Anjo Mau escrita por annakarenina


Capítulo 11
Fraqueza


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é narrado por Philip Cambridge



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/662252/chapter/11

Abaixo da mesa do professor que eu não sabia o nome, estava um lápis, duas canetas e uma garrafa de Black Label em um fundo falso. Eu sorri porque eu sabia o seu segredo - graças à uma das minhas habilidades em "sentir" a forma das coisas - e quanto mais segredos eu soubesse, mais eu poderia usá-los, nem que seja para um bem próprio.
Emily ainda estava distante, provavelmente pensando em como eu consegui ajudá-la e fazer sua dor cessar apenas tocando-a. Eu não me importava com seus pensamentos sobre mim, se ela me chamasse de monstro ou não, eu estava feliz por ainda ter algum poder de cura na palma das minhas mãos. Eu pensei ter perdido tudo na queda, e por algum motivo, eu ainda os tinha fluindo pelas minhas veias. Era um segredo que ninguém poderia saber, nem mesmo meus amigos.
Mexi minhas mãos, orgulhoso por ainda poder ajudar as pessoas.
E então eu a olhei novamente.
Nosso olhar se cruzou em sintonia. O dela era sério, duro e frio, mas ao mesmo tempo era inseguro e infeliz. Seus lábios avermelhados se comprimiram, e em um momento pensei que ela fosse chorar, e então a caça desviou.
E então eu queria ler seus pensamentos. E então eu tive a necessidade de saber no que estava se passando ali. Foi estranho. Eu simplesmente ignorei a ideia de tentar ouvir.
Quando foi na saída, pensei em seguir Emily, mas algo me disse que isso seria muito errado de se fazer. E se ela descobrisse? Tudo bem que estou acostumado em não passar percebido há séculos, mas e se houvesse uma vez?
A casa estava exatamente como antes. Havia uma parte sendo iluminada pelo sol e a outra parte escurecida pelas nuvens. Eu não queria entrar lá, mas a minha escolha teve consequências que agora terei de aguentar.
– Philip! - Lisandra me abraçou e me deu um beijo no rosto. Senti o aroma doce do seu perfume impregnar o ar. Ela parecia animada. - Como foi seu primeiro dia de aula oficial?
Ela perguntou sarcasticamente.
– Achei chato - sorri.
– Não, seu bobinho, queremos saber da guardiã... Queremos saber se você já a matou!
Eu olhei torto para ela, e então percebi que todos esperavam uma resposta.
– Espera... Você não a matou? - Ela me olhou decepcionada. Os anjos ao redor pareceram sem animo de repente.
– Não.
– Por que?
Quando ela fez esta pergunta uma pontada de dor atingiu meu estômago. Foi uma dor confusa, porque eu não sabia como respondê-la. Eu não sabia porquê eu não matei a Emily.
Lisandra baixou a cabeça junto à Gabe, seu olhar de decepção foi cruel, doentio, e ela sabia que estava causando isso em mim. Olhar aquilo me deixava com raiva, raiva por ser o escolhido, raiva por eu estar aqui, raiva por eu ser isso, raiva por sentir... O que um dia eu pensei que nunca mais sentiria.
Subi as escadas da casa velha. O chão de tábua apodrecida rangia conforme meus passos iam se intercalando entre uma perna a outra, mas eu ignorei completamente as mentes maliciosas e aproveitadoras do andar debaixo.
Entrei em um quarto velho que tinha ratos com poeira acumulada. Havia uma cama velha, abandonada. Sentei nela e ouvi o ranger da Madeira abaixo.
Duas batidas na porta.
– Posso entrar? - Lisandra recostou no cabeçote.
– Se eu disser não, você vai embora?
Ela fez uma careta de que estava pensando.
– Hm... Não, não vou. Quero explicações, Phil. Quero saber do porquê você falhou. Lembro-me bem que você sempre cumpriu direitinho as ordens lhe impostas, você nunca falhou.
– Acha que falhei?
