou a dormir quando ele terminara de citar seu poema favorito, e moveu a boca, sem emitir som, junto com ele em sua parte favorita: 

E assim estou deitado toda a noite ao lado

Do meu anjo - meu anjo - meu sonho e meu fado.

Sim, era um poema trágico, mas as palavras vindas da boca de Spencer faziam, para Charlie, qualquer coisa soar melhor do que realmente eram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?
Não sei se já ouviram, mas é sempre bom compartilhar Matthew lendo Egdar Allan Poe:

http://mentallydatingspencerreid.tumblr.com/post/137598606350/spencerreiddr-spencerhellareid-matthew-gray

(Tem como n se apaixonar por esse homem?)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zugzwang" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.