Antes que Eu Me Perca escrita por Emilly


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

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Tomo um banho de água fria, tirando o suor e poeira da viagem do meu corpo. Deixo a agua escorrer pela minha pele, enquanto fecho os olhos.
Um flash daquela noite invade minha mente. Dirijo pela estrada vazia, ás dez horas da noite. Estou escutando uma música do Jason Mars no carro, e meus dedos batucam no volante no ritmo da melodia. Estive na casa de Kate, discutindo sobre nosso trabalho de biologia. Iríamos falar sobre borboletas.
Está chovendo, e gotas grossas caem no teto do carro e no para brisa. Tenho que ir para casa logo, antes que meus pais enlouqueçam pela minha demoro.
Estou cantando o último verso da música quando avisto um homem deitado no meio da estrada, á minha frente. Piso no freio rapidamente, devido ao reflexo, e o carro dos meus pais para a alguns centímetros do braço estirado do homem. Desço do carro, preocupada em ter o machucado. Agarro meu celular, ignorando a chuva que rapidamente me encharca.
O homem não parece um mendigo. Ele veste jeans caros e tênis de marca. Está inerte, e por alguns instantes, penso que está morto. Meu coração se aperta em meu peito quando me aproximo, tentando escutar sua respiração.
Sinto uma mão me agarrando pela nuca, e grito.
Abro os olhos no chuveiro. Há muito tempo, bloqueei minhas emoções. Se eu não sinto, não posso sofrer.
Estou anestesiada.
Fecho o fluxo de água e saio do boxe, me enxugando e vestindo minhas roupas. Apenas short e camiseta de banda.
Escuto os garotos rindo na sala, enquanto jogam video game. Sei que Jack e Liam -o loiro- sabem sobre o que aconteceu comigo. Zack certamente não contou, mas eles devem ter visto reportagens e matérias sobre mim em jornais, revistas ou em programas de fofoca na tv. Claro, todos só sabem o que aconteceu superficialmente. Apenas eu e minha advogada sabemos o que ocorreu naquela noite, em detalhes.
Escovo meu cabelo e saio do banheiro. Vou até a cozinha e agarro uma garrafa de cerveja da geladeira.
–Você não pode beber, Dana. -Zack diz sobre o ombro.
Abro a garrafa e dou um gole profundo. Beber nem sempre foi uma opção. Antes de tudo acontecer, eu odiava alcool. Nate, meu ex namorado, também. Mas depois descobri que o alcool anestesiava meus pensamentos e que Nate era um covarde.
Meu primeiro porre aconteceu dois dias depois que saí do hospital. Vomitei tudo que havia dentro do meu estômago, e fiz minha primeira tatuagem.Memorável.
–Os garotos vão fazer uma festa no hall. Você vem? -Liam pergunta, sentado em um pufe jogado em frente á tv.
Dou de ombros. Parece uma boa oportunidade para esquecer.
–Tudo bem.
Liam sorri. Não retribuo. Eu já não sorrio. Não tenho motivo para fazê-lo.
Quandos descemos, conheço vários moradores do prédio. Só garotos. Eles começam a sair de seus partamentos, carregando garrafas de destilados e barris de cerveja. Alguns nos cumprimentam, outros simplesmente me olham com curiosidade. No hall, vejo mesas de sinuca e uma caixa de som que toca uma música extremamente alta.
Em poucos minutos, a quantidade de pessoas triplica, e agora meninas se espalham pelos cantos. Elas sempre são piores. Quando me veem, cochicham umas com as outras, como se eu fosse uma espécie de aberração em um circo. Vejo uma até procurando minha foto no celular, para mostrar a amiga ao lado.
Tomo mais duas cervejas, conversando com Jack e Liam. Estou no meio de uma frase quando avisto o homem jogando sinuca em uma mesa á minha frente. Ele se curva lentamente sobre a mesa e encaçapa um bola, e depois outra. Ele é tão bonito que não consigo desviar meus olhos dele.
