— Garcia... - Spencer engoliu em seco e olhou para os outros agentes, que também imaginavam o pior. - O que você quer dizer com isso...?

— Há quanto tempo você não fala com Charlie...? – a loira perguntou e sua voz ficou mais baixa ao falar o nome dela.

— 22 horas e 46 minutos. - ele respondeu com os olhos marejados. - Por que está segurando o computador assim?

Com a mão direita, Penelope segurava a base do aparelho, e com a outra, deixava a tela baixa, como se quisesse esconder. Olhou para Hotch, sem saber como reagir. 

— Acabei de receber essa chamada de vídeo. - disse por fim, colocando o aparelho na mesa. - Dizia "Reid” no começo e...

Ela parou de falar quando ele andou até à mesa onde o computador estava, quase desesperado.

— Acho melhor você não... - ela puxou o computador para mais perto de si, mas Spencer pegou de sua mão e viu a imagem. Era uma sala escura, com uma pequena janela atrás de única cadeira que ele conseguia ver, onde Charlie estava sentada, com os pulsos amarrados e olhos fechados, mas era possível perceber que estava acordada, já que, com o pescoço totalmente baixo, sua cabeça ainda se movia, como se tentasse levantar o rosto.

Spencer olhou para trás por um tempo, com os olhos apavorados.

— Garcia, o que...? – ele não terminou de falar. – De onde isso está vindo?

Um homem empurrou o rosto de Charlie para mais baixo e levantou algo como um apoio para o pescoço, que a fazia encarar exatamente a câmera caso ela não se mexesse.

— Sabe porque está aqui? - o homem moreno de olhos escuros perguntou para ela, passando os dedos pelo seu rosto. Ela fez que não com a cabeça. Spencer se afastou do computador, mordendo a parte interior da boca. - Você sabe que parte do motivo é porque se envolveu com o agente, não sabe?

— Sim. - Spencer voltou a olhar para a tela. Os outros agentes estavam em volta de Penélope, que tentava rastrear de onde estava vindo.

— Sabe quantas vezes eu te ouvi tagarelando com Robert Makin ou usando termos técnicos com pacientes? - o homem se aproximou dela, falando próximo de sua boca e sorria.

— O que eu fiz? - a voz dela estava mais arrastada, e emal conseguia mover a cabeça para ficar longe dele. - Eu não te conheço. 

— Me conhece. - ele olhou nos olhos dela. - Não se lembra? No hospital? O primeiro dia foi uma quinta.

— Me desculpe... - ela não conseguiu evitar as lágrimas e Spencer não sabia o que fazer. Não sabiam de onde o vídeo estava vindo e o máximo que tinham para analisar era o fundo do quarto, mas Charlie encarava diretamente a lente da câmera, o que dava a sensação de que olhava nos olhos de Spencer.

— Garcia. – Reid chamou-a mais uma vez. Ela olhou para Reid com os olhos encharcados. E fez que não com a cabeça, não sabendo o que fazer.

— A imagem está vindo de São Francisco, mas é só um... – ela tentou achar uma palavra para simplificar. – Um “canal” para não rastrearmos a real localização.

— Vamos tentar... – Hotch manteve a expressão séria, e olhou para Morgan. – Temos que analisar o vídeo para ter o perfil dele. Reid, você consegue...?

JJ agora abraçava Spencer, que tentava segurar as lágrimas, mas se virou para o computador quando ouviu o homem falando novamente.

— O que acha de uma brincadeira? "Isso ou Aquilo". Sei que brinca com as pessoas do seu trabalho o tempo todo. - ele passou seu dedo pelos lábios de Charlie. - Preferiria Frances viva ou seu agente morto? - o homem continuou.

— Pare. - ela resmungou, praticamente fechando os olhos.

— Posso dizer que nem todas as vítimas de Kutner foram cremadas. – ele sorriu mais. - Algumas estão vivas. Escolha.

— Minha irmã está viva? - ela perguntou sabendo que ele brincava com ela.

— Você me ouviu. Nem todas. Escolha.

— Não vou fazer isso.

— Por que? - Charlie balançou a cabeça e o homem gritou próximo ao seu ouvido. - POR QUE?

 - Porque você está mentindo. 

 - Não é só isso.

 - Não posso escolher entre eles. Eu amo os dois. - Charlie respondeu depois de engolir. Sabia que provavelmente ele mostraria o vídeo para Spencer depois. Reid ainda não sabia o que fazer. Todos os olhares sobre ele, sua única reação foi continuar olhando para a tela.

— Eu te amo! - ele falou quase desesperado e Hotch achou estranha a mudança repentina de comportamento. - Você sabe o quanto! Eu te enviei as fotos e... Você sabe como ele te vê, não sabe?! – ele se interrompeu. - Sabe que ele não te ama. - o homem brincou com seu cabelo.

— Eu sei. - Charlie continuava olhando seria para a câmera. A raiz e a ponta de seu cabelo estavam encharcadas, mas não era água. Ela usava um shorts jeans e uma regata branca, que Spencer sabia que não eram delas, então era possível ver todos os cortes e hematomas nas penas, assim como em seus braços 

— Ele te vê como uma amiga idiota e burra. Ficou com você por que não pode ter Maeve.

