Anjo Mau escrita por annakarenina


Capítulo 45
Belo


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é narrado por Emily Foster



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 Um silêncio mortal pairava na gruta, até uma risada nervosa de Philip ecoar sombriamente.

 — Ser a guardiã? Ficou maluco?! Acha que Lúcifer não descobrirá?

 Sam o fuzilou com os olhos.

 — Acha que temos outra opção se quer mantê-la sã? 

 Philip estava furioso — mas de certa forma, ele sabia que nossas chances eram mínimas. 

 — O que pretende fazer, Sam? Você possuirá Emily? 

 Sam franziu o cenho.

 — Não haveria nenhuma possibilidade disso. Emily é uma guardiã, como acha que posso possuí-la? Seus poderes me aniquilariam antes mesmo de eu tentar conectar-me com ela.

 — Nem com o meu consentimento? — Perguntei.

 Philip olhou para mim, incrédulo.

 — Não querida — quem respondeu foi Susan. — Não há possibilidades. Eles a protegem involuntariamente. 

 Eu bufei.

 — Minha tentativa será utilizar um poder muito antigo, do livro dos primeiros anjos, que trata-se da duplicidade.

 Susan fez uma expressão em dúvida — já Philip, ainda parecia perplexo. Ele não se movia nem um centímetro e eu podia jurar que não respirava.

 Sam vagou o olhar por cada um de nós, procurando alguma interferência, mas nada encontrou, então prosseguiu: 

 — Eu terei a mesma aparência física e também terei que agir da mesma forma que ela. 

 — E como diabos você pretende conseguir o livro dos primeiros anjos? — Perguntou Susan.

 — Isso é verdade, é um livro raro, uma relíquia. 

 — Relíquias não são tão difíceis de encontrar se você buscar a pessoa certa.

 Eu engoli em seco. Eu estava tão nervosa que estava difícil manter minhas pernas paradas.

 — O que vai fazer, Sammuel? — Perguntou Susan.

 — Clamarei por Ezandriel. 

 — Ezandriel? O príncipe da dimensão luz? 

 O que diabos eles estavam falando? O que era dimensão luz? Hã?

 Mas Sam e Philip pareciam ser os únicos que estavam entendendo alguma coisa. 

 — Não o vejo há um século. Ele anda ocupado com as tarefas celestiais. — Disse Sam.

 Philip mordeu o lábio.

 — E ele consegue o livro? — eu perguntei.

 O anjo deu de ombros.

 — Talvez sim, talvez não. 

 — Ele não deve ter caído também?

 Susan parecia nervosa.

 — Provável que não. Um príncipe não abandona o posto de repente. Deus precisará dele. Porém, é o Ezandriel, o anjo mais prestativo que conheço. Ele nos ajudará.

 Philip assentiu finalmente, e uma luz brotou em seus olhos. Um pequeno feixe de esperança de que tudo iria ficar bem. Mas eu sabia que bem lá no fundo dele, ele receava quanto a tudo e todos. O seu medo de algo dar errado o pressionava — e dentro de mim, a mesma coisa ocorria, mas eu não era tão boa em esconder meu pavor como ele era.

— Precisamos então contatá-lo! Não temos tempo! Quanto mais anjos estiverem em Summerland, maior será a quantidade de rebeldes contra Emily.

 — Susan está certa — respondeu Philip.

 — Como faremos isso? — Eu perguntei, quase gaguejando. Era ridículo me sentir fraca e inútil. 

 — Vocês não farão nada, querida — respondeu Sam. — Eu o chamarei. Anjos se entendem melhor.

 Eu percebi a indireta para Philip, mas este pareceu não se ofender bruscamente. Fora mais como uma aceitação sobre ser um anjo caído. É claro que Philip não possuía uma verdadeira simpatia por Sam, mas ele deu o braço a torcer desta vez.

 — Agora, vocês ficam aqui. E eu voarei, mas voltarei.

 Sam não esperou uma resposta nossa. Em seguida, fez uma posição de vôo, olhando para cima, onde não havia céu, ou algo livre, e sim um teto recheado por rochas escuras e úmidas. Eu pensei que ele desistiria, mas aquietei-me numa surpresa quando um barulho que pareceu algo semelhante a uma turbina de avião com defeito e um sopro contínuo de vento ecoou pela gruta. O homem lentamente começou a afastar-se do solo, sendo guiado por gigantescas asas que já não eram mais visíveis. O tamanho delas era avassalador, assim como a coragem e certeza do anjo de que ele ultrapassaria as rochas — ora, é claro que sim, era um anjo! Um ser espiritual!

 E foi exatamente o que aconteceu. 

 Todo o corpo do homem pareceu ser um fantasma, e a gruta como obstáculo nada mais era algo que não pertencia ao seu mundo terreno. Ele não era daqui, e tudo o que era daqui era visivelmente descartável — como algo inútil contra ele.

 Quando olhei para Philip, seus olhos brilhavam intensamente. A claridade que envolvia agora pre de Sam, refletia em seus olhos que estavam tão claros e tão belos que seria uma mistura de sol com o dia nublado — era a perfeição.

 Ele parecia nostálgico — e eu sabia o porquê disso tudo. Ele já fora um anjo, mas desistira. Por mim. 

 Eu com certeza me sentia culpada por isso tudo. Claro que não era escolha minha Philip apaixonar-se por mim, mas de fato era por mim. E ele sacrificara tudo, tudo mesmo, por mim. Ele caiu numa queda brusca do céu até a Terra, mas não sem antes fazer um pacto que colocaria em risco para sempre o seu retorno como um anjo, o seu retorno para o lugar mais desejado por todas as almas humanas. O céu. Mas foi enganado, e ainda assim, não desistiu de mim. Mesmo sabendo que numa luta entre ele e o demônio, ele era infinitamente menos experiente, ele ainda persistiu e persiste numa luta interminável por mim.