–Com licença, rapazes. -digo, quando meus pés me arrastam diretamente na direção dele.
Quando me aproximo, vejo cabeças no hall virando para me olhar. Contudo, Kyle continua jogando, alheio a minha movimentação.
Sim, ele é surdo, me lembro.
Coloco a mão em seu ombro, decididamente. Ele se vira, e me encara. Seus olhos são azuis. Um tom profundo, único. Parece o fundo do mar.
–Olá. -digo, ainda presa em seu olhar.
Kyle me observa, e sinto meus lábios secarem. Corro meus olhos rapidamente pelas suas tatuagens. Ainda não tenho certeza se ele irá falar comigo, então continuo:
–Posso jogar?
Ele encolhe os ombros. Dou a volta na mesa de sinuca e escolho um taco, rodando-o na mão para sentir seu peso. Percebo os olhares em nós, inclusive o de Zack. Quase todos na sala nos observam, conversando entre si. Alguns caras ao lado de Liam olham com desaprovação para Kyle.
Talvez ele seja tão interessante quanto eu, penso.
Junto as bolas em um triângulo em uma extremidade da mesa e me inclino com o taco, deixando uma boa paisagem dos meus seios pelo decote da blusa. Analiso um pouco a jogada e estouro o monte, espalhando as bolas.
Kyle não fala nada enquanto faz sua jogada. Seus músculos retesam e depois relaxam, e eu olho, deliciada.
–Parece que você também desperta a curiosidade das pessoas. -digo, quando percebo-o me olhando. Sua atenção se concentra em minha boca quando falo, lendo-a.
Encaçapo a bola vermelha na extremidade oposta a da mesa, e afasto meu cabelo do rosto.
Kyle sorri, sarcasticamente, e olha ao redor. Algumas pessoas desviam seus olhares, mas a maioria apenas continua a nos encarar como se fôssemos dois animais em um zoológico.
Ele dá de ombros, dando a entender que não sabe porque é o centro das atenções tanto como eu. Está mentindo. Sei disso. Suas sobrancelhas grossas se franzem quando ele me indica com o queixo, me perguntando o motivo de também estar sendo alvo dos olhares curiosos.
Ah, ele não sabe, penso. Não estou acostumada com isso. Normalmente as pessoas conhecem a história antes de me conhecerem.
–Ah, sim. Por isso. -digo, afastando o cabelo do pescoço para que ele possa ver a cicatriz de quase quinze centímetros que circunda minha pele.
Seus olhos a analisam, e ele não deixa escapar nenhuma emoção por eles. Provavelmente deve ter achado que tentei me matar.
–Mas aquelas dali, -digo, apontando para um grupo de garotas que come Kyle com os olhos -não estão olhando para mim.
Um expressão divertida toma seu rosto, e ele volta a jogar. Quando passa por mim, respiro devagar, sentindo seu cheiro.
–Ei, ei! -uma voz grita nos auto falantes.
Vejo Jack em cima de um pódio improvisado com uma mesa, segurando um microfone. Ele me assopra um beijo quando vê que tem minha atenção.
–Hoje temos aqui o incrível Kyle Prescott, o nosso melhor piloto de corridas clandestinas! - ele diz no microfone.
Alguns rapazes uivam e batem as mãos nas costas de Kyle, que sorri e dá de ombros. Parece que ele não escuta, mas consegue entender por inferência o que está acontecendo. Ouço uma garota o chamando de lindo, e um sorrisinho ergue meus lábios, concordando totalmente.
Parece que não consigo concentrar-me em nada além dos braços de Kyle, cruzados na altura do seu peito. Vejo a tatuagem de uma flor e de ondas, no meio das formas intrincadas indígenas.
–Temos algum desafiante? -Jack pergunta de cima da mesa, esperando alguém se manifestar.
Será que Kyle é tão bom que ninguém tem coragem de desafia-lo? Eu convivi minha vida toda com pilotos profissionais, e sou melhor que alguns deles. Tenho certeza que aguento um amador. Além disso, quero provoca-lo e fazê-lo me perceber.
