Zugzwang escrita por MB


Capítulo 15
Capítulo 15




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– Reid, tudo bem? – Alex levantou os olhos das palavras cruzadas. - Você está muito quieto.

– Sim. - ele franziu as sobrancelhas e levantou o olhar.

– Charlie? - chutou.

– Ela foi embora e...

– E...?

– Não sei. Faz quase um mês que eu não vejo ela.

Depois que voltou para a casa, Charlie acabou a faculdade adiantada e começou a trabalhar de vez em um hospital da cidade, próximo à sua casa. As pessoas ficavam espantadas quando a viam corrigir alguém mais velho, assim como Spencer quando chegou no FBI.

– Ela começou em um hospital, diagnosticando alguns casos, mas tem se aprofundado em neurologia. - ele contou e segurou um sorriso, pensando que era exatamente o que ela queria. - E como ela estuda e trabalha meio que ao mesmo tempo, a gente tem se falado menos.

– Quanto?

– Uma hora por dia.

– Por telefone?

– Às vezes Skype.

– Até quando você volta exausto de um caso e ela usa os intervalos? – ele assentiu. – Mas achei que não tinha a visto.

– Vi seu rosto. Não tenho ela perto.

Ele engoliu em seco ainda com aquele ar meio pra baixo e JJ entrou na sala.

– Reid. - Blake o chamou novamente. - Tem certeza que é só isso?

– Ela tem recebido mensagens. - contou. - De números privados e bloqueados. Ameaças, fotos dela enquanto está em casa, ou no hospital.

– Spence... - JJ o olhou preocupada. - Desde quando?

– Desde o caso de Kutner. - ele alternou o olhar entre a loira e Blake, as únicas pessoas na sala. - Ela disse que pioraram quando começamos a nos falar, mas ela só recebeu uma enquanto esteve aqui.

– Como se quem manda as mensagens estivesse com medo por ela estar perto do FBI. - Blake maneou a cabeça e os outros agentes concordaram.

– E eu não posso fazer nada para descobrir quem está fazendo isso, porque não é um caso de verdade e por enquanto não fez nada com ela, e...

– E não vai fazer. – JJ o interrompeu quando percebeu que a respiração dele estava ficando mais pesada. - Se não parar, podemos usar horário pessoal...

– Não precisa fazer isso. - Spencer a interrompeu. Sabia que ela estava falando aquilo para fazê-lo se sentir melhor. Seu histórico com essas coisas não era um dos melhores.

– Spence, se as ameaças forem graves... – ela continuou, mas se interrompeu quando o celular dele começou a tocar e ele atendeu no mesmo momento quando viu que era Charlie.

– Você está bem? - foi a primeira coisa que ele perguntou.

– Recebi uma carta impressa... - ela recuperou o fôlego. - A campainha tocou e quando eu atendi tinha um envelope... Dizia que ou eu me matava ou você morria, Spence. Eu não sei o que fazer.

– Você não vai fazer nada. - ele falou apressado, sentindo um gosto amargo na boca. - Você não precisa fazer nada, porque é mentira, ok? Eu to bem, Charlie.

– Desculpa te ligar, mas... - ela fungou e Spencer percebeu que ela estava chorando.

– Não, não. - ele só queria estar perto dela e abraçá-la, ter certeza que ela estava bem. - Me liga a hora que quiser, eu não me importo nem um pouco, só quero saber se você está bem.

– Eu estou, mas... - ela respirou profundamente e recomeçou a falar. - As mensagens no celular praticamente pararam, agora só recebo papel e só falam de você, Spence.

– Como assim...?

– "Por que escolheu ele?" - ela leu um dos papéis. - "Não entendo o motivo que ama o agente. 'até que a morte os separe', é o que dizem".

– O que...? – ele colocou o cabelo para trás da orelha.

– Ele está com ciúmes.

– Spencer, eu não ligo pra ele, só quero que você fique bem. - ele engoliu em seco e piscou rapidamente querendo que seus olhos não estivessem encharcados. Viu Hotch, Rossi, Morgan e Garcia andando até a sala e se sentiu terrivelmente mal ao ter que desligar.

– Ei, Charlie, eu estou bem. Eu... Eu preciso ir, temos um caso - ele a ouviu suspirando mais nervosa. - Eu te ligo depois, ok? Tá tudo bem.

– Ok, Spence, obrigada... Eu...

– Não agradeça, por favor. – ele disse sentindo que era sua culpa ela estar assim. – Preciso saber se você está bem...

