Anjo Mau escrita por annakarenina


Capítulo 36
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Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é narrado por Emily Foster



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Eu engoli em seco, apavorada com a frase de Susan. Por mais que fazia sentido pelo seu comportamento estranho… o que diabos estava acontecendo?

— O que? Como assim?

— Ele possuiu Philip. Philip deve estar em algum lugar lá dentro mas…

— Espera, Susan, você está dizendo que não era literalmente o Philip naquele corpo? Como isso é possível?

— Com a ida de Philip ao inferno, Lúcifer pode tê-lo possuído.

— E como você pode ter tanta certeza?

— Porque tudo agora fez sentido. O símbolo que estava brilhando no livro na verdade queria passar uma mensagem… a presença de Lúcifer no corpo do Phil.

— O que vamos fazer agora?

Susan fez uma expressão de dor.

— Eu não sei — ela engoliu, parecendo grogue. — Talvez se conseguíssemos a alma do Philip, poderíamos trazê-lo de volta, mas isso é praticamente impossível, o inferno possui múltiplas dimensões. E além disso, precisaríamos saber onde Lúcifer esconde as almas, o que também seria impossível…

— Ou poderíamos expulsá-lo — eu disse, interrompendo-a.

Ela me olhou, como se fosse uma possibilidade.

— Mas Emily… é uma possessão demoníaca, claro… mas é Lúcifer… É o príncipe…

— E daí? Eu sou a guardiã.

— Mas você não está preparada pra lidar com isso.

— Eu preciso estar — eu disse. E nesse momento, eu poderia ignorar facilmente qualquer dificuldade, e poderia afirmar com todas as letras que eu sou melhor que todas elas. Se eu tivesse que sacrificar-me para salvá-lo, eu não pensaria, nem por um momento, duas vezes.

O olhar de Susan ainda era de receio, porém eu via além disso — eu enxergava nela uma esperança bem pequena de que poderia salvar o amigo, e poderia contar com a minha força.

E então, a minha coragem foi interrompida brevemente pela campainha. Eu e Susan nos entreolhamos, preparadas para quem poderia estar aguardando do outro lado da porta. A médium colocou um dedo na boca, pedido silencio, e sussurrou, quase muda:

— Ele não pode saber que nós sabemos.

E eu assenti.

O mesmo suspense de antes agora repetia-se — tanto eu quanto Susan estávamos receosas.

E então, pela segunda vez, uma surpresa. O olhar de dúvida nos invadiu quando vimos uma menina na porta. Ela aparentava ter uns quinze anos. Possuía cabelos totalmente negros até a cintura, olhos também extremamente negros e marcantes, que contrastavam angelicamente com a cor da sua pele. Ela não era uma menina normal.

— Quem é você? — Perguntou Susan, num primeiro momento parecendo grossa.

— Meu nome é Gabrielle Privost, eu sou um anjo caído.

Eu engoli em seco nervosa. Que cidade era essa onde anjos caídos vagavam por aí sem rumo? Eles costumavam ser abertos quanto sua pequena… característica?

— Uh… o quê? — Susan, em seguida, olhou rápido para trás, buscando meu olhar.

A adolescente permaneceu aguardando na porta, com a pálida expressão de um humano muito, muito nervoso. Mas algo me dizia que ela era assim mesmo.

— Eu vim ajudar vocês. Eu… Eu quero ajudar.

— Ajudar? Ajudar em quê?

Ela molhou os lábios.

— Precisamos ajudar o Philip. Lúcifer tomou o corpo dele, quase completamente. Philip só tem o espirito dentro de si, que está lutando para não ser pego também pelo demônio. Se Lúcifer pegar, o corpo de Philip será de Lúcifer para sempre.

Suas palavras saíram rápidas de mais, e chacoalharam dentro da minha cabeça como um líquido caindo em um copo. Um bombardeio adicional — que já fazia parte da minha rotina — apareceu novamente, e mais uma vez, meu coração socou meu corpo por dentro.

— Você o conhece? — Perguntou Susan depois de uns cinco segundos em que eu fiquei desnorteada. Ela conseguia fazer o incrível papel de manter-se aparentemente calma e com a voz limpa mesmo quando tudo desabava. Enquanto isso, eu tentava manter-me de pé sem cambalear ou esbarrar em algum móvel.