Kyle não irá sair ileso.
–Eu! - grito. Todas as cabeças se viram para mim.
Zack passa a palma da mão na testa, parecendo nervoso.
–Temos uma desafiante, Dana Stewert! -Jack ri. -Façam suas apostas!
Me viro para Kyle e deixo o taco de sinuca em cima da mesa. Seus olhos parecem estar buscando algo em mim, nunca deixando os meus. Seus lábios se erguem em um sorriso, e sinto meus ossos vibrarem. Ele parece me desafiar.
–Aposte em mim, Kyle. -falo lentamente, desenhando as palavras cuidadosamente.
Ele ri, sem som. Se aproxima. Não posso evitar de perceber cada movimento seu, cada inspiração e expiração.
Desde aquela noite chuvosa, nunca me senti dessa forma. Eu não sorrio, não fico feliz. Definitivamente, não sinto medo. Mas agora posso sentir a energia atrativa de Kyle me puxando em sua direção. E esse é tudo que preciso para ter esperanças de conseguir ser uma pessoa normal novamente.
–Se eu ganhar, você sai comigo. -ele diz, a voz rouca e baixa.
Ah, eu definitivamente irei perder, penso.
–Claro.
Cinco minutos depois, estou sentada no banco de motorista do Pontiac, pensando em uma maneira de perder sem ser muito óbvia. Eu preciso conhecer Kyle melhor.
Ele é minha luz no fim do túnel. Quado aquele homem me atacou, ele sussurrou em meu ouvido que eu nunca mais iria fazer nada sem senti-lo contra mim novamente. Durante dois anos, achei que ele estava certo. Contudo, não tenho mais esta certeza. Quando olhei para os olhos de Kyle, não me lembrei de nada ruim.
Paramos no começo da Av. One, sua BMW parada ao lado do meu carro. Todas as pessoas que estavam na festa agora de espalham pelas calçadas da avenida, pendurados em caminhonetes e gritando como um bando de animais.
Eu adoraria ganhar de Kyle, iria me fazer sentir muito bem. Mas parece que terei que engolir a porra do meu orgulho e tirar o pé do acelerador.
–Em três, dois, um! -Jack grita, em frente ao nossos carros, utilizando como bandeira uma camiseta de um menina que agora está nua.
Acelero, afundando o pedal até o fim. Kyle faz o mesmo, mas um segundo após de mim. Aprendi que em uma corrida, segundos fazem toda a diferença. Grito quando pego a dianteira, eletrizada. Na primeira curva, tiro o pé pouco antes, derrapando. Tudo a minha volta vira um borrão. Passo a marcha e continuo, sabendo que em dois minutos estarei próxima ao fim da avenida. Vejo Kyle pelo meu retrovisor, e mando um beijo para ele.
Deixo-o se aproximar, devagar. Sei que ele está se esforçando para ganhar, e esse pensamento me agrada. Mas quero ter certeza de que terei um tempo com ele.
, Desacelero quando avisto o sinal, mantendo-me pareada com seu carro.
Dois segundos para chegarmos á linha final.
Tiro o pé do acelerador, e seu carro me ultrapassa no momento em que atingimos a linha branca que marca o fim da corrida.
Estaciono o carro perto da calçada e escuto os gritos dos universitários bêbados ao nosso redor. Eles batem na lataria da minha Jenny, e quase grito para todos se afastarem.
–Você ganhou, Kyle!- Jack diz, se certificando de que ele possa ler seus lábios.
Kyle sorri e começa a gesticular com as mãos, arrancando um olhar surpreso de Jack. Seu cabelo está um pouco bagunçado, e me dedico a observa-lo enquanto me apoio no carro, cruzando as pernas na altura dos tornozelos.
–O que ele disse, Jack?- pergunto.
–Que você deixou ele ganhar, danação. -Jack responde, parando ao meu lado.
Dou de ombros.
Consegui meu encontro


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