Ela se sentou cuidadosamente do meu lado e pousou sua mão sobre meu ombro como se fosse uma mãe mais velha aconselhando seu filho. Mas ela queria mais do que isso, as intenções de Lisandra eram claras.
Eu fitei o chão enquanto ela parecia escolher as palavras com precisão. Ela era uma manipuladora nata, suas palavras eram seu alicerce. Talvez ninguém no céu conhecia mais Lisandra do que eu mesmo. Ela foi feita oitenta e um dias depois de mim.
– Foi lhe dado um dever, e este dever deveria ter sido cumprido hoje, de preferência. Mas tenho certeza que amanhã, você fará isso. Tenho certeza que a sua capacidade vai além das forças ingênuas e patéticas dos humanos.
– Ela não é humana - eu disse, de repente.
Lisandra se afastou um pouco, como se captasse algo no ar.
– Então está me dizendo que a ingenuidade dela lhe afetou?
Merda. Ouvir isso era um fracasso.
– Não. Agora, sou um anjo caído. E eu cumprirei o meu dever.
Mas de repente alguém mais entrou no quarto, meu olhos se afastaram de Lisandra, ela desviou sua atenção de mim.
Steven estava parado no mesmo lugar de antes de Lisandra. Ele parecia atento, como se tivesse algum recado.
– Você não pode matá-la agora - ele estendeu um livro.
Lisandra levantou da cama e tocou no objeto grande e de capa dura.
– O que é isso?
– Um dos livros proibidos pela igreja.
Ela olhou para ele.
– Onde arrumou isso?
– No Vaticano.
– HÃ? Espera... A Itália é como...
– Não é o livro em si, é uma cópia, mais precisamente, uma resenha do que é o livro real. Aqui fala dos guardiões escolhidos por Deus para ajudar a Terra, e diz que eles precisam dominar todos os poderes primeiro, caso ocorra um sacrifício.
– Isso é loucura! A garota já tem 17 anos!
– Ela ainda não os dominou. Ela não conhece seus poderes completamente - eu disse, levantando. A ideia de poupar a vida dela por mais um tempo me deixava ridiculamente aliviado. Peguei no livro.
– Parece legítimo.
O idioma era dos anjos. Nosso antigo idioma, nosso próprio e único, que somente povos que já habitaram o céu saberiam decifrar. Ninguém no mundo inteiro foi permitido descobrir o real significado das palavras angelicais. Elas foram criadas somente por nós, e será entendida somente por nós.
Lisandra tocou nas palavras afundadas por energia. Elas brilharam quando as pontas dos dedos dela tocaram a superfície da folha descascada. Ali, conseguimos ler o que Steven havia dito. A menina só poderia ser morta depois que todos os seus poderes lhe fossem concedidos. Antes disso, não daria certo.
– Não caímos atoa - disse Steven. - Devemos esperar.
Lisandra parecia impaciente, ela começou a andar de um lado para o outro, como se não entendesse as palavras.
– Como eu não sabia disso? Como eu não sabia sobre isso? Eu passei séculos procurando informações sobre esta profecia! Eu passei séculos esperando por este momento! Porque agora eu devo esperar essa pirralha descobrir seus poderes malditos? - Ela jogou o livro no chão, e este desapareceu.
– Obrigado por desperdiçar meu tempo tentando materializar um livro idiota que está há milhas de distância de nós.
– Já temos o que precisamos - disse Lisandra.
Ela me olhou.
– Quando tempo você acha que ela leva?
Por mais que eu devesse falar a verdade, algo dentro de mim dizia que eu deveria estender o prazo.
– Daqui há alguns meses.
Ela assentiu meio inconformada.
– Como saberemos que ela os dominou?
– Eu saberia, se você não tivesse estourado minha materialização.
– Então materialize de novo - ela disse, passando por Steven e saindo do quarto, apressada.
No ar, eu senti o alívio me consumindo. No ar, eu senti que algo celebrava dentro de mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem! Grande beijo meninas até a próxima! =) *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anjo Mau" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.