A menina dos cabelos negros assentiu.

— Há séculos — e então eu não soube responder se era uma hipérbole.

— Você é mais um deles, não é?

Ela olhou Susan em duvida.

— Você caiu pela guardiã, não foi? — A menina embranqueceu mais ainda. Mais que eu acreditava ser possível. Ela abriu a boca pra falar, mas de lá nada saiu, só depois que Susan se moveu.

— S-sim, mas isso foi antes. Por favor, Susan… eu preciso da ajuda da Emily. Ela consegue deter Lúcifer… Phil é meu amigo…

— Cadê o seu bando? Não vieram com você, ou estão escondidos esperando Emily baixar guarda? E por quais motivos iríamos confiar em você? E o que nos garante que não entregará a guardiã em troca de Lúcifer?

Susan impregnou o ar com perguntas que eu jamais teria a malícia de fazer. Por isso que quando me falaram sobre a experiência… bem, eles realmente falavam a verdade. Gabrielle depois de ouvir o questionário, ainda na porta, demorou para refletir. Ela ficou meio avermelhada, como se estivesse abusivamente constrangida. E então ela baixou a cabeça, e duas lágrimas caíram de cada olho. Ela limpou discretamente.

— Por favor… os outros não sabem que estou aqui — ela respondeu. — Você pode colocar um feitiço em mim, tudo bem.

Feitiço?

— … Lúcifer nos chamou ao inferno há poucas horas atrás. Ele está alucinado em busca da guardiã, porque ele tem medo.

— Medo? — Eu consegui falar, finalmente.

Gabrielle me olhou pela primeira vez, e deu-me um pequeno sorrisinho genuíno, como admiração.

— É um prazer, guardiã… E sim, ele quer você o mais rápido possível, porque você é mais forte que ele.

Suas palavras saíram com uma intonação diferente, que pareciam fortemente verdadeiras. A menina parecia muito estar falando a verdade. Mas eu não sabia sua idade exata de experiência, talvez fosse boa na arte da manipulação.

— Entre logo — disse Susan, abrindo caminho para a menina. Ela olhou para o lado de fora nos dois lados, duas vezes, e depois fechou a porta. — Seja rápida, ou lhe imobilizarei com ervas.

Ela assentiu.

— Lúcifer morre de medo da sua presença. Ele morre de medo dos poderes divinos ou qualquer coisa ligada aos céus. Seu objetivo maior é sacrificá-la pelos poderes de dentro de você. Os 4 elementos celestiais, os mesmos usados na criação do universo.

Era estranho, e talvez extremamente angustiante acreditar que tudo isso estava dentro de mim. Porque por mais que eu os sentia, eles pareciam distantes, ou fracos… ou talvez até mesmo algumas vezes inexistentes. Mas toda a minha esperança de ser uma pessoa normal terminava quando eu me lembrava das dores atordoantes quando algum novo poder estava prestes a surgir em mim.

— Mas ele não tem medo dos poderes, então por que pagar pra ver? — Perguntou Susan.

— Por isso que ele buscou ajuda, a nossa ajuda, ou quem fizesse o pacto com ele.

— E você desistiu porque…

— Porque é Philip quem está em jogo. Se Lúcifer conseguir os poderes, ele não os dividirá conosco, e além disso, tomará o espírito de Philip para sempre, só pelo seu corpo.

— Porque o corpo de Philip é tão importante assim para ele?

Gabrielle olhou pra baixo de novo, balançando levemente a cabeça de um lado para o outro.

— Eu não faço ideia. Há um porquê disso tudo, mas eu não sei qual. O que importa agora é que a gente precisa salvar o Phil.

— Como soube que Lúcifer estava no corpo do Philip? Ele acabou e sair daqui…

— Ele foi até a cabana, se teleportando, me avisou que quem estava no comando agora era ele… — ela respirou. — Porque fomos inúteis ao tentar entregá-lo a guardiã — a menina olhou pra mim, temendo a reação das suas palavras. Eu estava séria por fora, mas por dentro eu ainda estava atordoada. — Me desculpe, Emily. Mas você só está viva porque Philip a protegeu de nós.

