Rediscovering a Dream escrita por Loren


Capítulo 13
Capítulo Doze




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Ela viu pelo canto do olho os primeiros raios aparecerem.

Apertou os olhos para as lágrimas pararem. O peso em suas costas já doía e o ar já não entrava em seus pulmões. As risadas continuavam acima de si. Suspirou e deitou-se, relaxando o corpo.

—Olha só! Desistiu.

—É fraca.

—Fraca mesmo.

No entanto quando o peso aliviou, a loira flexionou os braços e levantou-se. Pegos pela surpresa, ela soube que a criatura caiu ao chão por conta de um barulho abafado e um ofego alto, além de exclamações por partes dos outros. De pé e sentindo o oxigênio acariciar seus brônquios, pôde pensar mais claramente. A porta estava atrás de si. Ou pelo menos até onde ela lembrava, estaria atrás de si. O risco era virar-se e tentar abri-la mais uma vez. Porém se estivesse fechada, tudo se repetiria. A melhor opção que lhe veio era negociar, mas como? Era péssima em negociações e estratégias. Tudo o que fazia para se defender ou atacar era por instinto, mas às vezes instinto não é suficiente e a lógica não era muito sua parceira. Deveria usar a melhor habilidade ou qualidade para enganá-los, não? Mas qual seria?

A adaga foi retirada de sua mão. Pensou demais. Ergueu o olhar de sua mão, ouvindo as risadas baixas e mirando o nada, com o coração palpitando. Sentiu o soco atingir-lhe no estômago e ao cair, não sentiu a grama macia, mas uma estrutura mais sólida chocar-se com suas costas. Pelo canto do olho, ao ver o chão a alguns centímetros abaixo, considerou estar nos degraus da entrada. Considerações inúteis a parte, virou-se para fitar os invisíveis e sentiu a bofetada arder em sua bochecha. De bruços, fitando o chão verde e amarelado por conta dos poucos raios do amanhecer, fechou os olhos e choramingou.

Deixou que o som aumentasse, levou as mãos para o rosto e os ombros tremeram. Sentindo o leve gosto de sangue na boca, continuou a chorar mais e mais alto. Ao contrário as risadas diminuíram, até tornarem-se silêncio. Após chegar a tal estado, ela virou-se e sentou-se, erguendo os olhos vermelhos para seus adversários.

—Tens razão. Todos têm. Sou uma fraca. Uma fraca.- dito isso, baixou a cabeça e chorou mais.- Eu tento, eu tento. Mas sou uma vergonha! Sabem o que é ser uma vergonha?

—Não...

—Acho que não...

—Gostamos demais de nós.

—Isso é bom, muito bom. Não precisam provar nada a ninguém, certo?

—Acho que não.

—Tem o Opressor.

—Mas o Opressor não é nada para nós.

—É, nada.

—Que bom, que bom. Mas eu preciso.- ergueu a cabeça outra vez.- Eu sou a segunda rainha. Ninguém gosta de mim no meu reino. Porque sou fraca.- respirou fundo e segurou um pouco as lágrimas.- Acho que vão me matar, sabem? Porque não me querem.

Os invisíveis pareceram respirar fundo, atentos às suas palavras.

—Por isso eu preciso salvar Lúcia. Ela é minha amiga, mas se eu salvá-la... Posso viver. Posso mostrar certo valor.

—Ou podemos matá-la agora.

—É.

—É.

Ela engoliu em seco.

—E que graça teria? Eu não vou me importar. Eu estou desistindo. E se estou desistindo, deixarei de lutar. E se deixarei de lutar, vai ficar muito fácil. Que graça tem ser muito fácil?

—A graça seria matar uma rainha.

—Uma rainha indefesa? As histórias falariam de sua covardia e não outra coisa. Além disso, quem vai contá-las? Não há ninguém aqui.- respondeu e baixou a cabeça, juntando as pernas para perto de si.

Ela não pôde discernir muito bem os murmúrios, pareciam que estavam um pouco mais longe mas ela não quis arriscar saber. Esperou sentada, contando os segundos e sentindo a angústia apertar-lhe a garganta. Logo, um dos invisíveis limpou a garganta, chamando sua atenção.

—Queres viver, certo?

—Acho que ainda quero.

—E nós queremos histórias sobre nós.

—É.

—É, grandes histórias!

—Deixaremos que entre, mas terá que fazer grandes histórias!

—E como fomos fortes.

—E cruéis.

—Mas também condolentes.

A porta atrás de si abriu-se, dando passagem a mesma luz amarelada de antes iluminar o local e deixando à mostra o corredor da qual Irina havia visto apenas de relance.

—Feito?

—Feito?

—Feito?

Ela levantou-se, olhou ao redor e sorriu docemente.

—Feito.

