Antes que Eu Me Perca escrita por Emilly


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

A pedido de uma leitora, vou colocar aqui como imagino os personagens, por meio do nome de alguns atores. Dana (Blanca Suarez)/ Kyle (Colton Haynes)/ Zack (Cam Gigandet)/ Jack (Shemar Moore) / Liam (Lucas Till) /



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DanaA primeira aula é um droga, assim como a segunda e a terceira. Fico o tempo todo pensando em Kyle e em sua história. Admito que fui pega de surpresa. O modo como ele me contou foi tão puro e suave que quase realtei minha própria tragédia para ele. Mas eu simplesmente não pude. O que aconteceu comigo está entalado em minha garganta, e não é algo que eu simplesmente consigo tirar.
O professor á minha frente fala sobre as características dos quadros de Pablo Picasso. Sim, minha graduação é Artes Visuais. Não é exatamente minha cara, mas eu sou boa nisso. Pinturas. Desenhos. Quando eu pego em um pedaço de carvão e miro uma tela em branco á minha frente, vomito todas as coisas ruins de dentro de mim.
No primeiro quadro que pintei depois daquela noite retratei as gotas de chuva. Eu me lembro claramente disso.
Pressiono meus olhos com os dedos e tento me concentrar. Droga, Kyle insiste em intrometer em todos meus pensamentos. Quando toquei sua pele, senti uma onda de eletricidade que percorreu todos o meu corpo. Atingiu minhas veias, meu cérebro. Sentir sua respiração em meu pescoço foi a melhor coisa do mundo.
–Então , quero que achem um veterano no curso para que possam conversar sobre suas expectativas. E é isso que quero que retratem em seu quadro, sua perspectiva para o futuro. -o professor fala, escrevendo na lousa negra.
Quando ele nos dispensa, eu me levanto e penduro minha mochila nas minhas costas, andando pelos corredores lotados de pessoas. É a hora do almoço, e tento achar o refeitório. Sinto meu celular vibrar, e vejo a foto da minha mãe na tela.
–Dana! Olá querida, como estão as coisas?- escuto sua voz contra meu ouvido.
Desvio-me de algumas garotas que vem em minha direção, e seguro o celular com mais força.
–Tudo bem, mãe.
–E os pesadelos?- ela pergunta, sua voz diminuindo de volume.
Droga, mãe. Os pesadelos nunca irão parar, eu os tenho todos os dias!, quero gritar. Eu revivo o que aconteceu comigo todos os dias, repassando de novo e de novo. Mas em vez de berrar, eu simplesmente minto.
–Sim, eles sumiram. Estou ótima.
Nos conversamos sobre algumas outras coisas sobre as quais não dou a mínima, enquanto sigo o fluxo de pessoas até o refeitório.
Minha mãe me chama para voltar para casa no final de semana, mas acho que no fundo ela sabe que é inútil. Não irei retornar para aquela cidade tão cedo.
–Mãe, eu tenho que ir. Falamos amanhã. -digo, desligando o telefone.
Entro na fila de comida e pego uma salada. Procuro por meu irmão nas mesas lotadas, e o vejo sentado junto aos seus amigos. Quando me veem, começam a acenar como loucos. Carrego minha bandeja até eles e me sento entre Zack e Liam.
–Então, ficamos sabendo sobre você e Kyle. -Jack diz, mordendo um pedaço de uma pizza gordurosa.
Dou de ombros, me concentrando na salada. Não quero falar sobre Kyle com ninguém. Sinto como se eu compartilhasse nossos momentos, não iria ser tão especial.
–Ele falou com você?-Liam pergunta, cutucando-me com seu ombro.
–Sim, falou. -murmuro, revirando os olhos.
Liam passa a mão pelo seu cabelo loiro, soltando um assobio entre seus lábios. Ele parece surpreso.
–Kyle não conversa com ninguém. Geralmente ele utiliza a linguagem dos sinais. -Meu irmão explica.
Me lembro da voz de Kyle. Droga, é tão rouca e macia. E sempre que digo algo, seus olhos estão concentrados em meus lábios.
–Bom, ele quer comer sua irmã, Jack!-um garoto grita em uma extremidade da mesa, arrancando risadas de várias pessoas.
Jack o encara com um olhar feio, e depois volta a comer seu almoço.