– Estou, Spence. – ela sorriu um pouco, apesar de tudo e conseguiu ouvir uma porta do outro lado da linha se fechando, imaginou que seria a sala de reunião. – Tchau, eu te... – ela parou de falar no meio da frase e eles ficaram por alguns segundos em silêncio.

– Eu também. – ele disse por fim, sentindo seu coração parar por um momento, calculando as possibilidades de ter sido um “eu te amo”.

– O que? – ela perguntou confusa, querendo saber se ele percebeu o que ela falaria.

– Que? – ele respondeu da mesma maneira, sem entender completamente o que havia dito.

– Tchau... Spence. – disse confusa, seus olhos que estavam há minutos atrás quase desesperados, agora um pouco mais tranquilos e confusos.

– Tch...

Ele não conseguiu responder antes de ela desligar. Os outros agentes olharam preocupados para Reid, que só encarou o telão engolindo em seco repetidas vezes, sem achar que conseguiria de concentrar muito no caso.

Garcia olhou para Spencer antes de começar. Ele não percebeu que os outros agentes o analisavam. Morgan entrou praticamente correndo na sala.

– Sammy Sparks, 10 anos, Louisiana. – a loira apertou um dos botões do controle e a foto de um garotinho moreno apareceu. – Apareceu sujo de sangue na escola. Quando a polícia chegou a casa dele descobriram que os pais Adam e Alison Sparks desapareceram.

– O exame indica que pelo menos um foi ferido. – Morgan falou querendo recompensar o atraso. – E pelo visto gravemente.

– Pedido de resgate? – JJ perguntou.

– Não houve comunicação alguma. – Garcia informou.

– Por que chamaram a BAU? – Spencer perguntou.

– Se Sammy estava coberto de sangue, não pode identificar o suspeito? – Derek questionou.

– Ele é autista. – Hotch falou. – Fazê-lo falar não vai ser tão fácil. Saímos em meia hora.

Todos se levantaram e Garcia jogou beijos para eles. Derek fingiu que pegou um e guardou no bolso, fazendo-a rir. Reid ainda guardava os papéis em sua pasta quando Penelope passou a mão pelo ombro dele, carinhosamente e lhe deu um sorriso reconfortador.

–--x---

– O sangue combina com o de Adam Sparks, podemos assumir que ele é o ferido. - Garcia disse, todos os agentes olhando para a tela do computador. - As marcas na porta dizem que ele foi baleado.

– Um assalto que deu errado? - supôs Blake.

– Nenhum ladrão entraria na casa da família antes do início da aula, quando não há ninguém em casa. - Rossi falou enquanto analisava as fotos.

– Acho que ele veio por Adam e Alison Sparks. Planejou o sequestro e invadiu a casa. - falou JJ.

– Mas a cena é frenética e desorganizada. Ele não planejou. – Hotch levantou os olhos das mãos.

– A família administra uma loja de música que pertence aos Sparks. - Penélope contou. - Mas os negócios vão mal e a única forma de manter são os empréstimos.

– O suspeito deve ter pesquisado. - Rossi continuou. – Reid?

Spencer não respondeu, ficou com o olhar perdido por um momento.

– Spencer. – Hotch chamou novamente e ele olhou meio perdido pra eles por um tempo antes de falar.

– Deve ter pesquisado, já que a área foi destruída por derramamento de óleo, ou algo assim. Um pouco de dinheiro faria milagres.

Quando terminou abaixou o olhar, fingindo ver as fotos da casa que Morgan segurava e não disse mais nada durante a viagem, a não ser que alguém perguntasse.

–--x---

Hotch e Morgan estavam na casa da família Sparks. Tudo do mesmo jeito, com as marcas de sangue no chão, e com faixas amarelas ao redor da área do lugar.

– Parece que esse homem tinha uma missão. – Derek disse, analisando o hambiente. – Não roubou nada caro.

– Veio pelos pais. – o mais velho disse e Morgan abriu a porta normalmente.

– Sem entrada forçada. Provavelmente os Sparks o conheçam.

– A menos que a porta estivesse destrancada. – o detetive local sugeriu.

– Veja o padrão do sangue. – Hotch apontou para as manchas no chão. – Adam foi alvejado ao se dirigir à porta. As poças de sangue estão separadas por passos distantes, ele estava correndo.

Morgan se posicionou em frente à porta e deu alguns passos para trás, revivendo a provável cena.

– Foi baleado aqui e procurou o ferimento por instinto. – pensou em voz alta e colocou a mão em cima do piano. – Tentou se segurar aqui para não cair. A marca da mão está na mesma direção em que foi baleado.

