Quando eu percebi eu já estava nos braços de Philip. Seu abraço era quente, sereno, como se fosse de um ser celestial. Era sobrenatural, era como uma cura para mim.
Eu não sentia tanta dor quanto antes. Desta vez era suportável. Desta vez eu conseguia me manter de pé sem me contorcer pelo caminho.
– Mas que diabos? Onde você estava? - Melanie estava com o celular na mão, impaciente, enquanto eu caminhava em passos lentos na sua direção. - Você evaporou!
Fechei os olhos, atordoada.
– Desculpe...
– Emily, o que está acontecendo? Você está estranha desde a sala de aula, onde você saiu... É algo em casa? Tá com problemas?
Lembrei-me que Melanie me ajudou muito quando meus pais se separaram.
– Não, Mel... É que...
De repente alguém tocou o meu ombro. Era a senhora Fitch, a enfermeira do colégio. Eu estranhei sua presença de repente.
– Você está melhor, Em?
Ela parecia preocupada, seu olhar era de puro cuidado. Perguntei-me do porquê da pergunta e como ela sabia, mas então eu me lembrei de Philip.
– O senhor Cambridge pediu para eu verificá-la...
– Cambridge? Philip Cambridge? O gato novato?
A senhora Fitch sorriu enquanto assentia, embora seu olhar de preocupação permanecia.
– Eu estou bem - eu disse à ela, segurando a respiração para não transparecer nervosismo. Na verdade, eu precisava me esconder de todos.
– Emily! Você não me contou que o conhecia!

Melanie pareceu chocada, e eu demorei pra perceber que ela queria uma explicação. O que diabos eu iria falar?
– Eu explico mais tarde - eu disse por fim, seguindo para a sala de aula quando o sinal tocou.
Por um momento, eu já não sentia mais dor. Toquei suavemente na minha barriga para ter certeza de que não era um sonho ou algo do tipo. Ela não doía mais. Eu poderia afirmar com todas as letras que estar com Philip de alguma forma me fez melhorar. De alguma forma eu já conseguia respirar, embora receasse que a dor voltaria.
Quando eu entrei na sala, fiquei surpresa em vê-lo novamente. Desta vez seu cabelo estava mais bagunçado, suas bochechas pareciam rosadas, e junto com seu olhar preocupado, ele se distraia com algum objeto em cima da mesa.
Então na segunda feira, nós tínhamos duas aulas juntos. Por mais que ele não parecesse o tipo de menino que liga pra meninas como eu, de qualquer modo ele me ajudou.
Nesse tempo, Melanie não estaria comigo, então eu teria uma hora inteira para pensar.
– ... Das células sistemáticas que se correlacionam... - pausa. - Não, é claro que não podemos fazer isso... Devemos primeiramente... - de repente tudo ficou perdido no ar novamente. A aula passava vagarosa, e meus pensamentos não saiam de Philip.
"Não seja estúpida", eu disse para mim mesma, pensando em coisas aleatórias sobre o menino. Provavelmente neste momento ele estaria pensando sobre qual menina vai pegar no final de semana, ou qual o programa que ele vai arrumar para esta noite. Eu seria uma perda de tempo, de qualquer modo.