–Ele já comeu metade das garotas da universidade, inclusive aquela Sheryl. Porra, as pernas dela são de matar. -Jack diz, rindo. - E ele é um piloto muito bom.
Sua fala provoca uma contração no meu coração. A ideia de Kyle ficando com inúmeras garotas não me agrada.
–Dizem que seu pai está preso. -Liam sussurra, ao meu lado.
Me concentro na conversa, curiosa para saber mais sobre Kyle. Ele não havia me dito que seu pai estava preso, mas consegui presumir tal coisa por conta própria. Ninguém cometeria tal atrocidade e ficaria livre. Inconscientemente, passo a mão pela minha cicatriz, me lembrando que o homem que fez isso comigo também está trancado em uma penitenciária. Na verdade, não sei qual foi sua sentença. Espero que ele esteja bem longe de mim.
–Sim. Kyle nunca fala sobre ele. - meu irmão comenta, mastigando.
Bom, eu também não o faria. Aliás, não faço.
–Bem, me disseram que antes de sair do ensino médio ele ficou preso por dois meses no reformátorio. -um cara que usa o uniforme do futebol da universidade diz, olhando por cima do ombro.
–Por que?- deixo escapar.
Sim, Kyle parece ser... Impulsivo. Hoje, quando eu o beijei, ele olhava para mim com um ar selvagem em seu rosto. Mas eu não acho que ele machucaria alguém.
–Ele bateu em um cara tanto que o desacordou. -Ele responde, dando de ombros.
Um calafrio percorre minha coluna. Imagino o que a pessoa fez para que Kyle perdesse o controle. Geralmente, todos surtam, uma hora. Principalmente pessoas como nós.
–Ele é uma aberração. Surdo, e quase nunca conversa. -um rapaz ruivo diz.
A mesa fica em silêncio. Arrasto o meu olhar cortante para o dono da fala, suprimindo minha vontade de dar um murro em sua cara. Ninguém sabe o que Kyle passou. E não importa o fato que ele é surdo. Isso não me incomoda, e não deveria provocar o desprezo de ninguém.
–Cala a boca. - digo, entredentes.
O garoto ruivo ri, exibindo dentes tortos.
–Você vai ficar com um cara surdo?-pergunta, erguendo as sobrancelhas.
–Antes ele do que você, idiota. - digo alto o suficiente para que todos em um raio de dez metros escutem. -Na verdade, antes ele do que qualquer um.
Levanto e pego minha bandeja, despejando a comida intocada numa lata de lixo. Jack me chama, mas o ignoro. Saio do prédio da faculdade, andando pelo gramado. Minhas mãos tremem de raiva. Eu não posso perder o controle.
Fique calma, Dana.
Ando alguns passos antes de bater de frente com uma parede. Não, é uma pessoa. Minha mochila cai no chão, com um baque surdo.Levanto meus olhos para pedir desculpa, mas minhas palavras ficam presas em minha garganta.
É ele.
Me lembro desses olhos negros. Da boca fina. Das sobrancelhas grossas. Suas mão seguram meus ombros, e eu fico paralisada. Meu Deus.
–Me solte. -consigo falar, fracamente.
O rapaz me olha com curiosidade. Pouco a pouco, percebo que seus olhos não são tão escuros quanto achei. Seu maxilar não é tão anguloso quanto me lembro. Seu cabelo é mais claro, quase castanho.
Mas ainda assim, não consigo para de tremer. Não consigo me mover, minhas pernas parecem chumbos.
–Olha, fique calma. - ele diz, preocupado.
–Me solte! -grito, despertando a atenção de pessoas que passam ao nosso redor.
O garoto me larga rapidamente, como se eu tivesse dado um choque. Eu cambaleio alguns passos para trás, ainda com meus olhos fixos nos seus. Eu não acredito que isso está acontecendo. Como eles podem ser tão parecidos?
–Quem é você?- murmuro, segurando minha mochila firme no meu peito.
Ele suspira e diz:
–Sou Parker Hayes.
Droga. Hayes. Eu conheço esse sobrenome muito bem.
Minhas memórias voam para o dia do julgamento. A juíza, uma mulher de meia idade, está lendo um documento, enquanto eu olho nervosamente para uma mancha no chão. Não consigo olhar para frente. Sou como um animalzinho assustado.
"Estamos presentes para o julgamento de Lucas Hayes pela tentativa de homicídio de Dana Suarez." Ouço sua voz recitando.
Meu Deus, é o irmão dele. O garoto á minha frente é o irmão de Lucas Hayes.


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