– Alison foi pega de surpresa fazendo o lanche de Sammy. – Hotch continuou. – Parou porque ouviu a campainha tocar e se aproximou da porta, vendo uma arma apontada para seu rosto.

– Gritou e fez Adam descer as escadas e foi baleado porque não iria recuar.

– O suspeito deve conhecer muito bem a família para deixar uma testemunha de 10 anos, sabendo que ela não poderia falar.

–--x---

– Reid, você vai falar com Sammy. – Rossi disse enquanto os dois caminhavam até a sala onde a criança estava.

– Sem problemas. Mas por que?

– Quero saber o que está acontecendo com você e o que você falar vai me ajudar. – disse sabendo que Spencer não conseguiria disfarçar.

Eles entraram na sala e Sammy estava no sofá, desenhando.

– Oi, Sammy. – Spencer falou cauteloso. – Eu sou Dr. Spencer Reid. O que está desenhando?

Um dos polícias tocou seu ombro, carinhosamente, mas a criança gritou quase desesperada, fazendo todos se afastarem um pouco.

– Algumas crianças autistas não reagem bem ao toque. – Rossi disse.

– Ver o sequestro dos pais causou uma sobrecarga emocional e ele se fechou. – Reid disse baixo e rápido, e apontou para o desenho. – Pode estar tentando nos dizer algo. Sammy. – disse calmamente e se sentou à mesa à frente do garoto, que não fazia contato visual. – Estamos procurando seus pais. Foi “L” quem os levou?

Ele começou a fazer movimentos no ar, desenhando “L’s”.

– Reid. – Rossi o chamou quando seu telefone começou a tocar. – Está no viva-voz, JJ.

– Os Sparks estavam abertos a modos alternativos de pagamento: construção em troca de uma bateria para crianças. - JJ passou algumas páginas de um fichário. - O suspeito provavelmente esteve na loja, para observar as vítimas e ver como elas não o esperavam vindo.

– Vamos mandar as fitas das câmeras de segurança para Garcia. - Alex avisou-os. - Sammy vinha para a loja de música todo dia depois da escola, provavelmente. Era fixo aqui e na comunidade. Ligamos de descobrirmos algo.

Quase no mesmo momento em que desligaram, Morgan ligou.

– Ele gosta de desenhar, mas não consigo entender muito bem o que é. - foi a primeira coisa que disse. Spencer compartilhou a informação sobre "L".

– É um cachorro. - Hotch disse depois de bater o olho na imagem.

– Como pode saber que é?

– Um pai sabe. - respondeu sério analisando outros desenhos.

– Reid, talvez você consiga ver esses desenhos de uma forma melhor. - Derek continuou e Spencer assentiu.

– Leve os que achar mais importantes para a delegacia, podem ter dicas. Crianças com autismo normalmente pensam muito logicamente, suas mentes podem pegar padrões que nós normalmente não reconheceríamos. Repetições criam padrões no cérebro e quando se repetem dão calma a criança. Talvez procurem algo que mostre algum tipo de rotina.

– Os pais deveriam seguir uma rígida, também. – Hotch concordou.

– Por isso conseguiu andar até a escola hoje. – Rossi aumentou o volume da chamada. – Memorizou a rota.

– 7h45, hora de ir pra escola. – concordou Spencer. – Não precisa esperar pelos pais, só pega a mochila e a lancheira e vem.

– Se ele vivia em uma rotina rígida – começou Morgan -, seus pais também. Fazendo deles alvos mais fáceis.

– Retornamos se descobrimos algo. – Rossi disse e desligaram.

Hotch apontou para um carrinho em cima da cama de Sammy.

– É o favorito dele. Vamos levar isso para Reid também, pode ajudar a se conectar com a criança

Spencer voltou para a sala, tentando achar meios de se comunicar com Sammy. Rossi se sentou a cadeira ao lado.

– Não ache que só porque falou bastante, como normalmente faz, esqueci aquela conversa.


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Notas finais do capítulo

Primeiro, quero pedir desculpas por demorar tanto. Achei que conseguiria colocar mais um capítulo antes de Natal, mas não deu, então espero que tenham tido ótimas festas ❤️
Fiquei sem computador e internet desde alguns dias antes do natal e só queria postar algo novo, então comecei a escrever hoje pra conseguir colocar o quanto antes.
Boa notícia: escrevi no celular 5 capítulos - que vão ser editados, claro - e resumo de alguns mais pra frente.
Espero que tenham gostado ❤️



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