Dirgiu-se à porta e observou o papel de parede floral, enquanto escutava a porta atrás de si fechar-se lentamente. Após checar por cima do ombro que estava bem fechada, respirou fundo com um sorriso a brotar nos lábios. Limpou o rosto molhado com as costas das mãos e endireitou os ombros, deixando o papel de moça indefesa para trás. Agachou-se, retirando a faca reserva da bota, e se pôs a andar.

Não era sua melhor estratégia ou a melhor em geral, porém era como sua mãe lhe havia aconselhado em uma das tardes de chá, a qual havia chorando outra vez em seu colo:

Se os outros lhe julgam pelo seu modo de ser, não mude por isso. Pelo contrário, minha querida. Aprofunde-se mais ainda dentro de si e os surpreenda. Com o propósito que lhe bem servir.

 

 

 

Amanhecia lentamente. Os primeiros raios a sinalizar o novo dia.

Edmundo correu mesmo com o peito ardendo.

Ao passar pela última folha da árvore que dividia o limite entre praia e floresta, parou por dois segundos para respirar e logo voltou a apressar os passos, para perto de Caspian, o qual já estava em pé e olhando ao redor, à procura dos desaparecidos.

—Edmundo!- exclamou ao avistar o moreno.- Onde estão Lúcia e Irina?

—Para dentro da ilha.- respondeu aos ofegos e apontando para trás de si.- Algo levou Lúcia à noite. Eu e Irina os seguimos.

—Algo, majestade?- perguntou Drinian, aproximando-se dos reis. O moreno assentiu.

—São invisíveis, o que quer que sejam.

—E o que vossa majestade propõe?

—Devemos todos ir. Lúcia entrou em algum lugar que também não pode ser visto e Irina ficou para tentar impedi-los...

—Deixou Irina?- interrompeu Caspian, desviando o olhar das matas. Edmundo piscou, desconcertado.

—Perdão?

—Deixaste Irina?

—Ela insistiu.

—E deixaste.- o moreno engoliu em seco.

—Alguém precisava avisá-los.

—Nós os encontraríamos. A ilha não é de todo grande.- tinha o cenho franzido e uma expressão tão severa que Edmundo jamais havia visto.- Não tardaríamos.

Ela insistiu.- repetiu Edmundo, como uma criança a pôr a culpa em outra.

—E a deixaste. Pela segunda vez.

Edmundo recuou a cabeça, como se tivesse recebido um soco. Olhou para a areia, chocado com as palavras do rei. Sentiu-se ofendido mas não reagiu de tal maneira por conta disso. Caspian passou Edmundo sem dizer mais nada, retirou a espada e adentrou na floresta. Drinian reverenciou o rei mais novo, voltou-se para a tripulação e gritou para segui-lo. Os marujos seguiam com passos apressados enquanto o moreno ficou para trás, ainda absorto com os últimos dizeres. Balançou a cabeça e voltou a si, sendo o último do grupo a tomar o caminho.

Ainda sentia que a ofensa, apesar de senti-la, não lhe afetava tanto. Pois era verdade. Ele a deixou. Perguntou-se pela primeira vez desde que chegara se toda a confusão que ocorria até então não era sua culpa.

 

 

 

Irina apressava os passos.

Como Lúcia, mal dera atenção à grande e peculiar decoração do local. Checava as portas, todas trancadas, e seguia em frente. Até encontrar-se na última, ao final do corredor. Espiando o interior, com o corpo escondido para detrás do marco da porta, encontrou uma biblioteca circular, com uma cúpula de vidro no alto, permitindo a passagem da luz amigável do amanhecer. Abaixo desta, encontrou uma figura média e esguia, com os cabelos ruivos parecendo mais vermelhos ainda, acerca de um pedestal. Murmurava para si. A loira firmou o aperto no cabo da faca e correu para perto da Lúcia, a todo momento checando os cantos escuros do local com o canto do do olho.

—Lúcia!- exclamou Irina baixinho, mas perto o suficiente para a ruiva ouvi-la.

No entanto, esta parecia não prestar atenção em mais nada ao seu redor além do livro à sua frente. Acariciava a si própria, os cabelos, o rosto e os lábios. Irina fitou aquela cena, um pouco desconcertada e assustada. Aquela não era Lúcia, era? Não lhe fazia sentido algum, a mesma estar tão hipnotizada por páginas. Sabia do interesse pela leitura da rainha, mas aquilo não seria demais?

Desviou o próprio olhar para o livro e encontrou em uma das páginas, um espelho refletindo não Lúcia, mas Susana, a outra Grande Rainha. Olhou para a ruiva sua frente e olhou para a morena no livro, totalmente perdida e surpresa. Não conseguia compreender a repentina obsessão de Lúcia por aquilo, porém não quis perder muito tempo.

—Lúcia? Lúcia! Lúcia, desperte! Temos que sair daqui!- a rainha não mexeu-se do lugar, mesmo a loira tendo a sacudido brutalmente.- Céus! Lúcia, acorde!

