Antes que Eu Me Perca escrita por Emilly


Capítulo 3
Capítulo 3- Kyle


Notas iniciais do capítulo

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Kyle
Eu acordo de um pesadelo no dia seguinte. Me sento na cama tão rápido como posso. Ainda sinto minhas mãos formigando, e minha cabeça latejando. Passo meus dedos entre meu cabelo e suspiro, tentando me convencer de que não estou na droga de um sonho, e sim na vida real.
O relógio marca seis horas da manhã. Ainda tenho duas horas antes da primeira aula, que é História. Tiro os lençois de cima e mim e saio da cama, caminhando pelo corredor até a cozinha.
Eu não moro com ninguém, e isso é ótimo. Tenho o apartamento só para mim, longe desses caras da fraternidade que me olham como se eu fosse um animal. Talvez eu seja um, não sei. Ontem, quando olhei para Dana ao lado do seu carro, parecendo uma deusa, eu queria agir como um animal. Pega-la e leva-la longe dos olhares de todos.
Meu Deus, que garota linda. Seus olhos são cor de folha seca, e sua pele é bronzeada, cheia daquelas pequenas sardas. Eu queria beijar cada uma delas. Seu cabelo, na altura dos seus ombros, é cheio de cachos nas pontas, que parecem ter sido cortadas por um cabelereiro muito ruim. E puta que pariu, aquelas pernas... Não o que falaram sobre mim para ela, mas tenho certeza que depois que Dana ficar sabendo dos rumores, nunca mais olhará para mim do jeito que fez ontem.
E eu falei com ela. Não faço isso com ninguém a não ser minha mãe. Minha voz deve soar horrível. Não sei realmente, já que não posso escuta-la. Meu pai dizia que era horrorosa, como a aberração da natureza que eu era.
Faço algum café para mim, como uma pessoa normal. Quando estendo a mão para pegar leite na geladeira, vejo minha tatuagem de flor no antebraço.
Ela foi feita pra esconder a cicatriz profunda na minha pele, onde a bala perfurou. O miolo da flor fica extamente na parte em que tiraram a bala da trinta e oito. Passo o dedo por ela e fecho os olhos com força. Me lembro que Dana ficou encarando esta flor por alguns segundos ontem a noite, enquanto eu a admirava.
Nem acredito que a chamei para sair. Isso é loucura. Mas ela parece uma pessoa tão destemida. Sei que algo de ruim aconteceu com ela. Posso dizer pela cicatriz que envolve seu pescoço. Quando ela me mostrou, vi a dor em seus olhos. Tive que suprimir a vontade de matar quem fez aquilo.
Sou arrancado dos meus pensamentos por uma luz vermelha em cima da porta. Alguém está tocando a campainha.
Não me incomodo de ir trocar de roupa. Deve ser algum dos caras. Ainda visto a boxer e estou sem camisa, de modo que quando abro a porta e dou de cara com Dana, quase morro de susto.
–Olá. -ela diz, seus olhos parecendo brilhar. Tenho que concentrar bastante para ler seus lábios, pois só consigo pensar em beija-la.
Ela está vestindo um pijama bonitinho, de seda. Descalça, com o cabelo desarrumado e cara de sono.
Aceno com a cabeça, e ela continua:
–Eu ouvi você do meu apartamento, e vim devolver suas chaves.
Dana me entrega um molho de chaves, parecendo dar um chechada em meu abdomên. Nossa, ela me acha bonito, penso, sorrindo internamente.
–Obrigada. -digo.
Me viro para coloca-las em um pote na mesinha de centro, e antes que percebo, Dana já está dentro do apartamento, analisando tudo ao seu redor. Agarro uma bermuda que está largada em cima do sofá e a visto, feliz por não estar totalmente exposto.
–Posso tomar um café? -ela pergunta, já tomando uma xícara para si na cozinha.
Dana tem uma ávore tatuada na coxa direita, suas raízes se espalhando por sua pele. Ontem eu tinha visto apenas o bracelete indígena em seu braço, a rosa no ombro e uma frase em seu pulso... Elas eram lindas. Todas combinavam perfeitamente com seu corpo e suas atitudes.
Quando levanto os olhos novamente, seus olhos verdes estão nos meus, com um ar de diversão.
–Posso ver as suas?-ela pergunta.
Deus, como eu gostaria de poder escutar sua voz. Eu nasci surdo. Por isso, nunca tive essa ânsia de ouvir. Contudo, desde ontem, não consigo de parar de imaginar como sua voz deve ser linda.
Concordo, brutamente.