— Eu sei. - Reid negou com a cabeça quando ela sussurrou e JJ se virou para ele.

— Ela está jogando o jogo dele, Spence. - disse olhando nos olhos dele e Spencer assentiu.

— Sabe por que você nunca vai ser algo a mais? - a voz do homem fez Reid se voltar para a tela.

— Sim. - Charlie respondeu segurando as lágrimas e Spencer engoliu em seco, agora abraçando JJ.

— Diga.

— Porque eu não sou ela.. - era como se o coração dele parasse por um momento. - Não estou no mesmo nível de inteligência.

— E se você sair daqui, vai voltar a ver ele? 

— Não. 

— Por que?

— Porque eu não mereço ser feliz. 

— E por que ele está vendo isso?

— Ele está? – ela perguntou com os o rosto praticamente encharcado, mantinha a boca entreaberta, sem conseguir mantê-la fechadas por muito tempo. Seus olhos cansados ficaram iguais. - Oi.

— Agora responda, por que?!

— Porque ele merece me ver morrendo. - o homem desamarrou os pulsos e tornozelos de Charlie, sabendo que ela não tinha forças para andar e usava quase toda para falar. Ele andou até a câmera e a tirou do tripé.

— Se levante. - ele mandou. Sua voz perto do microfone fazia Spencer querer vomitar. - Se levante! - gritou, fazendo Charlie se encolher um pouco, como se a voz dele a machucasse. Ela juntou todas as suas forças para se colocar de pé, se apoiando na cadeira. - Para a cama. - Spencer só conseguiu pensar uma coisa quando ouviu isso. Charlie deu dois ou três passos curtos antes de cair no chão. Eles perceberam que seus pés estavam fazendo um rastro de sangue por onde ela passava. O homem chegou perto dela, ainda com a câmera apontava para ela e chutou seu estômago repetidas vezes, fazendo-a vomitar um líquido esverdeado. Ele segurou a câmera em uma mão e levantou Charlie, jogando-a na cama em seguida.

— Não seria a primeira vez que te forçariam a fazer isso não é? - ele perguntou. - Quantos anos você tinha? Não quando ele apenas tentou, quando ele realmente...! - ele ameaçou socá-la novamente.

— 13. - ela respondeu, interrompendo-o.

— E eu pai?

— 40.

— Parece que seu doutor não está aqui por você e não esteve em tantos momentos. Lembra-se da sua crise dia 16? Onde ele estava? Confortando uma vítima. E ainda o quer?! Eu estou aqui por você, Charlotte! – Garcia abaixou um pouco da tela do computador, sem fechar totalmente, quando percebeu o que aconteceria em seguida e se virou para os outros agentes.

Hotch virou Spencer, que estava praticamente em estado de choque, fazendo-o ficar de costas para a tela.

— Vai ficar tudo bem. - Hotch segurou os ombros dele. - Não acredite no que nenhum deles estão falando.

— Que parte...?

— Ele a fez falar isso.

— Que parte, Hotch?! A que eu vou vê-la morrendo? Porque eu também estou sendo torturado psicologicamente! 

— Spence... - JJ o abraçou.

— Eu não posso perder mais alguém desse jeito...! - ele resmungou. - Só me diz como eu posso acreditar que eu vou acabar com alguém, sendo que as duas pessoas que eu mais amei foram mortas por psicopatas.

— Charlie não está morta. - Morgan disse.

— Olhe o estado dela! - Spencer quase gritou. - Você realmente acha que ela vai conseguir? Ele está a torturando de todos os jeitos possíveis! Seja honesto, você acha que ela vai conseguir?! Ela não está com ele nem há 24 horas, e já esta assim, eu... - Spencer parou de falar e não conseguiu evitar as lágrimas.

  JJ estava com os olhos encharcados, assim como Garcia e Blake. Morgan colocou a mão no ombro de Spencer, sem saber como reagir. Hotch e Rossi o olhavam sérios, mas Reid sabia que era apenas o jeito deles. Ele voltou a olhar para a tela quando ouviu Charlie gemer de dor. Mais sangue saia da sua testa e a câmera se afastou um pouco, mostrando ela sem o shorts.

— O que quer dizer pro seu Doutor? - a voz do homem saiu mais alta por conta da proximidade do microfone.

— O Cérebro e Suas Ligações, página 236, terceiro parágrafo - ela conseguiu falar, olhando para qualquer lugar, menos para a câmera. Todos olharam confusos para Spencer. - Mas acho que você já sabe. No hospital... - ela parou de falar por um tempo e respirou fundo, antes de abrir novamente os olhos. - No hospital, os regist...

O homem socou seu tórax, fazendo-a parar de falar.

— Menos de 48 horas para ficarmos juntos pra sempre. – ele sorriu para a câmera.

— É por isso que ele não tem medo de mostrar o rosto. – Spencer murmurou com a voz falha. - Ele vai matá-la e...

Charlie olhou chorando para a câmera e sussurrou "me desculpe". 

— O que você deveria dizer? - o homem sussurrou para Charlie que negou com a cabeça, porém ele ameaçou socá-la mais uma vez, fazendo-a falar, ainda em que uma voz baixa:

— Zugzwang.