— O que?

Susan olhou para mim, como se soubesse.

— Ele se apaixonou por você, e todos desconfiaram disso depois de um tempo. Philip teve inúmeras oportunidades para trazê-la de bandeja para nós, mas ele não o fez. E além disso, começou a desaparecer misteriosamente por horas, e as vezes por dias, fora do horário escolar.

Muito provavelmente estava comigo…

— … E então eu o pressionei… mesmo já sabendo, Emily. Quem deveria matar você era ele, e no final… foi pela própria presa que ele se apaixonou.

Eu já sabia disso pela voz de Susan, mas ouvir de um outro alguém nessa situação era diferente. Mas ainda assim, mesmo que nenhuma delas me dissesse nada, eu permaneceria confiando em Philip. Até porque… o que eu sentia por ele ia muito além de uma simples paixão. Era amor. Um amor profundo e que talvez jamais será explicado por alguém. É quase um amor… necessário.

— O que os outros estão fazendo agora?

— Eu não faço ideia, mas estou assustada. Depois que saímos do inferno quando Lúcifer chamou todos nós, eu não vi mais meus amigos. Acordei há alguns quilômetros da cabana onde estamos. Os outros ainda não apareceram.

Eles possuíam outros amigos — que queriam me matar.

— Eles ainda querem a guardiã…

— Eu acho que sim — disse Gabrielle — mas o que importa agora, é que precisamos agir.

Susan me olhou por um instante. Não tínhamos ajuda ou informações sobre a capacidade de Lúcifer. O que eu sabia sobre ele — o que já me arrepiava — era de quando eu fazia catequese, e lia alguns trechos da bíblia ou de outros livros. E Gabrielle era talvez a única menina que poderia nos ajudar — mesmo ela tentado ter me matar.

— Eu ainda não sei se posso confiar em você — disse Susan.

— Me enfeitice, e só quebre o laço se eu não me garantir — a menina parecia desesperada, como se fosse capaz de qualquer coisa para salvar Philip.

— O que ele é pra você…? — Perguntei, e senti-me uma idiota por ter feito.

Ela olhou para mim.

— Muito. Ele é meu grande amigo, Emily. Sempre fomos um time, desde quando éramos anjos. Eu não posso simplesmente virar as costas.

— O que eu posso fazer? — Minha pergunta saiu uma súplica urgente.

— Você sabe o que tem dentro de você?

— O que?

— Seus poderes… você sabe controlá-los?

Eu demorei pra responder. A vergonha de repente tomou conta de mim por não saber absolutamente nada do que eu tinha dentro de mim.

— Não — eu disse, corando. — Eles simplesmente… agem.

Gabrielle fechou a boca, suspirando.

— Temos um problema. Emily não pode enfrentar Lúcifer sem conhecer a si mesma. Ela não sabe a capacidade que tem.

— Espera… eu estou sentindo algo…

Susan colocou a mão no peito, e todas nos calamos.

De repete, um estrondo — algo que parecia vir do lado de fora ecoou por todo o lugar. Eu senti o chão abaixo de mim tremer, e eu demorei para me equilibrar. Todas nós corremos, assustadas para o lado de fora, e demos de cara com uma cratera gigantesca formada. De lá, saía fumaça.

E então, havia uma mulher.

Ela estava extremamente machucada, mas sua beleza já era naturalmente visível. Ela parecia ainda mais celestial que Gabrielle. Seus cabelos eram gigantes, abaixo da cintura, e numa cor tão negra e sombria que eu poderia jurar nunca ter visto antes. A mulher sangrava por algumas partes, e tudo o que cobria suas partes íntimas era uma fina camada de tecido. Ela olhou pra mim, ferozmente, com olhos tão verdes que eram quase transparentes.

E então, um arrepio correu-me pela espinha quando Gabrielle pareceu conhecer a mulher.

— Lisandra… — disse Gabrielle por fim, deixando o rastro de mistério no ar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam meninas?? Espero que gostem!!! Beijos enormes



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