Ela contorna o balcão da cozinha e para ao meu lado. Seu cabelo cai em seu rosto, e contenho a vontade de retira-lo. Prendo a respiração quando ela passa a mão em meu braço, as pontas dos seus dedos incendiando por onde passam. Se ela está dizendo algo, não consigo perceber, pois seu rosto está inclinado para baixo.
Quando ela chega na flor, seus movimentos param. Ela percebeu a cicatriz. Está tão bem escondida que poucas pessoas conseguem vê-la, mas por algum motivo, Dana conseguiu.
–Parece que coisas ruins também aconteceram com você. - ela diz, levantando seu pescoço.
Suspiro. Sim. Ainda me lembro do som da arma quando foi disparada. Do grito agudo da minha mãe. Porra, me lembro de tudo.
–Você falou comigo ontem, porque não o fez hoje? - Dana pergunta, cerrando a boca em uma linha fina.
–Minha voz não é agradável. - respondo, rapidamente.
Ela sorri, e me sinto bem por ter falado. De todas as garotas com quem dormi durante todos esses anos, nenhuma tinha um sorriso tão bonito. E eu não falei com nenhuma delas. Geralmente, eu sinalizava ou escrevia em um papel. Bom, a linguagem dos sinais não é muito popular.
– Sua voz é linda. Confie em mim.
Decido continuar a conversar.
–Porque você perdeu ontem? Você corre muito bem, poderia ter ganhado facilmente. -pergunto.
–Eu queria sair com você. -responde, dando de ombros.
–Você não me conhece. -Digo, a encarando.
Dana tanta quebrar nosso olhar, mas eu seguro seu queixo gentilmente. Espero que se afaste, mas ela não o faz.
–Eu não preciso. Você me faz sentir. -ela murmura. Tenho dificuldade para decifrar sua fala, mas quando o faço, meu coração bate mais forte.
Meu Deus, o que fizeram como essa garota?, me pergunto. Ela parece tão pequena, aqui na minha frente. A sua cicatriz puxa minha atenção, e tenho que fechar os olhos com força.
Quando os abro novamente, Dana está me olhando. Ontem ela parecia tão forte. E hoje, parece quebrada. Estiçalhada.
–Foi o meu pai. -deixo escapar, antes que possa me impedir. -Ele era alcoolátra, e me odiava.
Tenho que inspirar e expirar duas vezes antes de continuar.
–Ele costumava dizer que eu era deformado. Sempre quis un filho perfeito, mas eu nasci surdo.Minha mãe... Ah, ela sempre me protegeu. E um dia depois do meu aniversário de doze anos, ele chegou em casa transtornado. Com uma arma. Uma trinta e oito.
Me lembro do som. Foi tão alto.
–Ele atirou em mim, mas minha mãe conseguiu me empurrar. A bala pegou meu braço. Meu pai me viu deitado lá, sangrando, e começou a me bater. Ele me espancou tanto que meus dedos das mãos quebraram, assim como minha costela.
Estico meus dedos e os flexiono, recordando da dor terrível que senti.
–Minha mãe tentou para-lo, mas ele a esmurrou. Meu Deus, foi horrível. Ela chamou a polícia, e quando eles finalmente chegaram, eu estava desacordado.
Quando minha atenção volta para Dana, percebo que ela está com os olhos fechados. Deus, acabei de contar a história da minha vida para essa garota que eu nem conheço.
Eu sou um idiota. Não pensei no quanto minhas lembranças podem a afetar.
–Me desculpe, Dana. -digo.
Ela assente, e olha para mim. Meus pêlos arrepiam, e estou louca para beija-la. Parece que somos imãs.
–Não peça desculpa, Kyle. Estou tão quebrada como você.
Ela se aproxima, devagar, e planta um beijo delicadamente no canto da minha boca, sorrindo.É como se ela tivesse explodido uma fagulha em mim. Seguro sua cintura fina e a puxo para mim, pressionando seu corpo contra o meu. Inspiro em seu pescoço, afastando algumas mechas do seu cabelo. Baunilha.
Deus, ela é perfeita. Beijo sua pele, sentindo o calor do seu corpo.
De repente, Dana se afasta e inclina a cabeça, como se estivesse ouvindo algo. Ela se afasta e alisa o pijama minúsculo, que me faz imaginar coisas.
–Zack está me chamando. -ela torce o nariz.
Ah, Zack! Droga! Eu sorrio, e a solto.
–Sexta feira, ás nove da noite. Vista algo confortável. -ela diz, enquanto anda de costas em direção á porta.
–Não sou eu quem deveria planejar o encontro?-pergunto, franzindo as sobrancelhas.
Dana revira os olhos e pisca. Claro, ela nunca irá perder o controle.


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