Sem resposta, a loira virou-se para o livro e pôs as mãos sobre as páginas, com a intenção de pegá-los na borda e jogá-lo para longe, mas o forte aperto da pequena mão da ruiva a fez parar e fitá-la.

—Não mexa!

—Lúcia! Acorde! Temos que sair daqui!

—Não! Me dê o livro!- gritou, puxando-o para si.

Irina avançou, no intento de retirar o livro maldito das mãos da rainha. A mesma revidou, atingindo o rosto todavia vermelho da loira e a fazendo perder o equilíbrio. Pôs o livro de volta no pedestal e vendo que o desenho da bela mulher estava de volta na moldura, desesperou-se. Pelo canto do olho, vendo a loira voltar a se levantar meio cambaleante, temeu por perder o feitiço outra vez e por isso arrancou a folha.

No mesmo instante o livro respondeu agressivamente a ação, passando as folhas rapidamente como anteriormente. No entanto, diferente da outra vez, desta vez um feroz e alto rugido ecoou das páginas, estremecendo as pernas e toda a alma da ruiva. A mesma olhou ao redor, procurando o dono da voz que chamava por seu nome.

—Lúcia! Lúcia...- disse uma voz conhecida, parecendo um pouco triste, um pouco decepcionada.

—Aslam? Aslam?- perguntou, sentindo-se zonza.

Ao completar a volta nos pés, sentiu o rosto arder ao receber o tapa da loira. Com a dor a despertar os nervos e retirá-la da hipnose, voltou-se para a loira que a fitava com o rosto vermelho, pela raiva ou pelas últimas bofetadas que havia recebido. Lúcia piscou os olhos duas vezes, acordando do transe e só então percebendo quem era a sua frente.

—Irina? Como... como entrou aqui?

—Acordou? Graças ao bom leão!- falou de maneira sarcástisca e erguendo as mãos para o céu.- Céus, o que houve contigo, Lúcia?! Tu parecia em transe! Que porcaria foi aquela?!

Lúcia corou de vergonha. Irina havia a encontrado, como disse que ia quando estava fora da casa. Havia também a encontrado em uma posição que jamais havia deixado ninguém ver ou descobrir sobre si. Irina a fitava com um misto de raiva e indignação, mais pelo fato de ter ido ajudar a rainha e ter recebido nada mais que agressões. Porém dentro de si estava preocupada com Lúcia e teria sido mais delicada, se o comportamento agressivo da ruiva não tivesse feito Irina lembrar de maus momentos.

—Me diga Lúcia! O que houve?!

A boca de Lúcia abriu, mas dali som algum saiu. Como ela explicaria aquele desejo que tanto possuía? Como diria a Irina que dentro de si havia raiva e vaidade? Parando para pensar, não devia de ser muito difícil. Porém a vergonha era tamanha de tais vontades que não soube se expressar. Engoliu em seco e quando pensava em dizer algo, qualquer coisa, mesmo que desconexa, o barulho de um livro caindo as fez esquecer do assunto. Irina voltou a posição de ataque

—Vamos! Antes que alguma outra coisa venha por nós!

—Não! Eu preciso ler o feitiço!- a loira virou-se com os olhos esbugalhados.

—Para quê?! Esqueça esse livro maldito!

Lúcia ignorou os dizeres da loira e voltou-se para as páginas. Irina bufou, revirando os olhos e aproximando-se, posicionando-se na retaguarda da rainha. Enquanto esta corria os olhos pelo loca, à procura de qualquer coisa fora do comum, Lúcia dirigiu sua atenção para as páginas amareladas. Encontrando o que buscava desde o início, recitou os dizeres e ergueu o olhar ao redor.

—Agora tudo está visível!- disse, pondo-se ao lado da loira e reparando o local.

Algumas escadas começaram a aparecer. Livros que subiam as estantes sozinhos idem. Irina engoliu em seco ao olhar para um ponto e se pôs na frente de Lúcia.

—Mas o que...

De um dos cantos, uma figura tomava forma. A figura de um homem.


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Notas finais do capítulo

Olá!
Novamente aqui estou eu, com minha desprezível cara pau, pedindo-lhes desculpas pela demora! Não há desculpa para isso, mas deixo explicado que este de sexta para o final de semana tive visitas e não pude me concentrar na fic. Sim, eu tenho a semana toda para escrevê-la, porém não escrevo RaD nos outros dias, além de que tenho outros compromissos.
Bom, queria que soubessem o porquê e eu sinto muito pela enorme demora! Mil desculpas!
A programação para o próximo capítulo não mudará. Continua a ser Sábado. Já as deixo saber que terei visitas novamente esta semana, mas adiantarei o capítulo mais rápido possível.
De qualquer forma, espero que tenham gostado.
Qualquer crítica ou observação, muito bem vinda!
Beijos e abraços apertados da Loren.