 Mas eu não podia aceitar isso. Eu o amava mais que tudo. O que eu sentia por Philip poderia ser descrito de forma limpa e crua o verdadeiro e puro amor. O amor que jamais havia sentido, o desejo que jamais pensei que sentiria. Eu o amo, eu o amo, eu o amo e poderia dizer isso centenas de vezes que jamais me cansaria — e jamais desistiria dele. Mas como eu iria aceitar ver seu sofrimento, a sua dor, a sua vontade de voltar a ser um anjo e fazer parte do reino dos céus, o reino o qual pertencemos um dia, e ele não mais poder fazer parte? Como eu iria permitir que em sua morte, o inferno o esperaria e milênios eternos de tortura fariam parte da sua morte? Eu não suportaria imagina-lo preso à Lúcifer. Eu não suportaria imaginá-lo sofrendo. 

 Eu preciso fazer algo a respeito.

 — Eu estou com medo — disse Susan, quebrando minha reflexão.

 Eu a olhei, aturdida.

 — Não tenha — disse Philip, como se estivesse preso à suas memórias. Ele ainda permanecia em seu momento nostálgico. Como num transe.

 E de repente eu fui pega por ele o olhando. Eu tremi por dentro, mas um sorriso brilhante de Philip fez-me relaxar. Um pouco.

 — Eu te amo — disse-me ele, inclinando um pouco a cabeça para o lado.

 — Eu te amo — respondi, abraçando-o.

 Passamos cerca de duas horas em Summerland, esperando Sammuel. Philip me disse algo sobre o tempo não existir aqui como na Terra, mas eu não entendi muito bem. A sensação que eu tinha era que realmente já se passavam duas horas — e por algum motivo estranho, eu não sentia fome, e nem sentia sono. Só estava um pouco angustiada.

 Susan também parecia angustiada. Ela não deveria dormir há dias, visto que suas olheiras estavam grossas e destacadas, numa cor roxa escuro que parecia que ela havia levado um soco nos olhos. Mas o que eu achava incrível em Susan é que ela tinha uma boa vontade para responder tudo a você — como se fosse um livro aberto. 

 Uma hora (aparente) depois, Philip perguntou:

 — Está tudo bem?

 Eu balancei a cabeça.

 — Sim, está tudo bem — sorri levemente.

 Mas não estava tudo bem. Por dentro, eu tremia numa luta constante entre meu cérebro e meu coração. E entre a minha fé e a razão também. Qual o sentido disso tudo se Deus não pretendia nos ajudar e sim acabar com tudo e todos? Eu definitivamente precisava fazer algo.

 De repente, senti uma presença. Mas não parecia apenas eu que sentira essa presença. Susan e Philip também se incomodaram, e se entreolharam algumas vezes.

 Segundos depois, uma luz extremamente forte surgiu no início da gruta, e Philip num gesto rápido colocou-me atrás dele, atento quanto ao que se aproximava.

 Eu estava nervosa — mas não tanto. A presença era familiar.

 — Não se assustem — disse a voz de Sam. — Somos nós.

 — Está com ele? — Perguntou Philip.

 Nenhum de nós o enxergava — apenas uma luz branca muito forte era visível. 

 — Sim. 

 E então, a luz foi diminuindo, e o que antes pareciam ser uma única luz, agora eram duas.

 Logo ao lado de Sam, uma figura estonteante, brilhante e extremamente bela olhou para mim. Era um homem, numa idade aparente à de Philip. Ele era talvez tão alto quanto ele, mas suas belezas eram diferentes. O homem era bem pálido, semelhante à Philip, porém possuía olhos incrivelmente dourados, numa tonalidade de mel que eu jamais havia visto em alguém. Ele tinha cabelos igualmente loiros, um pouco mais claros, verdadeiramente angelicais. Seu nariz era pontudo e intimidador — e seu corpo musculoso deixava clara as suas curvas numa perfeição, semelhantes à Philip. 

 — Guardiã… 

 Ele me olhava como se me desejasse, me idolatrasse, ou talvez nem acreditasse que eu realmente estava ali. 

 — Ezandriel, não é necessário… — disse Sammuel, mas a figura foi mais rápida, aproximando-se lentamente, com muito cuidado de mim.

 Ezandriel se ajoelhou há um metro de mim. Ele passou o braço esquerdo à frente da sua barriga, num gesto de submissão, como se estivesse aberto a qualquer tipo de ajuda — como Susan. 

 — Levante-se — eu pedi, franzindo o cenho. Qual era a necessidade disso? — Por favor… — Implorei. Ele olhou para cima, ficando de pé novamente num movimento cuidadoso.

 — Meu nome é Ezandriel, eu sou um Serafim, tenho 2456 anos e estou pronto para ajudá-la. 

 — Ótimo — respondeu Philip. Ele parecia… com raiva. — Porque precisaremos de você.

 — Claro, pela guardiã farei qualquer coisa.  

 Ele me olhou com uma intensidade assustadora. Ele era visivelmente sedutor. Seus olhos eram profundos e misteriosos, e grudavam em mim como se fosse a última coisa que ele veria antes de morrer.

 — Você precisa pegar o livro dos primeiros anjos. 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem meninas! Me contem o que estão achando!!!! Beijos ENORMES e FELIZ CARNAVAL!!!!



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