Os Jogos de Johanna Mason escrita por Tagliari


Capítulo 1
Prólogo: Uma fagulha insignificante


Notas iniciais do capítulo

Ei, cambada! Há quanto tempo, não?
Bom, o prólogo é bem curto; apenas para que vocês presenciem como penso ser a cabeça levemente perturbada de Johanna Mason, que é a personagem mais gentil e amável de THG (lê-se sarcasmo). Porque é o que todos dizem: "Jojo é uma flor de tão delicada" (ok, talvez apenas eu diga isso).
Espero que curtam.

REVISADO EM 23.03.2017



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IDIOTAS. SÃO TODOS BURROS, estúpidos e idiotas. Essa é a única coisa que consigo pensar enquanto assisto as criaturinhas insignificantes do Distrito 12 correrem das bestantes, fugindo para o pior lugar já imaginado ― a Cornucópia. Simplesmente previsível. Qualquer tolo com um pingo de cérebro sentiria o cheiro da armadilha a quilômetros de distância.

Torço para que as bestantes saiam do controle dos Idealizadores dos Jogos e devorem os três últimos tributos vivos da septuagésima quarta edição. O pensamentos me faz sorrir. Seria notavelmente cômico se isso acontecesse. Até consigo imaginar os problemas que Seneca Crane teria ao se explicar para os pavões multicoloridos e gananciosos da Capital.

Agora, a garota do Distrito 12 está apontando uma de suas flechas mortais para o carreirista do 2 quando desisto de perder meu tempo com os Jogos. É óbvio o que vai acontecer: os dois rapazes morrem; a menina da trança ganha. Apenas espero que ela não seja uma vitoriosa tão detestável quanto Chaff Cleanwater. A memória ainda é fresca de quando o conheci, logo no meu primeiro ano como mentora. Foram suas piadas grosseiras e risadas estrondosas que me fizeram perceber o quanto detesto os moradores do Distrito 11.

Vou para a mesa de doces, perto da sala, grata às pessoas que descobriram meu fraco por açúcar e desde então sempre deixam à mão essas deliciosas guloseimas. São os chocolates e as massas açucaradas da Capital que me consolam nesses anos instruindo crianças burras demais para sobreviver. Odeio Blye Lockheart, minha ex-mentora, por obrigar-me a isso. “Já tive minha cota de guiar tributos para a morte. Agora é sua vez. Preciso de descanso”, foi exatamente o que ela disse na noite em que apareceu em minha casa na Aldeia dos Vitoriosos para dizer que, dali oito dias, eu iria para o centro de Panem guiar os novos tributos.

Pego um bolinho minúsculo recheado com geleia de morango e enfio-o inteiro na boca. Falta muito pouco para o término dos Jogos, quando serei dispensada e poderei voltar para casa. Lanço um rápido olhar para a televisão. A arqueira não atirou. Ela ainda está pensando se mata o carreirista ou não. Porque se o fizer, seu parceiro de distrito também morrerá, caindo do topo da Cornucópia para os dentes afiados das bestas. A decisão é tão simples. Mate-o, garota estúpida. Você estará fazendo um favor a si mesma. O que será que ela pensa que vai acontecer quando se tornar vitoriosa? Ainda mais com um rostinho tão bonito. O mesmo equivale para o garoto. Não importa se você ganha ou perde os Jogos Vorazes. No final do dia, você sempre se ferra.

Então o esperado acontece. A garota do Distrito 12 atira. Não nego sentir uma pontada de descrença, pois o tributo carreirista cai para as garras das bestantes e seu parceiro continua inteiro, são e salvo no topo do chifre. O tiro de canhão anunciando a morte do idiota do 2 não surge, muito menos as trombetas da vitória. No lugar disso, vejo na tela uma cena grotesca dos animais ensandecidos tentando devorar o rapaz.

É depois de alguns minutos que concluo que a Capital não terá o seu vitorioso hoje. Algo me diz que os Idealizadores programaram uma morte lenta e dolorosa ao garoto. Volto ao sofá e cruzo as pernas, dez bolinhos recheados nas mãos. Mudo de canal e deixo na primeira estação que não diz respeito aos Jogos. É a propaganda de uma linha de maquiagem e cosméticos que se dizem milagrosos. “Basta apenas uma aplicação e você rejuvenescerá quinze anos”, diz a voz animadamente ao fundo. Adormeço pouco depois da demonstração ao vivo do produto.

•••

O sol começa a despontar pelas janelas de vidro do sétimo andar do Centro dos Tributos quando acordo, espreguiçando-me. Olho para a televisão e vejo uma reportagem imperdível sobre os benefícios da máscara de gordura de coala para a pele. Dormi a noite inteira ― não fui acordada pela algazarra que ocorre na Capital sempre que um novo vitorioso é nomeado porque os Jogos ainda continuam.

Apenas por curiosidade, volto ao canal oficial do programa. A garota irritante do 12 está histérica, praticamente implorando para seu aliado ferido na perna continuar acordado ― aposto que se ele sobreviver, ficará sem o membro. Um corte na cena me leva até o canto escuro nas profundezas da Cornucópia. A câmera com visão noturna transmite com perfeição o estado debilitado do carreirista, sangrando, quase morto, as bestantes fazendo rasgos enormes na armadura que usava quando ainda achava que esta lhe daria vantagem sobre a arqueira. É então que a garota quente tem a ideia fantástica de finalmente agachar-se na borda do chifre dourado e acertar sua última flecha na cabeça do alvo.

Assisto os próximos minutos com desdém. Os sobreviventes descem da estrutura de ouro assim que os animais se dispersam para longe. A garota em chamas ― Katniss, acho que é esse o seu nome ― leva o aliado para o lago. É então que a voz poderosa de Claudius Templesmith retumba nos autofalantes, anunciando a revogação da regra que diz que dois tributos do mesmo distrito podem ser vitoriosos. Em um quadrado pequeno na parte inferior da televisão estão os comentaristas acenando em concordância, desculpando os telespectadores pelo mal-entendido.

É o olhar da arqueira que me prende. Consigo enxergar em sua expressão as engrenagens da sua mente maquinando até encontrar uma resposta. Assim que percebe que só um sairá vivo, mira a flecha no peito do parceiro. Não seja tola, penso. Atire. Eles conversam. Sem explicação, ela abaixa o arco. Pega uma porção de bagas escuras do bolso e coloca metade nas mãos do parceiro.

― No três? ― ela diz.

― No três ― o garoto louro concorda.

Mãos são estendidas para o céu e finalmente entendo o que está acontecendo. Amoras-cadeado. Lembro-me de ter ouvido algo a respeito disso pelos corredores do Centro de Treinamento, da boca de um vitorioso revoltado por seu tributo ter morrido assim, envenenado pelo fruto8. Ou ela é a pessoa mais corajosa que já passou pelos Jogos ou a mais burra e estúpida. Acho que apostaria na segunda opção.

Aprumo-me no sofá, atenta ao que está prestes a acontecer. Panem inteira deve estar como eu, boquiaberta, incrédula. Talvez ― apenas talvez ― essa menina do Distrito 12 não seja tão detestável assim. Uma edição sem vencedores. Finalmente surgiu alguém mais esperto que os Jogos Vorazes. De repente uma fagulha quase que insignificante queima em meu peito.

Talvez, quem sabe, não estejamos assim tão ferrados como eu pensava.


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Notas finais do capítulo

Bom, foi isso. Sei que não teve muita coisa sobre Mason, mas o que se esperar de um prólogo? Apenas queria mostrar a vocês o que acho ser o início de toda uma gama de eventos ocorridos após a 74ª edição.
A brincadeira vai começar no próximo capítulo, se é que me entendem.
Até.